Fezadas para-peri-proto-filosóficas



Sempre que estou para comprar o “Diferença e Repetição” do G. Deleuze releio a sua primeira frase «A repetição não é a generalidade», e volto a ter a certeza que Deus existe; prescindo do livro, poupam-se uns cobres e umas horas de leitura de filosofia gira mas estéril.
Fezadas de que isto um dia se há-de saber tudo



«Le meilleur ouvrage est celui qui garde son secret le plus longtemps»



Paul Valery em “Tel quel - Littérature“, ed. Gallimard , agora perdi a porra do nº da página, mas andava a abrir páginas à toa há mais de meia hora, a ver se depois podia dizer «abri um livro ao calhas e encontrei logo isto...»

Isto não passa dum apenas armado em quase tudo





No passado dia 23 de Outubro o Azul Cobalto aparentemente terminou uma série de posts intitulados “causa e efeito” ; eram dos textos mais luminosos que se encontravam pela blogosfera (que eu leio, claro) pela qualidade da sua escrita, e pela força e agudeza com que interpelavam quem os lia com olhos de ver (isto está a ficar um bocado manteigoso, mas como ela me parece boa cozinheira certamente saberá o que fazer com tanta manteiga). Hoje então apetece-me escrever isto:



Imitações de causa e efeito #0

ou da presunção do pseudo-ficcionista de fim-se-semana



Um conto que valha a pena tem sempre duas histórias a “seduzirem-se” ou a “provocarem-se” uma à outra, chafurdando ou não; que nunca se devem resolver, mesmo que se encontrem. Acho que cada um depois deve agarrar as duas como se fosse um maníaco por variáveis promíscuas e à solta, fugindo daquele insonso e irritante sinal de igual que não passa dum paramento da causalidade, ou dum paleativo armado em ferrolho. Um conto que tenha uma solução bem esgalhada é como uma equação de vão de escada. Quem quer desfazer contradições do coração, o melhor é medir a tensão; a arterial. Palpita-me. Mas viver na contradição é uma palpitação. Mas isto é outro palpite. E bom apetite. ( isto foi só para rimar)


Outras fezadas, mas mais de trazer por casa



Dos deuses e das mulheres. Se lhes conseguires gravar o olhar nunca te irão abandonar.

Fezadas com piada e no momento certo



«Morrerei rezando o credo, mas não me enforques até eu dizer «creio na ressurreição da carne»



Unamuno em “A agonia do Cristianismo” citando uma frase dum personagem do poeta catalão Juan Maragall quando estava à beira de ser enforcado

Saladinha de polvo

Pior que uma terra de compadrios é uma terra de comadrios.



Por mais que se diga que o poder tem horror ao vazio, o poder continua a ser um mero (se bem que com carinha de garoupa, pronto) lugar imaginário, uma espécie de Aleph a servir da calço à mesa da távola redonda em Camelot. Com o Merlin a chatear a cabeça à Morgana porque ela nem uma merda duma mesa conseguia manter enfeitiçada em condições e ela a responder que ele se fosse queixar ao menino Jesus porque esse é que era carpinteiro. O rei Artur estava já um bocado em brasa com a situação, o Aleph não parava quieto, e pediu ao Lancelot para pôr cobro à situação desequilibrada, mas claro, o gajo queria lá saber daquilo se estava entretido com a Genoveva a dar pulos no colchão de água e esse nem precisava de calços porque quando mais abanasse mais o santo graal agradecia, e enquanto a espada aguentasse o balanço por ele tudo bem.

Mas isto tudo foi só para introduzir nova dose para o dicionário não ilustrado, que agora já não pode passar da meia dúzia de entradas por sessão por estrita imposição médica da Dra Girassol. Os parasitas do poder (mas este passa agora à versão duma besta ruminante e imaginária que se refastela num pântano qualquer) nas 901 a 906



Os políticos – Os que comem a melhor parte, mas que são frequentemente sacudidos pela cauda dos votos, e por isso passam o tempo a reclamarem dos ares do pântano.



Os jornalistas – Os que andam sempre a sarnar os outros parasitas, comem de tudo, o que não lhes cheira cospem fora, e nunca se queixam do pântano porque lá até surfam sem ondas se for preciso.



Os motoristas – Os que levam a melhor vida porque enquanto os outros se comem uns aos outros eles lêem o jornal e ouvem o relato. Também não gostam do pântano por razões óbvias: tirando os “amigos” do Bruttigglionei ( merda de nome) ninguém grama passar o fim do dia de cu para o ar.



Os analistas – Começam a comer na zona do lombo mas rapidamente passam às partes baixas porque com um bocadinho de sal e pimenta marcha tudo. O pântano vai-lhes que nem ginga se conseguirem drenar para o lado deles.



Os fiscais (sejam eles quais forem) - Os que se põem à entrada do cachaço para analisar as capacidades dos outros parasitas, e que geralmente exigem portagem para deixá-los passar para a comezaina. Adoram pântanos porque fica tudo pegajoso e assim ninguém de pode escapulir.



Os consultores – Espécie sofisticada de parasita que faz um spin-of à pele da besta e depois apresenta-a tostadinha ao resto da malta como se fossem couratos saídos do melhor project finance.



Não podem sequer ser sete? Vá lá só esta...



Os durões barrosos – Andam sempre atrás da greta de pele mais bem cheirosa, e abandonam as outras gretas mais trabalhosas e fedorentas, mas depois podem-se lixar quando aparecem outros a querer prender quem foge da greta húmida e se afeiçoa ao rabo do paquiderme.
Contos da papelaria

Ele hoje sentia mesmo a necessidade de escrever qualquer coisa dura sobre as mulheres, mas não lhe ocorria nada assim de repente, e por isso foi para o balcão



da papelaria. Chovia lá fora e então elas olhavam para o reclame da loja, que se exclamava incompreensivelmente “sexo”, e acabavam por entrar, estimando que iriam ali juntar o útil ao agradável. Calhava-lhes logo um homem armado em sedutor, que falava para elas com ar de impingidor mas que lhes aviava depois o seu olhar comercialmente arrebatador. Muitas delas presumiam que um homem assim só pensaria em comê-las. Como se fossem pasta de celulose, que era espremida e enrolada dose por dose, até ficar um produto sequinho, sem impurezas, fibroso quanto baste e que ainda daria para absorver mais romance se houvesse pachorra para acabamentos especiais. Então subitamente ficavam todas frígidas, como se duma epidemia se tratasse, como se aquela papelaria lhes corrompesse as hormonas, as filhas da puta das hormonas, ficavam petrificadas, numa anestesia mineralógica, desprezando o pobre vegetal, e a olhar para um homem que no fundo só cumpria o seu papel, que era vender papel, mas que porra apenas gostava de métodos decentes para tratar bem as clientes, que agora estupidamente se isolavam em xailes fiados em lã de rocha. «Que merda de nome havia eu de ter posto a este estaminé», pensava ele, que no fundo só as queria pôr a dançar, a fazer o gostinho ao pé, só para se armar em engraçado acabou por estragar as freguesas que agora punham o desejo de lado, e ficavam que nem a carne seca de mulher que desdenha um molho diferente, um molho que não fosse apenas um molho qualquer. Já só há mulheres correntes.

O balcão reluzia, mas só o seu desconsolo agora reflectia, e olhava para uma caixa registadora vazia, pior que isto só uma sina sem cigana, ou uma varina sem filigrana, ou um papel couché que afinal só deve ter qualidades que ninguém vê, e que ninguém quer apalpar, nem comprar, nem sequer elogiar.

