Naturalmente



Recolho de Eduardo Lourenço o angustiante confronto da nossa condição entre a «tragédia cultural da domesticação da natureza», e a definição dessa mesma condição pela «vontade de descobrir o mundo, de o conhecer e transformar». O problema é que a nossa peregrinação é feita desta malandra mas luminosa arreliação.

Felizmente a “Natureza nunca toma partido” (*) dos seus adoradores, pelo que “desdenho” a «imposição das leis de um naturalismo preguiçoso, limpo e espontaníssimo».

E como desfruto ao descer um elevador panorâmico, que esventrou uma falésia a caminho duma praia burguesa enquanto oiço apenas o Billy Joel !...

A “poesia” e a “natureza” são apenas grafismos sui generis e sobreavaliados duma criação que não precisa de pedigree.

Nem de incompetentes como eu para as apreciar.



E um ano novo que não vos “reveille” do bom sonho.



(*) Frase retirada do livro de Gonçalo Tavares “Um homem : Klaus Klamp” . Óptima revelação – minha... – deste final de ano que, arriscando num “ladainhar aforístico” dentro duma perturbante ficção, mostra frescura de quem pensa sem medo das “coisas” chamadas palavras.

A última citação era dum interessante artigo de João Lopes no DN sobre o cinema moderno (de há uma semanas).
A “ascética” do “ano novo vida nova” realça o cocktail da ingenuidade humana misturada com a sua crueldade. O novo dicionário não ilustrado não podia perder esta ocasião para apelar ao sossego que é a bebida pura do “deixandar”. Numa singela homenagem ao “adia tudo” de Pessoa. ( entradas 399 a 409 )



Começar de novo – É o sonho da vida-em-playstation. Tudo ao alcance de um botão e duma password. Só que o software do Destino é de download ilegal, e quando pensamos que o sacámos, verificamos que afinal vem cheio de vírus.



Agora é que vai ser – Se formos nós a dar o tiro, nunca faremos falsas partidas. Os mais espertos levam a linha da meta no bolso de trás.



Mudar de vida – Os momentos de viragem são encantadores, principalmente se pudermos estar ao leme a beber uns refrescos, com o resto da tripulação dividida a esfregar o convés e a entreter-se com as velas.



Pôr o passado para trás das costas – O peso acaba por nos curvar em demasia, e a dança “do que lá vai, lá vai” soará a samba fadunchado.



Há que olhar em frente – Viver de peito feito e não olhar para trás pode aparentar resolver o problema duma vida sinuosa e até prevenir os remorços-de-torcicolo, mas não esclarece o mistério da peregrinação.



Nunca é tarde para mudar – Quando for eu a mandar, fico a segurar nos ponteiros. Não me fio em relógios que trabalham em auto-gestão.



Seja o que Deus quiser – Viver online com a providência divina. Gigas ilimitados de esperança é só no adsl dos bens aventurados.



É hora de dar um rumo certo – A orgia de entroncamentos em que gostamos de transformar a nossa vida, coloca-nos em constante risco de fazermos alguns troços em contra-mão, chamando aos outros egoístas ou incompetentes.



O futuro está nas nossas mãos – Os que julgam que têm mãos de oiro, gostam de ficar a adorá-las, pensando que se podem lambuzar sem ficar pegajosos. A memória desforra-se porque é tensioactiva.



Virar a página – Ver a vida como uma resma de acontecimentos. Uma rabanada de vento pode deixar-nos as páginas trágicas coladas ao corpo.



É tempo de repensar tudo – Pôr a vida à mercê duma segunda lavagem pelo neurónio mais a jeito. E como se segue geralmente a enxaguada da experiência, os recursos vão encolhendo.

Born in us



Hofmannsthal diz no Livro dos Amigos que “A cerimónia é a obra espiritual do corpo “. Nem é uma frase especialmente feliz, mas traz-me à pele a sensação de excessiva valorização do simbólico, que hoje é recorrente nos vários “discursos da modernidade”.

O cristianismo vive duma fortíssima tensão entre o simbólico e o apego aos factos. Tudo se resolve – penso – naquilo que se pode chamar a “descoberta de Deus dentro de nós”.

Todos somos um presépio. Onde Deus nasce sem cerimónias.

Boas festas.

O natal foi como Deus quis. O novo dicionário não ilustrado despoja-se das suas vestes de reles definidor, e entrega-se com o desprendimento possível ao banho da contemplação. Hoje não se me vai despedaçar o coração, mas também não o porei muito ao alto; estarei antes “ao jeito” do personagem de S. Beckett : o ventrículo na sabedoria do presépio, e o aurículo na futilidade dos factos. ( entradas 389 a 398 )



Sagrada Família – Desde que os anjos deixaram de aparecer nos sonhos, a família perfeita ficou entregue aos pesadelos da sorte.



Reis magos – O poder já foi errante, inconformado e reconhecido. Agora erra em conformidade, e desdenha depois de ter comido.



Recenseamento – Um acto de contagem administrativa esteve na origem das circunstâncias do natal fundador; Os novos filhos da estatística pelam-se para recuperar esse poder imperial.



Ouro, incenso e mirra – Os bens mais preciosos não são cobiçados, mas apenas recebidos.



Estrela guia – O novo firmamento deixou-nos entregues às luas de ocasião.



Manjedoura – O único local de “culto” que verdadeiramente frutificou sem crises de simbolismo, nem trejeitos de modernidade.



Pastores – Muitos dos novos “espalhadores de boas novas” adormecem agora encostados ao cajado da notícia.



Matança dos inocentes – Como já não há inocentes, todos participamos na matança de dentinho afiado. Uns salivam mais que outros, é certo.



Herodes – Subornar e depois cortar rente, é a sina dum poder que faz figura de corpo presente



Fuga para o Egipto – Dêem-nos um burro em condições e verão que nos pomos todos ao caminho.

Hoje o novo dicionário não ilustrado ficou obcecado com alguns dos grandes sequestros da nossa condição e do nosso tempo. ( entradas 376 a 388)



Billyes reféns de Mónicas – Quando uma nódoa dum vestido, traz um homem “espermido” até ao tutano.



Corpo refém da alma – Quando uma vontade férrea é um joguete na mão dum etéreo oxidante.



Alma refém do corpo – Se um espírito nobre se entrega à ditadura das boas maneiras,

não passamos duma mosca fugindo eternamente da sopa, sem chupar sangue nem zumbir em condições.



Durão refém de Portas – É a sina duma grande mijadela. Tal como na clássica teoria do valor, os últimos pingos são os que podem estragar tudo.



Sexo refém do prazer – Quando o hermafroditismo é a ameaça que percorre as veias dum cacilheiro chamado desejo.



Homem refém de Deus – Suave submissão camuflada de amarga fatalidade pelo entulho do orgulho.



Schröder refém dos Verdes – Quando “um banana” fica entalado num molho de brócolos, a salada da crise sabe tanto a palha que só se fala dos asnos dessa paróquia porque a nora não desenvolve em condições.



Liberdade refém do destino – Um tal de arbítrio que corre livre e sem amarras, mas com apeadeiros certos por causa dos abastecimentos obrigatórios.



Paz refém da guerra – Irmãos sempre confidentes e aspirantes a uma herança comum, fazem das partilhas um regabofe de cimeiras



Benfica e Sporting reféns do FCPorto – Sempre à espreita duma “abébia”, o melhor que arranjam para desanuviar um bocadito, é fumar uma beata às escondidas, quando o Mourinho se vai distrair com uns charros a sério.



Verdade refém da notícia – Entregue à sua sorte pelo desprendimento dos deuses, a verdade vendeu a alma ao jornalismo para poder sobreviver à matilha das ideologias



Amor refém da sua correspondência – A versão desinteressada do amor caiu num poço dos jardins do paraíso, e o preço que pagou para vir para cima, foi ter de passar a vida a prestar contas à corda que o puxou.



Gasolina refém do dióxido de carbono – Nas combustões mais entusiasmadas a potência acaba por se envergonhar perante a arrogante ditadura das proletárias moléculas



Imagem refém da vaidade – Quando o "espelho" se cansou da sua mera condição física de reflector, assumiu o papel de brigada de trânsito da alma penante.

O novo dicionário não ilustrado avia mais meia dúzia de dispersos do “flagrantário” real ( entradas 370 a 375 )



Europa em crise – Quando a cartografia política se excitou, ficámos entregues a desenhadores de mapas com falta de canetas de feltro às cores. Os sublinhados substituíram os coloridos e - everest dos lugares comuns – os números e as palavras assumiram a vertigem de arredondar as pessoas.



Legalização do aborto – Nas prescrições para escolher as doses certas numa civilização saudável, esta página estava rasurada. A auto-medicação tomou conta das hostes, e agora não há farmacêutico que convença ninguém que a “barriga” duma mulher não é um jarrão de flores que se amanham a condizer com a cor das paredes.



Julgamento de um ditador – Quando não se consegue definir a rês do réu, a barra do tribunal é mais um aparelho de ginástica em que as piruetas garantem sempre a pontuação máxima.



Choque de culturas – Quando um véu cobre um rosto apregoando que salva uma alma, o melhor é benzermo-nos porque uma cruz pôde salvar todas.



Terrorismo – Quando o terror é feito ideologia, é o momento de desprezarmos outra vez as ideologias, porque já foram longe demais à cata dos piolhos.



Solução para o médio-oriente – Paradigma da possibilidade encalhada. Ela existe, mas está escondida algures entre o bidé onde se lava a certeza, e a fossa onde desagua a dúvida. Mãos de fada rondam o local, mas não há maneira de encontrarem a varinha no meio do sifão.

O Rei Lear do Sheik suspiro



Tinha lido a "estupefacção" do TerrasdoNunca pela falta de opiniões profundas sobre o Iraque..... e preparava-me para reagir de forma esclarecida quando uns olhitos azuis muito abertos, daqueles que só reflectem as boas angústias raiadas da alma, me lançam o apelo para mais uma sessão de “Rei Leão”. Incapaz de reagir, fui arrastado para aquela selva com o enfado da paternidade resignada.

Entreguei o olhar ao espírito amansado pelos bons predadores, sem despertar no ódio aos predadores maus. A lei daquela selva que nem se discute, que até pode provocar o choro das crianças, é uma lei também frágil, mas sustentada por uma força “enjubada” num poder que se exerce e pronto. Se for preciso ficar a ver as estrelas ao relento com um javali mal cheiroso, pelo menos que se vá mandando umas piadas. O folhetim seguirá inexorável.

Torna-se-nos difícil hoje, olhar para o poder naquele estado bruto em que ele pura e simplesmente é exercido. Aparentemente esse estado já estaria tão mitigado, que deveríamos poder desfrutar da anca bamboleante da Jennifer Lopez, sem termos de nos preocupar com o que fazem com os impostos que ela paga. Este sonho era bonito, mas ruiu e apanhou-nos aparvalhados em fantasias “legitimistas” teorizando sobre as hienas.

Agora quando o circo do poder descer outra vez à cidade, os miúdos vão-se acotovelar para ver os palhaços e pouco vão ligar às feras, porque já viram tudo na televisão. É o preço que os falsos domadores vão pagar por terem querido ficar inocentes.

A melhor e mais saudável maneira de lidar com um poder ansioso é reconhecê-lo sem falsos pudores. Muito estadista engravatado também foi apanhado numa toca, só que mais confortável que a de Saddam.

A Europa “desejou” a guerra para poder passear o demónio americano numa bandeja, e agora nem o consegue exorcisar, nem este se entende no inferno que lhe caiu em rifa. Os suspiros são de pólvora.

Resta Deus, os livros de Madonna e fugir aos impostos.

