Praxiteles e as Afrodites agachadas



Nunca estaremos suficientemente gratos àquele rapaz ateniense de nome esquisito. Terá mesmo sido o primeiro a desnudar-nos as moças "esculturadas" para que lhes pudéssemos apreciar a volúpia das ondas da carne, e o serpentear dos torsos, que até aí apareciam somente envoltos nuns folhinhos irritantes (vá lá que não faziam pandan com chapéus de aba larga). Saiu-se em estilo roliço na sua mais que famosa Aphrodite de Cnidos, (da qual só se conhecem as “carradas” de cópias romanas espalhadas por tudo que é museu), desdenhou a estética wonderbra, mas mesmo assim libertou finalmente a arte que só se dedicava às paneleirices daqueles atletas que muitas vezes nem tanga traziam, nem força faziam.

No entanto, cá para mim, só uns anitos mais tarde é que verdadeiramente se sentiu o cheirinho da malandrice com as “Afrodites no banho” feitas pelos escultores de Rhodes. Estas deusas agachadas deixam-me virado do avesso, e não acredito que os caracolinhos do Hermes de Praxiteles não se desfrisassem todos com tamanha visão de erotismo acocorado. O poder duma mulher agachada, num delicioso assimetrismo de pernas, destrançando os novelos do cabelo, deixando antever que nos dominará com qualquer saponária espumada, lembra-me que somos seres que se deixam levar pelas poses da carne, e pelas dissimulações do espírito. Mas podia ser bem pior, vendo bem. Afrodite revela-se-nos nessas esculturas com a sedução dum agachamento, a força dum obsceno e sinuoso recolhimento de corpo que nem Praxíteles tinha podido adivinhar (apesar do sacana também já lhes pôr as perninhas em semi-pose tipo chanel). É que nem Ingres conseguiu agachar assim uma mulher em condições. E a força duma mulher também está no seu doce aninhamento, no seu estranho provocar encolhido. Será que a botânica explica?
Dia de “tripa” gloriosa



Saudoso da sua brilhante metáfora do país de tanga, DBarroso deslocou-se ao balneário do FCPorto para ver como era a tanga campeã. Ainda no rescaldo do entusiasmo gesticulante do congresso, DBarroso irrompeu pelo reino do poliban prometendo que o feito tripeiro não se esgotaria em si, e que iria servir de exemplo a todas as tangas que no fundo somos nós, e que nos arrastamos neste balneário mal canalizado, mas bem arejado e à beira mar plantado. A tanga acaba por ser vítima dum injusto ostracismo, face à sua absoluta falta de equilíbrio estético, no entanto, uma tanga campeã não só apresenta um justificado papel sustentador duma masculinidade que sem ela baloiçaria inoportunamente, como poderá servir para acolher umas tais de retomas, que nesta fase parecem estar entaladas nas partes baixas da economia. A tanga campeã será a que nos libertará da nossa desprezada periferia, nos devolverá a força interior, e nos recolocará no centro de gravidade deste novo corpo místico que é a Europa alargada a leste. DBarroso com a sua visão de estadista, não perdeu tempo, e recolheu no duche as tangas campeãs que agora servirão de pano ao estandarte da nova Lusitânia. Somos o país da tanga campeã. Desfraldaremos ao vento a nossa vitória, seremos o elástico da grande tanga europeia e sustentaremos a sua honra perdida. «Agora não deixarei mais ninguém “pendurado”», foi a frase de DBarroso exibindo como troféu a trouxa com as tangas campeãs. Finalmente o nosso estado de indigência e “quase-em-pelota metafórica” foi resgatado. Obrigado dragões, por nos terem devolvido a confiança numa tanga vitoriosa, envolvida numa tripa gloriosa.
Dia de “tripa” dourada



Foi muito bom o FCPorto ganhar. O Mourinho é muito bom também. Como fica sempre giro dizer, se calhar o melhor treinador do mundo. Ontem lá fez a sua pose (todos têm direito a uma, claro) e, sou levado a dizer, pelo menos não bateu em ninguém. O poder político foi comedido nos elogios a Pinto da Costa. Por isso é que são políticos; dão-se ao luxo de ser parcos, deixando para o povo o luxo de ser parvo. Hoje confesso que tenho inveja de não ser do FCPorto, mas se calhar ser “lagarto” moldou-me o espírito a poder ser iluminado e consolável com o brilho alheio. Desde que não venha dum “lampião”.

Hoje o dicionário não ilustrado fez mais uma incursão rápida na liturgia partidária. Alguns varejos de traça política nas entradas 725 a 735.



Congresso – Mecanismo de natureza gregária que cola com cuspo, onde outros artefactos exigiriam espesso betume. Seca rápido, e nem precisa de se soprar muito.



Líder – O que transforma qualquer ridículo esbracejo num sinal de trânsito.



Retóricas de ocasião – (do discurso “cinético”) Quando se está quase a terminar uma parte dum discurso, em vez de se ir abrandando, como apontariam as técnicas de boa condução, vai-se antes acelerando e falando cada vez mais alto, para que o aplauso resulte no clímax que – aparentemente - não se alcançou pelas vias tradicionais



Comissão política – Os que escolheram as gravatas de turno que condiziam melhor com as camisas de serviço, e que souberam limpar o fatinho a tempo de não se notarem as nódoas das últimas javardices.



Moção – Bocejo palavroso que disfarça, ou atraiçoa, um corpo sonolento, ou que faz de antecâmara a um velório mais ou menos sangrento. (e já estou a rimar demais)



Listas para os órgãos – Qualquer órgão que se preze precisa de compor um enxoval decente, para não se confundir com nenhuma pelintrice esponjosa e meramente segregante.



Vocação de poder – Estado êxtasiante e de índole missionário, que leva alguns ao sacrifício duma doce vida de privados comensais, pelo doloroso degredo das páginas de jornais. ( é pá pareço um parvo com as rimas)



Secretário-geral – Aquele que é um chato em particular. Mas que acaba por ser o dono da pomada, e o que decide quem se pode coçar.



As bases – Tal como nas dos copos, são o que evita que fiquem marcas no envernizado, e depois de muito húmidas podem-se descartar, ou trocar por outras mais giras. E também servem para desviar as atenções quando o cocktail é rasca.



Coligações – Pura fornicação pela via profissionalizante. É despachar o servicinho, com a higiene possível, e jamais sucumbir ao comprometedor beijo na boca.



Sensibilidades – Também designadas tendências, mas que temerosas de loucas inclinações, se refugiam na castidade dum buço que nunca se quererá assumir como farfalhudo e despudorado bigode.

