Palavras ao vento



A palavra é um bluff. Sobrevalorização em excesso.

Próprio dum mecanismo que se pensa essencial, os seus efeitos são limitados, tendencialmente repetitivos, e raramente satisfaz os clientes que a requisitam.

O elogio bacoco aos poderes especiais da palavra, à sua causa expressionista, à sua amplitude, ambiguidade e divina subjectividade, é uma ideia feita e alimentada pela puerilidade dos seus escravos.

Não faz a porra dum luto, não faz um amor, não faz um agradecimento de jeito, não alimenta uma pena, não consola um coitadinho. Fraco fracasso: não faz a diferença. É puro massajar sem tocar.

Alimenta-se a si própria, como simples “reflexividade” “armando-se” à transcendência; como é que nos deixamos enganar?

Usamo-la como mera fatalidade ou ao ritmo da poética ingenuidade. Ilusão e desilusão.

Tudo bem, ...que seja um parque de diversões, um carrossel para miúdos. Nunca será a “capela sistina”, nem um “franzir do sobrolho”, nem uma “lágrima”, nem um “encolher de ombros”, nem uma mãe.



Antes escravo do corpo e de Deus do que escravo da palavra e dos seus mitos.

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