Aquilo que se chama a “chicana política” é o que "ela" tem de mais interessante, porque é na nobreza da pequena intriga que se descobrem os verdadeiros cavaleiros andantes. A neblina do flirt ideológico turva os contornos, e muitas vezes desperdiça-nos a alma no trabalho da focagem. Hoje o novo dicionário não ilustrado está novamente de ânimo leve e aprecia o cair das últimas folhas do Outono do nosso contentamento.( entradas 363 a 369)



Fundações – Animadas de um sonho filantrópico, almas sem borra concentram a boa vontade numa cafeteira, que ferve de interesses e transborda de arrufos de comadres.



Cooperativas – Animados de um sonho, juntam-se umas quantas pessoas que ou pisam uva por interposto “presunto”, ou pagam imposto por interposto contribuinte.



Institutos – Animados pela conciliação do sonho burocrata com a aurora liberal, uma mão cheia de nadas armados em “valores”, convidam um punhado de cifrões armados em “convicções” e enchem uma casa bem mobilada.



Comissões parlamentares – Animados da vontade de bem servir e apaparicando o mito da representatividade, os deputados arregimentam-se numa dança de marionetas que só não coçam a cabeça porque os cordelitos atrapalham.



Universidades – Animados do sonho do conhecimento funcionário, e do afã da sua disseminação, os espíritos mais nobres desguarnecem o saber escancarando-lhe as portas aos ignaros ambiciosos e atrevidos.



Utilidade pública – Animados do sonho de possuir um estatuto, os despojados da fortuna moral esgadanham-se na senda de um decreto concreto, que se for secreto tanto melhor.



Bolsas para criação artística – Pomposa designação para os subsídios entregues a alguns deputados sobre a forma escritural de “salário”.

Olho vivo

Outro brinde inesperado do Avatares!

Nunca se pode ver uma fotografia de Juliette Binoche e ficar indiferente.

Se me olhassem sempre assim até eu me fazia antropólogo.

A Obsessão Santana



No seu excesso de zelo a defender o PSD das tropelias de Portas e de Santana, J. Pacheco Pereira ( artigo do público)esquece que uma canditatura presidencial com sucesso é um projecto essencialmente pessoal. Ao alcance não dos mais capazes, não dos mais brilhantes, não dos mais serenos, não dos mais lógicos, não dos mais filantropos, nem dos mais sonsos.

Não vale a pena tentar ser o grande desmistificador da trivialidade, porque é para esse lado que ela dorme melhor. Desarmar “o tal de populismo” apenas com artifícios de racionalismo esclarecido, mais não faz que entrar no número dos palhaços do circo, vestido de cão amestrado.

O melhor que o país pode ter é mesmo ver os pretensos candidatos irem-se chegando à frente dando o corpinho ao manifesto. Um pião testa-se rodopiando, os peões é que se testam e sacrificam deixando-se comer pela rainha.

J.Pacheco Pereira utiliza com mestria a técnica de argumentar ao som da música que sabe gostarem de ouvir os que o lêem, mas não descortinou que apenas adormece ou faz sorrir os que se sentem tentados a escolher Santana.

Esquece-se também que para princípio de conversa bem podia ter avisado que:

Santana tem todo o direito de querer ser presidente

Santana tem todo o direito de achar que é um bom candidato

Santana tem todo o direito de ocupar o espaço mediático

Santana tem todo o direito de também ser hoje controverso e amanhã consensual

Santana tem todo o direito de achar que ser popular não é ser parvo

Santana tem todo o direito de achar que este é o tempo de ir testando o caminho

Santana tem todo o direito de pensar que a questão presidencial não afasta nada nem ninguém dos problemas importantes

Santana tem todo o direito de pensar que falarem dele é bem melhor que falarem das inenarráveis aventuras do Sr. Figueiredo, da U. Lusíada, da Casa Pia, e do Theias.

Santana tem todo o direito de dizer que foi dos primeiros a avisar da derrocada de Cavaco

Santana tem todo o direito a dizer que se não fosse ele, hoje o presidente da Câmara de Lisboa era o Joãozinho do elevador panorâmico

Santana tem todo o direito a dizer que deu uma ajuda determinante para o PSD estar no poder

Santana tem todo o direito a perguntar se a boa fé é património só dos outros

Santana tem todo o direito a dizer que Portas pode ser para ele o que Cunhal foi para Soares

Santana tem todo o direito a dizer que o PSD está melhor distraído com ele, do que contraído à espera da bênção de Cavaco.

Santana tem todo o direito a usar da demagogia da imagem popular, se outros usam a demagogia da imagem anti-popular



E eu tenho todo o direito de dizer que não o conheço, mas acho graça aos arrepios de espinha que ele produz nas mentes mais iluminadas, e que julgam ser os capitães iglo da estratégia, distribuindo douradinhos de saber pelos grumetes sorridentes mas compenetrados na faina.



Sic transit gloria mundi



Como a brigada de trânsito está muito habituada a lidar com os comportamentos altamente agressivos e atípicos dos condutores portugueses, o sr. Figueiredo lembrou-se de enviar a dita brigada substituir os GNR que estão no Iraque, e assim aproveitar para aliviar a tensão que se vive no seu seio.(e a Nélinha FLeite ficou finalmente com o pelouro das multas de trânsito...)

A primeira “operação stop” nas estradas da nova Babilónia decorreu em beleza.( mas a SIC não estava lá )

Aproxima-se um carro com Bin Laden e Saddam, e é mandado parar pela nossa brigada....



Brigada (cabo 1º) – Podiam-me mostrar os documentos sff



Bin Laden (que ia ao volante) – Ó Sr. Guarda este carro por acaso é da minha mulher, e ela é que tem os documentos na carteira ( Saddam não consegue disfarçar uns risinhos)



Brigada (cabo 1º) – E tem possibilidade de contactar com a sua senhora?



Bin Laden – O problema é que ela agora não pode atender porque ficou com a burka entalada num pesponto da baínha.



Brigada (cabo 1º) – Vou ter de lhe apreender a viatura, porque o senhor também não tem o selo colocado no canto superior direito



Saddam – Eu bem tinha dito ao Tarek para pagar a merda do selo, o sacana deixou outra vez passar o prazo. Ó Sr. Guarda sabe o que é, o meu empregado estava na bicha quando o Bush enviou o primeiro balázio...



Brigada (cabo 2º) – A sua cara não me é estranha....



Saddam – Bem, eu já fui uma vez ao “quem quer ser milionário”, e...



Brigada (cabo 2º) – Já sei! Foi nos “malucos do riso”. Você é danado para a brincadeira...



Bin Laden – Ó Sr. guarda está a ver ... é que nós estamos com uma certa pressa...e eu levo ali uns yogurtes para as crianças e podem-se estragar...



Brigada (cabo 1º) – Agora é que eu estou a ver bem, a sua cara é parecida com aquele terrorista do Afeganistão. Mostre-me lá a mercadoria sff



Bin Laden – Ó Sr. Guarda... aquilo é capaz de estar a cheirar um bocadinho mal, porque o antrax com o tempo via ganhando bolor



Brigada (cabo 2º) – Ó Zé, o antrax não é aquela coisa marada que metiam nas cartas do correio? Estes sacanas se calhar são contrabandistas!



Brigada (cabo 1º) – É lá ! Logo no nosso primeiro servicinho apanhamos uma infracção múltipla! Faz favor de mostrar a vossa identificação! Estou a ver... Sr. Álvaro Soromenho e Sr. Luís Gonzaga... de Sta. Iria da Azóia...passaporte emitido pelo consulado em Zurique...e têm aqui uma carradas de viagens a França...



Bin Laden - ...Foi à Eurodisney...Sr. guarda... e depois passámos pelo santuário de Lurdes...



Brigada (cabo 2º) – Por acaso eu tenho uma prima minha que esteve lá uma vez a fazer uma promessa por causa duma espondilose...



Saddam – Ah! nem queira saber Sr. Guarda o que eu passo com isso....Já estou quase marreco de atravessar tanto túnel.



Brigada (cabo 1º) – Bem chega de conversa, os Srs. não se fazem acompanhar das guias de transporte da mercadoria. Isto sim é uma infracção grave! Qual é a vossa empresa?



Saddam – Bem... é ... a ..McDonald’s !



Brigada (cabo 1º) – Ó Chico..vê aí se essa empresa vem na lista que o chefe nos entregou...



Brigada (cabo 2º) – Não vem. Os gajos estão lixados. Srs. Condutores vamos ter dos autuar, e têm de nos acompanhar ao acampamento dos italianos...



Bin Laden – Ó sr. Guarda não nos faça isso pela sua rica saúde. A gente se calhar consegue resolver isto de outra maneira...



Brigada (cabo 1º) – Não há outra maneira! E ainda para mais os senhores parecem aqueles das cartas com que a minha Alzira faz o tarot lá no Seixal...



Saddam – Eih... onde essa merda das cartas já vai... Bem... eu tenho uma proposta séria: a gente entrega-vos aqueles pacotes de “açúcar” que estão aqui no porta-luvas, e vocês dizem que descobriram as armas de destruição maciça. O vosso governo aumenta-vos no subsídio de risco de certeza absoluta.



Brigada (cabo 2º) – Você está parvo! Essa merda do subsídio vai-se todo nos impostos. É para pagar já e é se não quer ter mais problemas daqui para a frente.



Bin Laden – É pá o melhor é pagar já, que estes gajos não andam aqui a brincar às emboscadas como os americanos, chiça...



Saddam – Espera aí...de quem nós somos muito amigos é daquele rapaz... o Kadafi !



Brigada (cabo 2º) – Ora vamos lá ver ....letra C....não...é estrangeiro ...ora K ...está aqui! Certo. Parece que a Ferreirinha Leite vai-lhe comprar um banco.



Brigadas (cabo 1º) – Bem, então podem passar.



Bin Laden – Porra. Com estes portugueses estamos tramados...um gajo ou tem conhecimentos ou não se safa.

Estrelas carentes



As relações humanas – dizem – são muito ricas

- “Já confiei mais em ti do que confio agora”

Formam um universo de geometria variável

- “Antes ouvia alguém a dizer que tu tinhas feito alguma coisa, e bastava tu dizeres que não tinhas feito que eu acreditava em ti”

com os eixos a dançar

- “Já tiveste razão para desconfiar de mim, agora não”

num constante big-bang

- “Se casarmos vais estar sempre a perguntar a que horas saio, a que horas entro, e eu não tenho paciência para isso”

E quem marca o norte são as estrelas cadentes

- “Não dá para casar contigo se continuas assim”

apanhadas pela lente da curiosidade

-“ Olha, vamos ver no que isto dá”

só é pena que espreitar seja feio.

- "É que eu já não sei viver sem ti"

Mas se não olharmos para as estrelas elas deixam de ter razão para brilhar
O real despojado



(...)

Olá! Eu cá sou o “real”. Estou um bocado saturado. Estão sempre a maçar-me com descodificações. Andam todos com a mania de me apanhar os tiques, e eu sinceramente já não tenho paciência para aturar tantas opiniões e tantos olhares finos e penetrantes.



Com os gregos eu safava-me bem, porque os tipos inventaram aquela coisa dos deuses, e como havia um para tudo eu passava despercebido assobiando para o lado entre escravos e guerras púnicas. E o Platão até deu uma ajudinha com o esquema da caverna, só que eu passei lá um Inverno desgraçado porque aquilo era muito húmido e tive de desistir.



É que isto de “existir” já é um desassossego por causa das intrigas surdas entre o “ser” e a “essência”, e agora o pessoal ainda quer que eu tenha de servir de ama-seca à “substância”. Sinceramente, um “real” não é de ferro e qualquer dia vou-me amancebar com a “poesia” para ver se não me chagam mais o juízo.



