Xec xec de caranguejo

8 peitos de caranguejo do Índico (médios, também conhecido por caranguejo azul)
8 colheres de sopa de coco ralado
10 piri-piris (pimenta ou malagueta vermelha)
2 colheres de sopa de sementes de coentro
10 grãos de pimenta branca
4 cravinhos
2 colheres de sopa de óleo (ou ghee)
2 cebolas (cortadas em lâminas)
1/2 colher de pasta de gengibre e alho (pode ser comercial)
1/4 de colher de sopa de curcuma em pó (kunyit ou açafrão indiano)
1/4 de copo de sumo de tamarindo
2 malaguetas verdes (picadas)
sal q.b.

Limpe os caranguejos. Toste ligeiramente o coco. Limpe o recipiente (recomendo uma frigideira funda e anti-aderente). Torre os piri-piris e depois as restantes especiarias. Moa todos os ingredientes tostados até formarem uma pasta muito fina, usando um pouco de água.

Aqueça o óleo, aloure a cebola, adicione e mexa a pasta de gengibre e alho e o pó de açafrão.

Deixe fritar alguns segundos, adiccione os peitos de caranguejo, misture bem e borrife com o sumo de tamarindo.

Junte meio copo e água, cubra o recipiente e após 10 minutos junte, mexendo bem, a pasta de especiarias tostadas, sal e as malaguetas verdes picadas.

Deixe cozinhar até o molho espessar. Sirva acompanhado por arroz basmati ou, como o prefiro, arroz branco agulha bem solto e seco, aromatizado com cardamomo.

O Espírito

«O vento sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito» (Jo 3,8)

Quadriculado de crabbes sem pinças sobre areia de canson’, aguarela e tinta-da-china, 1998/2008

É dentro desta perplexidade, verdadeiramente dialéctica, que nos atrevemos a especular (*)

Considerando que no último livro do G. Steiner (vide uns posts abaixo) o capítulo sobre os judeus, onde ele diz que estes foram «escolhidos por Deus como pára-raios», é mais fraquito do que o das gajas, sou forçado a ter de voltar a uma temática praticamente de fusão.

E vou já directo ao assunto: também existem os homens possuidores de particulares atributos para afagos de índole meramente passageira - que toda a mulher sofisticada valoriza, quando não exige. São os príncipes de passagem. Aqui vai a meia dúzia deles, igualmente.

Homens Bomba d’Ar – Insuflam muito benzinho, repõem fôlegos, regularizam ritmos pneumáticos, relembram que a hidráulica é que é a verdadeira ciência do espírito e não a teologia.

Homens Tubo d’Escape – Essenciais para qualquer mulher que seja de forte combustão. Ao não servirem para pistons, e também não estando dispostos a fazer de semi-eixos, fornecem o serviço de eleição para aliviar e desenjoar dos restos dos verdadeiros êxtases.

Homens Vileda – Espécimes com boas propriedades de absorvência rápida, limpam passados de forma exemplar, e ajudam a deixar o piso como novo e a brilhar para os convidados que se sigam; os mais preparados logram inclusivamente deixar algum tratamento anti-derrapante

Homens Filtro – São bastante recomendados para seleccionar e extirpar impurezas que venham ficando da lubrificação oficial feita com os produtos de marca. Geralmente apresentam uma porosidade e resistência muito apreciável, quais peneiras de aço revestidas a papel cavalinho. Os mais completos ainda permitem as clássicas opções de centrifuga para a frente.

Homens Parnaso – Permitem à mulher pensar que lhe basta usar saltos altos e ter a depilação em dia para já poder ser musa. No fundo, elevam o ideal de ‘a mulher pela mulher’ mais alto que os Beatles elevaram o sargento pimenta.

Homens Tantum Verde – Possibilitam que a mulher periodicamente refresque e bocheche um pouco os neurónios, e inclusive treine a gargalhada terapêutica. O riso na mulher funciona como uma espécie de wonderbra de charme e ela, consciente disso, não dispensa um Cantiflas entre os Ulisses.

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(*) Frase do próprio G. Steiner em ‘A Bíblia Hebraica e a Divisão entre Judeus e Cristãos’ (1996/trad.2006) na parte em que ele se dedica a dissertar sobre as razões, consequências & shoah’s relacionados com a negação judaica da vinda do Messias.


animais d'estimação


Franco Gentilini (1929). Nudo disteso. Óleo s/ tela, 80 x 97,5 cm.

Super cola 6

A rejeição amorosa representa para qualquer homem um verdadeiro renascimento. A uns aparecerá decorada como uma exuberante capela sistina, noutros parecerá um ecce homo carregadinho de chagas, mas para todos representará o seu primeiro contacto com o famoso síndrome/processo da ‘Capacidade de Retenção de Mulher’, fenómeno ainda desconhecido na época de Freud, que teve assim de se ficar pelo sensaborão Édipo em formato de complexo - nem sequer havia ainda em supositório; suponho.

A ‘Capacidade de Retenção de Mulher’ é bastante diferente da capacidade de engate, ou de sedução, ou mesmo de mero interessamento erótico conjuntural; a C.R.M, como é designada nos modernos compêndios de psicologia criativa, é um processo de índole carismático-mistico que se dá no âmago da personalidade do homem e que lhe fixa o seu grau de pegajosidade com o género oposto;

Formaram-se assim 6 tipos de homens que ocupam o topo da escala neste critério de permanência da adesividade feminina:

Homens Ventosa – são aqueles espécimes que as mulheres a partir de certa altura são fisicamente incapazes de largar. Eles apenas têm de se encostar um bocadinho, criar uma pequena zona intermédia de vazio e, quando se dá o estalinho, (‘poah’, não se se estão a ver) a mulher fica presa para sempre, seja para abrir as pernas, seja para ficar a segurar no pano da loiça.

Homens Esfoliação – Todas as mulheres precisam em determinados momentos da sua vida de homens que lhes cocem as costas; certos homens adquirem com a prática uma capacidade singular de ir criando dependência dessa ecológica raspagem de costas e a certa altura a mulher já não consegue passar sem aquele anestesiante roçar, principalmente porque pode ir lendo revistas ao mesmo tempo; entre outras coisas, dependendo do grau de lonely-heart que o homem apresente.

Homens Halo – Trata-se daquele grupo de homens dos quais emana um aureola de graça e encanto, um tal de je se sait quoi que separa os gajos a quem elas não ligam um caralho, daqueloutros a quem elas só sonham com eles e o caralho. Na gíria científica troca-se o sítio do agá e acabam por denominar-se os ‘homens do carhalo’.