Parou de chover, o sol já estava lá fora aos pulos e elas já não precisavam daquela enganosa e fantasiosa papelaria para nada, lá fora é que o mundo lhes sorriria; lá fora é que as suas pernas dançariam e haveria quem as abrisse como um envelope, e as fechasse lambendo, sem precisar de sinete no lacre porque elas conheciam bem o dono.
O coliforme fiscal

uma mera história de amor


Vivia ele alegremente entalado entre duas colectas indiciárias e uma dupla tributação até que um dia lhe veio a corrente fria da dedução estragar o equilibrado descanso. Olhou de esguelha para a última liquidação oficiosa inverteu o ónus da prova e pôs-se ao caminho: também ele queria um off-shore só para si. Foi saltando entre os benefícios fiscais que lhe foram aparecendo e chegou a estabelecer uma boa amizade com uma delimitação negativa de incidência que vivia numa lacuna, só que aquilo não podia ter futuro porque ela não se sujeitava à primeira retenção na fonte que lhe aparecesse. Souberam esquecer-se um do outro, e não ficaram mágoas a pagar por conta: a isenção de amor ainda era possível, só haveria que reinvestir o valor de realização e aproveitar bem os coeficientes de correcção, porque o que hoje é verdade ontem pode ter sido mentira. Lembrou-se dos anos em que foi atribulado pelo lucro consolidado, pelas penalizações de ter amado sem olhar a preocupações de domínio ou de resultados internos, saldos de mais valias, mais valia ter ficado pessoa singular, ter optado por um regime simplificado, borrifar-se para a papelada duma vida organizada, não teria agora de andar a buscar um paraíso fiscal, atrás duma taxa liberatória qualquer, dum esquecido crédito de imposto que agora talvez já não lhe trouxesse obrigações acessórias. Mas de súbito veio-lhe à concorrência da mente que ainda havia hipótese de fazer uma declaração de correcção, ele poderia ter levado uma vida de merda mas teve sempre quem lhe determinasse a matéria colectável com precisão, tinha havido quem fizesse de sujeito passivo, quem se tivesse subjugado às taxas progressivas para ele ter podido brilhar com as tributações autónomas. Reconsiderou. Voltou. E encontrou o mesmo olhar, o mesmo sereno olhar de quem não sabe amar mas de quem se especializou a amnistiar vidas em mora. Faltava-lhe um incentivo. O amor é um saque. Um confisco sem lei.



(ou se calhar pensavam que eu ia falar do orçamento, ou do deficit, ou do Bagão)
Contos do assim também eu



Olho para ela na televisão, é magrinha e fria, escanzelada diria, escanzelada é expressivo, confesso que tenho um fraquinho por ela, como se calhar por todas as mulheres que têm um aspecto enganosamente frágil, mas não não é para as proteger, quando se gosta de proteger uma mulher já a estamos a estragar, já estamos a fazer o que qualquer celofane faria e até com outro aconchego; voltando a ela, não gosto de falar das mulheres em geral, é dela que eu gosto nesta história, eu cá sou adepto de enredos monogâmicos, eventualmente pluriorgásmicos mas isso não sei se vai dar porque estou inesperadamente cansado e tenho a restrição das 25 linhas, e ando distraído, por exemplo já me ia distraindo dela que é a razão desta história, agora está a jantar num restaurante fino, deixa que lhe toquem na mão, eu sou muito ciumento com as mãos de quem gosto, felizmente ela não sabe que eu gosto dela, poderiam cair-lhe mal os meus ciúmes, enfiaram-na foi num penteado que não a beneficia nada, vá lá eu perdoo-lhe, ela nem teve culpa vendo bem, mas de facto é curioso, ela não se consegue apaixonar verdadeiramente por ninguém no filme, se calhar é porque sabe mesmo que eu a estou a ver, não , não deve ser, ela nem sabia que eu vinha a esta sessão, bolas há um tipo que está quase a conseguir engatá-la, e tem armas que eu não tenho, pode tocar-lhe, pode arremessar-lhe o olhar quando quiser, até lhe pode fazer desenhos na palma da mão como eu lhe faria, foda-se e o gajo tem um Ferrari, como é que eu faço agora, ah ela não foi na cantiga, e até já está com aquele ar despenteado que me põe a imaginar coisas, parece-me uma mulher do tipo rebelde, sem passado que valha a pena, ainda fico a gostar mais dela, tem uns sacanas duns lábios fininhos e tanto consegue o sorriso largo como o sorriso estreito, manipula com o sorriso, são as piores, mas isso eu já estou preparado, se me deixar levar é porque quero, despiu-se agora, caraças, e eu estou a escrever não me posso descontrolar, já quase me esquecia de dizer o nariz dela é dos arrebitados claro, mas eu acho que alguém lhe vai bater à porta, era inevitável, nem quero ver, pois assim também eu, com um guião desses também eu fazia flores, cabrão, e depois eu faço o quê com os ciúmes, escavaco telecomandos não, está bem a cena acabou, mas já nada será como dantes, mesmo depois do intervalo, mesmo depois dos anúncios, mesmo depois de eu fazer um xixizito que até já estava à rasca, já nada será como dantes, bem podias ter pelo menos aguentado pelo intervalo ó escanzelada, eu haveria de ter alguma ideia para te tirar daí, e pegava-te nas mãos duma maneira que tu nunca mais me esquecerias.
Hoje não vou gastar dinheiro em títulos



A pior coisa que se pode fazer à tristeza é dar-lhe com o espanador das falsas alegrias. A tristeza deve ser tratada como a poesia popularucha: catrapiscando as rimas de melhor efeito, afagando a brejeirice, fugindo do género livre armado aos cágados, vagueando entre o abananço e o arrebitanço, levantando a saia e fingindo olhar para o lado, endeusando a malandrice.
Nenhuma sã tristeza é errática e definitiva, valha-nos mesmo uma sã tristeza para absorver as alegrias como um radar, porque ela é acolhedora como uma genuína sopa dos pobres.
Estava eu armado em parvo a procurar as consequências politicas deste pensamento quando reparo que uma entrevistadora do Ramos Rosa aparece no “Mil Folhas” do Público (entrevistar poetas é a mesma coisa jogar às palavras cruzadas com o pai natal na bicha do Toys ’R us) a citar Heiddegger quando este diz que “o ser humano é inabitável”; ora lá porque esse gajo viveu a sua existência "com escritos" a vida toda, andou a beber da escolástica quando era pequenino, e depois passou logo para a fenomenologia sem passar pela casa da partida nem fumar uns charros, e depois se passeou entre uma mulher-ama-seca-deslumbrada-protestante e uma mulher-amante-húmida-deslumbrada-judia, não precisava de nos querer impingir um vai-se-a-ver-é-um-vazio ontológico que nem é próprio da nossa condição, para além disso ao se afiar tanto o "ser" esvai-se-lhe o gume, e inabitável era a prima dele. Disse. Heidegger foi de facto um dos gajos que melhor brincou ao scrabble com o tal de “ser” e outras irrelevâncias afins, que ainda acabaram por efemininar, e lá inventar tantos nomes para essas merdas que davam para fazer trocadilhos nos anúncios da Super Bock durante 50 anos; desconsoladamente só é pena que não soubesse fazer desenhos porque assim ainda se tinha aproveitado qualquer coisa para pôr na parede.
A verdade, verdadinha, é que a principal qualidade do nosso ser é precisamente a sua hospitalidade, e é por isso que jamais a boa da ontologia dá bola aos existencialismos marados e em fase arcaica; estes acabam assim por ter de se contentar com umas gajas já com as partes baixas do ser em estado bolorento, quando não com teias de aranha, o que dá obviamente aquele aspecto de abandono e afasta a virilidade do pensamento. Resulta pois numa incómoda flacidez, no divã dá prognóstico frustrativo, vai daí com a vergonha disfarça-se de tristeza, em rimando safa-se à tangente e passa a melancolia, só que depois para poder escrever uns livros eruditos em condições tem de passar rapidamente a desespero existencial senão até parecia mal e ninguém comprava. É este o percurso pós Kirk & Nitch, o resto é folclore.



