Aquilo que se chama a “chicana política” é o que "ela" tem de mais interessante, porque é na nobreza da pequena intriga que se descobrem os verdadeiros cavaleiros andantes. A neblina do flirt ideológico turva os contornos, e muitas vezes desperdiça-nos a alma no trabalho da focagem. Hoje o novo dicionário não ilustrado está novamente de ânimo leve e aprecia o cair das últimas folhas do Outono do nosso contentamento.( entradas 363 a 369)



Fundações – Animadas de um sonho filantrópico, almas sem borra concentram a boa vontade numa cafeteira, que ferve de interesses e transborda de arrufos de comadres.



Cooperativas – Animados de um sonho, juntam-se umas quantas pessoas que ou pisam uva por interposto “presunto”, ou pagam imposto por interposto contribuinte.



Institutos – Animados pela conciliação do sonho burocrata com a aurora liberal, uma mão cheia de nadas armados em “valores”, convidam um punhado de cifrões armados em “convicções” e enchem uma casa bem mobilada.



Comissões parlamentares – Animados da vontade de bem servir e apaparicando o mito da representatividade, os deputados arregimentam-se numa dança de marionetas que só não coçam a cabeça porque os cordelitos atrapalham.



Universidades – Animados do sonho do conhecimento funcionário, e do afã da sua disseminação, os espíritos mais nobres desguarnecem o saber escancarando-lhe as portas aos ignaros ambiciosos e atrevidos.



Utilidade pública – Animados do sonho de possuir um estatuto, os despojados da fortuna moral esgadanham-se na senda de um decreto concreto, que se for secreto tanto melhor.



Bolsas para criação artística – Pomposa designação para os subsídios entregues a alguns deputados sobre a forma escritural de “salário”.

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