Homens Aki-Bimby – É um clássico; poucas mulheres resistem em definitivo a um homem que tenha umas mãos prendadas para a bricolage & barbeque. A bricolage & barbeque, aquela capacidade singular de montar umas prateleiras, ajeitar uma torneira que pinga, um estore desenfrestado, ou grelhar um robalo, representa no imaginário feminino moderno aquilo que representavam uns bons caninos para o homem de neantherdal, quando tocava a amanhar a caça ou afiar a lança. Permanentemente irresistíveis desde a idade do bronze.

Homens Bóia – Falamos aqui daquele grupo de homens que dão muito boa serventia às mulheres que precisam de sentir que têm de ser salvas. Elas podem gostar de flutuar, surfar, nem se incomodam de beber o seu pirolito, até apreciam a caça submarina com arpão, mas, at the end of the day, precisam de sentir aquela coisinha molinha onde agarrar e enrolar o bracinho enquanto recuperam a respiração. O homem bóia apresenta ainda como bónus adicional um bom leque de posições de atracagem, pois tanto dá para aquelas moças que se contentam com um mero suporte de mãozinha antes de voltar a mergulhar, como se apresenta muito eficaz para as que exigem um encaixe mais envolvente e demorado. A dependência, essa, está lá garantida e sempre presente.

Homens Querubim – Representam o tipo de homens tão bons, tão bons, tão bons que a mulher fica impossibilitada de os deixar porque julga que Deus nosso Senhor as castigará com pragas de celulite, flacidez e casca de laranja. O homem querubinicamente bom, também chamado de ‘meu tesoiro’, distingue-se do ‘homem-banana’ pelo pormenor religioso: acabam por ter uma taxa de sucesso em afm’s (actos-fornicação-mês) bastante melhor, porque a própria mulher faz equivaler interiormente o acto sexual à indulgência plenária.

Sobrou a música and the Commotions

«…quando confessou gostar de mim apenas 70% (sic) do que seria necessário para que fossemos namorados. Hoje dá para sorrir, mas na altura doeu. Sobrou a música, como aliás sobra sempre. E um beijo para ti, Ana Luísa, onde quer que estejas. A atravessar a mesma crise de meia-idade. Que esta não te atinja mais de 70%, são os sinceros votos de um personagem secundário na tua vida »

In Devaneios de Ricardo Gross. Boa. Um grande beijo para ti também, Ana Luísa, quem quer que sejas.

animais d'estimação


Franco Gentilini (1956). Gatto. Esferográfica ("biro"), 22 cm x 15,6 cm.

sínteses

«Deixaria de lado 95 por cento do que fiz»


(Beck em entrevista, 'Sound + Vision')


Aqui já aconselhava mais uns toblerones

Seguramente que o leitor curioso ao abordar o novo livro de George Steiner traduzido para português (*) começará logo por aquele capítulo onde ele escreve que já deu belas quecas em quatro línguas diferentes. Pois eu fui lá direitinho e sem passar pela casa da partida, retendo-me logo na frase inspiradora de que «o donjuanismo semântico continua a ser uma terra incógnita à espera de ser percorrida e explorada». Que Deus nosso Senhor me proteja, dê forças e paleio, aguenta-te Jerusalém que eu vou a caminho da Terra Santa. Bem, mas entre referências eruditas e bibliófilas que transformarão para sempre qualquer foda num acto cultural, - seja ela pelo lado mais cul, seja pelo lado mais ural – tive forçosamente de me reter em dois pormenores, que deixo à consideração expressa dos senhores ouvintes (se encostarem bem o ouvido algum som sairá, já se sabe).

O primeiro tem a ver com a exaltação da riqueza da mulher (italiana, no caso) na utilização de todo o potencial erótico do «Cappuccino» na fase da primeira carga da brigada do desejo. De facto, porque se estraga tanto preliminar com um mero café pingado, ou mesmo uma água com gás, quando se poderá ter logo uma aproximação do êxtase com a contemplação e desfrute dum cappuccino? Felizes das mulheres que poderão tirar partido dum cappuccino bem tirado, é uma das principais mensagens do Steiner; não fora dar-se o caso de isto ainda vos poder vir a passar despercebido, tal o prosaico, e quiçá básico mesmo, que se pode apresentar. 'Apetecia-me um cappuccino bem tirado', devem repetir, treinando.

Não quero maçar, e este capítulo deve ser lido com calma, mas não prometo erecções com espasmo - a não ser que se vos enrole muito a língua a dizer Rabelais duas vezes seguidas, e Updike soletrado muito rápido me parecer dar boa serventia na hora de ter de cuspir algum pêlo residual. Contudo, não posso deixar passar em claro um detalhe do que G. S. conta que viveu com ‘V’, uma francesa «incendiada de ironia e compaixão»: «como se atreve a tratar-me por ‘Tu’?, ofegou V. no preciso momento em que eu lhe abria as formosas pernas: 'comment osez-vous'?». Steiner foi assim apanhado na ratoeira da coloquialidade e, nota-se, ficou para sempre refém daquilo a que ele chamou pomposamente as «cerimónias sintácticas».

Mas, no fundo, bem no fundo, (como diria a supracitada V. em fase de incêndio) a grande lição será sempre: arranjar algo que ‘legitime a obscenidade’, desde a ciência médica à educação primorosa, passando pelo Shakespeare.

(*) ‘Os livros que não escrevi’, Gradiva

prato do dia?

Na falta podem ser sugus

Dostoievski é um daqueles escritores que todos temos direito a ter um próprio: ‘o nosso dostoievski’; mesmo que nem o tivéssemos lido (hoje existe uma forma consagrada de conhecimento que é o ‘ter ouvido falar de’) demos-lhe direito a entrar nos nossos melhores pesadelos. E os nossos piores pesadelos são os que aparecem num sono de tarde, de siesta: um homem levanta-se, motivado exclusivamente pelos desígnios dum inconsciente em formato bomba injectora, por sorte não dá de frente com nenhum ser humano com relações de sangue ou de registo civil e que tenha adquirido o direito de lhe pedir explicações sobre o seu estado psicomotor, e vai directo à prateleira sacar dos Irmãos Karamanzov, como se procurasse queijo manchego. É fodido ser movido em causa próxima pelos sonhos, pois nesses casos nem se distingue bem o papel impresso do leite fermentado. Felizmente o livro já estava muito sublinhado pela raiva adolescente, e Ivan dizia a Aliocha no início do ‘grande inquisidor’ que ‘estás tão mimado pelo realismo moderno que já não aturas nada que seja fantástico’. Suspiro – beliscão – copo d’água – mijadela – olhar para o espelho – sussurro de fodasse – chupar uma bola de neve, sempre por esta ordem, e volta-se ao normal; ou seja, volta-se ao estado em que já não se suporta o realismo; mesmo o clássico. Mas nunca esquecer o docinho da bola de neve.

na cozinha, com ela

Varinha mágica ou colher de pau?