Houve quem tivesse escrito que «entre sombras e luz, num mundo crescente e decrescente, pela janela das traseiras, chega a noite ao fim do dia». Foi há um ano, por uma pessoa que deve ter de certeza a «sua janela das traseiras com vista para o infinito». E é bom ver que não desperdiça o seu olhar essencial. Se eu fosse o Noé gostava que fosse ela a trazer o ramito da boa nova. E depois, olha, até podia continuar a chover.
Uma papelaria apenas chamada desejo



O meu sonho é ser empregado de balcão. Estar ali, numa papelaria, à espera das freguesas, a olhá-las de alto a baixo, a ir arriscando nuns piropos sem manha, chamando-lhes marquesas, e a enchê-las dos rubores da vergonha, mas daquelas vergonhas sem tristezas. Numa rua muito movimentada. E o nome seria “ Sexo, lda”. Com um reclame de luzes cintilantes, provocantes e arroxeadas. Mas era só uma mera papelaria. As pessoas entravam com a curiosidade ao léu, e ali estava eu, de barba escanhoada e seráfica, pronto para lhes aviar uma esferográfica, inebriá-las com uns envelopes perfumados e grátis, derretê-las com o erotismo dum afia lápis, e fazê-las apaixonarem-se pelo papel cavalinho. Pois o meu sonho é ser empregado de balcão, nem vizinho, nem ladrão, nem amante, nem cabrão.

Estaria tudo num asseio fresco e barato, e eu com uma solicitude a roçar a nobreza de trato, com os clientes derretidos na minha atenção contagiante, e o material de papelaria ali elegante, refastelado numas prateleiras sem gaveta, e em forma de esguio friso de opereta.

Que belo é o material de papelaria, e que feliz eu seria. Ali ao balcão, com a freguesia na mão, só querendo deslumbrar a clientela, sacando-lhe uns sorrisos de janela, e dizendo umas graçolas, diluindo desabafos nuns blocos de argolas. Que contente eu estaria só ali ao balcão, apenas barbeado e bem disposto, apenas rodeado de bom gosto. Nem sonhando, nem fazendo sonhar, apenas vendendo papel d’agradar. Seria uma papelaria de alterne. Uma loja que nem ilusões vendia, comigo ali ao balcão, eu que apenas sorria, e nem sequer lhes afagava a mão. Tocar na clientela, isso não! Que flagelo! Aqueles jeitinhos saloios de aconchega cotovelo, aqueles abracinhos de enlace mal parido, manápulas de amolecer ombro ferido; jamais, jamais tocar em quem se quer bem aviar. Confiava apenas no som ambiente, na música que acalma o mundo, naquela que não mente, que só pedia um respirar fundo. Eu ficava ao balcão, claro. Não gosto de incomodar. Nem mesmo de aldrabar. Apenas gosto de vender os rios pelo preço do mar. E o que eu adoro ver desaguar. Tocando ao de leve no meu balcão, e passando sorrisos de mão em mão. O meu desejo é ser o senhor da papelaria. A vender papel, quem diria. Aos clientes de passagem, testando-lhes a piadagem, para depois manter os que são certos sempre de olhos abertos. Ele está tudo calculado. Serei pois rico e serei amado. O que eu nunca serei é aldrabão. Se vierem reclamar, nunca direi que foi falta de comunicação. Um freguês é um amigo, ou vai para o céu comigo, ou ferverá desgraça num bule feito de reles argamassa. Porque o que eu quero é estar ao balcão, na minha papelaria, olhando para o chão e vendo como o céu se reflectia, sem cegar, mas com harmonia, dando lugar à bizarria, que é desejar ser apenas dono duma papelaria. Que se chamaria sexo, que coisa mais sem nexo.



A Dra Girassol vai-me mandar internar de certezinha.

Visitors disease



A Dra Girassol andou por fora uns dias, certamente naquele bem-bom dos congressos, e agora que voltou, chagou-me a cabeça porque eu não estava a fazer o tratamento em condições, que me andava a esquecer das tomas, e que andava a perder o tempo em “poesias do quotidiano”, para as quais o meu organismo não estava minimamente talhado. Vai daí, deu-me dose reforçada, e agora eu ando aqui pianinho, senão a “gajita” (aqui para nós: ela é impiedosa quando nos desviamos para as terapias alternativas) põe-me a pão e água.

Sai tratamento:



Dona "Unhaca"



VPValente revela finalmente a sua verdadeira vocação de conselheiro matrimonial. Foi então noutro dia (6ªf DN) que ele nos brindou com a sua penetrante análise sobre as estratégias de união - mais ou menos sacramental - dentro das casas reais europeias. Windsors e Bourbons são pelintragem fina, e ele desvenda como se lhes move o coração, da mesma maneira como nos decifraria a receita do bolo de chocolate da avozinha. Onde outros se embebedam de contos de fadas, VPV “tira-nos o barato”, e não é de modas, abre-nos os olhos dizendo que não foi o amor, não senhor, mas sim um sincopado plano de negócios que levou aquelas almas nobres e brasonadas a descortinar as suas gémeas legais de fornicação e proliferação. VPV sonha em ser o grande conservador do registo civil da história, e eu cá se fosse aspirante a princesa, punha-me já na bicha da sua tendinha de bênçãos e quiromancias analíticas. Pelo menos é capaz não se sair a cheirar a fritos.



"In-out político"



Dizer que um ministro é muito bom técnico, é a mesma coisa que dizer isso duma gaja



"Gajas inacessíveis" I



As princesas têm algo muito em comum com as jogadoras de ténis. É que mesmo sendo feias como um bode acabam por ser giras. O que numas se consegue com a musculação, noutras realça-se com o penteado. As primeiras têm forçosamente de mostrar as pernas, e as segundas que esticar o pescoço. Reparo agora que a Jennifer Capriati podia perfeitamente ser a futura princesa do Mónaco. Uma estaladona da gaja podia ser que acordasse o Albertinho.



Eu se calhar enganei-me a aviar a receita?... Bem, agora já está, já está. Siga.



"Gajas com as acessibilidades em análise de impacto ambiental" II



A utilização de palavras ordinárias pelas mulheres é algo que seduz sempre os homens. Assunto batido, ok, já sei. Eu até julgo que elas estarão conscientes do efeito quase encantador que um “foda-se” dito por uma mulher tem num homem. No entanto, deve ser dito duma forma relativamente inesperada, negligentemente envergonhada, e de preferência acompanhado duns olhitos amalandrados. Uma mulher que nunca brindou um homem com um palavrão em vernáculo será sempre uma mulher associada a demasiadas barreiras sonoras, a luzinhas especiais para a passarada, a inclinações suaves, a curvas com aproximação assinalada. Nem todas as obscenidades ficam bem ditas por uma mulher (os retoques corrompendo ligeiramente as palavras, também são deliciosos), mas há algumas que criam um ambiente ao mesmo tempo acolhedor e epifânico. Um verdadeiro ambiente de graça.



As mulheres encantarem-se com os homens a dizer palavrões é que já é um bocadinho decadente.



"Gajas muito acessíveis" III



Já passou um bocado o delírio babante em torno dumas miúdas que apareceram de rompante, e com um ar fresco – sejamos justos, pela blogaria adentro. E também é verdade que, se um homem não deixa as suas glândulas babárias a trabalhar, aquilo entope, e depois é que é uma desgraça com o resto do aparelho glandulário ( e se calhar até é assim que alguns acabam por dar nuns gandulos). Fazer trejeitos verbais engraçadinhos com gajinhas de apresentação atrevida, mas refugiadas no formato do anonimato, é um tabuleiro onde se leva sempre a jogo a ridicularia fina. Uma gaja, para ser gaja, tem de ser sempre um pouco inacessível. E um gajo que se preze tem de estar sempre em cima do risco, e a tapá-lo, para não dar a ideia de que o está a pisar. Quando a Sharon Stone aparecer com um blog geriátrico, eu depois faço um desenho. Vai parecer a nova Babalónia.