Bem é verdade, eu ainda tive alguma esperança há uns tempos com aquele rapaz o S. Freud. O gajo topou-a bem, e parecia que isto ia correr de feição para o meu lado, com tudo entretido nos sonhos da malta; só que porra, acabar por ser confundido com um “sonho”, também não estive para isso, e até já estava a ficar com uma dor desgraçada nas costas por causa daqueles canapés manhosos onde tinha de me deitar.



É evidente que já aturei uns tipos graxistas como o diabo. O pior era aquele caixa d’óculos do Sartre que não me largava a peúga sempre a dizer que eu é que era importante e que não precisava de amigos blá, blá, blá; ora eu até sempre gramei umas boas cowboiadas, por exemplo com a “natureza humana” eram farras que só visto; mas o gajo insistia sempre que nós estamos “sós e angustiados”, e sinceramente o que eu quero é divertir-me e o último que apague a luz.

E para “subjectividade” francamente já me chega esta ultima cegada que são os jornalistas. Então não é que me impingiram uma filha ilegítima que se chama “notícia”. Eu nego tudo. Façam os testes que tenham de fazer. Os meus advogados já vão tratar do caso. E ainda por cima a sacana, não é que já está a reclamar a herança!! Ela primeiro que se entretenha a brincar aos enfermeiros com a “literatura de vão de escada”, (parece que esta descobriu agora uma coisa chamada “estereótipos”, e como não soa bem a escrever, às vezes chama-lhe “cromos”) e quando me derem um netinho eu vou ver o que se pode arranjar.



Isto desde que o Guterres se foi embora com o “diálogo” a minha vida nunca mais foi a mesma. Que cansativos, pá!...

Se calhar também vou rasgar as minhas vestes. (...)



e o gajo mais não disse...
Dissertar sobre o liberalismo é uma perca de tempo.

O liberalismo é uma trivialidade ideológica que não acrescenta nada na “ciência” política. Enfoca de esguelha a análise do estado, e reduz-se a meia dúzia de frases feitas, que alguns filósofos bem falantes ajudaram a cicatrizar. Até um caniche pode ladrar liberalmente, mas mesmo com um belo berloque, nunca alcançará ser um ilustre, sensato e empolgante burocrata. O novo dicionário não ilustrado põe a enxugar um conceito que tem tido várias lavagens no programa errado.( entradas 353 a 362 )



Estado liberal – Espécie de "kitchenete" que algumas "casas" possuem. Algo que tem que existir porque senão até parecia mal; fica ali encafuada num canto da sala com umas mobílias de design italiano, mas o pessoal da casa o que grama mesmo é ir comer fora.



Estado absolutista – Quando o déspota iluminado negoceia o “contrato social” de forma a nunca precisar de restituir o sinal em caso de incumprimento.



Estado de sítio - Circunstância de particular interesse na qual se verifica que o amor ao próximo está encalhado no bolso dos trocos do amor ao próprio.



Estado de graça – O conceito em registo hipnótico, sonhando com uma "magna carta" escrita a feitio e um éden de mercedes novinhos em folha



Estado Nação – Conceito importado das ancestrais técnicas da doçaria tradicional, pelas quais um bolo deve ser cozinhado dentro da forma certa e sempre bem untada, senão um pudim “abade de priscos” mais parece um pastel de nata.



Estado da nação – Baronato da droga enxertado em padrinho mafioso, no qual o “beijar a mão siciliano” foi substituído pela piedosa reverência ao paternalismo racionalista.



Estado Natural – Se temos efectivamente tendência por natureza a viver em sociedade, porque é que o Aristóteles sempre se recusou a comprar o passe, e Leonardo não inventou logo o metropolitano?



Estado de direito – Este conceito derivado da subordinação dum facto-conceito abstracto (o estado) a outro que de concreto nada tem (o direito), constitui-se numa faiança do mais fino artesanato demagógico. Geralmente é exposto já em cacos.



Estado soberano – Procurando esquecer – recalcando – que mais não é senão um “protectorado-libertado”, o seu desejo secreto é mesmo proteger-se eternamente dos malandros dos seus súbditos, convencendo-os de que a outra alternativa é sermos todos um grande Burundi.



Estado pessoa de bem – Se “homo homini lúpus”, então quando “enrebanhamos” a única pessoa em quem se pode confiar é na Heidi. O próprio avozinho pode estar ao serviço do lobo.

Constou-me que o lema escolhido por Rui Rio para a sua governação foi “ Rigor e Consciência Social”. Eu confesso até gosto deste rapaz, e tenho pena de não me ter lembrado dele nas ultima entradas do novo dicionário ...
Novo paradoxo do Rui Rio – Um homem pode estar na câmara do Porto sem estar na cama com o FCPorto.
Não foi no entanto esta entrada apócrifa que me trouxe aqui. Foi a constatação de que os conceitos “rigor” e “consciência social” não combinam. Esta última expressão tem tantas valências que nunca poderá será rigorosa. Em tempos ( 6 de outubro) o Novo dicionário não ilustrado já se tinha debruçado sobre alguns estados de consciência, mas este tinha-lhe escapado. Hoje para tapar este buraco, vai uma rodada especial de argamassa :( entradas 343 a 352)
Consciência Social ( versão S. Freud ) – Estado de libertação do recalcamento produzido em criança por termos assistido ao nosso pai dar um enxerto de porrada num pobrezinho que estava arrastando a asa à nossa mãe. Afinal era uma esmola que ela tinha dado em moeda estrangeira e o mendigo só queria saber o câmbio “ao certo”.

Consciência social ( versão António Damásio) – Parte do cérebro que faz esquina entre o mesencéfalo e o diencéfalo. É uma zona de gaveto muito arejada para os neurónios, e faz com que um gajo quando vê um pobrezinho a pedir se lhe dê um arrepio na espinha que só visto.

Consciência social ( versão Hannibal ) – Zona apetitosa e que dá aparência de boa chincha, mas depois vai-se a ver era só ossos.

Consciência social ( versão Darwin ) – A sua criação marca o momento empolgante da evolução humana no qual um chimpanzé pisa uma bosta de cão, e por milagre vê os seus pêlos começarem a concentrar-se todos apenas entre as pernas. Atormentado pela vergonha, o chimpanzé inventa as casas de banho públicas e as coleiras para as pulgas, e passam a chamá-lo “gajo”.

Consciência social ( versão Lévi-Strauss ) – Mito bem esgalhado que permitiu aos seres mais espevitados roubarem o fogo aos mais distraídos para construírem uma lareira na “salinha de estar”; não deixaram no entanto de pensar nos outros, reservando-lhes a rara oportunidade de irem carregando com a lenha.

Consciência social ( versão Canal Odisseia ) – Quando os leões solitários conseguem conquistar um grupo, a primeira coisa que têm a fazer é limparem o sebo às crias que estão a ser amamentadas pelas leoas do clã que agora querem cobrir. Só assim é que estas leoas entram em novo cio, e não perdem muito tempo até começarem a fornicar com o assassino dos filhos.

Consciência social ( versão Nélinha F.Leite ) - Rubrica nª 34-0005/RS2/4556 do Orçamento de Estado.

Consciência social ( versão Tomas Edison ) - Luzinha que pisca intermitentemente sempre que vemos um patrão rico e anafado entregar o salário a um empregado mal remediado, e este apetecendo-lhe mandar o primeiro limpar o cú ao mísero cheque, acaba por ir a correr “descontá-lo” ao banco, porque o cabrão do patrão não foi capaz de fazer uma transferência bancária em condições.

Consciência social ( versão menopausa ) - Transformação "psicovárica" que permite à mulher deixar de considerar o parceiro num mero sócio do negócio da procriação.

Consciência social ( E. Durkheim ) - Ratio do “nº de pobres” / “nº de roupas vendidas em segunda mão”, encavalitado na percentagem de arrumadores por seringas enfiadas no lixo, e que demonstra – ainda que com alguma reserva metodológica – que mais vale ser feliz e rico que infeliz e pobre.
Culto da Personalidade



Vinha a descer pela auto-estrada que foi iniciada por Salazar e terminada por Cavaco, quando sou alertado pela rádio criada por Rangel que a dita está cortada. Ainda a tempo, desvio pela auto-estrada “criada” por Guterres e passo ao largo das serranias onde Pedro se encontrava às escondidas com Inês, não muito longe do pinhal mandado plantar pelo D.Dinis. Faço tangentes às linhas onde os generais de Napoleão deram com os costados, e quando estou a chegar à Padre Cruz, oiço na rádio do CBarbosa, que o Sr. Figueiredo (ministro) vai anunciar o nome do novo comandante da Brigada de Trânsito. Chiça! Parem com essa merda dos nomes e digam mas é onde estão os radares.

Este blogue é praticamente científico. Mas somítico. Arranja as premissas nos saldos, nunca vira as costas a uma boa promoção de sofismas e adora ser o primeiro a descobrir uma teoria pechinchada no meio dos trapos velhos. Por princípio o novo dicionário não ilustrado não tem princípios, mas também não se deixa levar pela ladainha da ambiguidade. ( entradas 334 a 342 )



Novo teorema de Pitágoras – Quando um político de esquerda absolutamente quadrado se encontra com outro político de direita absolutamente quadrado para traçarem uma política transversal, o resultado é um rotundo fracasso.



Novo paradoxo de Giffen – Quando sobe o preço do pão é garantido que as forças do bloqueio vão passar o tempo nas padarias a comer papo-secos de empreitada. O consumo anacrónicamente vai subir porque não há graveto para o bife do lombo; os talhantes ficam “em brasa”, o FAssis arrisca-se a levar com outros “papo-secos” e o PS fica mais uns tempos sem ver o “padeiro” que entretanto foi gozar o pagode.



Novo Princípio de não contradição – Duas políticas contraditórias não podem ser verdadeiras nem falsas ao mesmo tempo, são apenas para cumprir ao mesmo tempo... e pronto.



Novo postulado de Euclides – Um partido instalado fora do sistema tem apenas um paralelo com os outros: a tendência para a sobrevivência a qualquer preço.



Novo Paradoxo de Zenão – Quando um partido pretende uma maioria absoluta, primeiro teria de garantir a sua metade e assim por diante, ficando sempre uma metade por alcançar. Ora se está demonstrado que é possível chegar à sonhada maioria, é porque o movimento da política se dá lindamente caminhando apenas entre as meias verdades.



Novo Paradoxo de Russel – Quando um político diz que vai governar para quem mais precisa começa por governar para si próprio.



Novo Paradoxo de Banach-Tarski - Se tentarmos dividir um pequeno-partido-político-armado-ao-pingarelho num número finito de tendências, essas subcorrentes poderão ser reagrupadas por forma a constituir um novo partido tão grande como o bloco central.



Novo Paradoxo do centro de gravidade – Nem sempre quanto mais baixo está o centro de gravidade de um sistema, mais estável é o sistema. Quando a populaça votadora está concentrada nos folhetins dos “altos gabirus”, vai–se entretendo “arreganhado a tacha” e diluindo-se estavelmente na espraiada apatia da frouxa base do sistema.



Novo Paradoxo da cassete – As teorias políticas que se arrogam de ideologias da libertação acabam por só nos convencer de que o melhor é agarramo-nos à realidade que temos.

Agora um pouco de política

porque não podemos passar o tempo a tratar de assuntos sérios



Corri alguns riscos confesso. Fui ler o artigo do FLouçã no Público despido do conforto dos preconceitos. Não sei...falava daquela coisa dos estudantes, com um carinho contra-corrente que apetecia; eu que até adiro com gosto pueril àquela ideia esquerdófila do ensino universal e gratuito, vejam lá...sublinhei passagens e tudo!( às escondidas claro...)