Quick-witted Mercury deve querer dizer «varinha mágica», atendendo às sugestões: Matthew Broderick, John Cusack, Edward Norton e Ben Stiller. Vou elucubrar sobre o assunto. Paul Newman, Liam Neeson, Ralph Fiennes e Brad Pitt têm a agenda muito cheia por estes dias.

Calma, estou só nos últimos aquecimentos para o Leonardo

Penso que devia tornar isto um pouco mais intimista. Doseava o renhaunhau com o cuchicuchi sem esquecer o ronron e apresentava um íntimo que, acreditem, seria uma categoria. Pena ter descoberto há uns tempos que não tenho íntimo de jeito. Foi um momento doloroso, pois estava a escrever um poema que me tinha sido inspirado pela ida da minha vizinha de baixo em combinação à conduta do lixo, e eis quando, de repente, se pedia um daqueles apertos de peito que só estão ao alcance de seres com verdadeira nobreza íntima, (ou de hipertensos de alto gabarito em busca de comprimido debaixo da língua) mas o mais que consegui foi o aspergir dum espirro; e dos fraquitos. Descubro assim que o meu órgão mais íntimo são mesmo as fossas nasais, o que obviamente me impede de aqui parir documentação de decente valor sentimental. Face a esta fragilidade romântica e à compulsão para a parvoíce como elemento estruturante, perdeu-se inclusive um patrocínio do Trifene que muito poderia ter ajudado a compor a prestação decente deste espaço. Votado a este free lancerismo sem verbas fixas, o temor religioso a um Deus que não é parvo, e o asco político a reformadores sem lirismo, tornaram-se os grandes motores da presente escrita verborreica, deste paleio fútil qual bandarilheiro coxo a fazer salamaleques com um pano de cozinha. Pobres dos que não têm uma intimidade para expor à ventania.

pimiento morrón #2

gorra style

Sai uma gran cruz da ordem do bambino d’oiro

Sócrates, temendo que a conjuntura internacional ainda desemboque numa conjuntivite, decidiu tratar de garantir desde logo que o seu nome ficava definitivamente na história. Assim, pediu uma audiência ao Provedor dos Leitores de Livros de História, procurando fazer valer já a sua obra de grande estadista que, inclusive, fala com zapatero ao telefone:

Sócrates – Sr Provedor julgo que ficávamos todos mais sossegados se o meu nome pudesse já entrar para a história, estou a ver a coisa preta e não tarda o meu lugar ainda é ocupado pela Maddie ou pelo Cristiano Ronaldo.

Provedor dos leitores de livros de história – Sr Sócrates, para uma primeira análise, quais são as suas principais realizações , algo que o distinga mais que o Mário Crespo, ou o Nuno Rogeiro, ou o Nicolau Breyner, por exemplo?

Sócrates – Bem, em primeiro lugar eu consegui manter o Manuel Pinho mais tempo em ministro do que 10 períodos máximos para interrupções voluntárias da gravidez e sem ter de o pôr num frasquinho de liquido amniótico…

Provedor – Parece-me obra, sim senhor, mas repare que até o manchester united aguentou o Carlos Queirós mais de 3 anos…

Sócrates – Olhe, por exemplo, em menos de uma legislatura, ganhar um referendo ao César das Neves e à Laurinda Alves, fechar o Galeto, pôr o Sousa Tavares a fumar no passeio e praticamente levar os paneleiros ao registo civil, já é coisa ao nível duma padeira de Aljubarrota, ou ainda não?...

Provedor – Bem, para começo de conversa já me parecem atributos válidos, mas assim ao nível das façanhas mais imprevisíveis, o que me destaca o caro candidato a figura de livro de história?

Sócrates – Tirando o facto do Mário Soares que já era um vaca sagrada e que eu transformei numa múmia de companhia da Clara Ferreira Alves, julgo que pôr o Armando Vara administrador da Caixa e depois do BCP é uma façanha ao nível dos descobrimentos, ou mesmo do pastel de nata, não acha?

Provedor – Confesso que estou quase a confundi-lo com o Diogo Cão depois de dobrar o Bojador…

Sócrates – Se fosse agora já nem era preciso dobrar primeiro o Bojador: ia logo tudo a eito, tipo circunvalação-simplex, aliás, faltou-me destacar o Simplex! é verdade, valha-me Deus, e inclusivamente ainda vão beatificar o Nuno Alvares Pereira! Já não tenho nada a provar à história, repare que há anos que andam para tentar beatificar uns putos a quem até Nossa Senhora apareceu e eu agora em três tempos estou quase a conseguir fazer beatificar um gajo que só era conhecido por arrear nos espanhóis!

Provedor – Humm, e diga-me, ao nível daquelas reformas que marcam uma geração, o que tem para apresentar?

Sócrates – Ainda bem que me dá esta oportunidade porque nesse domínio eu fui verdadeiramente inovador: eu inventei as Reformas moulinex…

Provedor – Como tal…

Sócrates – Repare, é assim: arranja-se primeiro um problema estrutural, género a saúde, ou a educação; depois, por exemplo, pega-se na avaliação dos professores, junta-se a segurança à paisana nas escolas, e acrescenta-se uma pitada de coeficientes de aproveitamento e: um-dois-três, bzzzzzás, já está! É um instantinho! Olhe, destas já fiz uma dúzia, só me falta a justiça, mas aí se calhar tenho de ir para a Bimby porque o Marinho Pinto tem muita cartilagem.

Provedor – E diga-me, sr Sócrates, tem algum pecadilho negacionista no seu currículo?

Sócrates – Houve de facto um caso relacionado com um exame ao domicílio de inglês técnico, e tenho de lhe confessar, depois desta confusão, já nem eu próprio sei se sou engenheiro, mas, pelo sim pelo não, já mandei fazer um aeroporto, um tgv, um hotel ao pé da torre de Belém e um jazigo na rua de s. Caetano à Lapa, o Duarte Pacheco ao pé de mim vai parecer um Presidente da Junta.

Provedor – E agora que lembra, o que tem mais a destacar de especial no que concerne ao património que nos vai legar?

Sócrates – Aí sim, tenho de confessar, nos legos nunca fui muito forte, mas carrego uma espinha atravessada na garganta, tentei eleger para as novas maravilhas do mundo umas marquises em azulejos ali prós lados da Guarda mas foram preteridas para umas merdas do machu picchu, ou lá o raio que é aquilo que nem faz esquadria, nem nada.

Provedor – E não há mais nada que gostasse de destacar e que julgue determinante para a decisão sobre a sua inclusão nos livros de história?