A tristeza, o desencanto da vida, a perda de sentido são meros instrumentos da alma em luta e têm de ser agarrados pelos cornos, e é por isso que eu gosto bem mais de gajos que dizem que têm vontade de ir prá cona-da-prima-street do que de gajos que estão sempre a falar da merda do topos, e gosto ainda mais de gajos que reconhecem que lhes estão a arder as putas das virilhas do que dos gajos que estão sempre a falar do sacana do pathos, e ainda prefiro de longe quem diz que está com uma uma dor de carola do caraças a quem se esparrama a dissertar sobre a agonia da alma. A melhor alegria é a que se adubou numa tristeza de piscar o olho e vai deitando a língua de fora aos existencialismos de quermesse.

Queria voltar à tristeza de peito feito, mas “encontro-me” com a Sta Teresa de Ávila que dizia «morro porque não morro»... só que agora já não posso dizer mais nada senão o post extravasa as 25 linhas e teria ainda de falar do M. Unamuno e também já me doem a porra das costas.
Contos do é-me indiferente



Contaram-me, eu não vi, ela tinha sido abandonada por ele. Chorava, mas eu não vi, porque não gramo ver mulheres a chorar, mas não sou eu é o tipo que está a escrever isto, para mim é-me indiferente, se choram é porque o corpo lhes está a pedir isso, e se o corpo duma mulher é caprichoso no leito também deve ser no pranto. Acabou por parar de chorar, fixou a alma, focou o corpo e partiu para outra, parecia um homem. Não, não era puta, eu não sou dos que precisa de putas para escrever um conto, a mim basta-me um gaja qualquer, até uma gaja séria me dá nos dias bons. Hoje é um dia bom e ela foi tomar chá, podes continuar agora tu, ninguém olhava para ela porque se topava à distância que estava em fase de explorar e cuspir, e nenhum homem das redondezas queria aventura, todos queriam amores de passeio, e ela não estava para aí virada; ele há muitos homens sérios mas eu para mim isso é-me indiferente, se são sérios é porque fodem melhor assim, nem sei o nome dela porra, eu tenho muita dificuldade em escrever sem saber os nome delas, agora vou ter de me desenrascar porque ela está quase a desencaminhar um tipo, e eu que até sou o dono da história e nem o posso avisar, coitado, eu tenho imensa pena dos homens que caem nas garras duma mulher que só tenha os escrúpulos menstruais e poucos mais, mulher que manipula com o dedilhar das coxas, pára, pára aí, que raio de caminho leva esta história, ela foi abandonada, e uma mulher abandonada tem o direito de se vingar, a vingança é a única purga para o desengano, pois passa a perna a esse, claro já está, foda-se que nem um patinho, também com homens assim nem dá luta, mais choraste menos mijaste não é, ainda bem que não tive pena de ti, mas isso também te é indiferente agora que já fornicas com toda a gente, ainda te tinha eu feito uma mulher séria havia pouco tempo e tiveste de acabar a história como uma puta só para me lixares.
Outono com Buttigliones em flor

Hoje vou revelar o teor da entrevista de recrutamento do comissário Buttiglione, ou lá o raio como é que o gajo se chama, levada a cabo pelo nosso Duroni.



Duroni – Mr Botognoni, you have been highly recommended by mr Burlesconi, please sit down, be comfortable…


Butignone (‘dasse comequestamerdassescreve) – Tankiu, my hass is very sensitive…


Duroni – This conversation is only a proforma; proforma is almost latin, I appreciate very much the classics…


Botignoli – I’m very classic too; I’m even more classic than Xéxeneca, or Burlesconi, or Alberto John Garden, or Horacio, and sorry about my macaroni english


Duroni –No problem, my english is also a little bit tagliateli. Baidauei… I heard some noise of bottom around your person, but I suppose is only bad intentioned people like the portuguese left block


Bestignini – I know, I’m used to be misunderstood


Duroni –You are “used”!?...This is not a good signal…have you some… strange passive sexual behaviours …


Broxoni – No, no ... I’m a very sexual conservative guy; I only like to fuck girls.


Duroni – That means you don´t apalpate guys …I'm safe here ?...


Brutignone – Your hass seems to me not as firm and round and tense as I usually prefer


Duroni –Than, can I be sure that you will not hostilizate guys that apalpate the hasses from each others, neither the girls that use their imagination as a creative tongue and their tongues as invasive ivaginations


Bestignioni – Usually, I've to recognise, I even like those last ones, I call them fufas but there are some social cientists that call them lesbians; I suppose fufinis is more correct because is more sweet


Duroni –I didn’t know that you are also very sensitive as person, I see that is not only your hass.


Butinhini – To fuck girls we must be very very sensitive if not they become disinterested or upset or even rude with us. Some girls are almost so sensitive as panasquinis


Duroni – But in concrete what politics do you pretend to implementate concerning equality and freedom


Bostinini – My main idea of equality is to joint all lesbian and gays in the same jail and…


Duroni – So interesting, so revolutionary and also so reformist


Bostignioni – Then we will subventionate tv cameras in the prisons, and all the shame-less will be recorded …


Duroni – But what do you have in mind, oh creative creature!?


Brillantoni – As we are already fucked with the cheep textiles that come from the asia, where they explore the workforce as slaves, then we will start to export alternative pornography to them, exploring our innovative fuckforce in jail


Duroni – Sorry…. I’ve to stop, ‘cause unfortunately I’m medically forbidden to make interviews above 25 lines. And let’s eat some tortellini au pistache to desenferrujate our english
Isto é apenas um post rápido. Se arrancarem com força não dói



Então mas se o governo já não pode ir dando umas borlas aos velhinhos, aos pobrezinhos, aos reformados, aos paralíticos, aos funcionários públicos, então fazia demagogia com quem? Com “lampiões”, não?
Voltemos pois à queda da folha

Hoje em estilo de literatura comparada, até porque isto é uma casa séria



Quando começava o Outono de há 50 anos, Camus escrevia nos Carnets (1) que «Dieu n’est pas nécessaire pour créer la culpabilité ni punir. Les êtres y suffisent. C’est l’innocence à la rigueur qu’il pourrait fonder.»



Isto é a chamada ideia agradável ao ouvido; Camus já tinha mandado o existencialismo às malvas e agora de vez em quando andava a dar manteiga a Deus, esquecendo-se de que haveria alguma leve possibilidade de nós – os “seres”, para os amigos - termos sido engendrados pela “cabecinha” atrevida do Criador. Agarrou-se assim a uma das mais enganadoras – e engenhosas - dicotomias da nossa condição: culpa-ingenuidade, e sai-se com esta quase “forrest-gumpada” a. t. (antes de T.Hanks). Este deus da virgindade, este deus feminino tipo mãe de toda a ingenuidade é uma construção literária para quando as rimas ou os aforismos já não estão a sair tão escorreitos. Eu cá gosto de ver Deus também como o “pai” de toda a perversidade, e que se deu ao luxo de “desmultiplicar-se” e “desconstruir-se” ( Derrida podes levar então a bicicleta) enviando ao reino dos malandros o «seu filho muito amado» ( eu estarei a passar-me?) para os limpar da tal culpa, que assim se tornou felix culpa. E gosto de sentir que levo a minha vida nesta limpeza artificial, tratando e troçando da alma como uma gaja vaidosa. E agora reparo, e lembro-me, e encontro, o que foi escrito por Pavese também pré-outonalmente-curiosamente-praticamente 10 anos antes, nada mais nada menos que esta preciosidade: «uma bela camponesa, uma bela prostituta, uma bela mamã, todas as mulheres em quem a beleza não é uma ocupação artificial de uma vida inteira, caracterizam-se por uma dura impossibilidade de fazer troça»(2). Viver pois a vida com algum sentido da artificialidade estética ( quase como uma espécie de piedade da quarta dimensão) é então uma boa maneira de olhar para a sua falsa ingenuidade, troçando dela, e assim poderemos olhar também para as nossas culpas com o mesmo sorriso malandro e sem grandes ostracismos. Valha-nos pois Nossa Senhora e os ensinamentos da coquetterie.