“para além do discurso etéreo das televisões sobre o país imaginado (...) existe uma política confrontada com as escolhas sociais que nos vão mudando“

Ai que ele vai fazer a folha aos mitificadores da nação! A coisa prometia...mas afinal o FLouçã , desde que o nomearam para grande descodificador da realidade, virou anjinho em FM. ... meteu a cassete do “caça liberalismos” do costume, e deixou de enxergar que não existe política nenhuma de “transformar o país num imenso mercado sem direitos sociais”. Há uma mera gestão do negócio de ocasião. O país gerido como um imenso condomínio: os elevadores são prioridade, as infiltrações no terraço devem ser pagas pelos do último andar, quem não tem as quotas em dia leva com o nome escarrapachado numa lista pregada no hall de entrada. O social é haver dinheiro para pagar à porteira. E pagar o menos possível, desde que tenha a escada limpa.

Há ‘pera aí ! ele vai definir o que pensa a esquerda e a direita....:

“ para a direita é mais eficiente socialmente fazer pagar o ensino, porque assim lá chegará quem compra esse direito (...) para a esquerda a diferenciação não pode ocorrer no acesso mas somente no mérito no uso do direito” , and again...”para a direita é uma questão de eficiência de recursos (...) para a esquerda há bens que têm custo mas não devem ter preço”

É pá, então as frases giras são todas só para a esquerda... a direita só leva com as palavras que ninguém grama...Olha ! olha,! outra frase com muita pinta:

“O elitismo mercantil defende-se ainda com a fanatização do argumento : a arregimentação do campo do poder no confronto político corresponde a uma militarização discursiva sem tréguas, em que não pode haver alternativas nem soluções, só cadáveres”

Boa malha. A esquerda em vez dos “Hossanas liturgicos” poderá passar a usar os “Louçanas apologéticos” : Corações ao alto, cá em baixo a discutir ficam os fascistas.



Um dos problemas da esquerda, continua a confirmar-se, é colocarem ao barulho a “eficiência” e a “igualdade” como se fossem do mesmo campeonato. Não são.

A “eficiência” pode bater-se com o “respeito por todos”. A “Igualdade” tem de se bater com a “máxima discriminação possível”. São dois campeonatos diferentes. A esquerda não consegue ver isto e assim entretém-se no esquema das eliminatórias. A direita deixa correr o marfim porque joga em todos os campeonatos, aproveitando ao limite as regras do jogo, sem estar sempre a pô-las em causa. A esquerda carrega tantos complexos, que passa a vida a chamar nomes aos árbitros e nem repara que tem o banco vazio.

Infelizmente a “arregimentação do confronto político” não produz “cadáveres”: este é sim feito por moribundos encarrilados em vigas ferrugentas.

"Louçanas" nas alturas e paz na terra aos homens sem vontade, mas com palavreado de acólitos mal amanhados. A paz também já não é o que era.



E eu tenho que abreviar isto porque os lagartos vão jogar com o braga e pode-me esperar um serão “em cheio”...
O equilíbrio é uma das marcas da actividade política. Um consenso vem sempre seguido de um com-penso. O novo dicionário não ilustrado revela os segredos da conveniência, perdão convivência, democrática. ( 326 a 333 )



Pacto – Estado da natureza próximo do fungo micótico que permite a coçadela prazenteira da demagogia, mas que está sempre ansiando pela pomadita milagrosa do expediente.



Convenção – Maravilha das relações humanas que transforma uma sala de irrequietos abafadores de ajudas de custo, num corredor de comensais inebriados pelo encanto duma boa refeição.



Tratado – Situação decorrente duma crise de bulimia intelectual, que leva à elaboração de dietas ricas em hidratos de converseta com trivialidade insaturada.



Aliança – Emparelhamento de valor simbólico que, ao permitir a sublimação das individualidades, realça o recalcamento dos complexos infantis de nacionalidade. Felizmente todos os países são filhos ilegítimos, e com os testes de ADN aos imaginários nacionais só descobrem que o pai andava com todas.



Federação– Quando nos mandam federar, é porque já fede tanto, que pelo menos todos juntos já não se sabe de quem é a flatulência.



Liga – Mesmo sem faca não deixa de ser uma promiscuidade a evitar. No alcoice das autodeterminações mandam as mais finas e abrem as pernas as mais escanzeladas.



Coligação – Momento de êxtase no bordel da representatividade, no qual o conluio do leito se faz entre os clientes que caíram no goto dos corretores de apostas de turno. Desfaz-se quando se abusa dos beijos na boca.



Acordo – É o colchão de penas que acolhe a lei das compensações cardadora de toda a actividade política. A compensação mais reconfortante é a de que um político intrinsecamente tolo, traz associado o facto de ser intrinsecamente previsível. Assim o povo vive em concertação permanente. Fiado no fuso "concordato" das urnas.

Sobreviver sacudindo



Recebi este texto com um laço azul a abraçá-lo.

“O que eu procuro na transfiguração cómica ou irónica ou grotesca ou burlesca é a saída da tacanhez e da univicidade de toda a representação e de todas as opiniões. Uma coisa pode-se dizê-la pelo menos de dois modos: um modo pelo qual quem a diz quer dizer uma coisa e mais nenhuma senão essa; e um modo pelo qual se quer dizer de facto essa coisa, mas ao mesmo tempo recordar que o mundo é muito mais vasto e complicado e contraditório” de Italo Calvino



Eu por acaso até não gosto da expressão “ isto é muito complicado”. O seu uso tornou-a recurso gasto. Gosto mais de “enrolado” (como até a etimologia da palavra induz) porque mostra o mundo mais próximo da sua condição geométrica .

No entanto, essa coisa de deixar como ferida exposta a ambiguidade de um facto, de uma palavra, dum conceito, de uma pessoa, é algo que seduz. Para o alcançar o recurso às técnicas de humor mais correntes acaba por ser o método mais fácil e corriqueiro; infelizmente a maior parte das vezes, por manifesta incapacidade, também não consigo fugir a esse registo; não fabulo com facilidade, e sou incapaz de introduzir – com naturalidade - a tal “poesis” no discurso.

Tenho assim a impressão crescente de que o discurso humorístico está muito sobrevalorizado, e que aquela ideia (quase psicanalítica) de que muitas vezes é apenas o humor que permite a sadia relativização da nossa existência, acaba por ser a constatação da falta de alternativas de consumo fácil.

Aparece agora igualmente “endeusada” aquela categoria do humor inteligente, que eu francamente não sei o que significa. Todo o humor é estúpido, no seu sentido de assombrado, repentino, até fugaz. Não leva à contemplação.

E é ritualista de facto. Em tempos, o memória inventada suscitava tipologias como “humor institucionalizado”, “humor fechado”, “humor de timming televisivo”, “humor forjador de expressões”, “ humor eficaz”, “ humor de filão”, “humor de provocação gratuita”, procurando descodificar os casos de sucesso comercial do chamado humor profissional. Ou seja, o humor também pode banalizar a transfiguração da realidade ao fazê-lo de forma demasiado ortodoxa, maquilhada com uma grande variedade de trejeitos sacudidos.

É que o mundo também é muito mais vasto que a sua aparente ambiguidade.

Relativizar é apenas sobreviver. Às vezes rindo.

Agora vou ver se descubro uma piadola a gozar com valencianos e suíços....
Hoje, só por causa das coisas, o abrupto acabou por marcar a agenda deste sítio esconso (alguma vez tinha que ser...). Os grandes educadores mudaram. A classe operária também. Já não é de “ elite para elite” mas de “frivolite para frivolite”. O novo dicionário não ilustrado não se acanha perante a concorrência e apresenta alguns dos novos professores.( entradas 318 a 325 )



Canais generalistas. São canais porque ligam duas zonas húmidas: o pântano da realidade com a fluidez da notícia. São generalistas porque esta humidade seca com qualquer merda nova que apareça. (evitei as alusões sexuais óbvias, porque sou púdico-discursivo)



Jornalistas económicos – Rabejadores de trivialidades. A economia da nação deixa de ser um lugar lúgubre e inacessível, para se tornar num episódio do sítio do picapau amarelo apresentado por bandarilheiros a sacudirem pandeiretas, pensando que estão a dar a volta à praça em ombros.



Associações de estudantes (ou os manuais da reivindicação) – Vendedores de cintos de castidade para universidades. Esses sim preservam o mais estranho celibato, o da estupidez humana: não fornica com nada mas casa com todos. Quando se começa a traficar direitos apregoando-os como uma anedota de putas, acaba por se vender o corpo a troco duma curiosidade bem embrulhada.



MRebeloPinto e sus muchachas pop-light – Permitem o acesso às profundezas da alma sem termos a maçada de descer por escadas íngremes e perigosas, e elevam-nos flutuando à purificação do espírito sem termos de nos enjoar com palavras difíceis e ondulantes. Verdadeiras fadas madrinhas com varinhas mágicas que também servem para palitar os dentes e tirar a cera dos ouvidos.



“O cunhado do filho do patrão do vizinho” – Aquela tal pessoa que afinal sabe porque é que foi e quem é que estava por detrás e quanto é que o outro comeu por fora e como tem um amigo lá dentro também sabe que o outro já tem tudo preparado e o resto do pessoal é que não sabe e por isso é que ele aproveita mais que todos os outros que são parvos. O saber feito uma provinciana cegarrega de engates bem engatilhados e melhor contados.



Revista XIS e quejandos – Depois da idade do armário parece que todos nos transformámos em cabides de sentimentos. Estes fantásticos varejadores de psicologismos de vão de escada, são a naftalina que nos prepara para sacudir a apoquentadora traça do dia a dia. Uma nhanha onde nem o peixe desova, nem os gatos fodem em condições.



e finalmente....

Bush – Ocupa o lugar do ponto no teatro do Éden. Vê-Lhe praticamente a face, mas no pior ângulo (Deus não tem os mesmos cuidados de imagem que Júlio Iglesias). Como não tem a mesma preparação dalguns, interpreta as escrituras à letra e só está preocupado com o tempo das falas.



F.Louçã – Verdadeiro arquimedes do pensamento revolucionário de esquerda. Deram-lhe a alavanca do microfone e ele prepara-se para levantar o mundo. Pode é esquecer-se que nós ficamos debaixo, e o Newton também era cientista....



Repare-se como evitei as previsíveis alusões a JPPereira, MRebelo de Sousa, MMCarrilho, Expresso e a todos os colunistas que nos libertam do espartilho da ignorância. É que o respeitinho é muito bonito. ( bem... e é claro que eu não podia referir o malandro do Aviz senão ele dizia que eu era da patrulha ideológica...)
"Judiarias"



Garantir desde já que Santana Lopes será candidato a Belém é um favor que se faz ao país e à política portuguesa.



Em primeiro lugar talvez os socialistas se vejam novamente tesos para levantar a garupa da luta política, e assim talvez isto aguente o PS mais um bocadito até morrer de vez. Cavaco continuará a escrever artigos dizendo que já tinha previsto tudo há carradas de anos, e nós ficamos mais sossegados por saber que ele continua a zelar por nós.

MSoares saltará a correr da bicha da caixa de previdência e escreverá a sequela do bestseller “ Meu filho, meu tesouro”. Os flocos de esquerda continuarão as peregrinações na serra do Louçã, recalcando os seus “seminarismos libertário-socialistas” com teatros obscenos de rua.

Marcelo entalado entre o “ódio óbvio e as aparências que já não iludem”, cansado de fazer tanta opinião que já não sabe qual é a dele, irá escrever a meias com Freitas um drama sobre a pedofilia na 1ª dinastia, para o APVasconcelos levar ao altar do cinema numa superprodução que secará a pia da água benta dos subsídios por cem anos.