Sócrates – Eu julgo que a questão do jogging devia ser devidamente valorizada… Um dia podemos precisar todos de cavar daqui para fora e depois não digam que eu não falei do cardio fitness. No fundo, 'Fia-te nessa e não corras' foi sempre o meu lema para enfrentar as crises e as manuelas.

tudo o que sempre quis saber

sobre as mulheres, err... o Vista, e teve receio de perguntar

pimiento morrón #1

bufanda style

©

love, ain't no cure for

I walked into this empty church I had no place else to go
When the sweetest voice I ever heard, whispered to my soul
I don't need to be forgiven for loving you so much
It's written in the scriptures
It's written there in blood
I even heard the angels declare it from above
There ain't no cure,
There ain't no cure,
There ain't no cure for love

Leonard Cohen, Álbum 'I'm your man'

'waiting for the miracle'

(só faltam uns dias)

na cozinha, com ela

Asceta ou hedonista?

69. Por cento. Enfim. Podia ser pior. Ou melhor.

Só que o apelo da camomila foi mais forte (*)

A verdadeira instituição de que ainda haveremos de sentir falta é da velha-beata. Isto sim pode perfeitamente desaparecer, e não estamos a produzir substituto à altura. Se hoje os números, por exemplo, apontam para 3 mil padres para 2 milhões praticantes em Portugal, daqui a vinte anos nada sequer semelhante a isso teremos ao nível de velhas-beatas, nem mesmo recorrendo ao terço trangénico. Refira-se desde já que a ‘nova-beata’ não é uma categoria sociológica, pois apenas poderá ser caracterizada ou como uma doença psicológica (está em lista de espera na OMS atrás do heterosexual sem borbulhas nas costas), ou assistente-social-guitarrista no desemprego.

A velha-beata consistiu durante o último século aquele reduto do catolicismo que servia para canalizar todos as acusações de excessos de piedade hipócrita e zelotismo anedótico, constituindo-se assim como uma reserva oficiosa da doença religiosa, género a ejaculação precoce para a perturbação sexual masculina.

Com a extinção deste núcleo de espiritualidade meio murmurada- meio exuberante, perder-se-á assim a ultima grande felina do genuflexório, a última vertebrada do grande pântano da fé.

Este desaparecimento irá forçosamente expor aos inspectores da religiosidade responsável e limpinha modelos que até agora se viam protegidos, como, por exemplo, o policia rezador de terço, os casais que só fodem às quartas quentes, ou mesmo até os bloguistas citadores compulsivos do Abbé Pierre.

Canalizando deste modo a censura para espécimes religiosas habituadas ao sossego e à possibilidade de pecarem sem serem dignos de especial registo, a prática do desporto católico tornar-se-á uma espécie de wrestling social só ao alcance dos exemplares atléticos mais competentes na técnica do quero-que-vocês-todos-se-fodam.

Faço por isso um apelo a que se preservem as velhas-beatas, verdadeiros baluartes do vício religioso, do escrupulismo moral-científico, e criem-se bolsas de viúvos crentes, copuladores ainda saudáveis e com propensão para o arrependimento, a fim de que se mantenha a pujança apostólica desta comunidade, sem recrudescimentos de novas sindi-Câncias, ou outros santos ofícios.


(*) e assim termina um tríptico com o patrocínio da Lipton (Pingo Doce) e da Hoyo de Monterrey (casa Gérard Père et Fils)

Mas agora, tenho de confessar, já teve de marchar um hoyo de monterrey

Uma das características típicas dos nossos tempos no que diz respeito à experiência religiosa (dentro dum ‘ambiente cristão’) é que ela tem tido tendência em se polarizar em 3 extremos.

1) Os tais «espiritualoidismos», que invocam a bondade duma relação desintermediante entre o homem e Deus, fugindo (e/ou relativizando) o mais possível às tenebrosas limitações doutrinárias e paramentárias;

2) Os «congregacionismos» que procuram a eficiência duma experiência de fé comunitária, num espírito de reserva ecológica misturado com churrasquismo apostólico, capitalizando o ritual, o sorriso fraternal e o arame farpado à volta.

3) Os «racionaloidismos» motivados pela alergia ao suposto enganador e alienante lado da fé-emoção, e que afirmam a pés juntos apenas com o pensamento Lá podemos chegar asseadinhos e sem gazes.


Cada um destes vértices tem angariado bons padrinhos ideológicos, gente de fé e inteligência tocante, inclusivamente, e, no limite, todos levarão ao Deus que se revelou nas nuvens da história ali por entre a Galileia e a Judeia no meio de judeus, romanos & cia.

Mas se estes extremos ao conviverem misturados demonstram a riqueza do fenómeno cristão (se o quisermos avaliar por este prisma antropo-cultural, digamos assim) como experiência cultural e religiosa, vistos isoladamente são quase arrepiantes.

'Arrepiantes, porquê?'... Fodasse, ‘porquê’!? Então a mensagem – sinóptica e ‘dogmaticamente’ relatada - de Jesus é de tal forma rica que só uma forte paneleiragem intelectual é que pode dizer que a Deus só se pode chegar pela razão (sem se saber ao certo sequer o que é essa merda do ‘pensamento’), ou que o contacto com Ele só se deve fazer a respirar fundo com um dedo húmido enfiado no rabinho, ou com a mãozinha dada com o irmão do lado. Fodasse, pois!

Durante a vida pública de Jesus as pessoas aproximaram-se d’Ele com as mais diversas motivações, com maior ou menor entusiasmo, com maior ou menor timidez, e a algumas até teve Ele de as chamar; mas a todas se teve de revelar de forma diversa, desde dar os pés para lavar, até ir falar com as putas ou os bet&win’s da época. E nunca esqueçamos isto: a firme convicção (dos primeiros cristãos) na divindade de Jesus nunca derivaria da influência da mentalidade pagã específica duma zona/época, ou da judaica, mas sempre das certezas que gerou na particular relação com os seus discípulos.

Apenas para o coração dos homens ‘Deus’ se pode tornar Algo óbvio. Mais nenhum ‘orgão’ está apto para tamanho preparo. Mas estes níveis – saudáveis - de persuasão a ruminar no limite exigem tudo: exigem a adesão do pensamento (seja qual for o seu nível de ‘sofisticação’), do exemplo alheio (venha donde vier) e da emotividade (independentemente dos ‘temperamentalismos’). Parece que se exige agora para crente uma espécie de homem pós-renascentista mas já depois da invenção do antibiótico e do reumon-gel.

Só que desgraçadamente o homem parece que também nasceu para tentar viver ‘consoladinho’; e na sua relação com o ‘divino’ também não consegue fugir disto. Daí que o procure (ao consolo) nestas bordas de serviço completo: ou nos caprichos tricotados da lógica, ou na rodinha de amigos, ou na infusão de espíritos, pois nos extremos é que parecem estar as melhores hipóteses de sobrevivência religiosa, sem considerar os drunfos.