Na receita dizia quatro destes, não era ?



"Gajas inacessíveis" IV



Uma. Tarantino atarantou-se. A chavalita com a espada faz lembrar uma peixeira a amanhar um pargo para assar, ou uma corvina para cozer (opção dieta). Não filho, tu não precisavas dela para o kung fu. Uma mulher espigadota não está talhada para as artes marciais, pá! E agora Tarantino, andas a desenjoar com a Sofia Coppola, mas olha que ela, com aquele olhar de sonsa, ainda te põe a contracenar com a Susan Sarandon e a fazeres de fotógrafo estrábico, gago e contador de anedotas.





"Bola"



Noto que estou para o Carlos Queirós, como o MSTavares para o Santana Lopes. Se o cabrão vem para o Sporting eu, ou emigro, ou vou escrever romances sobre a Africa sub-sariana. E também vos digo, se isso acontecer, tanto me dá, até pode vir o próprio MSTavares para Presidente da República



Reparo que ninguém se mete com o vestido da Carlotte! Está tudo com medo, é? Ou será que ela está a ganhar o estatuto de diva intocável. Vestida para matar em “purple fashion”( ou será vestida para amar em "rouge doux"). Vamos lá ver quem é “homem”. (eu não posso, já se sabe, senão acaba-se o feitiço da sua bênção, e eu não me posso dar a esse luxo)





"Citaçãozinha"



De uma poetisa anónima, da passagem do século:

«Chamava sempre os outros pelo nome quando com eles falava. Como se temesse não existirem para além do nome. Como se um nome fosse morada de uma alma.» A.

De Henri Michaux :

«Icebergs, Icebergs, Solitários sem carências, regiões fechadas, distantes e livres de parasitas. Pais das ilhas, pais das nascentes, como vos conheço, como me sois familiares...» ed. Relógio d’Água.



Nota final

Esta porra de eu não ter contador de visitas já me deve estar a dar qualquer descompensação hormonal, mas eu fiz voto de castidade com essa merda, e agora não me posso ir abaixo. No fundo este é um blog muito religioso.
Isto parece um bocado "horrível"; mas “tem de” se dizer. Rapidinho.



Até concedo. A expressão do sentimento ou da crença religiosa pode vir paramentada dalguma ridicularia estética. Dumas poses fatelas, duns sacrifícios descabidos, dumas peregrinagens fantasmagóricas, dumas obediências despropositadas, dumas rezas lunáticas, duma exegese bacoca, dum certo empalamento ideológico, duma sub-reptícia desgraçadinhice, duns proselitismos enrebanhantes, duns apocalipses forçados, dumas fés de churrasco, dumas fezadas na brasa, dumas franquezas no espeto, dumas caridades naftalinadas, dumas esperanças mal arejadas, dumas consciências de almanaque.

Mas convenhamos, nada chega ao ridículo da coçadela de tomates da negligência religiosa, certamente acossados pela comichão das epistemologias micóticas, que já mostram a virilha agnóstica em chaga. Quem não acredita podia limitar-se ao seu deserto e ...

(Dejadme solo y solitario, a solas

com mi Dios solitario, en el desierto;

me buscaré en sus aguas soterrañas

recio consuelo)
M. de Unamuno

... e ficar-se na pena de nunca ter visto um Deus a sorrir.

Agora está na moda dizer que não se pode mandar dinheiro para cima dos problemas. Que isso não os resolve, blá blá blá blá. E eu também vou nessa: mandar dinheiro para cima dos problemas dos outros, raramente resolve os meus. Opções mais variadas no Dicionário não ilustrado. (entradas 715 a 724)



Pôr um problema maior em cima – É a técnica do edredon. Só é preciso controlarmos as costuras para evitar acabar a cuspir as penas. O problemazito que ficou por baixo até pode aproveitar para fazer das suas sem ninguém ver.



Buscar a bênção da impossibilidade – Na dificuldade burocrática em que ele seja perfilhado pela incerteza, teremos sempre a alternativa de o internar no orfanato das terras do impossível. Uma escola de vida como sabemos.



Oração – A intervenção divina substitui bem os paninhos quentes, e muitas vezes é preferível recostarmo-nos no seio acolhedor da divindade, em vez de ser amamentados pela teta da dúvida. Só os mais hábeis não se engasgam naquelas posições esquisitas.E vendo bem, de joelhitos e mãos juntas acaba por nem ser muito mau.



Arranjar Culpados – Técnica básica de efeito garantido. Produz uma espécie de congelamento da realidade, e muitas vezes anula a pestilência, sem se ter de gastar muito dinheiro em Haze.



Messias & D. Sebastião – Espécie de formol em que se podem embeber, e passado uns tempos até emborcar ao jeito de aguardente velha, mas na condição de fazer uma ligeira careta no fim. O hálito fresco é opcional, mas vende muito bem nos arrotos parlamentários.



Inserir no processo histórico – Tem de se ir dando um certo uso a Marx, para ver se ainda recuperamos algum do que se andou a investir nele durante tantos anos.



Dar-lhe um enquadramento – Nada melhor que uma moldura em talha dourada para disfarçar uma fétida imitação da realidade, com erros de tonalidade vendidos como expressionismo inovador. Dizer que a riqueza do detalhe lembra um flamengo desconhecido do sec XV, dá igualmente ao problema aquela noção de perspectiva original, mesmo antes dos Masaccio de turno aparecerem a fazer contas de cabeça.



Mostrar todas as suas faces – A tridimensionalidade é a salvação para qualquer problema mais chato. E depois ainda há o caleidoscópio que entretém a vista, e o cubismo que a enobrece à borla.



Dar-lhe companhia – Amancebar um problema com outro será sempre criar uma união de facto com fortes possibilidades de sucesso. É que um problema que passe a vida a esfregar-se sozinho, acabará por ganhar o hábito de crescer, à primeira visão duma solução de formas arredondadas e bem feitinhas.



Dar-lhe um nome pomposo – Desde que se descobriu que o mal é inominável, é preciso ter sempre um catálogo de designações de aspecto científico para catalogar cada problema. Até as pulgas têm direito a que pelo menos um dia as chamem de pulicídeo.

Notas Soltas. Mas não ao léu, nem mal sustenidas.





Li esta citação do C. Pavese no blog mymoleskine

«Nada se acrescenta ao que ficou para trás, ao passado. Recomeçamos sempre

Falso. É uma velha falsidade. Nós somos é meros acrescentadores. «Recomeçar sempre» é uma pura ilusão da nossa condição. Gira, enternecedora, empolgante até, mas – resumidamente – uma bela treta. Compra-se em promoção nas feiras da felicidade. Mas, vai-se a ver, nunca traz garantia.

A única coisa que até hoje vi renascer das cinzas foi o cinzeiro. E só se não tivéssemos feito muita força a apagar a beata. Nem devemos abusar muito dos comprimidos, como fez o outro.





A troca da “Casa Pia” pelas “Sevícias da Pide” parece-me uma evolução interessante. E agora para desenjoar dos “abusos aos presos iraquianos” proporia o “sado-masoquismo na Cruz Vermelha”, e de sobremesa a “sodomia na Misericórdia”. Se calhar a “ lavagem das partes baixas da democracia no bidé dum convento de carmelitas descalças “ já seria pedir demais. Volta “Big Brother”, estás perdoado.