E a direita científica? À nora, mudam de agulha e aderem ao movimento de anti-globalização. O BoaventuraSS acolhe-os porque descobre que a esquerda já não derruba horizontes. Portugal será o mestre-de-cerimónias da grande fusão ideológica dos tempos modernos.

Depois isto até pode animar, porque Deus talvez volte a pensar em nós como segundo povo escolhido. O cordeiro a oferecer será eleito juntamente com o referendo à constituição europeia. As doze tribos serão os clubes de futebol (qu’é para não se estragarem mais famílias).

E se por mero acaso Santana perder (para Guterres ou para Narciso Miranda), irá emparelhar com a bailarina Odetesantos recitando trocadilhos políticos no túnel das amoreiras.

Deus, vendo Guterres, vai-se arrepiar e nem espera por Moisés levando-nos a todos pela mão para a Terra prometida. E lá nos vamos desenrascar outra vez (mais praga menos praga...)



Para mim é uma imperial se faz favor

Estar dentro e querer ver como se estivéssemos fora; estar fora e querer ver como se estivéssemos dentro. É isto que faz dalguns, peregrinos numa suave neurose de ubiquidade. Claro que os jornalistas e os políticos ao celebrarem o estilo” Um olho no burro e outro no cigano” pensam que iludem esta “fatalidade”. Só que o mundo responde-lhes como o personagem-narrador do “Túnel” de E. Sabato : “ existiu uma pessoa que poderia compreender-me. Mas foi precisamente a pessoa que matei”
Se calhar pensavam que só os outros é que podiam escolher títulos à toa
Os “comentadores literários” parecem aqueles que estão sempre a bater à porta da casa de banho a oferecer papel higiénico quando nós só queremos é satisfazer os caprichos do corpo em paz (isto era um título)



Já estava a ficar preocupado a ver que só os outros blogues é que recebem correio qualificado. Foi então que...Fátinha Felgueiras – num hospital brasileiro, curando-se duma unha encravada ao desatar um nó do seu ultimo saco azul - não quis ficar atrás do VPulidoValente e mandou-me uma carta sobre a sua leitura pessoal do novo livro de ALobo Antunes



“ O “boa tarde...qualquer coisa “ é um romance confuso. O senhor que o escreveu deve ter problemas de tabulação lá no computador dele. Ou então é uma “fobia da esquadria”... (Isto lá nas câmaras resolve-se com umas rotundas). Aquilo não é livro que se possa oferecer no Natal!!! Uma pessoa começa a lê-lo e só acaba lá prá Quaresma; o espírito da epifania mistura-se com o do sofrimento...bem.. afinal até tem tudo a ver...

As palavras nem são difíceis – aqui no Brasil é bem pior – mas eu acho que o sacana faz de propósito para nos ludibriar os neurónios com a obsessão de misturar os discursos e os tempos (Na câmara, se eu fizesse isso diziam logo que era corrupta porque não mostrava as coisas às claras).

Ouvi-lhe dizer que este é o “território da ficção”. Eu vi logo que não era única a driblar o PDM. O magarefe do Antunes também não tem regras nenhumas, é um urbanizado a meter-se numa reserva ecológica, e o pessoal depois de ler tem é que ir enfiar os miolos na enceradora (eu também queria mandar fazer uma lá em Felgueiras...ou era incineradora??)

E é muito feio escrever sobre terras inventadas, porque as terras já não se podem defender e nós ficamos sem as nossas referências (lá no PS também diziam que perder na nossas referências era muito mau), não sabemos quais são as carreiras que se apanham e se quisermos fugir do romance, vamos para onde, se já não sabíamos onde estávamos???

E é muito triste aquele ar distante de quem parece que não controla o enredo (e ainda nos criticavam com o resvalar das empreitadas). Um escritor tem que ter a sua personalidade. Não se pode levar pelas falinhas mansas das personagens. Senão elas mandam nagente e fica como nas telenovelas e na política; ora o senhor Antunes, que me dizem não ser desses, como é que se mete nestas alhadas!? “



O Lobo Antunes que não consegue escrever nada sem vir ler este blog, de certeza que não se vai ficar ...
O novo dicionário não ilustrado encanta-se com os “suaves engajamentos” ( na lista de links ). Tentando ajudar o resto do batalhão a marchar em condições, propõe a seguinte arregimentação para que não se troque o passo da marcha:( entradas 297 a 317)



Romantismos

Esquerda I– Tem os sentimentos à flor da pele. Saem geralmente flagelados pelo contacto com a realidade.

Direita I– Tem os sentimentos no sangue. Em regra só acabam por encontrá-los quando vão retirar a seiva para as análises (políticas).



Preocupações

Esquerda II– O desemprego deixou de ser uma preocupação social para ser uma preocupação pessoal.

Direita -II Na impossibilidade técnica de terem preocupações sociais, o desemprego passou a ser um mecanismo de regulação que deve ser acarinhado



Orfandades

Esquerda III– Tem apenas o "bush" e falta-lhe o "estica". As paródias começam a sair-lhes mais sensaboronas e com ligeiro sabor a resignação

Direita III– Só com um Lula a sério para fazer a caldeirada, não conseguem nem demonstrar, nem ameaçar, nem prometer que estaremos próximos do “fim do mundo em fio-dental”



Tecnocracias

Esquerda IV– Prepara cuidadosamente as soluções, para depois escolher os problemas que mais se lhes ajustam

Direita IV– Adapta criteriosamente os problemas para receberem as soluções do costume.



Obsessões

Direita V– Pega nos paradigmas revolucionários, que pede emprestados à esquerda quando esta os pode dispensar, e metaboliza-os em medidas cirúrgicas.

Esquerda V– Sublima os paradigmas conservadores, depois do seu devido recalcamento face à neurose de inveja, e evapora-se no pragamatismo em fervura.



Subversões & Conspirações

Direita VI– Os explorados são agentes secretos da mediocridade e os exploradores são fogo amigo. Mata-hari é o mercado em versão drag-queen.

Esquerda VI– A luta de classes é amamentada e acarinhada por compromissos históricos. A ética revolucionária propõe que se use o poder como barriga de aluguer.



Estéticas

Esquerda VII– Como se considera guardiã da expressão artística, nunca troca um bom drama por uma boa perspectiva.

Direita VII– Como se considera guardiã do património, nunca troca uma coluna coríntia por um teatro ao ar livre.



Penitências

Direita VIII– O corpo acompanha bem as amarguras da alma. Limpa os seus pecados utilizando os transportes públicos para se passear entre as estações dos preconceitos e os apeadeiros da caridade.

Esquerda VIII– Não distinguindo a alma do corpo, acaba por não sofrer. Limpa os poucos pecados que reconhece, no molho da saponária do discurso



Turbulências geracionais

Esquerda IX- Os filhos moderados amancebaram-se definitivamente, e os avós radicais estão numa crise de nervos a mudar o testamento à pressa. A corja de herdeiros acotovela-se - em “bloco” - à espreita duma assinatura moribunda.

Direita IX– As novas castas mais castas ainda agora saíram da poda e, coitados, já lhes estão a espremer o bago sem piedade. Os novos “cavernáticos-sabichons” estão às “Portas” da adega, mas não os deixam misturar-se com as velhas “periquitas”. Entretêm-se a ver a “Bela e o Mosto” na 2ª fila.



Trabalho sujo

Esquerda X– Encomenda-o à direita.

Direita X– Fá-lo com gosto, mas exige à esquerda pré pagamento.

Eu, um itinerário

Eu gosto da palavra transcendência. É um dos tais conceitos que permitem ao discurso não se deixar contaminar pelos acontecimentos. O Rubem Fonseca dizia que ela devia ser proibida porque já a tinha visto ser usada para descrever um bóbó de camarão. Só que ela está-se a borrifar para isso.

Aquela ideia protestante de que as palavras nos livram do “folclore” simbólico-imagético acabou – infelizmente – por vingar nalguns subconscientes e diluiu-nos por vezes num território exegético-real.
Com as suas obsessões etimológico-oníricas ( e viciantes... ) JLBorges também se esticou um bocado e não está isento de culpas: Deixou-nos ainda mais atados ao labirinto facto-discurso-facto-discurso.

Ou seja : “Para lá de” é onde eu quero estar, longe das palavras, longe dos factos, longe dos significados, na mera circunstância, na mera “superstição topográfica”. Onde a facilidade simbólica é a “narrativa dominante”.
Em blogspot.com. A minha sala de chuto assistido.
Prémio de consolação



Por mim pode ficar perfeitamente decretado que: Quem por pudor, ou vergonha, ou consciência da realidade, não se puder dar ao luxo de auto intitular “extremamente inteligente”, poderá em recurso utilizar o epíteto de “irónico”.

É fino e não fere tanto os espíritos mais frágeis como eu. (estive para escrever frígidos, mas agora um gajo tem que se conter...).

A ironia está a tornar-se o palhaço pobre do discurso.

O drama da infinidade semântica : Inocência explícita

Fui tomado por uma certa pulsão de thanatos.
Não sei se conseguirei resistir. É mais forte que eu, que sou reles andróide endrominador... É que isto de dizer mal também me parece que está a precisar duma recauchutagem!... O quarto do pulha – em flagrante crise de identidade – até já se tem de encostar à bengala do pipi, o Mephis começa a rodopiar demasiado em torno de vítimas que o ignoram, e o anarca constipado já apenas atordoa recenseando anarquicamente notícias.
Isto de viver apenas parasitando na tolice alheia está a ficar difícil. É como estar sempre a dizer que não se gosta de bacalhau com natas. A certa altura o bacalhau caga nisso, e a vaca é para esse lado que muge melhores natas.
Organizem-se pá!
Até o VPulido Valente já teve de vir dar uma mãozinha!!!!
Bem eu não m’aguento mesmo...
Julgo que todos já nos distraímos com a gabarolice marialva, já mandámos as nossas chalaças ao orgulho gay, já elaborámos os nossos imaginativos trocadilhos sexuais, já mandámos umas piaditas a padrecos mulherengos, agora o que eu ainda não tinha apreciado era a “castidade apregoada”. Foi então hoje que descobri o “orgulho acenante de um miosótis grisalho que não é uma ameaça sexual”.
Trata-se de uma castidade não contida. Uma pureza de espírito que eleva a mente às muralhas da bem-aventurança e o corpo ao recato duma catacumba.
É uma revolução na moral. Vinde que eu sou cristal. Através de mim vereis o vosso coração e não vos conspurcareis.
Um altar de virgindade com ponte rolante é o sonho de qualquer pecador. Felizes dos que lhes basta carregarem num botão, para bascularem a sua alma até ao suave leito do amor desinteressado e desinfectado. Sortes dos que olham para si próprios e vêem um são bento envolvido em silvas.

DdD...Falar de nós próprios, de facto, não está ao alcance de todos. E bem dizia G.Steiner que “ Não há nada de mais exasperante na condição humana do que o facto de nós podermos significar e/ou dizer seja o que for”

E pronto agora vou ter que dizer aquela lengalenga do costume: não o conheço. Se calhar é bom rapaz. Isto não tem a ver com o cidadão em concreto. Muitas vezes até gosto do que escreve. Tenho invejolite do seu público babejante. Ele até foi ao fundo da alma poética de Pessoa como nem a mãe dele. Uma coisa é verdade: não sei quem ele é. Se soubesse nunca escreveria isto.
E até me dá para lembrar o AJabor de há uns meses: “Essa é a utopia masculina: satisfação plena sem sofrimento ou realidade”.
A castidade também pode ser hardcore.