Mas, vá lá, por feliz desígnio divino o chamado homem normal não está feito para se fartar de si próprio.

E tudinho drugs free, juro (*)

Um Credo não esgota uma fé, uma teologia não esgota um Deus, uma tábua da lei não esgota uma moral. É este o maior buraco no estômago que o Cristianismo deixa para cada pessoa resolver na sua alma. Daí que a pedra de toque da espiritualidade cristã seja a natureza e a riqueza do diálogo íntimo do homem com Deus.

Os ‘novos’ mercantilismos folclórico-espiritualistas descendem de facto deste património ‘cultural’ do Cristianismo: pôs o homem a falar com Deus como seu ‘semelhante’, como que entregue à intermediação ‘psicológica’, em forte concorrência com a intermediação institucional.

O maior risco do excesso de espiritualização da ‘experiência religiosa’ está precisamente em menosprezar o facto de o ‘Mistério de Deus’ se ter querido revelar duma forma histórica, (inclusivamente banal, salve-se a expressão) e altamente apelativa para a razão, a dúvida e os mecanismos angustiantes da fé.

A transformação progressiva do movimento da reforma protestante numa espécie de world-music-evangélico acabou por ajudar a cavar um fosso naquilo que poderia ter sido o enriquecimento espiritual do homem, ou seja: opôs uma leitura doutrinária, ora mobilizadora, ora orientadora, como incompatível com o discurso interior duma alma ‘suspensa’ pela presença de Deus na sua simplicidade.

O ponto de chegada é, muitas vezes, a própria encruzilhada da nossa condição: queremos ‘fugir’ da tal fé que se esgote num credo, do Deus que se esgote numa teologia, da moral que se esgote numa tábua da lei; mas teremos sempre medo desse abismo.
(*) nem, inclusive, ingestão de 'gafanhotos e mel silvestre'

na cozinha, com ela

Are you British in Bed?

65% Brazilian: 1/2 lata de leite condensado, 1/2 colher de sopa de manteiga e 1 e 1/2 colher de sopa de cacau em pó. De brigadeiro, a receita.

Jungle belles III

Mas ainda hoje, no mesmo Público e sobre a mesma Carla, a jornalista Teresa de Sousa chama-lhe ‘trunfo de transição’ para a França sarkoficada. Eu cá se fosse à Bruni pedia para a raptarem para a selva. Não faltariam Tarzans. E o mundo quer ver Sarkozy agarrado à liana.

Jungle bells II

Contudo, Carla, ciente dos riscos de ser peluche de companhia de animais de cérebro duplo, pegou no violão, na blusinha d’alças e na calça justa, e atirou-se à ‘nostalgia afectuosa e voluptuosa’ como diz o bom do Belanciano no Público. A mulher da passerelle sabe que o mundo é uma selva.

Jungle bell

Carla Bruni desde que casou e acolita esteticamente Sarkozy - que vem progressivamente dando ares de Berlusconi com mais cabelo – parece, evidentemente, muito mais burra. E então quando ficou ao lado de Ingrid Betancourt tornou-se flagrante: uma mulher vinda da passerelle nunca consegue competir com uma vinda da selva.

Paróquia de Penacova, ano da graça de 2038

Reverenda Gracinda acaba de ser nomeada priora da paróquia de Penacova. Não só foi a primeira mulher portuguesa a ser consagrada com o sacramento da Ordem, como inclusivamente é a primeira a ser casada, neste caso com um moço chamado Inocêncio, que é dono duma rede de talhos que vai da Lousã a Oliveira do Hospital, e que, dizem, ajoelha melhor que duas carmelitas depois de quinze dias de jejum rigoroso.

Transcrevo aqui o seu primeiro sermão-convívio com os paroquianos.

«Queridos paroquianos, hoje é um dia muito importante para a Igreja em geral e para o baixo Mondego em particular, pois é nas suas franjas que o Senhor veio colocar a graça da sua generosidade. Eu, mais o meu Inocêncio, que também reza por todos vós, mas que hoje não pode estar aqui presente pois foi a um matadouro em Arganil escolher 10 bezerros numa promoção da febre aftosa, quero ser a primeira e mais humilde serva desta terra bendita, e inclusivamente já me fiz sócia do clube de vídeo.»

«Dona Priora, saiba de antemão que nós não temos preconceitos, e sabemos muito bem que Deus Nosso Senhor sofreu e morreu por todos nós e que se não escolheu apóstolas é porque não calhou, ou na altura não tinha verba para aqueles pensos mini-tanga que dão menos nas vistas.»

«Queridos, a abertura de espírito e a humildade de coração são o primeiro caminho para deixarmos o amor de Deus Nosso Senhor inundar a nossa alma. Penso que em conjunto poderemos fazer grandes obras aqui na margem deste bom rio, o nosso Jordão das Beiras, incluindo uma ou outra churrascada que o meu Inocêncio, já me prometeu, há-de fazer um bom desconto nas entremeadas.»

«Senhora dona Priora, temos ouvido dizer que se calhar não é verdade que as mulheres tenham saído duma costela do Adão, e noutro dia um senhor daqueles do bloco de esquerda até disse que já havia provas que isto foram uns macacos que se deram melhor com a acidez da bolota no estômago e que acabaram por conseguir evoluir para as bilis com pernas em que nos transformámos. Então, mas se não foi da costela foi donde?»

«Queridos, ainda noutro dia o meu Inocêncio me disse: ‘Tu pareces saída duma costela de charoleza, tal a fibra que tens, mulher, qualquer dia ainda chegas a Bispa e eu abro um talho em Coimbra’. Estão a ver, os homens falam muito em sentido figurado, se tivessem sido as mulheres a escrever as Sagradas Escrituras isto já estava tudo em pratos limpos, nem era preciso um Pentateuco, bastava um Triteuco e um arrozinho de manteiga e tinha-se arrumado logo a coisa.»

«ó Senhora Priora, isso é que é falar, então se calhar este ano é que compramos umas cortinas e um sino novo para a igreja, não?»

«Meus queridos irmãos, calhará bem até porque, tenho de vos anunciar, transporto a graça de Deus no meu ventre, e um novo paroquiano verá a luz reflectida do Mondego antes do novo Equinócio.»

«Ó que bênção, Priora! seremos a primeira paróquia com sacristia a cheirar a pó de talco em vez de incenso!»

«Ainda bem que ficastes felizes, o meu Inocêncio é que anda irritadiço porque diz que começou a ter uns sonhos em que lhe aparece o Anjo Gabriel ao lado do gerente do BES, e ele depois acorda-me com suores frios; peço-vos para serem compreensivos com ele, e se puderem comprem-lhe as espetadas de lombo de vitela que ele alivia.»