(1) Carnets III, Gallimard, pg 125

(2) O Ofício de viver, Rel. de Água, pg 283
Eu em sinceramente não vejo a razão para cagente não apossamos a votar também realmente



Hoje não há portuguesito que se preze, quer ele tenha blog quer não tenha, que não seja especialista em política americana. Agora qualquer pingente sabe que o bush defende os interesses do pitroil e que o kerry alimenta o lobby dos molhos, agora qualquer artolas sabe que o americano médio é um bronco e que nova york não reflecte a américa profunda, agora qualquer sopeira sabe que quase foderam clinton por causa duma putéfia que não gastava dinheiro nas limpezas a seco, agora qualquer parolo sabe que a indústria do armamento é como do pão para a boca para a economia americana e esses gajos é que mandam em tudo, agora qualquer reformado saído da bicha da caixa sabe que o futuro da américa se decide naqueles barbecues que os gajos fazem como nos filmes, ou então quando rezam o pai-nosso a dar as mãozinhas, agora qualquer professor mal colocado no intervalo dum algoritmo sabe que o americano médio é burro e desconhece onde fica a europa e muito menos o que é uma scut , agora qualquer pivot da continuidade sabe que a cotação do dólar está dependente do deficit público americano, agora qualquer porteira sabe que a cotação do dólar afinal não depende de nada disso mas sim duma tal de gaja chamada reserva federal e que dá grandes gerais à base de meios pontos percentuais, agora qualquer escritora-tipo-light que leu o chomsky mesmo sem bonecos sabe que o bush foi eleito com os votos mama da florida, agora qualquer liberal que leu o hayek à pressa, ou à pressão, já sabe que os estados unidos não são o liberal garden, agora qualquer galdéria mal maquilhada sabe que a hilary clinton é tão democrata como a jennifer lopez , só que tem um cu mais imperfeito quando se bamboleia ( quando estão quietas não sei porque nunca dei atenção ao da jennifer lopez assim parado) , agora qualquer pindérico sabe que na américa quem quiser trabalhar até pode chegar a milionário e que isso acontece quer seja o bush a dizer as calinadas ( também denominadas como discurso terra-a-terra) quer seja o kerry a rir-se como uma espécie de schumacher com rugas e papos ( também denominado cara-de-parvo), agora qualquer colunista de fim-de-semana sabe que o kerry é tipo uma salada que não se percebe o que tem, e que o bush é tipo uma espetada com tudo à mostra e pendurado, agora não há velha gaiteira que não lance um ai-jesus ao bush ou um valha-me deus ao kerry quando ouve o costa ribas , e agora nem há arrumador de carros que não saiba que o law-enforcement não resolve a porra da confusão criada pelo tudo-ao-molho-enforcement; por isso agora com franqueza, é um desperdício deixarem um povo assim tão informado sem poder dar uma palavrinha, uma achega, sem poder dar um ar da sua graça; será que estaremos apenas destinados a limitarmo-nos a dizer, é pá decidam lá então vocês isso, e fodam-nos depois à vontade, mas pelo menos não sejam somíticos com a vaselina.
Carta aberta aos gajos que pensam ter sido namorados da minha filha, ou que pensam que são, ou que pensam que podem vir a ser



Se calhar ainda vou ter de apagar isto mais tarde...ou mais cedo.



Reparem numa coisa, reparem no drama que se vos apresentará: ela construiu a imagem do homem perfeito baseado em mim. É uma fasquia demasiado alta para vocês. Irão ter enormes problemas de afirmação pessoal; eu percebo-vos, não será nada fácil, e a vossa auto-estima nem irá ao sítio lendo a revista xis todas as semanas. Correreis o risco de ser apenas uns pés de página, ou umas notas de rodapé, quanto muito, nos melhores dias, podereis aspirar a fazer de legenda colorida, reconheço: é duro e cruel; e até calculo, ela ser-vos-á duma exigência sufocante pois eu estarei sempre a povoar as suas memórias como aquele mito com que vos tereis de comparar. A minha imagem, entre o pedestral e a redoma, estará a minar-vos o caminho, a empedrar-vos o sapato, essa imagem que eu construí como filigrana, como um mestre flamengo, como um artesão de personalidades modelo; e quando ela fizer aquele olhar melancólico ou aquele olhar irritantemente distante, ou mesmo displicente, como o leiloeiro quando sabe que o lance ainda está muito baixo, relaxem, ela está apenas a constatar que vos é muito difícil lá chegarem. É que eu não brinco em serviço. Mas descontraiam-se, aquilo dos caprichos dela é apenas o preço que têm de pagar pela vossa condição de seres gravitantes com órbita controlada, talento calibrado e virtude comparada.
Porque isto é mesmo assim



Nenhum lagarto pode olhar para um sete a um e ficar indiferente



Era como olhar para a Elizabeth Hurley e ficar a pensar no Corto Maltese. E de passagem, é pá, já não há saco para o Corto Maltese

E agora uma calimerada para desenjoar



Tenho pena de não ser uma ternura de homem. Tenho mesmo pena disso. De não saber dizer aquelas palavras que fazem os coraçõezinhos rebentarem como uma colmeia de favo ao léu. Tenho pena de não conseguir entrar na alminha de ninguém, de não provocar nem um suspirozinho, nem um calorzinho, já nem falo em estremeções, falo duma lagrimita a cair aos trambolhões. Os músculos olham para mim impávidos, secos, sem se esgadanharem demasiado por dar sinal de vida, já nem falo de grandes suores de esforço, falo dum pinguito a escorrer pelo pescoço. Não sou capaz de promover um olhar cândido e entregue, não sou capaz de atrair uma cabeça para repousar esquecida no meu colo, já nem falo dum coração em chaga ou a brilhar ao luar, falo duma feridita a sangrar. Tenho pena de não ser uma ternura de homem, em calhando, só sirvo para desenjoar.
Na barbearia



Desde que a gilette inventou a lâmina dupla em que uma puxa o pêlo para fora e a outra... empurra o pêlo para dentro, praticamente não ficou mais nada por inventar. Na chamada política concreta apenas se fazem variações no after-shave. O segredo está em vivermos de poros fechados para não arder muito.
Apenas para aliviar da taquicardia



A memória é um fenómeno radical, um tema estruturante e desestruturante (se calhar pensavam que eu não sabia dizer estas palavras). Ou tudo é memória, ou a memória só atrapalha. Somos filhos da memória e somos pais da memória. É a mítica história do incesto a actuar.

Este agora é para limpar

Dedicado às mulheres virtuosas em geral. Um homem, em bom rigor, não pode ser virtuoso pois sendo a cabeça de casal, e dado que é no meio que está a virtude, são duas situações incompatíveis.



«Já te referi, se bem te lembras, como tem havido pessoas que, por um mero impulso irreflectido, foram capazes de vencer situações geralmente objecto ou de desejo ou de temor pelo comum dos mortais: há exemplos de quem tenha abandonado a riqueza, há exemplos de quem tenha posto a mão sobre as chamas, de quem não deixasse de sorrir em plena tortura, de quem retivesse as lágrimas nos funerais dos próprios filhos, de quem enfrentasse a morte com intrepidez, de facto, uma paixão, um movimento de cólera, uma ambição podem chegar para que desprezemos o perigo. Ora daquilo de que é capaz um instantâneo impulso de alma excitada por um qualquer estímulo, não o será muito mais ainda a virtude, cuja força é contínua, e não dependente de um ímpeto de momento, a virtude – cujo apanágio é uma energia permanente?» (*)



Este gajo às vezes irrita-me um bocadinho, só que entre um banho gelado e o sacana do estóico, um tipo acaba por decidir lê-lo. E até transcrevê-lo... e o tempo que eu demorei a transcrever isto, e se calhar não me dão o devido valor. O que só faz bem, porque senão acaba-se - como diz o Michaux (outra vez!) – como «aquele, (que) com a sua virtude, punheteia os vícios».(**) Não sei se ter juntado estes dois terá sido boa ideia. Bem, há sempre o duche frio.