(agora para limpar, durante o resto da semana só vou escrever a dizer bem da ana gomes, do manel monteiro, do narciso miranda e da mrebelopinto)
Os intitulados “estados de direito democrático” têm as suas cruzes, e em regra são muito eficientes a distinguir o bom ladrão do mau ladrão. Geralmente quem carrega a cruz democrática nunca é o carpinteiro nem o seu filho. A eficiência é o nome do carrinho de mão que a transporta. Aos solavancos. O novo dicionário não ilustrado é o guia turístico desta via-sacra. ( entradas 286 a 296 )



Falta de legitimidade – Vício que peregrina no instável equilíbrio entre a eficiência e a formalismo da lei. Promove romarias para afagar indignações dos que vêem na lei uma canja de virtudes.



Favorecimento – Crueldade que mina o lírico equilíbrio entre a eficiência e a igualdade. Alimenta os enojamentos dos querubins do paraíso da hipocrisia, e os desabafos irritados das almas que purgam cobiça.



Erro Judiciário – Ovelha negra do pastoreio jurídico que atrapalha o bucólico equilíbrio entre a eficiência e a liberdade. Como a inocência é uma presunção, quem se julga inocente não é mais que um presumido.



Conflito de Interesses – Estremecimento de energia variável que polariza o aparente equilíbrio de embalar todos os amores não risíveis. Atrapalha muitas almas que julgam que o motor é dos valores e que depois verificam que o volante só gira no sentido dos ditos interesses. Felizmente o motorista no final do dia acaba por ir dormir a casa.



Danos colaterais – Vírus recalcitrante que se insinua constantemente no mal imunizado equilíbrio entre a eficiência e a tranquilidade. Se quem anda à chuva se molha é porque as gabardinas passaram de moda e o que está a dar é mostrar o umbigo.



Selva das instituições – Teia pegajosa que atrapalha os movimentos do imperturbável equilíbrio entre a eficiência e a regulação dos “mercados”. Quando a “intuição da concorrência” parece não ser facilmente domesticável, é necessário carimbá-la com os diversos selos brancos das “instituições da decência”.



Minorias (respeito pelas) – Inesperada perturbação no mais que perfeito equilíbrio entre a eficiência da centralização e o supérfluo luxo da representatividade. Ele há gajos para tudo e um gajo não pode pensar em tudo.



Demagogia – Frágil aconchego que empalha o mal acamado equilíbrio entre a eficiência duma mensagem e vertigem de agradar. Só o oco palavreado se pode preencher de boas intenções.



Frustração social – Irritante comichão para o arrogante equilíbrio entre a eficiência na gestão dos recursos e os caprichos desses recursos. O luto dos explorados faz-se no nojo da classe média.



Privacidade (devassa de) – Epidemia que assola a ilusório equilíbrio entre a eficiência da informação e o direito a “mijar em paz” . Com a floresta do “espaço púbico” tão desbastada só resta o “sonho” da versão algaliada ou a sobranceria da incontinência.



Político-anedota – Bobo da corte que desanuvia o maçador equilíbrio entre a eficiência de governar na paz do senhor e a necessidade de prestar contas. Quando mais vale nem saber, é sinal de que o ladrão era amigo da casa.

Às vezes não são rosas senhor



Se o que nós assistimos nos últimos dias pelos chamados “ meios de comunicação “ é o que parece, a situação iraquiana não se adequa à visita não turística dos 150 coitados-GNR-portugueses.

Governar com “sentido de estado” e “noção do papel de Portugal no mundo” não pode ser: “agora só há é que os apoiar”, “não podemos fugir às nossas responsabilidades”, “ há que assumir os riscos das nossas alianças”.

Podemos “andar à nora” mesmo sem ser burros.

Quando elegemos o nosso prosaico-primeiro-ministro não elegemos um grande estadista internacional, mas apenas um tipo para nos diminuir a listas de espera e acautelar das vacas loucas.

A guerra é um fenómeno com o qual podemos ter que viver, mas tem as suas leis. E não julgo que sejam as mesmas das finanças públicas.

Para não ter vistas curtas não basta pôr a mão a fingir de pala de sol. Não estar encandeados não é suficiente para ver bem; há que saber viver na sombra. Se passarmos o tempo a piscar os olhos, ainda vão pensar que andamos a querer engatar alguém.

Para actos simbólicos chegam-me as eleições.

Pintores de escrita à pistola



Uma das coisas que dá mais pena é ler as banalidades que grandes pintores escrevem sobre a pintura. O génio está-lhes quanto muito no pincel, bem longe do verbo. Acabam geralmente por apenas distribuir trocadilhos suavemente metafísicos sobre os conceitos que suspeitam dominar.

É a velha obsessão de conseguir ver o todo, e de não nos contentarmos por andar distraídos e entretidos apenas com as partes.

«Só o aspecto puro dos elementos numa relação equilibrada pode aplacar a tragédia da vida.»

“Por detrás das formas naturais mutáveis jaz a realidade pura que é inalterável.”


Lia-se de Mondrian no murmúrios do silêncio (que na sua boa fé nem tem culpa...). Esse rapaz foi de facto um dos que perdeu tempo com um ideotário estéril e quase pueril, não se contentando em apenas pintar brilhantemente e ir ouvindo um bocado de jazz. Na linha doutro rapaz - o Kandinsky – que também se desfez em palavreado de trivialidade conceptual, e tanto esgotou a sua verborreia ( de triângulos a agredir curvas) que muitas vezes nem sobejou nada para dar uns títulos de jeito a muitos dos seus sobrestimados quadros.



Pintem, nós gozaremos e agradeceremos, mas não chateiem. Já nos basta o também sobrestimado Manuel António Pina ter dito que “ O azul não é deste mundo, / nem os olhos são deste mundo “

Se calhar aqui já fui longe demais....

O Cunhal afinal



Porque gostamos de inventar pessoas especiais!? Cunhais de altar. Ladrilhadores de testa alta com diploma de arquitectos. Mistificações de ridícula-incontornável-importância-histórica.

Cunhal..... Prefiro ser visto como um extenso bordel bragantino do que como um lar de comunas

.

Afinal chamou-se heróica coerência a um mero instinto de sobrevivência

Afinal eram meramente tácticos os processos articulados de segredo-revelação

Afinal nem toda a gente que desenha bem tem direito a ser herói nacional

Afinal ser clandestino é a sina de qualquer bloguista anónimo

Afinal ser escritor anónimo é a sina de qualquer pipi



Afinal certa esquerda tem-lhe secreta raiva porque ele tem mais pedestal que ela

Afinal certa direita põe-lhe o “manto da glória” porque arrelia a esquerda



Afinal ele condicionou um período histórico em Portugal porque apenas estávamos confusos, mas continuamos e ele já não tem nada a ver com isso

Afinal ele acreditou no destino da história, mas vai precisar da mão misericordiosa de Deus como todos os desgraçados que instrumentalizou

Afinal as gajas gostam dele como gostam de qualquer velho de cabelos brancos

Afinal os jornalistas gostam dele apenas porque ele se mostra inacessível e até fugiu da prisão.



Cunhal.... Mais um dos fornecedores do multifacetado mito de que “estivemos quase quase”.

Acontece porque somos um país com a vertigem da tangente.

Uma mão amiga para os dependentes da história. Um mero manipulador fantasiado de idealista revolucionário.

O método histórico tem o que merece. Afinal.

Primus inter parvus



Enrebanhando pelo tricot de links desta paroquiana blogaria,dei com um dos “escrevedores encolunados” da moda a dissertar sobre ter fundado “o primeiro” blog português.

Eis outra das “vertigens obsessivas” da nossa condição: aparecer antes do outros, ser o primogene, ter dito primeiro, ter feito primeiro, ter pensado primeiro. Olhar para trás e ver sempre uma cauda a abanar.

O novo dicionário não ilustrado apresenta-nos outras “camisolas amarelas” do pelotão. (entradas 276 a 285 )



Adão – Cortou a fita à entrada da espécie. Por causa da merda duma maçã passou o tempo todo com uma parra à frente e uma mão atrás. A costela mais atrevida deu azo a uma gaja, vá lá..., mas no afinal das contas foi um tipo que só serviu para nos infernizar e mediocrizar a existência. Abraão depois também não ajudou.



Ovelha Dolly – Não era ranhosa mas finou-se rápido. Ser copiada afinal era uma originalidade de judas. Nem a porra duma camisolita de lã se conseguiu fazer com ela.



D. Afonso Henriques – Um power ranger que nos separou da Galiza ainda sem o TGV adjudicado, condenando-nos à sina de sermos apeadeiro. Lá porque não queria ser menino da mamã não precisava de se ter esquecido dos percebes e só ter trazido para cá os tremoços.



Fernando Santos – O primeiro “engenheiro do penta” fiou-se no nome e acabou a carpir nos finados matraquilhos da lagartada.



Kandinsky – Apresenta-se como o primeiro pintor abstracto, mas acaba por se resumir a umas t-shirts e uns calendários pouco apreciados pelos camionistas. Nos postais de Natal não rende porque nem se percebe onde está o menino Jesus. Nos previsíveis museus faz figura de corpo presente a ver passar o cortejo de vénias.



Neil Amstrong – Foi o primeiro na lua, mas esta musa da noite continuou a ser um mero asteróide poético. Fez com homérico aparato o que um robot bem oleado e telecomandado num sofá também faria.



Branca de Neve e os sete anões – Primeira super produção do desenho animado, onde a utilização de um obsceno montante de recursos, não garantiu sequer a desmontagem definitiva do mistério monogâmico a que se propunha: O príncipe ficará para sempre hipotecado à boa vontade de sete anões.



Vasco da Gama – Deu com a pimenta antes de se ter inventado o saleiro, e criou expectativas de que iríamos viver num eterno banquete. Como os “chinocas” andavam entretidos na altura, deixaram-nos brincar aos restaurantes e aos serviços de porcelana durante uns tempos. Restam uns cacos a alimentar os leilões da moda.



Einstein – Na busca do absurdo absoluto descobre o incómodo relativo e a charada mantém-se. O tempo e o espaço continuam a ser a reserva poética da espécie. Fica como mais uma máquina de aforismos com os cabelos ao vento, à espera que Deus nos resolva definitivamente o assunto.



Emídio Rangel – Depois de ter inaugurado os saudosos “ Perdoa-me” e “Cenas de um Casamento”, leva agora a nobre tarefa de Marante-manager. Quando for consultor da Carris a sua “mais-que-tudo” será.... pica-bilhetes.

Annus possibilis



Procurando dar uma machadada definitiva no tacanho vício de não sabermos olhar para o futuro, de apenas navegarmos à vista e de agirmos só para o imediato, o nosso venturoso governo decidiu estabelecer um calendário para a realização do “pouca-terra-pouca-terra” do futuro até ao ano 2018. Isto sim é estratégia e planeamento da mais fina água. Agora não devemos ficar por aqui, pois temos finalmente o futuro nas nossas mãos. Sou forçado a debitar um programa construtivo para Portugal:



2019 – Ano da limpeza. Bandeira Azul para o rio Trancão. Gigi revela ao mundo o “safio au bechamel”. As festas sociais rendem-se ao encanto do suburbano. Represas fará duetos com Emanuel. Portugal será um país asséptico, pleno de equilíbrios e irmandades. Uma serena Etar à beira mar.

2020 – Ano da castidade. Bragança inaugura sem complexos a ponte aérea com a Tailândia. O pecado será erradicado definitivamente através do “kit fidelidade”. Esta maravilha da tecnologia inclui um "excitómetro" que acompanha devidamente todo o homem casado. Modernos sensores darão nota de quando as massagens começam a amachucar o laço conjugal.

2021 – Ano do lodo da sorte. Santana Lopes inaugura o 1º casino submerso no metro do Terreiro do Paço. Sob estacas, os mortais verão que a sorte e a felicidade terrena são efémeras.