«Este ano no Natal teremos um presépio vivo! No barragem da Aguieira fará a lampreia a desova, mas a graça de Deus escolheu Penacova!»

«Será comungando desta felicidade que já convidei a Chicco a patrocinar os andores para a próxima Semana Santa; inclusivamente já tratei que pudessem ser articulados e coubessem na bagageira de qualquer carro, e ainda dá para os alugarmos à paróquia do Lorvão na Pascoela; seremos uma paróquia de referência.»

«Mas patroa, perdão, Priora, não acha que pode ser novidade a mais?... o rebanho também se alimenta das pequenas rotinas…»

«Meus queridos irmãos, tendes de abrir o coração aos desafios da fé, eu quero que olheis para o exemplo do meu Inocêncio, ele antes de começar a vender lombo de porco recheado com pasta de pinhão também achava que isso era muito arrojado, mas agora já nem quer outra coisa, e até já vem mais tarde para casa e diz-me que ficou a moer o pinhão.»

«Mas priora, quereis dizer-nos que a fé é como um pinhão que temos de ir moendo para rechear a nossa vida?»

«Ó irmãos, bênção das bênçãos, claras do meu molotoff, farinha da minha patanisca, juntos ainda faremos uma carta apostólica à base de torta de laranja, e o Domingo de Ramos será celebrado com nabiça para que não se desperdice nada para o caldo verde.»
(9*4)







'nine windows in a row' x 4, cidade universitária, julho 08

Espartilhos & Crinolinas (II)

As anotações de um picheleiro dos afectos

Caderno 2 – Compêndio de teoria política para mulheres curiosas

5º capitulo - A almotolia de bomba

Poderia o leitor apressado e displicente, no seu legítimo direito embora, pensar que este pequeno estudo se limitaria a ser um exercício ligeiro de misoginia recreativa, mas efectivamente aqui pretende-se apenas desenhar um contributo, humilde que seja, de natureza técnica sobre a forma de melhor incluir a mulher numa actividade que lhe é agreste e para a qual se deve preparar não apenas perseguindo os clichés típicos de ser ‘uma gaja tesa’.

A mulher que sinta o apelo da coisa pública, não se contentando assim com o poder que lhe é conferido pela natureza e que possui – irresistivelmente - na coisa privada, tem que saber de antemão que o mundo, por estar consciente disso, parte desconfiado com ela: «ela vem para aqui fazer o que não consegue em casa»

Já aflorámos aqui o papel que as assessorias desempenham no refrescamento e fortalecimento do corpo (jurídico) da liderança, mas importa agora abordar de que forma a mulher-política deve encarar a questão ideológica, ainda para mais sabendo-se que o cliché paradigmático aponta para : «as mulheres são mais práticas», ou seja, antes uma moulinex que uma beauvoir.

Ora, à semelhança do penteado, a mulher deve optar por correntes ideológicas de mainstream, ou seja, não pode arriscar, por exemplo, nem em liberalismos exacerbados, nem em planificações opressivas, a ideologia deve ser o baton da mulher-política: deve assediar convenientemente o beijador mas não lhe deve deixar marca excessiva.


Esta noção de instrumentalidade ideológica é algo com que o feminino lida na perfeição. No fundo, deixar uma plateia em suspenso com um enigma de natureza programática, pode representar para a mulher-política o mesmo que no ‘jogo-amoroso’ pode representar o «depois vemos isso». A mulher está treinada para sacar dum princípio ideológico quando apenas dizer que lhe doem as costas se poderia revelar pouco convincente.


E, definitivamente, a ambiguidade que a mulher tem incrustada no ser que nem uma glândula em festa assume aqui um papel crucial. O pão-pão-queijo-queijo da mulher tesa e conservadora, rapidamente passa a manteiguinha de Azeitão se for necessário mostrar uma líder progressista que se adapta a tudo. Mas, na mulher, isto não é vira-casaquismo: é apenas mudança de colecção.

Espartilhos & Crinolinas (I)

As anotações de um picheleiro dos afectos

Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas

4º capitulo - Limas murças e bastardas

Uma das paragens obrigatórias neste percurso analítico em torno das miudezas mais íntimas da mulher enquanto animal político é o estudo do papel do humor.

A sociedade ocidental, por razões de sociologia reprodutiva certamente, sedimentou bem a ideia de que o humor utilizado pelo macho-político é sinal de inteligência, perspicácia e alguma irreverência, mas se for utilizado pela mulher pode ser sinal de badalhoquice e ligeireza de raciocínio. Assim, a utilização do humor por parte da fêmea-política deve respeitar algumas regras que impeçam o suicídio da sua imagem e a recambiem para as instituições de beneficência, casamento incluído.

Comecemos pela auto-comiseração lúdica. Este elemento estruturante do humor masculino está completamente vedado à mulher; ou seja, a mulher não se pode colocar em zonas de fronteira, de dúvida, onde a verdade e a mentira estejam muito próximas, pois a leitura será sempre vertiginosamente contra si; é conhecido como o ‘estigma do abismo da vulva’.

A mulher-política deve, portanto, usar um humor inequívoco e deve deixar a subtileza para os 'gabinetes de estudo' (*).

Outra das zonas de risco para a mulher é o sarcasmo. Existe uma linha que a mulher política não deve passar, é a linha que separa a zona de eficácia de ‘grande cabra’ da zona de ruína de ‘grande filha-da-puta’; e esta linha muitas vezes fica completamente a descoberto quando a irrisão é levada ao limite sem compensações, entrando mesmo naquilo a que o povo, e mesmo alguns teóricos, denominam de ‘zona das mal fodidas’(**).

Uma das técnicas que leva muitas mulheres a destruírem uma carreira de manipulação-política que se mostrava promissora é a do humor-enigmático, também conhecida como a ‘insinuação intelectualizada’. A insinuação feminina em geral apela, mesmo que inadvertidamente, aos sentimentos mais básicos do homem-cidadão, aos mecanismos do ‘oquetuqueresseieu’ que costumam ser fatais para a fêmea em pose de Estado, mesmo que esteja a passar revista às forças em parada, ou debruçada sobre um decreto.

Finalmente o trocadilho irónico. A arma da ambiguidade semântica na mulher-política é uma faca de dois gumes, e a mulher só a pode utilizar quando estiver no ‘mummy side’ (***) do seu espectro, alavancando algum efeito poético que possa criar. Como sabemos a mulher discursa com o corpo e a palavra serve-lhe apenas como anabolizante de retórica.


Concluiria dizendo apenas que o húmus feminino é efectivamente parte integrante da sua capacidade de sedução e do seu potencial integrador, no entanto, uma mulher-politica ao fazer rir a sua corte terá sempre de contar com o risco de meretrizar a sua influência.