Mi

Todos já dissemos, ou ouvimos dizer, que a fronteira entre a vida e a morte é ténue. Que a fronteira entre a vida dita normal e a anormalidade é ténue também. Que a fronteira entre uma vida decente e uma vida indecente é um fiozinho d’água.

Hoje eu verifico que, de facto, o pior que nos pode acontecer é ter de viver como guardas fronteiriços.

E já não sei se quero acreditar no que escrevi em “dó”.





Quando comecei isto apetecia-me dizer mal do último disco do Morrissey, mas agora já não me apetece. O facto fica registado como mais uma prova científica de que a coisa mais estável que existe é a instabilidade. Coisa dos sistemas. Dos rebanhos, no fundo.



Sol

"Relembrei" hoje a alguém uma “apropriação” da mensagem dum episódio supostamente passado durante as campanhas de Alexandre o grande: nós pedimos a Deus consoante a nossa condição, e Deus concede consoante a sua. Só assim se pode – ou melhor, posso - enquadrar muita da consciência da nossa – ou melhor, minha - fragilidade





Volto ao tema da discussão sobre a situação nas prisões iraquianas. Adoro aquelas análises que desembocam – mais ou menos explicitamente – num “ora já se sabia que”.

São estas conclusões que me fazem gostar mais duma anedota de alentejanos, do que duma boa argumentação.



E...viver com uma escala incompleta também faz parte da nossa condição.
Reparei que havia um livro no top de vendas com o inspirador título “Alternativas ao relacionamento afectivo”, escrito por um suposto guru de yoga brasileiro, do qual não me lembro o nome. Fiquei em brasa! Eu que me sinto praticamente um especialista nesta matéria e nunca me tinha lembrado disto! O novo dicionário não ilustrado fornece então hoje - aparentemente atrasado - as verdadeiras alternativas felicitárias, e que se encontram fora dessa promiscuidade que são os afectos a roçarem-se javardamente uns nos outros.( entradas 705 a 714 )



Relacionamento comercial – Milagre da natureza no qual "o que um tipo tem a mais", coincide com "o que outro tem a menos". O êxtase produz-se quando o que vende julga que vendeu pelo dobro do que estava à espera, e o que compra julga que pagou metade do que estava disposto.



Relacionamento científico – A relação entre a cobaia e o investigador cria inevitáveis momentos de grande empatia. O despojamento no altar sacrificial do progresso motiva uma cumplicidade mística, que só não se rompe porque o rato dificilmente tem tempo para chamar filhos da puta aos meninos de bata branca.



Relacionamento usurário – Quando um juro prende mais que uma jura, é porque duas almas só gostam de ficar reféns na base duma penhora de sentimentos. O verdadeiro spread situa-se entre o gozo básico de ser credor, e o orgasmo de pagar atrasado e sem juros de mora.



Relacionamento de poder – O submisso encontra sempre a luz no seu senhor. O que exerce o jugo possui a felicidade no controlo do interruptor, e deixa ao subjugado o prazer de escolher o feitio do abat-jour.



Relacionamento de vizinhança – Quando tudo se baseia na bela partilha osculada de patamares ou paredes-mestras, a salvação está em directa proporção com a disponibilidade dos elevadores



Relacionamento sexual – Seguindo o móbil do desejo, e guiados pela vertigem do sedoso e seboso encontro de epidermes, desemboca-se num mito penetrativo, ejaculante, clitoriano e orgásmico (será que eu estou a ler bem o que escrevi). A medida da eficácia encontra-se nos registos dos "estremeçógrafos" e dos "guincholoscópios".



Relacionamento religioso – Quando uma alma com pendor para ser crente se liga com um ser talhado para se crido, inevitavelmente uma se torna carente e o outro se torna querido.



Relacionamento de violência – Ter enfiado um murro nas trombas de alguém é uma experiência que ligará essas pessoas de forma definitiva. Se para além disso perdurarem algumas marcas físicas, o encantamento permanecerá na ordem do famoso registo tântrico.



Relacionamento terapêutico – Quando a esperança se joga no equilíbrio entre um diagnóstico colorido e uns comprimidos às cores. Mas um sintoma só é verdadeiramente o início duma grande amizade, se der origem a uma “livre associação”, vivida de modo “catártico” e em regime de “recibo verde”.



Relacionamento platónico – Quando estamos abrigados num jogo se sombras, muitas vezes descobrimos que a última coisa que queremos é abrir a luz do candeeiro da mesa-de-cabeceira da caverna

Desta merda. A porcaria de escrever práqui está a tornar-me uma flor estufada; mais instável, mais ao sabor dos humores e das humidades, mais auto-interpelativozinho, mais “e-agora-o-que-é-que-eu-escrevo”, mais “deixa-cá-ver-se-isto-ficou-benzinho”, mais “ai-mas-era-mesmo-preciso-escrever-assim?”,

mais coninha-de-sabão,

mais dependente do tremer da mão

mais amante da especulação mental,

e isto já me está a cheirar mal.

Se escrevo é porque não sei se valeu a pena ter escrito, se não escrevi é porque sou uma merda por não ter conseguido, se escrevi é porque não tinha nada melhor para estoirar a merda do tempo, se não arranjei tempo para escrever é porque sou outra merda ainda maior, se escrevi é porque fico a pensar se não podia antes ter ido comer um arrozinho de lingueirão, se não escrevi é porque bem podia ter escrito dado que o arroz estava uma merda, se escrevo é porque não ligam nenhuma à merda que eu escrevo, se não escrevo é porque assim é que ninguém lê esta merda de certeza; estou a atolar-me de “ses” e mais “ses”, bem acima da conta. E eu detesto ter dúvidas. Aliás, eu até acho que é a primeira vez que estou com dúvidas, vendo bem! Ter dúvidas é mesmo outra grande merda, só superada pela de ter hesitações. E – fim da pica – ainda descobri mais este ignóbil percalço de personalidade: então não é que às vezes, mesmo quando não me apetece escrever uma coisa depois não consigo passar sem a escrever!? Mas que merda é esta! E depois eu nem sou antropólogo, nem sou sociólogo, nem sou psicólogo, nem sou jornalista, nem cientista, nem halterofilista, nem vendedor de alpista

nem colunista, nem clonado,

nem cronista, nem encornado,

nem fadista, nem fadado,

nem de esquerda, nem do outro lado,

nem escritor, nem escriturado

nem esquecido, nem falado,

nem puta, nem deputado,

nem poeta, nem apanascado

Mas que merda é esta pá!? Tenho de aturar os outros, e agora ainda me tenho de aturar a mim mesmo também!? Ao menos mandem-me à merda, que eu não estou a conseguir sozinho.
A fé é um mistério. Principalmente para quem acredita.

13 de Maio. O poder em formato peregrino



D.Barroso disse que o governo dele não é conservador mas sim reformista. Acho muito bem. O sector das conservas já deu o berro, e antes que o estado providência dê também, há que aproveitar enquanto ainda se pode para ser devoto das reformas.