2022 – Ano da honestidade. É feita a primeira urbanização em Portugal ao abrigo do “Corrupt-free”. Trata-se de um programa de reinserção moral para autarcas, que entregam as “luvas” numa roulotte à entrada do empreendimento, e recebem em troca um saco azul com um terço e uma pagela da comissão de ética.

2023 – Ano da caridade. Mourinho finalmente sente que o Porto já não é perseguido e afasta-se para levar o Benfica ao título. Pinto da Costa volta duma Romaria a Fátima, e depois de uma visão apocalíptica convida Rui Rio a ir ao estádio. Este vai e vê em Pinto da Costa as chagas de Cristo. O estádio muda de nome para “ Estádio do Estigmatizado”

2024 – Ano da saúde. Longas listas de blocos operatórios em espera de doentes. As enfermeiras do hospital Sta Maria lançam a primeira colecção de tapetes de Arraiolos.



Agora uns anitos a relaxar com uns governos PS...



2025 – A filha de Martins da Cruz acaba o curso.

2026 – Terminam as obras para o euro 2004.

2027 – É inaugurado o aqueduto Alqueva-Casablanca. AntónioP.Vasconcelos diz que não tem verba para fazer o filme da vida de Bibi, que ele reputa essencial para a compreensão do Portugal moderno.

2028 – O Sri Lanka entra para a Comunidade europeia. A regra da rotatividade promove a presidente deste ano a Papua Nova Guiné. As nações unidas inauguram a sua nova sede num armazém em cabo ruivo. È o primeiro ano na clandestinidade.

2029 – Ferro Rodrigues apela ao apoio do partido depois de João Soares o ter chamado de velho ferrugento. O PS é novamente entregue aos credores.

Volta o sufoco da crise....




2030 – Ano do poder. Mega fusão entre a ordem dos advogados, a procuradoria, e o tribunal da relação. O tempo médio de conclusão dos processos passa agora para 15 minutos. A Polícia judiciária opta pela fusão com a SIC. A fase de inquérito dá-se no jornal da noite. O governo e o parlamento chegam a acordo para juntarem os trapinhos com a liga de clubes. O “diário da república” é distribuído com os bilhetes cativos de época. Finalmente três poderes estão bem definidos e separados. O quarto poder – Narciso Miranda – está à espreita.



2031 – Ano da poupança. Paulo Portas, em nova contenção de despesas, inaugura a 1º carreira regular dos submarinos entre Trafaria-Bobadela. De periscópio em riste procura ansiosamente o cadáver de Nélinho Monteiro a boiar junto de uma alforreca.

2032 – Ano das desculpas. Pedir desculpas pelas asneiras ditas passa a ser tributado e a principal fonte de receita para o estado. O tremendo sucesso desta medida leva ao entusiasmo de prometer outra vez a linha do TGV entre Lisboa e o Porto para o ano de 2058 (deste vez é que é).
Palavras ao vento



A palavra é um bluff. Sobrevalorização em excesso.

Próprio dum mecanismo que se pensa essencial, os seus efeitos são limitados, tendencialmente repetitivos, e raramente satisfaz os clientes que a requisitam.

O elogio bacoco aos poderes especiais da palavra, à sua causa expressionista, à sua amplitude, ambiguidade e divina subjectividade, é uma ideia feita e alimentada pela puerilidade dos seus escravos.

Não faz a porra dum luto, não faz um amor, não faz um agradecimento de jeito, não alimenta uma pena, não consola um coitadinho. Fraco fracasso: não faz a diferença. É puro massajar sem tocar.

Alimenta-se a si própria, como simples “reflexividade” “armando-se” à transcendência; como é que nos deixamos enganar?

Usamo-la como mera fatalidade ou ao ritmo da poética ingenuidade. Ilusão e desilusão.

Tudo bem, ...que seja um parque de diversões, um carrossel para miúdos. Nunca será a “capela sistina”, nem um “franzir do sobrolho”, nem uma “lágrima”, nem um “encolher de ombros”, nem uma mãe.



Antes escravo do corpo e de Deus do que escravo da palavra e dos seus mitos.

Hoje apenas para acompanhar a cervejita e o tremoço, o novo dicionário não ilustrado tenta decifrar os nomes que os “gajos” nos chamam. Um pires com as entradas 263 a 275.



Na televisão...

“Povo” – Palavra que exprime a resignação pelo facto de não conseguirem fazer omeletas sem nos limparem primeiro as salmonelas, e verificarem que temos casca boa para partir.



“Cidadãos” – Palavra de registo cacofónico que acaba por dar muito boa serventia nas correntes de solidariedade.



“Eleitorado” – Designação que revela o encanto quasi-fetichista que provocamos, quando temos um papelito dobrado na mão, uma cruz para distribuir, e umas ilusões para hipotecar.



“Gentes do nosso país” – Expressão de cariz lírico-bucólico que, à falta de música a acompanhar, só Júlio Isidro poderá usar em condições higiénicas.



“Amostra representativa” – Expressão elogiosa do foro estatístico, que faz de alguns privilegiados um misto de fita métrica calibrada com rato de laboratório.



“Portuguesas e portugueses” – Expressão respeitadora das “quotas” e caída em desuso depois de ter sido drenado o pântano.



“Munícipes” – Palavra que infelizmente rima mal com acepipes, por causa da porra da acentuação. Mas na realidade não passamos de salgadinhos de carne no grande cocktail do “orden(h)amento”



“População” – Termo que designa a gentalha que se tem de pôr aos pulos para que reparem nela.



“As Pessoas” – Palavra refúgio, utilizada somente em desespero de causa e já com um pouco de baba retórica a escorrer.



Apenas nas chamadas telefónicas...



“Os filhos da puta” – Designação corrente que exprime o nobre sentimento de que apenas servimos para extorquir a parte do orçamento que podia ser utilizada em viagens de estado e obras de fachada.



“Os cabrões” – Designação corrente para exprimir o desconforto que os políticos sentem quando a populaça levanta a cabeça, e os chifres que nos colocaram os começam a arranhar.



“Os gajos” – Expressão carinhosa que revela a bíblica sabedoria de que “ pó somos e em pó nos tornaremos”. Vão aproveitando assim a poeira que “já cá canta” e apontam-na inevitavelmente às vistas dos crentes arregalados.



“O pessoal” – Expressão erudita que revela o secreto desejo dos políticos de que todos fossemos ucranianos rastejando por uma autorização de residência.

Definitive collection da malta



Deus prova a sua absoluta existência quando, de forma magnânime, distribui subjectividade por todos os lados. A malta é mal agradecida

O mal ao ser mastigado produz aquele sabor empapelado, que depois só dá vontade de beber muita água. Muitas vezes nem temos a fonte certa à mão. A malta enerva-se

A condição humana nem é tão ranhosa assim, mas revela-nos que sem Deus podemos aparentar meros seres condicionáveis. A malta fica intrigada

A morte é sempre súbita e transcendente porque parece que não fomos feitos para morrer. Também não percebemos para que fomos feitos. Temo que não tenhamos sido feitos para perceber tudo. A malta mal se conforma

A ciência vai conseguir provar tudo se tiver um manequim de jeito. A malta entusiasma-se

A vida eterna tem uma característica: é para sempre. Este conceito também não é inteligível. Felizmente. Mas há malta que fica ansiosa.

A Salvação é uma poda. A imagem de Deus que mais gosto é a do Jardineiro, que trata das flores e só as colhe quando estão no culminar da sua beleza. Aqui a malta fica sem saber o que dizer. (excluindo as ordinarices...I)

Volta tudo ao princípio sff.

Para esquecer a romaria à senhora da cunha e aliviar da via-sacra na casa pia, estaremos agora dedicados à ladainha do orçamento. Demonstramos assim a grande dificuldade que temos em nos assumirmos como um estado laico; o novo dicionário não ilustrado o mais que pode ir fazendo, é lavar os dogmas com água de malvas em vez de usar água benta.( entradas 253 a 262 )



Ciclo económico – Designação comum para um momento em que tudo se passa sem que ninguém dê conta, e que depois, quando todos dão conta, já passou. Felizmente asseguram-nos que os “ciclos são cíclicos”, e que três ciclos seguidos não fazem um triciclo mas antes um período. Ocasionalmente estes não menstruam, e é sinal de que passado alguns meses vão aparecer problemas novos.



Crescimento – Fenómeno curioso em que os números nunca encolhem com as lavagens estatísticas, e se debotarem existe um maravilhoso elixir chamado “critério”.



Competitividade – Mitificação dum complexo mal resolvido de Adam Smith segundo o qual, para sustentar as bebedeiras duns “ricos”, os “pobres” terão de tricotar, rapidamente e em conta, as camisolinhas de lã para os outros usarem depois da ressaca.



Equilíbrio – Na corda bamba da economia, a melhor vertigem é a dos que fecham os olhos e sonham que a frigidez da conta bancária pode ser curada pela lambidela dum Nobel na púbis a descoberto



Modelo de desenvolvimento – Espécie de figurino teórico caído em desuso nas últimas estações, mas que teve de ser recuperado por falta de verba para assistir aos desfiles. Os manequins vão-se então oferecendo para mostrar nas revistas a suas insinuantes e esquálidas peidolas, de forma a arregalar os olhos dos que as têm desgraçadamente peladas.



Mecanismos de auto-regulação – Descoberta apresentada como a quinta-essência do liberalismo económico. A sintonização automática faz maravilhas, e até se vê televisão por cabo na sopa dos pobres, sem ser preciso lá estar um ministro com o comando nas unhas e à toa com as instruções.



Afectação de recursos escassos – Fatalidade de um património a quem se atribuiu um nome infeliz. O facto de ser escasso não ajuda, pois todos os mirones estão de olho nele. É inevitável que fique afectado.



Políticas monetárias restritivas – Irritados com o princípio de que “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, os economistas inventaram o estado da natureza denominado “massa monetária”. Comporta-se como o intestino grosso e tem tendência para estar em constante espasmo. A diferença é que à merda chamaram inflação e a prisão de ventre passou assim a ser um objectivo estratégico.



Convergência – Mecanismo próprio da nossa condição de primatas mictantes. Um fluxo urinário que não seja convergente coloca-nos inevitavelmente a chapinhar num pântano de icterícia crise. A faiança sanitária foi pois o melhor instrumento que se descobriu para atenuar a luta de classes.



Consolidação orçamental – Efeito de uma argamassa que, “vai-se a ver”, quanto mais porosa mais formosa. Tal como na consciência, demasiada densidade só atrapalha, e os buracos não são mais que preciosas válvulas de escape.

Requiem a um deus de vão de escada



Uma das tormentas que assola a minha existência é poder passar ao lado dum poema que mudasse a minha vida e que, por pequenez do meu espírito, não o reconhecesse.

Consta-me que se discute agora que a poesia está em perigo e que pode morrer. Teme-se que um novo degelo das águas turvas da realidade acabe com os dinossauros da palavra: os que ainda a tratam como os primitivos. (ideia que o JLBorges me emprestou à borla)



Se isso acontecer....



1. Ficarão apenas os bichos de menor porte, ou seja, aqueles trapalhões como eu, que só brincam com as palavras, incapazes de serem verdadeiros predadores de garras afiadas e dentes de sabre.



2. Como dizem alguns estudiosos afamados, ficará Pessoa “por resolver” e não mais atormentará a plateia dos babados que tinham pago para sessões contínuas



3. Alguns críticos poderão ir para as obras concorrer com os ucranianos directores de orquestra.



4. Os milhões de poetas portugueses libertar-se-ão desse jugo de não poderem rimar, senão chamam-lhes “aleixados”.



5. MRebeloPinto converter-se-à finalmente ao abjeccionismo, e o seu novo título será: “ Eu enrabei um editor-pop”.



6. Rir será sempre uma opção, mas apenas depois de pedir a devida autorização ao JPPereira (podem perguntar por sms)



7. O corpo passará a ser o único guardião dos sentimentos, e a alma, desprovida da "deusa-da-palavra-luz", será um mero polícia sinaleiro



8. A natureza ficará apeada do grande descodificador poético, e teremos de nos contentar com a empolgante dialéctica entre a JAE e a QUERCUS.