(*) vide ‘capitulo 2 – joelho fêmea’

(**) leia-se: mulheres nas quais a penetração de registo fornicativo não se efectua de molde a propiciar o gozo espectável pela natureza

(***) vide 'capitulo 3 - chave de grifo'

Structural Constellation, Transformation of a Scheme No.23

Josef Albers (1951)
[serve o presente para deixar devidamente registado que hoje se desenvolveu sobre as gramíneas de wimbledon um dos melhores jogos de sempre dum desporto denominado ténis; desporto esse também praticado por meninas, e inclusive senhoras, mas isso é outro departamento]


As anotações de um picheleiro dos afectos

Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas

3º capitulo - Chave de grifo

Se no que dizia respeito ao penteado da mulher-política esta devia escolher modelos colocados na mediana do espectro decorativo e evitar as zonas da periferia estética, já no que concerne à personalidade a desenvolver passa-se precisamente o contrário; a mulher que se entregue às mesmas actividades de lellos, narcisos & jerónimos deverá colocar-se na extremidades do estereótipo feminino: ou mulher-sacana, ou mulher-santa. Evitei para já a utilização dos termos bruxa-puta-cabra no primeiro caso e de mamã-avozinha-fada-madrinha no segundo, por estarem demasiado colados a desabafos de teor ero-intimista e peri-freudiano que poderiam desviar-nos do verdadeiro teor científico-experimental deste compêndio.

A primeira e principal razão para esta regra do extremos prende-se com o sentimento comum do cidadão indefeso: «se era para ser uma pessoa normal preferia-se um homem porque o risco era menor». Ou seja, a mulher tem de capitalizar a diferença; como?: exponenciando-a, e colocando-se em zonas onde um macho pareceria ou um frade perdido do mosteiro, ou um carrilho de bárbara menstruada.

Antes de entrar propriamente na caracterização da ‘mulher-sacana’ e da ‘mulher-santa’ devo realçar já um ponto essencial: a fêmea-homnídea-sapiens é o único ser que consegue pendular entre os dois extremos da personalidade mantendo-se a mesma pessoa, na maior das calmas, e sem precisar de tomar qualquer aditivo químico compensatório das funções digestivas ou urinárias (apesar de já terem sido referenciadas uma ou outra alteração ao nível das mucosas íntimas – certamente por falta de Lactacid na Arca de Noé).

Ora, como se deve a mulher fixar correctamente no extremo ‘sacana’ do seu espectro (‘bitch-side’)? Sendo-lhe algo natural, a sua principal preocupação é fazer-se parecer algo ali entre a máxima eficiência e a máxima concentração. Uma espécie dos ‘fins justificam os meios’ na versão ‘elas acabam sempre por levar a água ao seu moinho’. Mas tendo sempre este especialíssimo cuidado: a mulher-política nunca deve dar ares de ser providencial, a sociedade só está preparada para machos iluminados, e a verdade ao ser transmitida por algum canal especial a uma mulher seria sempre entendida como sendo pela via da bruxaria. Um efeito secundário da utilização em excesso desta zona extremo do estereótipo é o risco de enfeitiçamento: a mulher-política-bruxa que enverede pelo enfeitiçamento do povo que lhe caiu de turno no caldeirão acabará sempre por beber do próprio veneno. O homem aprecia ser levado que nem um patinho submisso mas geralmente os feitiços acabam por maçá-lo.

No outro lado desta festa encontra-se a mulher-santa (‘mummy side’). Esse cadinho mágico de bondade, compreensão, generosidade, carinho e maternalidade geralmente é trabalhado pela mulher com autêntica mestria. No entanto, certos autores estão convencidos de que esta outra borda da travessa temperamental apenas é experimentada pela mulher politica para aliviar de tempos a tempos da outra, por mero imperativo da deusa da sonsice e por algum receio que o excesso de sacanice lhe faça algum mal à pele. Feita esta ressalva teórica importa destacar a magnífica utilização que a mulher consegue fazer neste domínio com as técnicas da gestão de expectativas, ou seja, a mulher-política sabe com precisão cirúrgica que o homem há momentos em que entrega tudo com confiança ilimitada a uma mulher-mãezinha; e nesses momentos ela tem de estar lá a representar esse papel, e com todo o arsenal preparado: colinho, historinha de embalar e maminha tesa. Homem frustado é, as we all know, como pila em caldo gelado, guerreiro abandonado pelo ferreiro.


Não ficaria bem, no entanto, deixar este capítulo minguado duma nota final. A capacidade de translação da mulher em torno destes dois focos ‘mamã-cabra’ é uma gestão difícil e só funciona na perfeição com homens de inocência galáctica. É por isso que as mulheres-políticas são as mais indicadas para os povos de génios distraídos, ou de parvos.

Man

Oskar Schlemmer (1928)
As anotações de um picheleiro dos afectos

Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas

2º capitulo - Joelho femea

Uma das questões cruciais para o sucesso da mulher-política é a organização e qualificação do seu assessoramento (*). A mulher quer-se assessorada em condições e para tal precisa de assessores competentes e dum local conveniente para se assessorar; como um bom assessoramento nunca é de mais, poderia mesmo dizer-se que para a mulher o assessuro morreu de velho, não fosse o caso de, geralmente, ela dar cabo dele antes.

Para o assessoramento da mulher-política o elemento essencial é o famoso ‘Gabinete de Estudos’. A escolha do local e da decoração do Gabinete de Estudos representam um momento chave na carreira de qualquer mulher-política.

A mulher empossada, antes de definir qualquer política que seja, deve, em primeiro lugar, escolher os cortinados do ‘gabinete de estudos’. O cortinado estará para a mulher-política como o chauffeur está para o homem: é um confidente leal, um cúmplice para os seus devaneios, e não poucas vezes o primeiro a abrir-lhe a porta para um mundo cruel, ingrato e impiedoso. Mas a mulher alcança aqui uma grande vantagem: consegue falar com o cortinado sem complexos, como de igual para igual se tratasse.

Escolhido o cortinado que lhe enquadre, resguarde e preserve o assessoramento, a mulher deve virar-se para o almofadado. Ora o almofadado do gabinete de estudos assume um papel determinante nos assessoramentos mais agressivos e impulsivos. O assessoramento de impulso ocorre geralmente em momentos de crise, quando são exigidas por vezes medidas mais radicais e de implementação rápida, e um bom almofadado é condição sine qua non para que assessor e assessorada não trilhem uma virilha num despacho, ou mesmo fiquem colados a uma napa jurídica de qualidade mais ruim.