Mas o que me traz aqui é a peregrinação a pé que o Dr DB vai fazer a Fátima com o seu governo. São moças e moços esforçados, que se vão entregar nas mãos da Santa Senhora, para que no seu regaço encontrem o rumo certo. No fundo, será uma oração penitencial neste apeadeiro, que abençoará decerto o roteiro sacro da retoma. D.Barroso está confiante que esta prova de esforço e fé o vai ajudar também a esclarecer-se definitivamente sobre a mítica remodelação. Quem se aguentar, e aceitar o sacrifício com resignação e espírito de entrega, esse sim será digno de governar Portugal!

- Meninos estão todos prontos?

- Há aqui um problema Sr. Primeiro, os meninos do PP não querem levar os chapéus cor-de-laranja!

- Estamos reféns das boinas azuis, é o que é!


Durão quase que sufoca nesta tragédia inesperada, mas pedirá à Senhora que o ilumine, e decide que leva tudo o boné do Euro! JLArnault coloca-o um pouco à banda, mas fica-lhe a condizer.

- Sr. Primeiro, Sr. Primeiro, chegou aqui um estafeta com um atestado médico do ministro Theias. Acho que não pode ir porque tem uma unha encravada.

- O Bagão Félix que analise já esse atestado!

- Ó Sr Primeiro, eu mandaria mas é a fiscalização lá a casa...

-...Afinal ele já está bom, e disse que aproveita o atestado para uns tipos de Guimarães, que se querem safar duma oral


O dr Figueiredo Lopes tremia que nem varas verdes. Comentava-se à boca pequena nos corredores (bem isto é forma de expressão, não havia corredores porque já estavam todos no pátrio do jardim de S. Bento, e até já tinham feito o chichi) que ele tinha era pânico por passarem perto de uma zona de incêndios.

- Não tenhas problemas Figueiredo, os bombeiros de Lamego têm a situação toda controlada com os helicópteros.

-Eu temo muito, porque neste país de poetas amargurados o «fogo arde sem se ver»


T.Gouveia também estava muito preocupada, porque a saia era um bocadinho travada e podia não aguentar a passada larga de Marques Mendes. D.Barroso, sempre compreensivo, explicou que cada um podia ter o seu ritmo desde que chegassem a Fátima antes das presidenciais.

Mas Portas parecia acabrunhado. Estava ali no seu cantinho, tudo apontava para que tivesse a rezar baixinho, e ninguém o queria incomodar. Mas D. Celeste aproximou-se com o seu terço em madrepérola e interpelou-o sobre o estado da sua alma:

- Está em carne viva irmã Celeste. Não sei se quando chegar junto da Azinheira sagrada não me transformarei num estigmatizado. O povo precisa de sinais. Temo ter sido eu o escolhido.

- Bem... nossa Senhora assistiu ao milagre das bodas de Caná, mas julgo que não terá emborcado o vinho todo...
(nota pessoal: tenho de vos confessar, aqui tive de rezar uma Ave Maria para expiar, pelo sim pelo não)

Entretanto a caminhada lá tinha avançado, a lezíria ficava já ao longe, e como não podia deixar de ser, as bolhinhas nos pés também começaram a fazer as suas primeiras aparições.

- Ó Mme Ferreira Leite noto-a dada ao coxeio. Será que voltou o desequilíbrio...

- Deixa-te de piadinhas ó meu gastador de merda. Agora é que eu quero ver se essa tua reformazinha da saúde me consegue tratar aqui dos joanetes.

- Ai isso é do pelouro da Cruz Vermelha. O melhor é ir ali à roullote do pão com chouriço que eles fazem-lhe o penso; é que o tratamento das micoses já foi concessionado ao pessoal dos couratos, e as bombas de ventilan já só se encontram nas bancas de torrão de Alicante.


DurãoB. mostrava-se apreensivo. Não vislumbrava um ambiente de entreajuda e companheirismo no grupo. Pensava no país, e via um rebanho entre o mal tosquiado e o mal mugido. Olhava para o seu governo e via uns pelintras a arrastarem-se, suspirando por uma bênção de entardecer, e um bitoque com ovo.

- Sr. Primeiro ainda falta muito? Dizem que aqui em Vila Franca também há muita devoção a Nossa Senhora por causa dos toiros, e...

- Vocês são ministros peregrinos, ou são campinos de vacas leiteiras? Cambada de fariseus, serventes do hedonismo!


Apesar de tudo, eles viam no Primeiro uma força que parecia vir do além. Confiavam na sua passada decidida, regulavam-se pelo refulgir da sua t-shirt de sinalização, deixavam-se hipnotizar pelo punho do seu cajado, qual Jafar da Cova da Iria (há que ver o Aladim para desenjoar do Tarantino).

- Mas Sr. Primeiro, nós estamos de corpo e alma na sua missão, só que agora é mais o corpo que está a dar de si, e eu ameaça-me aqui um frúnculo na virilha, que à terceira “Ave Maria” tenho logo de soltar um “Glória” para m’aliviar das dores!

- Nós não podemos estar virados para as nossas coisinhas! É pelos problemas dos outros que temos de oferecer o nosso penitente caminhar. Pensem que em cada fístula a drenar pode estar o sorriso duma criança, ou o doce pastoreio duns bloquistas de esquerda.


A fé começava a ser já o último refúgio. As saudades do motoristas, do chazinho a meio da tarde, dos cadeirões da sala de reuniões...

-Ó Drª Nelinha, acha que há verba para comprar um daqueles terços em madeira trabalhada para levar para o meu gabinete?

- Ó filho, conta mas é as ave marias com os dedos.


Entretanto ia-se alongando e desfazendo aquela ilustre coluna. CTavares oferecia uns mistérios dolorosos por BelmiroAzevedo, Theias “limpou” uma Salve Rainha pela alma da Quercus, e PRoseta só dizia “deo gratias”, “deo gratias”, “deo gratias” porque não tinha pecadores na peugada, e em última hipótese podia pôr a Casa da Musica a render como franchisada da Capelinha das Aparições no Norte.

- Ó Chefe, isto agora já marchava uma boa pinga aqui do Cartaxo. E alma aconchegada já se sabe que é meio caminho para alma arrebatada.

- Uma bela arrebatada vão levar alguns de vocês. Qualquer dia o nosso querido Portugal é uma mera região demarcada ao serviço duma casta mal enxertada qualquer, e vocês aí nem arranjam lugar sentado nos alcoólicos anónimos.

- O Sr. Primeiro está a ser muito injusto. Já estoirei com duas bisnagas de Alibut, e até emprestei o meu cantil ao Marques Mendes.

- Agora quero todos de mãos dadas durante um kilometro. Depois escolheremos qual é o que vai de joelhos na parte final, e qual é o que leva a vela gigante.


Estava criado o momento de maior ansiedade no piedoso pelotão. Mas temia-se pelo desmoronar da santa coligação. A bênção que a tinha protegido estava agora desguarnecida pelo efeito da perspectiva dum joelhinho em chaga. Seria o momento de todas as definições. O PP sairia de corpinho feito, ou teria de deslizar pela explanada do santuário curvado pela esmagadora aritmética do sufrágio? Jogaria Portas a sua última cartada, entregando o fémur de Celeste para imolação, ou DBarroso iria mostrar finalmente que era homem duma espinha só, enfrentando a via penitencial como um navegador solitário?