(*) Séneca, "Cartas a Lucílio", Livro IX carta 76 – 20

(**) in “Da escrita- fatias de saber”
Ora aqui está um post também muito indicado para crianças. E para outros espécimes em fase de consolidação de personalidade.

Ou do “deixei crescer em mim o meu inimigo” (*)


Tristes dos que precisam de dar exemplo para convencer, desconsolados dos que precisam do seu próprio exemplo para que lhes obedeçam, desafortunados dos que precisam do exemplo de alguém para descobrir o bem das suas vidinhas; não passam de meros peregrinos de ruínas, os que correm atrás duma figura exemplar. O “dar o exemplo” é mais uma prisão construída pelo moralismo atrofiado dos coitadinhos das convicções. Quando para levar alguém a fazer algo também temos de o fazer, é porque não passamos dum holograma de ética fluorescente. E pior, se para sermos respeitados também temos de prestar vassalagem ao tal de “dar o exemplo”, então esse respeito vale tanto como o riso do palhaço rico a olhar para as tropelias do palhaço pobre. Este tão afamado “dar o exemplo” foi uma invenção de última hora, com as calças a cair e já em passo atabalhoado, dos foragidos da liberdade, dos que precisam do seu próprio exemplo para se mostrarem necessários e de boa regra. Endeusar o exemplo é fazer da nossa natureza filha duma decalcomania em vez dum decálogo. A idolatria do exemplo pouco mais é que o caruncho a tomar conta das tábuas da lei, é adorar o primeiro que nos pode virar as costas abanando a cauda; o nosso coração, ou alma, ou vontade, ou espírito, ou o que der mais jeito e esteja mais à mão, jamais se devia deixar gravar pelo olhar-o-santo-do-alheio, pois fiquem sabendo que a maneira que a curiosidade arranjou para ter um lugarzinho esconso no Éden foi amancebar-se com o exemplo. (E agora tenho mesmo de terminar à pressa porque estou proibido por prescrição médica de fazer posts com mais de 25 linhas). Aconchegarmo-nos neste felino traiçoeiro, de pêlo atraente e vistoso, e de bom valor no mercado que é “darmos-o-exemplo”, será o mesmo que estar dormindo com o inimigo; e ainda para mais tem bigode.


(*) de Henri Michaux em “Da Escrita - a vida dúplice” , numa antologia ed. Fenda 1999, (a páginas tantas)
Como é Outono, temos a caldo outonado. No fundo, a opinião pública apenas se distingue da opinião púbica porque enquanto esta se revela no meio dos “pêlos” a outra é nos “portantos”.



O dicionário não ilustrado foi ver as notícias nas entranhas, perdão, entradas 886 a 900
Delito de opinião – Crime de índole sexual pois a vítima muitas vezes antes de abrir as pernas acaba por abrir a boca.



Liberdade de expressão – É aquele tipo de liberdade que depois de muito bem espremida, vai-se a ver era só casca e caroço.



Censura – Sem cura. Doença de natureza crónica mas que se manifesta em crises agudas depois de algumas crónicas.( ao fim de semana já se sabe que os trocadilhos são inevitáveis)



Princípio do contraditório – Onde acaba o dedo e começa o supositório.



Comentador político – A verdadeira “mulher objecto” da sociedade da informação.



O poder dos “media” – É dar-se ao luxo de ser “extremado” e não precisar de rever posições pois estão sempre aconchegados junto à cópula do poder.



Pressões – O poder no seu formato tântrico; Permite a suspensão de toda a ejaculação dos falos, perdão falas da oposição.



A poder de influência – Aquele tipo de poder que capitaliza a humidade do meio, e assim escorre fluente e facilmente pelos lugares mais recônditos, provocando as sensações mais inesperadas, mas quase sempre bem recebidas. ( não costuma é dar tempo – nem jeito - para aplaudir)



Pluralismo de opiniões – Estado da natureza de registo matemático em que as opiniões se dividem e multiplicam ao mesmo tempo. Geralmente fica tudo na mesma.



Meios de comunicação – Os que justificam os fins, desde que estes deixem, claro.



Lei da rolha – A lei que permite a quem fala muito, poder de vez em quando aliviar e bochechar “Tantum Verbo” para que não fique com a boca a saber a cortiça.
Independência e isenção – São conceitos de muita boa terminação, dão boa serventia nas rimas, mas depois na prosa revelam-se asneira da grossa. Só não são falácias porque são conceitos femininos. São farófias, portanto.


Amplo debate – Tipo de conversa que, ao ser tão aberta, retira espaço aos tais preliminares e assim provoca muitas precocidades ejaculativas.



O direito de resposta – O lado feminino da liberdade de imprensa. Só a mulher sente verdadeiramente que responder é um direito.



Mas felizmente que agora se descobriram uns tais de...



Detectores de spin – Espécie de sofisticados radares que se dedicam a detectar os pingos da chuva em dia de tempestade para depois esclarecerem o povo se é melhor usar uma gabardina em 2ª mão ou um chapéu de chuva só com varetas. E também darem-nos a comer o peixinho sem espinhas é logo outra louça.
“Le pinceau voyageur”



Reparo por estes dias que deixei há muito de ter necessidade ou mesmo impulso em emitir opiniões. Nem saberia explicar bem porquê. Talvez alguma preguiça, talvez falta de jeito, talvez até já trejeito, talvez mesmo vontade mortiça. Mas também são demasiados talvez para uma só vez. Encontrei uma metafórica explicação num livro muito especial sobre Alechinsky ( um dos meus pintores preferidos), em que ele é citado por Marcelin Pleynet, falando sobre o seu quadro “Central park” de 1965 ( o primeiro com as “remarques marginales” que lhe são tão peculiares): « J’allais bientôt me déshabituer de la peinture à l'huile. Elle ne m’avait jamais permis ces regroupements, allitérations et va-et-vient». É isso, sempre que posso ( mas nem sempre é possível esse luxo de não termos opiniões) cada vez me afasto mais dos silogismos de ocasião, dos pastiches de espátula arregaçada, ou de trincha opinativa alçada, no fundo gostava de poder dizer «je ne cherche que des pensées qui tremblent» como diz P.Quignard em “Les ombres errantes”, estes que apenas se passeiam, vão e vêm, distraem, fermentam, são repetitivos, pouco ou muito arejados, mas que gostam de ser afagados.
Mas quem não arrisca não petisca



Um dos riscos que corre quem fala é que o mandem calar. Um dos riscos que corre quem manda é que tenha de falar.

God at blogger – live

( para desenjoar)



De Gérard de Nerval ( in “vers dorés“) (1)



Souvent dans l’être obscur habite un Dieu caché ;

Et, comme un œil naissant couvert par ses paupières

Un pur esprit s’accroît sous l’écorce des pierres



Estaria muito próximo dos aconchegantes lugares comuns se dissesse que quando me encontro com um cepticismo forte ou fino, com uma descrença negligente ou quase ontológica, com um desespero existencial ou irónico, com um mal incompreensível e descarnado, ou até com um aparvalhamento geral, me aproximo bastante mais de Deus.

A verdade é que Deus é também refúgio; isto é básico. Ora mais inesperado é que Ele também se refugia na nossa alma. Esta sim é a verdadeira revolução do “cristianismo revelado”. O resto é dalguma maneira adereço da nossa condição. Mas Deus aparentemente também não nos quis a navegar numa crença despida.



Nota técnica: Muitos ateísmos ou agnosticismos, não passam de panteísmos mal resolvidos. Os que-se-foda-isso-tudo-ismos é apenas preguiça. Arde que nem palha.