Pensando bem....

Engajamentos



Há que acarinhar os peditórios da “esquerda” versus “direita”, porque esta dicotomia é acolhedora, dá segurança, e é um bom refúgio em momentos de esterilidade e intranquilidade criativa. Os esgares da “liberdade” e da “igualdade” fornecem-lhes ainda os adereços necessários para estar sempre na moda.



Se um infeliz destes, mais desprevenido, disser uma asneira, certamente alguém já a terá justificado, ou com uma referência histórica bem desmontada, ou com uma frase enigmática, mesmo irónica, mas sempre brilhantemente fundamentada por um deus de serviço.



Eu pessoalmente até gosto de ler textos de gente engajada. Lêem-se com serenidade, com aquele descanso de alma de quem já sabe o que vai acontecer, não vai haver muitas surpresas, os bons raramente se misturam com os maus e nós não nos baralhamos. E o Popeye nunca aparecerá a estragar a história da Bela adormecida.



Este espartilho ideológico – espantosamente – ainda liberta o engajado do desagradável que é ter o desconforto da dúvida, e impede-o de ficar indecentemente despido de preconceitos e assim escandalizar a audiência.

Desenhar num quadriculado já conhecido é a garantia de que nenhuma parte ficará desproporcionada. A estética nunca extravasará a ética do discurso.



O recorrente – mas intermitente e bacoco – elogio de um lado ao outro da barricada, mesmo se pueril, faz mostra de que talvez tudo se pudesse resumir a um concurso de dardos palavrosos que acabasse com umas cervejolas. Mas o jogo floral dos conceitos e das argumentações tem clientela mais fina que os bares de alterne.



Não desprezo, por isso, o pensamento previsível, porque dele é o reino dos bem-aventurados. Dos que não vão em aventuras mas tiram sempre as melhores fotografias.

Até porque a esquerda e a direita existem mesmo. Mostram o poder no seu esplendor e no seu estertor. A demasiado valorizada “independência” corre o risco de o mostrar apenas no seu rancor.



Pleuresias incompletas

Anátemas anatómicos



Um poético seio

Não faz um bom par de mamas



Um cândido olhar

Não faz um bom piscar de olhos



Uma anca ululante

Não faz um bom jogo de cintura



Uma nádega arredondada

Não faz uma boa base de partida



Um umbigo rafaeliano

Não garante uma ligação à terra



Umas coxas roliças e firmes

Não alicerçam um bom lar de família



Uns lábios carnudos

Não garantem um bom refogado



Uma mão amiga

Não aperta um car......



Mas é preciso um bom pulmão

Para respirar um amor decente

O cálice da vitória



Mourinho reflecte cada vez mais um tique muito especial. O tique do sucesso mal assimilado, do sucesso mal resolvido, do sucesso mal relativizado.

No FCPorto encontramos um fenómeno muito próprio do alcoolismo: quem sofre deste “vício” basta-lhe uma pinguita para ficar bêbedo; aos do FCPorto basta-lhes também uma pequena contrariedade para assumirem uma posição absoluta, extremada e patética de valorização do seu sucesso. Encapotada da nobre estratégia de “ fingir perseguido para melhor prosseguir “.

Os “meus” lagartos, por exemplo, andaram uma carrada de anos à míngua, e acabaram por ganhar um campeonato sem estar à espera, lá fizeram a sua festarola e pronto: Partiram para outra - disparate claro, mas não ficaram a “remoer” na vitória. Depois ganharam outra vez, disseram-lhes que foi o Jardel que ganhou sozinho, mas olha ...gozaram a vitória, repetiram a festarola e partiram para outra – disparate claro, mas sem dramas, sem nostalgias folclóricas, sem bacocas psicologias de galvanização.

Esta vertigem “tripeira” do sucesso, comummente associada ao afã-desmedido-de-vencer-próprio-dos-grandes-campeões-dos-quais-rezará-a-história, mais me parece agora o exibicionismo de um falso complexo de superioridade, que procura esconder o tal profundo e envergonhado complexo de inferioridade. O eros e thanatos do bulhão.

A competência não é sinónima de bem-estar, nem de estar-bem. Competência é apenas competência. Um purgatório, não um paraíso.
Deprimidos !? Só se formos parvos.



A correr fora das premissas do post anterior aparece o extraordinário episódio do “psiquiatra de bibi”. Trata-se de algo que nem deve ser humorizado, porque só se ia estragar a sua virgínia beleza : O suposto médico psiquiatra foi arranjado pelo advogado de bibi, porque se conheciam das reuniões de condóminos. Solícito, prestou-se de forma graciosa e de «grande elevação moral», a ajudar desvendar os lugares mais recônditos da psique do arguido.

Põe-se agora em causa a sua verdadeira especialização em psiquiatria. Pura falsa questão. Parece que o portentoso especialista teria diagnosticado “amnésia lacunar”. Trata-se dum equívoco: a sua especialidade é ginecologia e o mal encontrado é a, também frequente, “ amnésia la-conar “.

Eu gosto deste país. E muito. Os que estão deprimidos podem ir andando. Só atrapalham isto.

Silogismos do real



Primeiro grupo avulso de premissas:

1º Um presidente da república tem de vir dizer que não confunde velhas amizades com as suas responsabilidades. Não afirmou quais são as suas responsabilidades

2º A provedora da instituição do estado que é guardiã de crianças desprotegidas, tem de ser posta no lugar – e bem – por um advogado que defende um pedófilo assumido

3º O procurador-geral da república e o bastonário da ordem dos advogados jogam à bisca lambida com cartas abertas sobre o amor à verdade (porque a justiça não pode ser amada)

4º Os jornalistas queixam-se de que querem transformá-los nos bodes expiatórios das crises do regime (actualmente são apenas bodes marradores)

5º Certo juiz terá dito a um criminoso homicida que “você não devia existir”. Não se sabe a opinião do criminoso.

6º Um deputado em exercício é arguido de um processo de pedofilia. Mas não tem multas de trânsito por pagar.



Segundo grupo de premissas a granel:

Presidir, prover, procurar, bastonar, informar, ajuizar e parlamentar são os suportes essenciais dum tal de regime democrático, sufragista e representativo.



Preparação de conclusão:

Quando os suportes estão neste estado tão baixo, o tampo da mesa acabará por ficar muito rente ao chão. O pessoal para se servir vai ter que se agachar muito, senão mesmo ajoelhar-se.




Conclusão definitiva:

Face ao exposto, o cidadão comum, já que está nessa posição incómoda e arreliadora para as artroses, deve aproveitar mesmo é para rezar e solicitar ao criador que abra mão das graças que tem estado a conceder – aparentemente – de forma um pouco envergonhada.

Entretanto...Estaline podes vir andando, e traz a madre Teresa para o que der e vier.

O nosso equilíbrio interior também está prenhe de equívocos. O novo dicionário não ilustrado continua a arriscar nestes meandros, mantendo-se inquietantemente afastado das empolgantes entrevistas políticas com que somos brindados.(entradas 246 a 252)



Auto-estima – Estado de alma hiper valorizado. O recurso exagerado a esta excitação, emanada das revistas de psicologismos afrodisíacos vendidos ao quilo, produz efeitos enganadores. A Nandrolona parece açúcar mascavado comparado com este doping de almanaque.



Espírito Crítico – Engrenagem automática das personalidades mais débeis, que não conseguem encontrar a genuína força na lúcida, serena e incondicional credulidade. Crer desmedidamente é o caminho que dá mais probabilidades de chegar a acreditar nas coisas certas. Desconfiar é uma vergonha da nossa condição.



Paz de consciência – Estado de vigília que deixa o paciente com uma espécie de gnose epidural: ou seja, enquanto lhe vão à carteira ele pensa que lhe estão a limar os calos.



Valorizar os bons argumentos – Inconsciência de registo militante e com tendência massificadora e maçadora. Produz, não raramente, torcicolos mentais, como resultado da permanência exagerada nas posições de aparente comodidade a que um silogismo bem esgalhado conduz.



Convicções inabaláveis – Ferrolho da alma que nos limita a ser quase meras anémonas que, presas ao substrato, apenas têm músculo para deslizar, e nunca poderão desfrutar convenientemente nem das marés nem das correntes. Desovaremos sempre como sedentários atrofiados.



Sermos nós próprios – Expressão credora das maiores alarvidades do superficialismo militante. Aguarda a devida canonização na área da decoração de interiores, enquanto vai afagando corações despedaçados por galinhas-de-amor mal depenadas. É totalmente incompatível com o desejo dos nossos pais em que “sejamos alguém”.



Direito ao bom-nome – Mais uma das falácias artificialmente gerada pelos mecanismos de defesa face à incontinência dos media. O direito à nossa reputação só pode significar que não nos contentamos apenas com uma rapidinha com a puta São e exigimos repetir a dose.

O novo dicionário não ilustrado tem mesmo que fazer um parêntesis na futilidade dos factos e avançar para a angustiosa, mas heróica e virtuosa vida interior. O homem é que é um bordel de inevitabilidades morais. Mas ficam mal numa capa de revista. ( entradas 238 a 245 )



Preguiça in (acordar e levantar-se da cama)– Momento em que descobrimos que não é o sonho que comanda a vida, e em que desconfiamos que o valor da gravidade é muito superior àquele que nos andaram a vender.



Sofrimento in (levar os filhos a fazer cocó numa casa de banho pública)– Momento empolgante da vida dos pais que os leva a reflectir na procriação e a chegar à conclusão que é uma realidade a exigir reformas profundas. O homem deveria alegar incompatibilidades.



Responsabilidade in (tomar consciência que a filha anda a namorar)– Situação de peculiar nervosismo, que nos leva a oscilar entre as medidas de prisão preventiva ou a escuta telefónica; mas geralmente ficamo-nos pela acolhedora ignorância do segredo de justiça, própria das fases de instrução.



Generosidade in (ter de despedir um empregado que é pai de família)– Situação de confrangedor misticismo, em que o mal encarna a figura de um anjo da guarda, que sendo o guardião da economia da salvação, lê o responso do deficit ao mártir que encomendou nos saldos.



Humildade in (perceber que afinal não tínhamos percebido nada)– Momento em que temos de nos convencer que apenas possuímos um pensamento de marca branca. Acabaremos sempre por ter de pôr o nosso génio singular em ralenti e voltarmos a engrenar nos livros infantis.



Sobriedade in (ter sempre de dizer qualquer coisa)– Quando se vive no registo ansio-vertiginoso de ser ouvido, respeitado e venerado, o ventriloquismo seria uma bênção de deus. Incógnitos, testaríamos o efeito do fraseado. Mesmo assim existem alguns “massajadores da moral” que são especializados em provocar o pudico espanto da boca aberta, mas também acabam por viver dependentes da pele eriçada da clientela.



Paciência in (o electrodoméstico enervantemente avariado)– Este elemento do atribulado imaginário doméstico serve para se partir, estragar, mas pelo menos raramente se perde. Vê-se bem que as teorias mecanicistas tiveram sucesso antes da invenção do frigorífico encastrável. E nenhuma consciência tranquila se pode “ficar a cagar” para um autoclismo a pingar constantemente.



Temperança in (não ser capaz de viver sem satisfazer a comezinha curiosidade)– Esta curiosidade é uma das pulsões mais negadas, mas também das mais reprimidas. Muitas vezes disfarçamos exercitando regularmente. À força de tanta repetição pode aparentar experiência científica. Ou mesmo lei da república.