- Eu vou! Afirma de rompante MoraisSarmento. Ele tinha feito uma promessa! Fora uma coisa “a dois” só entre ele e a Santa Mãe.

- Devo-lhe um agradecimento muito especial. Não fiquei refém do Acontece.


Entre sorrisinhos nervosos, e «é pá vê lá se quiseres eu vou», e «eu seguro-te na mochila», e «foda-se», e «é justo», e «se não fossem as bolhas terem rebentado até ia eu», e «nas curvas eu depois dou-te a mãozinha», e «onde é que estão os fotógrafos», MSarmento foi entronizado como o peregrino da nação.

Aquele onde o governo iria pôr seu enlevo. O que iria suportar para todo o sempre o pesado fardo do pelouro da salvação da mátria. Seria a rótula bendita da nação.

Mas Portas espumava em pré êxtase. – Eu levo a vela, eu levo a vela! O poder de Deus derreterá nos meus braços! Com o calor do meu amor à pátria fundirei a cera sagrada! O meu corpo fará de molde à regenerada alma portuguesa. Serei o pavio da portucalidade.

- Poça, isto não precisa de ser remodelado, isto precisa é de moldes novos. Estou no meio dum enxerto de figueira estéril com videira encarquilhada e encostado a um Azinheira. Salva-me Rainha do Meu Pomar! Olha pelo teu jardineiro fiel e livra-me destes palhaços.
"Tramplates",

da inveja: Tenho para avisar que esses templates todos novos e abonecados com que andam para aí a pavonear-se são uma grande trampa. Agora anda tudo vendido a coloridos amorfos, a letrinhas tipo propaganda da CDU, a imagenzinhas inseridas ao estilo lírico-existencialista, armados em suplementos culturais, em tomem-lá-que-é-para-não-ferirem-a-vista; isto virou retrosaria fina, e já não há quem se contente em debruar a sua conversa de chacha para cima dum trapo velho. E ainda se queixam das imagens de N. Sª de Fátima, seus iconoclastas de meia tigela, seus vendilhões de palavreado em templos mobilados à pressa e arrendados em time-sharing. Muito obrigado pela vossa atenção, mas parecem-me todos o cabelo do Herman José. E que Deus Nosso Senhor me perdoe, por não ter mais nada de importante para dizer, mas apetecia-me dizer qualquer coisa.
Apeteceu-me



Um dos artistas que mais me ensinou o olhar foi Giorgio Morandi. Ao arrepio das tendências, dos formalismos, e dos informalismos, fez-me ver que a figura é que é devedora da abstracção (já estou a ficar pirrónico com esta coisa da dívida)

E até foi através dele que consegui fazer uma ponte – muito pessoal - entre os óptimos (mas mais óbvios) E. Hooper e Sean Scully. Os extremos do romantismo do sec XX? (nem acredito que escrevi isto).

Eu detesto as frases dos pintores, mas não resisto a citar a mais famosa (mas banal, obviamente) de Morandi: “não há nada mais abstracto que a realidade». E isto porque a associo imediatamente ao belo título do texto de apresentação do catálogo da exposição de S. Scully no Jeu de Paume em 1996: “Corps sans figure”. Estarei a alucinar certamente, pois nunca li sequer nenhuma referência a associar estes dois pintores, mas quando vejo um lembro-me sempre do outro. Metafísico chamam ao italiano, e ao irlandês/americano nem sabem bem o que lhe chamar, fora dos expressionismos e dos minimalismos recorrentes, e das ligações à arquitectura (é engraçado pois o badalado F. Gehry também se interessou imenso pelas naturezas mortas do Morandi). Mas eu até gosto de chavões na arte. Gosto mesmo. De rótulos, de jogos de influências. Todos têm direito às suas “brochas douradas”, todos têm direito a fazer parte duma corrente, a uma teoria, a um fino passe-partout.

É claro que este meu gosto por Morandi nada tem de especial, já o próprio G. C. Argan disse que ele é o melhor pintor italiano do século XX; Só que eu derreto-me mesmo com aquelas naturezas mortas, com aqueles desenhos de papel a fugir do lápis, com aquelas águas fortes que apetece roubar e escondê-las numas águas-furtadas (ele acaba por ser mais previsível nas aguarelas). Não, não vou exagerar e dizer que há uma dimensão Morandiana do espaço (até porque seria importada de Cézanne), ou que há uma diluição Morandiana da cor (até porque seria importada de Corot). Apetecia-me, mas porra, eu também tenho de zelar pela minha imagem.

Agora fui rever - no catálogo - os “Catherine Paintings” do Scully. Engraçado, já não gostei tanto. Se calhar foi porque antes vi uns Morandi. É a jigajoga do olhar. Sempre refém da memória. Sempre atraiçoando a imaginação.

Oh! E nem falei no E. Hooper... Mas também desse não lhe falta quem dele fale! Olha, viveu pacatamente como o Morandi. Ah! e já me esquecia doutra: São de E. Hooper as melhores águas furtadas da história da pintura. Viveria nas calmas enfiado numa, com a casa de banho de Scully, e um serviço de chá de Morandi. Até talvez me aparecesse a Tamara de Lempicka para pintar o retrato...
Hoje vou catar catapultas



A alma foi aquela parvoíce que alguns gregos armados ao pingarelho quiseram dar a impressão que tinham descoberto, nos intervalos entre umas coçadelas de escravas e uns banhos quentes.

O pessoal foi acabando por se habituar à ideia, e sendo até uma palavra de rima insonsa lá se foi desenrascando nas estrofes de turno, e mesmo sem que alguém a tenha apalpado em condições, não há anatomista sentimental que não lhe endromine uma fisiologia.

E eu claro, também lá me fui afeiçoando ao conceito, e agora o sacana não me larga a peúga. Como além disso detesto bicharada de companhia, acabei por me dedicar a esse fantasma de estimação, que pelo menos não me mija na sala (até hoje...), nem me obriga a ir arejá-la às horas menos próprias (no que diz respeito a rosnar às visitas já não poderei dizer o mesmo...).

Noto até – com gosto - que a sua ligação etimológica às “coisas” do movimento parece-me das mais correctas: a maior parte das vezes a “cabra” não consegue mesmo estar quieta; pois que ela é uma gaja isso não me levanta quaisquer dúvidas. Reparo inclusive que possui uma fortíssima vocação para ser viúva-alegre.

Julgo ser então este o momento do Dicionário não ilustrado desvendar quais são as grandes alavancas da alma, as que a fazem dar mirabolantes saltos, as que a ajudam a assaltar castelos como gente grande: “driving animae catapultas” nas entradas 696 a 704.



Dívida – Alma que não deve, só tem mesmo é que temer. Saborear o facto de não conseguirmos corresponder devidamente aos outros, de lhe sermos devedores, é sinal de alma em banquete.



Ansiedade – Constante troca de aflições (há quem chame bacocamente energias), que aparentemente parece não levar a lado nenhum, mas depois vai-se a ver era o aquecimento mais eficiente.