(1) o gajo enforcou-se, eu sei.
Rennie, o libertador



A efervescência dos dias vem fornecida numa pastilhinha de ministro tolo com comentarista capcioso. Cada país dissolve-se no que pode. Em qualquer dos casos ajuda sempre agitar bem. Se estiver morninho acho que as moléculas ainda gostam mais. Somos um país com muita química, nem fodemos nem saímos do enzima.

Os verdadeiros manuscritos do Mar da Palha

ou do grande segredo dos parodiantes do Sião



“O céu estava turvo e gorduroso, parecia um colestrol de nuvens e as tribos estavam assustadas. O gado ora andava mortiço ora agitado, as galinhas chocas só queriam pôr ovos quando lhes dava na real gana e as pastagens viviam reféns do tal vento que só era bom quando soprava do lado dos bons casamentos. Parecia um dos tais momentos em que história ia dançar o vira a seu bel-prazer. Os chefes das tribos começaram a pensar que talvez fosse a hora de darem as mãos ( o beijo na boca ficaria para uma situação limite). O chefe Santana, o chefe Portas, o chefe Sócrates e o chefe Louçã começavam a tomar consciência de que não podiam passar mais o tempo apenas a gamar as peles uns aos outros, depois de já terem acabado há muito os ursos na floresta, e após a grande saga da deriva securitária em que deixaram até de precisar de estar a pau com os ursos. O povo entretinha-se saltando de tribo em tribo, limitando-se a seguir o odor das curtições que não cheirassem tão mal e até os deuses também já não aguentavam a instabilidade do pivete sempre a mudar de sítio; haveria que pôr a trampa toda numa só tenda que pudesse acolher os chefes da tribo numa união harmónica ( dispensava-se o cavaquinho), e onde a paz fosse o alfa e a salvação o omega ( a swatch ficou encarregada de assuntos menores)

O tal dia parecia ter chegado. Os chefes reunir-se-iam num ambiente fraterno dentro da grande tenda junto ao rio, onde a areia era mais fina; seria a grande Cafarnaum que antecederia a entrada das tribos numa nova Jerusalém. Estava uma tarde de chuva miudinha (mas não era ácida porque a tribo dos verdes ficou à porta a controlar a mijadela das nuvens) e por caridade a tribo dos comunas ficou autorizada a deixar-se representar pelo parodiante RAPereira que iria fazendo uns sketchs se os deuses começassem a fazer caretas de desinteresse: a cada um o seu lugar no cosmos, não foi Marx que disse mas bem podia ter sido se tivesse jogado às cadeirinhas quando era puto. Começaram logo todos por dar as mãos na tão desejada "correnteza do despojamento do poder"; o mais relapso foi o chefe Portas que não queria abdicar do seu dedo em riste e por isso não engrenava com o do chefe Sócrates que trazia ainda o tique de sacudir o pulso, mas lá acabaram por lhe apanhar o jeito. Finalmente a primeira grande corrente de amizade e união entre tribos estava criada, o silêncio era penetrante, apenas se ouviam ao longe os gritos de JCoelho e Ana Gomes, mas após o som sibilante duma catana a rasgar, tudo pareceu ficar resolvido. Só que os deuses teimaram em não aparecer assim às primeiras; o chefe Santana ainda olhou de soslaio para o chefe Louçã para ver se ele não estaria a afugentar o divino com dentes de lobisomem, mas encontrou até uma face de lua cheia, serena e compenetrada, própria de quem tem a consciência de que o genuíno ideal de esquerda nunca se eclipsará da sua fronte. Se calhar não era mesmo ainda o momento, os deuses poderiam estar ocupados com as eleições das tribos do grande Texas, ou com as armas de destruição do haxixe, e então decidiram ir todos comer uns percebes fresquinhos. Animava-os a vontade férrea de criar uma tribo da Nova Aliança (na versão de espumante da Bairrada), e umas cervejitas frescas até poderiam ajudar à visão da boa nova ( se bem que as caves Messias também se tivessem chegado à frente com um patrocínio jeitoso). O chefe Portas estava preocupado com uma nódoa na gravata, mas o chefe Santana consolou-o dizendo-lhe que depois da Grande Revelação fariam um laço só para os dois em segredo. O chefe Sócrates andava excitado mas distante, pensava que se o antigo chefe Guterres ali estivesse os deuses seriam certamente mais generosos com as tribos, e o mais que tinha conseguido era levar a Edite Estrela para ver se apanhava os deuses nalgum erro de gramática.

Notava-se claramente que o prosaico se cruzava com o místico neste cenário que tinha tanto de bucólico como de pré-apocalíptico; as mãos a cheirar a marisco não pareciam ser o melhor transmissor para a corrente espiritual que se pretendia criar, mas nada que uns toalhetes a cheirar a limão não resolvessem; O chefe Portas ia dizendo a Pires de Lima (tinha sido convidado por causa da caipirinha e não dos tremoços, substituindo Cinha Jardim que não fora porque estava na quinta das celebridades) que o divino quando se revelasse era para ele de certeza que olharia em primeiro lugar e assim apesar de virem a ser todos uma grande tribo do amor fraterno e global ele ficaria de certeza com as tábuas da lei ou com a consola dos milagres de efeitos especiais. Pires aquiescia, cumprindo a profecia: aquiesce e aparece. O chefe Santana continuava sob o efeito das três caixas de Lexotan que lhe tinham enfiado no bucho depois de ter ido para chefe da tribo, e foi encontrado a rezar isolado com o pescoço ligeiramente inclinado em pose piedosa, mas foi de imediato seguido pelo chefe Portas que tem, como se sabe, um ajoelhar muito mais digno. Seguiu-se-lhes o Chefe Sócrates ainda resmungando que uma correnteza espírita de mão dada ainda vá que não vá, agora de joelhinhos a preparar a vinda do grande revelador é que já lhe parecia demais, mas olha perdido por um perdido por mil, tudo a bem duma tribalidade liberta e dum novo tribalismo, e também se ajoelhou apoiado sua rótula mais populista. O chefe Louçã, já se sabe, adapta-se a tudo, desde que possa fazer umas metáforas no fim, e até chegou a pensar em inventar uma oração especial para a ocasião, mas a Ana Drago disse-lhe que se o fizesse o subchefe Rosas não o iria incluir nos livros de história e acabou por desistir, ajoelhando também, esmerando-se até talvez na melhor pose de toda a tenda. Adivinhava-se o ambiente duma grande epifania, assemelhavam-se a Elias, Moisés, David e Salomão todos meio à rasca, meio a cheirar a limão, mas pelo menos assim os gafanhotos não haveriam de aparecer. Não sabiam ao certo se seria um Anjo a revelar-se primeiro, contavam com isso para dar um ar mais sério e cinematográfico à coisa ( a venda dos direitos ainda podia dar algum graveto para comprar lona nova) , mas tinham um certo receio que tudo acontecesse quando menos esperassem, sem aviso, e mais uma vez ou no meio dos pastores, ou a andar em cima da água. Santana persignava-se, Portas revirava os olhos, Louçã bichanava ( no sentido de falar baixinho note-se) e Sócrates ia aliviando os joelhos, esfregando bem para ver se não ficava uma marca tão clerical. As mãos entrelaçadas faziam deles um só, constituíam agora uma engrenagem de boa vontade, acabaria o granel, até transformariam Sodoma numa grande Babel. Mas os deuses teimavam em não aparecer, se calhar está a cheirar muito a marisco, segredou o chefe Portas assolado pelos escrúpulos da gula, o chefe Santana continuava a persignar-se constantemente dando mostras duma espiritualidade bem entranhada, e o Chefe Sócrates, ainda em rescaldo doutras festas e embebido num cepticismo quase cientifico, dizia que ou via as águas a separarem-se, ou o sol a começar aos trambolhões, ou o espumante manhoso a transformar-se em Moet Chandon, ou então não acreditava em mensagem nenhuma, és homem de pouca fé, disse-lhe inesperadamente o Chefe Louçã, estamos nós aqui fraternalmente na grande tenda, eu até estou quase a gostar do chefe Santana, porque até sou um homem sensível e só tenho de dizer aquelas coisas apalhaçadas de vez em quando senão o Rosas não me mete nos livros, e eu acredito mesmo que algo de muito forte nos unirá, e o ódio entre as tribos será a Bastilha que teremos de tomar. Começavam todos a não ter saco para ouvir Louçã, Santana já estava com um princípio de tendinite no polegar direito, Portas só andava a mostrar a todos o vergão da marca das gravatas no seu pescoço simulando que se imolaria pela sua tribo caso fosse preciso, e Sócrates, que já aparentava o joelhinho em chaga, julgava-se o novo estigmatizado das tribos da esquerda moderna. Os deuses também já não aguentavam tanta crendice lamechas, e quiseram mesmo despachar o assunto rápido, e como cada bando de tribos tem o que merece, então acharam melhor enviar logo a trupe de anjos que estava de turno para despachar o expediente: e foi assim que Marcelo Querubim de Sousa, Miguel Serafim Tavares e o Vasco Tronos Valente apareceram esvoaçando, de olhos a brilhar e batendo pálpebras com uma cadência digna das asas dum colibri: «Nós somos os escravos do Senhor; Deveis abdicar de toda a paixão e de todo o desejo, deveis viver em pura ataraxia». Porra que eu tomei disso uma vez e essa merda dá um sono do caraças, ainda teve tempo de dizer um dos chefes mas que não se reconheceu pois estavam de cabecinhas recolhidas. «O melhor é desamparem a loja, arrumem as peles que já tresandam e deixem que nós vamos tomar conta disto».