Opressão – A física básica chegaria para explicar o fenómeno. Apenas acrescento que alma fechada e oprimida, é alma que explodirá desembestada e desabrida. Por isso aconselha-se a ir investindo previamente em depósitos reguladores (colocados nas unhas, por exemplo), ou ir aliviando com umas valvulazitas (situadas no saco lacrimal, por exemplo).



Injustiça – Mais género catalizador, que ajuda algumas almas a ferver mais rápido; não chegam a escaldar porque se transformam antes na lava do vulcão. Só que estas almas estarão sempre dependentes duma encosta de desgraçados por onde se rebolar



Ternura – Químico de tal forma poderoso que simula o amolecimento da alma, mas depois destaca-se por lhe conferir uma firmeza de espantar, e que nunca fica quebradiça, apesar de alguns efeitos de trompe d’oeil inevitáveis.



Silêncio – Terrível estado da natureza que se atraiçoa quando se apregoa. Agora produz muitos encantamentos a quem nunca o viveu a sério. É uma das estéticas profiláticas da moda. Mas há almas que se enganam neste “tratamento”. Tal como na "chalassoterapia".



Agressividade – Levedura que se desenvolve em ambientes de forte deficit de personalidade (isto é o quê ao certo?). Mas há almas que dela precisam, e até acabam por conseguir equilibrar as contas antes duma irreparável derrapagem, e quando já não parecia possível.



Falta – O verdadeiro coalho da alma, que lhe transforma a consistência, a textura, o sabor, e a faz de doce fatiar, e muitas vezes de forte nutrir amanteigado.



Medo – Enzima provocador, que trabalha entre o azedo e o mal fermentado, mas que não deixa de estimular uma espuma com que muitos se acabam a lamber.

( Da dívida. Quando se recebe um tesouro fica-se com a alma num cadinho, amarfanhada com alegrias e com aflições. Mas fica-se o dono da gruta. O senhor da senha. O mestre das cerimónias. O que olha para os Ali bábás e pensa: não apanham nada daqui porque «nasci com as palavras dentro de mim». Um tesouro pode ser «agreste ou cruel», mas nunca será «indiferente», irá sempre «apaziguar ou ferir». Apetece-me agora ficar um eterno amanuense. Eternamente refém duma cópia, mas vivendo na «doçura» de um sequestro, de mão dada com a «serenidade fria» da sentinela que «olhava o quotidiano», e o quotidiano era eu. Mas quem guarda um tesouro também fica preso na «ingenuidade perversa» da permanente adoração, no «hermetismo» dum deslumbramento, sufocando «o acto vital que é respirar» no vento fresco. Pois é, mas eu recebi um tesouro por estes dias. Viverei assim num suave embasbaque, encurvado, tapando os reluzentes «prazeres» que assim reflectirão só para mim, e beijando as «mágoas» que alguns raios acabem por trazer. E se for preciso até brincarei com «os fantasmas sem memória», pois nenhum «insidioso veneno» me «amputará a liberdade» de conviver com as «ideias e as palavras» que esse tesouro «tem dentro». Que nunca me faltes pulmão de ouro, com as tuas palavras de afiado marfim. Só assim respirarei o tesouro, e ele me derreterá o seu elixir. )
Culpa. A quinta-essência dos traumas de estimação. Sem açaime.

E eu que me tinha prometido não ler mais merdas de entrevistas



“O sentimento de culpa é uma das minhas especialidades (...) É um dos poucos traços do catolicismo que me ficaram” MFilomena Mónica ao DNA



Kumkaraças. Se há ideia feita, preconcebida, estereotipada, enjoativa, flácida e até levemente sacaneante que me complica com os nervos, é esta de que o património da culpa é visita obrigatória nas excursões turísticas às maravilhas monumentais do catolicismo.

Pensemos, vá pensemos: a culpa mal regulamentada encontra-se mas é nas almas peçonhentadas de escrúpulos, e que dão mais valor aos princípios que às finalidades (o dicionário não ilustrado explica).



Até a culpa original vem bucolizada num pomar ajardinado, porra! E associada ao “querermos ser como deuses”, tentação tão batida nos dias de hoje, mesmo que muitas vezes apareça disfarçada de curiosidade intelectualofilizada. Esse “pecado” de queremos servir fantasmas ideológico-morais é que se continua a serpentear pelas nossas almas, só que infelizmente não nos deixa envergonhados a contemplar a nossa nudez; como aconteceu ao outro casalinho.

Tal como Eva se explica nos Génesis, culpa é engano. Não é nenhum monstro amamentado nas catacumbas de Roma, nem nenhum adorno da ascética cristã.



Cada um escolhe os seus cintos de castidade, mas depois também tem de ser o próprio a segurar neles, não pode andar a pedir sempre aos recalcadores de serviço para ficarem a segurar nas presilhas.



Quem vive atormentado pela fruta amaldiçoada, o melhor que tem a fazer é comer pudim flan

Freud



A pergunta deste fim de dia é se a tal de “constituição europeia” não devia mas era dizer que nós somos hoje marcados é por uma matriz freudiana.



Só que não seria verdade. Um dos grandes legados de Freud foi a sua fantástica atitude perante o conhecimento. Procurar a dança da incerteza. Saber que é na flutuação que se avança. E não nessa puta da causalidade que conforma o processo mental jurássico e previsível da maioria dos pensadores de turno. E nos entorpece uma condição, já de si dada às mexeriquices do parapeito da alma.



Mas infelizmente nós somos é marcados por uma matriz pavloviana, valha-nos Nossa Senhora.

O que podemos ser, se não nos importarmos de não ser nada, ou de ser apenas o que os outros quiserem. São estes afinal os que ainda podem fazer toda a diferença. O dicionário não ilustrado na entradas 682 a 695.



Ser mandatário – O que durante a campanha, reparando que não pode ser o pastor, lá consegue ficar a tomar conta dos badalos e a dar cobertura às ovelhas ronhosas



Ser pau mandado – Destino reservado a quem viu perdidas as hipóteses de ser matraca, e não consegue alinhar companheiros para ser matraquilho.



Ser manda chuva – O que se dedica a brincar com o autoclismo das nuvens, mas que deixa o encantador piaçaba para os faxineiros de turno



Ser desenho animado – O que se contenta e revela numa sucessão de semelhanças, não se deixando levar pela sedução da originalidade estática dos grandes planos



Ser manipulador de marionetas – O que pode mexer os cordelinhos mas que nunca lhe deixam dar o nó



Fazer dobragens – Sofisticado estrabismo de lábios, que permite fazer boquinhas à esquerda e assobiar à direita.



Ser testa de ferro – Homo sapiens em versão pára-choques; a tendência é utilizar materiais híbridos



Ser verbo-de-encher – Homo sapiens em versão air-bag. A tendência actual é estarem espalhados por todo o lado.



Ser duplo – O que mostra o rabo para os outros poderem rabejar.



Ser co-piloto – O que se mija todo nas curvas, e que nem tem tempo de mijar nas rectas



Ser cabeça de lista – O que olha o elenco por cima dos ombros, mas não alanca com a canastra



Ser má-língua – O que quer saborear, mas não se quer desgastar a lamber



Ser lambe botas – O que gosta de se apreciar num reluzente polimento, e que não se importa de se pentear muito curvado, mesmo que isso lhe destape a careca tonsurada



Ser ventríloquo – O que sacrifica um beijo por uma sacudidela de diafragma

(das constatações: Uma das perplexidades religiosas que me acompanha é a da distribuição do dom da fé. Vejo-a sem complexos como um dom, aliviando assim de grandes elaborações metodológicas. Por isso baralho-me e atordoo-me quando “encontro” pessoas que a mereceriam e alavancariam muito mais que eu, e que aparentemente não a possuem (não digo desfrutam, porque também não seria correcto). São pessoas que conseguem viver com moralidades herméticas, esterilizadas e em saponária, e com um sentido do certo e do errado que quase parecem poder dispensar as retrógradas cardealidades catecúmenas, conseguindo pôr a alma em quarentena quando prevêem as nuvens da epidemia. Sinto-me às vezes uma espécie de “Toni Fidélio”, esperando mesmo que só a minha parola e tosca parvoíce – bem rebocada pela ignorância – é que me esteja a impedir de ver o alcance da coisa. A floresta é densa e felizmente, como disse H. Michaux, «a árvore não se interessa pelo delírio do pássaro». Eu cá sou mesmo um mero batedor de asas.)
Dedicado a todos os abençoados que não sabem fazer rigorosamente nada. E dedicado ainda aos que se consomem em ser úteis e produtivos. E mais dedicado ainda aos que pensam que isto é uma perca de tempo. E ainda mais dedicado aos que não sabem perder tempo, e se dedicam a prescrever o tempo dos outros. O novo dicionário não ilustrado enternece-se com aqueles que se martirizam porque não têm tempo, e avisa-os de que não vale a pena fazerem-no de cabeça para baixo porque o S.Pedro também já se lembrou disso. As terapias alternativas nas entradas 667 a 681.





Política – Nobre actividade, que em Portugal surge prejudicada porque, ao sê-lo, fica associada a uma marca de presunto



Amor ao próximo – Boa oportunidade para quem não quer desperdiçar nenhum pobre dos que tenha mais à mão



Dar porrada – Quando a mente despede o corpo, e este reivindica a indemnização mais justa, em vez de se contentar com uma reforma antecipada.



Meditação – A suspensão da mente é uma sábia alternativa para quem tem pesos na consciência, mas não sei se recomendável a “ testas de ferro”. É que a transcendência é magnética.



Desporto – Fazer do espalhafato do corpo a passerelle da alma. Só que os apitos d’oiro atrapalham tanto como os saltos altos, e infelizmente nem sequer dão boa serventia a prender o cabelo.



Ter princípios – Desconsolada alternativa para quem não consegue ter finalidades



Sexo – Quando há libido no cais, o melhor é apanhar mesmo o cacilheiro, antes que chegue o lodo (e estrague o berbigão).



Justiça – Quando as mãos estão a descansar da manicura, uma boa opção é esfregá-las na culpa alheia para que as peles amoleçam e não se voltem a soltar sangrando



Droga – Química ocupacional. Mas acabamos provetas.



Música – Os sons apresentados em forma de sonsice (depois do fim-de-semana já se sabe que o trocadilho é inevitável)



Dar conselhos – Aliviar a alma sacudindo para o penico do alheio. Só que, quem tem medo de o fazer, é porque está encolhido, e agarradinho ao amor-próprio disfarçado de respeito pelos outros.



Literatura – Sofisticado cruzadismo de aspirações expressionistas e recalcamentos impressionistas, que alimenta fornecedores de dicionários de sinónimos. E também acaba por ajudar as tipografias nos intervalos das promoções dos supermercados



Ter opiniões – Maravilha da nossa condição só superada pela cárie dentária. Quem não se trata a tempo, acaba a trincar de postiço.



Arte Plásticas – No fundo é a actividade recomendada pelas principais marcas de máquinas. Basta não ter grande tendência para estar sempre a pôr a mão no nariz... ou será que já alguém também se lembrou de usar os burri.....blaargh!



Fazer piões – Quando não logramos convencer ninguém ao simplesmente andar serenos e em frente, resta-nos agarrar no travão de mão fornecido pela fábrica das aparências, e fingir que o bloqueio do diferencial da mente é uma opção de série, e o bloqueio da roda dos sentimentos um extra em promoção.

Dia da Mãe



Arriscaria a dizer que já ajudei a “construir” duas mães. Não... não sou avô! As mães que eu ajudei a “conceber” foram a minha própria mãe, e a mãe dos meus filhos. Tenho de repescar aqui novamente a expressão de Mia Couto: “Um filho, afinal, é quem dá à luz a sua mãe”.

Mas ao pensar nisto lembro-me outra vez do livro das “ Memórias de Branca Dias” de Miguel Real. Um texto vertiginoso e envolvente, que acabou por me deixar também relativamente marcado pelas passagens relativas aos muito peculiares partos da personagem, recheados dalguns requintes tipo “Kill Bill na maternidade”, por exemplo: «quando não suportava mais as dores e a barriga se me descaia para a terra, eu alçava a unha afilada do mindinho direito e zás, cortava a carne, a matriz abria-se em pregas, e eram eles a sair (...); mas antes, referindo-se ao primeiro parto, até já tinha dito : « eu gritava e chorava ao mesmo tempo, fazendo força, querendo expulsar aquele bubão de carne que me afligia as entranhas, a minha mãe continuava, empurra, empurra, dizia ela e eu fazia força, a carne a rasgar-se-me, os ossos a rangerem, eu empurrava como podia (...) levantei as coxas, queria sair dali, espojar-me na terra, rebolar, (...) guincha que alivia». Chiça!



E é nesta altura que eu me retenho numa outra “realidade”, talvez até mais crua que a própria paridura. A “qualidade” de mãe julgo que é acompanhada duma das maiores solidões que a nossa condição nos reserva. Uma mãe é totalmente só na sua circunstância, no seu apego ao filho, na sua dependência dele. Inexoravelmente. Reproduzo aqui talvez o lugar comum por excelência: precisar doutro para ser verdadeiramente só. Nunca a um filho, ou a um pai lhes será revelado esse mistério. Também está na sua condição serem ignorantes daquilo que ajudaram a empreender. E se calhar reféns duma eterna dívida, mas bem camuflada pela famosa “ ordem natural das coisas”. O livro da judia que fugiu para o Brasil explica.

Alegrem-se pá



Tenho de reconhecer que noutro dia tive um momento de fragilidade e comprei um livro. Aliás eram logo cinco (mas os outros vinham atrás, e eu não pude fazer nada)



Foi a “História da Arte” do Élie Faure, traduzida pelo V. Nemésio e editada nos anos 50, em 5 volumes.

Tenho um pecadilho: leio os prefácios todos; é este o meu elogio escondido e envergonhado a quem tem a infelicidade de ter de escrever um livro, e não lhe bastarem uns carapauzitos de escabeche.

E eis que descubro logo esta luminosidade esclarecida, que me salvou o fim-de-semana (eu com qualquer coisita me relaxo, também é certo):

“O mal, o erro, a fealdade, a tolice, desempenharão sempre, na constituição de todo estilo novo, o seu papel indispensável como a própria condição da imaginação, da meditação, do idealismo e da fé”

Pessoal, devemos estar à beira dum estilo novo! Eu cá já arranjei um cantinho na sala. E estou a meditar, claro!