A estupefacção era geral; Então o povo das tribos tinha confiado neles e agora iam amochar perante uns gajos com umas fatiotas amaricadas; Não, não se conformavam, levantaram-se todos num ápice e exclamaram em uníssono: faremos uma rebelião, cada um de nós é um novo Adão, e não temos nenhuma costela enconada, não é a vocês meus paspalhos a cuspir penas que vamos entregar as nossas tribos. Os anjinhos ficaram à rasca, não contavam com uns estadistas tão zelosos das suas tribos e das suas peles mal curtidas, a contra-senha esperada era o “fiat mihi secundum verbum tuum” e por isso baralharam-se todos quando viram os chefes a sair emproados da tenda e a gritarem para as tribos: pessoal, isto continua tudo ao molho e fé em deus, os novos mensageiros dos deuses eram uns choninhas. O céu voltou a abrir-se, aparentemente ainda não tinha chegado a hora dos deuses tomarem conta dos acontecimentos. mas ficou a dúvida se as tribos teriam perdido uma oportunidade, ou se lhes teria sido dada mais uma oportunidade. Mas as tribos eram ainda donas do seu destino, as curtições eram manhosas, mas os deuses teriam era querido ainda deixar tudo nas mãos deles. A condição das tribos é terem de se desenrascar com as tendas. A fé move montanhas mas afinal não está feita para desmontar barracas.

E guarde-se este manuscrito ali para os lados de Alcochete, e que passem muitas festas do barrete encarnado até que sejam revelados às novas gerações. E como eu perdi completamente o controlo ao texto ele ficará apócrifo para sempre."
(E se fosse o Kundera a dizer isto)

um título em itálico e entre parênteses já diz muito da falta de confiança no texto. Mas é que ouvi dizer que os disparates serão os últimos benefícios fiscais a ficar de pé.



Pensava que era só uma consulta de rotina e estava apenas ligeiramente preocupado com o ensimesmamento revelado por alguns posts dos últimos tempos, até aborrecido, se calhar, com a absoluta falta de um mínimo de qualidade dos mesmos e ainda para mais ninguém me tinha obrigado a editá-los, mas ora, também isto não seria nada demais, apenas o costume, o número de leitores deveria ter estabilizado na pedagógica oscilação entre 7 e 9, a vaidade dos dois dígitos estava arredada, a ausência da fita métrica de visitantes continuava a garantir a paz de consciência , nada demais mesmo; só que logo após ter entrado e dado os primeiros passos no consultório da Dra Girassol reparei que a coisa estava preta, dou de caras com o olhar dela, mesmo camuflado numa franja simbólica, faiscava premonições dum tratamento de choque. Tremi um pouco, tenho de confessar, e nem sou de tremores, sem de suores, mas quando ela começou a falar até fiquei branco: «Olhe, já nem o dicionário se aproveita, mas eu também já calculava que você não iria aguentar aquele ritmo. Pois agora ou põe rapidamente a mão nisto ou nem sequer consigo segurar o pessoal do blogger que já não está para suportar tanto bit desperdiçado para que ninguém leia» «Mas... oh sra doutoraahh»- isto era eu a falar arrastado e a tentar ganhar tempo para eventualmente ainda articular uma frase - «também não acho que isto esteja assim tão mau, desde que eu garanta que os meus filhos não lêem nada desta trampa, julgo que tudo isto também não é caso para alarme, pronto, confesso, ando a encaramelar e a encalimerar a escrita, mas também não faço disto um bicho de sete cabeças, pode ser que quando voltar a ser original e disser mal do Santana Lopes ou citar o Pavese isto se recomponha» O olhar da Dra Girassol tornou-se praticamente trovejante e não foi de intrigas, tinha mais que fazer, meninos com problemazinhos de caca não era o seu passatempo favorito e despachou-me: «isto do Outono está a transtorná-lo, você não percebe nada da relação entre a distância Terra-Sol e a efervescência hormonal do feminino, você está totalmente equinociado, e está a meter-se em assuntos que até alguns antropólogos se vêem à nora quanto mais um reles balancete com pernas armado em desmaquilhador do sexo das almas» «Mas oh sra doutora, eu só estava a querer variar e...» «Esteja lá caladinho, e vá aviar já isto que eu aqui lhe estou a receitar, e se não resultar avançamos mesmo para o transplante, mas também lhe digo, esteja descansado, qualquer cérebro de galinha prenhe deve ser compatível consigo»

Olhem, eu sai quase em transe, balançando entre a humilhação e o desespero peridepressivos, e nem sei bem como é que ainda consegui escrever isto, limitei-me a deixar-me ir; mas como estão na moda os registos apócrifos, hoje o dicionário não ilustrado acabou por seguir este caminho menos amigo do cânone tentando esclarecer desengonçadamente “De que falamos quando falamos de gaj@s”, o Raymond Carver felizmente não se lembrou desta variante, mas o ambiente no consultório da Dra Girassol até estava muito pouco carveriano (e é pena porque agora está na moda). A palavra gaja já está muito batida, eu sei, mas por fazer parte do esquema obrigatório destes tratamentos não podia usar nem “moça” nem “gaiata”, e vejo agora nem estou bem certo que na farmácia não tenham baralhado as receitas todas com umas da gaja frígida que estava à minha frente na bicha, caraças, se calhar vou-me dar mal com isto, mais valia ter ido ao SAP, eles davam-me um Actifed, e eu punha-me a dormir num instantinho e não chateava ninguém, e não é que ainda acabei por ir tomar um chá de flor de marialva a ver o que isto dava e nem sei se não piorei mais a coisa. Bem o primeiro disparate que me veio à cabeça foi falar outra vez das "Gajas inacessíveis" – aquelas que mesmo quando estão só a fazer uma perninha, fazem-nos parecer um mero biscate ( e se fosse o Kundera a dizer isto...) E agora, a propósito, ou a despropósito, noutro dia vi nas bancadas do Open dos USA a Mónica Seles, a obstinada Mónica Seles: nunca uma esquerda a duas mãos será mais alguma vez guinchada como o fazia a Mónica. Isto sim são também verdadeiras saudades. E isso fez-me reparar que se calhar um "Gajo inacessível" - aquele que mesmo dando ares de profissional a tempo inteiro não passa de um alegre biscateiro. E face ao que ontem escrevi, ainda me apetecia esclarecer melhor o assunto, é que acho mesmo que as "Gajas de escrita tola" – são as que procuram desmistificar as iconografias do feminino ( bela frase) com uma vulgaridade levemente ordinária, e assim julgam alcançar finalmente a também ainda mitificada emancipação que pelos vistos não alcançaram com o soutien queimado ( e se fosse o Kundera a dizer isto...). E claro, o que não falta aí são também "Gajos de escrita tola" – os que vão a reboque da ironia poética julgando que já estão com o atrelado cheio de boas metáforas ( e se fosse o Kundera a dizer isto ...). Reparo agora que qualquer registo apócrifo deve ser ligeiramente brejeiro, e nada melhor que estrear-me com as "Gajas sexualmente desinibidas" – são as descodificadoras mais airosas, porque conseguem descobrir um bom fornicanço, no meio dum arranjo de rosas. ( e se fosse o Kundera a dizer isto...). Sobre gajos sexualmente desinibidos não devo falar porque poderia parecer mais publicidade enganosa, no entanto roço-me noutras categorias adjacentes como as "Gajas sensíveis" – as que sentem, mesmo sem serem pagas para isso ( e se fosse o Kundera a dizer isto...). E aqui sim, até parecia mal se não falasse dos "Gajos sensíveis" – os que ...é pá isto estava mesmo a pedir... ”o” sentem, mas não o fazem sentir ( e se fosse o Kundera a dizer isto...). Só que isto é como as cerejas, vêm-me logo à ideia as "Gajas pudicas" – o tipo de gaja que fecha os olhinhos porque assim sempre são menos uns buracos desguarnecidos ( e se fosse o Kundera a dizer isto...); E estas sim têm companhia, são os "Gajos pudicos" – os que pura e simplesmente não dizem palavrões à frente das gajas, mas desforram-se por trás( e se fosse o Kundera a dizer isto). No entanto há que saber separar as águas e ficaria mal se não revelasse a existência das "Gajas cultas" – as que estando deitadas às escuras dizem ao desgraçado que está ao lado que assim não conseguem ler nada ( e se fosse o Kundera a dizer isto...) mas estas geralmente nem se dão bem com os "Gajos cultos" – os que só copulam (hoje estou pudico) como vem nos livros. É a chamada acopultura. Os seus únicos devaneios são a acupunctura, os lapsos linguae, neste caso (e se fosse o Kundera a dizer isto...). E claro, adoro definir as "Gajas tímidas" – olham para ti, julgam que és midas, deixam-se tocar, lambem as feridas e deixam-se ficar como o ouro a brilhar ( e se fosse o Kundera a dizer isto babavam-se todas com as rimas). E acabo com gente fina, é sempre outra coisa quando sabemos ter como amigas "Gajas muito linkadas" – as que se dão ao luxo de usar o evax tampa naqueles dias mais linkxados (e se fosse o Kundera a dizer isto...) ou amigos "Gajos muito linkados" – os que conseguirem pôr uma mulher como a Nicole Kidman a dizer qualquer coisa do género «I also like some poetry after supper» (in “Moulin Rouge”) e ainda ficam a rimar em condições quando chegam ao café (e se fosse o Kundera a dizer isto ...). Afinal ainda houve espaço para estas últimas encontradas num manuscrito duma praia do mar da palha ( quem não tem mar morto safa-se com o que pode) são as "Gajas lixadas" – topam-nos à distância, mas depois vai-se a ver, ao perto perdem a focagem e levam-se bem como as outras, e até vão com os olhinhos a piscar ( e se fosse o Kundera a dizer isto ...); e os "Gajos lixados" – Não há. Só há gajos rebarbativos. E levam-se todos com ligeiros afagamentos. Ficam como soalho pronto para o baile (e se fosse o Kundera a dizer isto... )



Não foi de certezinha absoluta isto que ela escreveu na receita, mas aquilo também era uma letra desgraçada, e que venha o transplante, pronto! que se lixe
Santanas, Sócrates, Portas, Louçãs, Rebelos, Pachecos, Tavares, Expressos, Públicos, DNes, Siques, canaizuns, têvêis, têessiefes, antenazuns e cêénienes



Venha Deus e escolha. O diabo parece que já não quer ter nada a ver com isto. Diz que tem uma reputação a defender.

Cantinho do desfazedor

Dedicado a todos que se traumatizam com utilização do “que”. Mais um bocadinho de sex war, em versão light.



Mas vou-me lixar, está mais que visto.



Que outono. Mas que outono é este. Que coisa, que este calor que faz descompensa que nem queiram saber. Isto é um bocado escrita de gaja, não é? Que é, porque um homem que se preze já não está na idade dos “que”, que isto de dizer “que” tem que se lhe diga, que coisa, que eu não estou a conseguir sair disto. Um homem só abusa dos “que” se for um homem inseguro, que esteja sempre dependente dum “que” alheio, dum “que” de confiança, duma prove dos “que”. Uma mulher não, uma mulher que abuse dos “que” é porque gosta que sejam amigos dela, que sejam compreensivos com ela, que sejam tudo o que ela sempre sonhou que podiam ser os homens que deus lhes teria colocado no caminho que ela escolheu. Que isto é tudo verdadinha, pois que mesmo sendo isto a escrita típica de gaja tola que eu não sou, afianço-vos que não sou, e nada que eu possa dizer aqui deverá ser pretexto para que desconfiem nem da minha masculinidade nem da minha sanidade, que são ambas coisas a respeitar e que eu prezo muito, e que nem sequer admitia que as pusessem em causa, e nem valia a pena porem, que eu que nem vos ligava nenhuma porque sou muito independente, que sou.



Lê-se muito deste texto “de gajas” por aí, claro que também acabam de caminho por falar da roupa interior ou dos namorados, ou dos filmezinhos ou das outras gajas, ou mesmo do etcetera, coisa que eu acabei por evitar; só que, de facto, esta escrita logo às segundas já não tem piada, é demasiado fácil de escrever, e é mesmo – reconheçam, vá lá - mais típica das mulheres, que é, mas que na média, porque a estatística é a nossa safa em qualquer apuro, também reparo que as mulheres escrevem melhor por aí que os homens. Que escrevem. E que foi mais uma bela ocasião para eu me ter ficado apenas pelo título, que foi, pois isto não vai agradar a ninguém, só que desta vez nem o título se aproveitava. Que merda. Que só diz merda quem não consegue dizer mais porcaria nenhuma, e eu nem acredito ainda que estive a escrever isto, mas que se diga que nem me demorou muito tempo, e que talvez com mais um emporrãozito até escrevia um daqueles livros que a MRPinto diz que lhe dão muito trabalho e que chega a demorar um ano a escrever, só que eu agora não vou poder porque tenho de me assoar. Os grande escritores não andam sempre com o pingo no nariz de certeza absoluta. Que é Outono, essa é que é essa, e que um homem não escreve assim, nem que lhe paguem.
Isto é apenas um Outono mal conversado



Eu adorava ter uma controvérsia com alguém mesmo que fosse em prósia;



Alimentava-me esta merda, podia ser até sobre uma coisa prosaica, mas vá lá dum assunto que não me fosse assim muito adverso, eu sei, eu tenho muita prosápia, muita conversa, mas sou pessoa que não deixaria ninguém apeado, não poria ninguém de lado, até lhe daria razão se estivesse prái virado, mas, já se sabe, coitado, seria enxovalhado, é que eu não brinco em serviço, e por isso, se querem reboliço, vá, dêem o paleio ao manifesto, que eu tomo conta do resto, e

até pode ser que ainda venham a ganhar

o céu

com todo o escarcéu

que se venha a montar, não tenham medo, isto é só a brincar,

é que eu agora não tinha ninguém com quem conversar.