A escolha dos assessores é igualmente um momento muito delicado na carreira de qualquer mulher que tenha enveredado pela política como alternativa aos Arraiolos. O assessor ideal deve ser maneirinho, certeiro no powerpoint, bons conhecimentos de línguas (por causa da ratificação de tratados internacionais), e – preferencial (**) – saber fazer trancinhas. Um assessor prendado pode ser um autêntico assessoiro.

A mulher bem assessorada apresenta assim índices de eficácia muito interessantes, e há autores que inclusivé defendem a mulher assessorada em detrimento do homem a fungar do nariz.


(*) Se atentarmos bem nas primeiras críticas a MFL pelo inefável Lino foi precisamente a de que estava «mal assessorada».

(**) Vidé ‘capítulo 1 – Tarraxa’

Head in Profile with Black Outline

Oskar Schlemmer (1920/21)
As anotações de um picheleiro dos afectos

Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas

1º capitulo - Tarraxa

A política é coisa para homens, à semelhança do berlinde e dos pêlos nas orelhas, mas certas mulheres com empenho, afã de colaborar, pouco jeito para o entrelaçamento de fibras naturais e algum cuidado com as articulações podem esporadicamente exercê-la com sucesso e até com algum benefício para a sociedade em geral e os cabeleireiros em particular.

O primeiro aspecto técnico que a mulher-política deve controlar obrigatoriamente é precisamente o penteado.

Aqui, a regra básica nº1 é: nunca armar nem soltar demasiado. A mulher de cabelo muito armado tem tendências despóticas e, já se sabe, mulher muito despotada acaba por se prejudicar. O cabelo com muita soltura também pode indicar problemas de continência, o que, para além de dar sinais duvidosos para as forças armadas, revelará um inconveniente deslumbramento hormonal, perdão, orçamental.

Consensualizados em torno do cabelo apanhado, seja num mais clássico carrapito ou numas mais arrojadas trancinhas, poderemos agora passar para a temática mais vistosa da coloração.

Transmito então a regra básica nº2: a cor do cabelo deve ser indefinida. Ou seja, a mulher-politica deverá evitar qualquer tonalidade muito expressiva, sob pena de ficar catalogada como aquela ‘puta-loira’, ou aquela ‘cabra-morena’, se não mesmo aquela ‘fufa-ruiva’; entre outros. Assim, seja à base do suave madeixamento, ou da utilização maciça de qualquer sucedâneo de robiallac para crinas, o cabelo da mulher deve aparentar aquela cor entre a merda de pombo e o ranho de sifilítico de forma a passar o mais despercebida possível por entre louçãs e vitalinos.

Se o estilo de apanhamento e a cor são os elementos estruturantes para a fixação ética do modelo de penteado-liderança da mulher-política, o corte é já, digamos, a marca do seu particular enfoque ideológico. A mulher revela-se, já de si, um ser muito dado a enfocar, como sabemos, daí que no corte, se por um lado deve evitar o formato de ‘comprido’, visto aumentarem as probabilidades de se entalar no tripé, também deve pôr de parte a hipótese ‘curtinho’, pois a reacção popular seria inevitavelmente «antes isso que um paneleiro (*)», o que deixaria a mulher com aquela desagradável sensação de mal menor, e refém de ideologias de compromisso. Ou seja, a regra básica nº 3 no que concerne ao corte de cabelo é: tamanho chaleira, nem chávena nem jarrão, champô nos feriados e na quaresma sabão.

Por fim a mulher-política deve tratar com cuidado os efeitos especiais. Aliás, a mulher geralmente é atraiçoada pelos efeitos especiais. Maquilhagens Fauvistas, Brincos Mondrianicos e Sapatos Giacometicos são exemplos recorrentes neste cerimonial de homicídio estético em grupo que a mulher pratica, como se fossem todas membros duma seita satânica da parolice, luxo a que a mulher-política não se pode dar, tanto mais que actualmente se valoriza bastante a separação entre religião e estado, a par da utilização de colheres de pau em plástico, claro.

(*) leia-se: homem que desenvolveu no exercício da sua liberdade individual uma opção sexual responsável que passa por equacionar levar no cu de outros homens que desenvolveram no exercício da sua liberdade individual…, adiante.

Figure Design

Oskar Schlemmer (1922)

Intermezzo Técnico

Um dos ateus da corrente hemorroidal (*), D. Dennett, numa entrevista que deu ao Der Spiegel há uns anos, entre outras iluminações haloageneirou estas (**):

«É preciso que se entenda que o papel de Deus foi diminuindo no decorrer dos anos. Primeiramente tínhamos Deus, como você disse, fazendo Adão e todas as criaturas com as próprias mãos, arrancando a costela de Adão e fazendo Eva a partir dessa costela. A seguir trocamos esse Deus pelo Deus que coloca a evolução em movimento. E depois dizemos que nem sequer precisamos deste Deus -o decretador da lei -, já que se levarmos as ideias da cosmologia a sério, concluímos que existem outros locais, e outras leis, e que a vida surge onde pode surgir. Então, agora não temos mais o Deus criador descobridor de leis, nem o Deus decretador de leis, mas apenas o Deus mestre-de-cerimónias. E quando Deus é o mestre-de-cerimónias e, na verdade, não desempenha mais papel algum no universo, ele ficou diminuído, e não interfere mais de forma alguma»

Esta alteração do papel de Deus que nos é revelada por Dennet, numa espécie de história das religiões em formado de chewing gum, acaba por ser, inadvertidamente, bem esgalhada. O circuito turístico criador-evolucionador-decretador teria esgotado face à concorrência dos paradisíacos cruzeiros caos-plasma-bactéria-carninha e agora as igrejas, supostas companhias de saltimbancos treinadas em efeitos especiais e alegorias, teriam recauchutado o seu Patrocinador principal por forma a incluí-lo no espectáculo como ‘mestre-de-cerimónias’.

Mas, no entanto, ainda constato duas coisas: a primeira, é que o novo de ‘mestre-de-cerimónias’ se mostra muito competente porque tem estado bastante bem a escolher para bobos intergalácticos estes novos ateus da fistula ardente; a segunda, é que espiritualmente o conceito de ‘mestre-de-cerimónias’ é igualmente bastante mais rico, aliciante e fecundo do que o de Criador e Legislador-Mor. Inclusivamente vejo com deleite Deus a delegar numa dupla de Anjos-Protões essa maçada da criação, e numa tríade de Anjos-Betinhos essa coisa da lei natural e outras doira-pívias afins, por forma a dedicar-se em exclusividade a orientar e embelezar as almas dos seus dilectos filhos, por forma a que estejam devidamente ataviadas para o juízo final, onde os afaga fistulas poderão fazer de tocadores de pandeireta.


(*) os que dizem as coisas com aquele ar de satisfação de quem tem no rabinho um saco de água morninha para amansar a fistula.

(**) vou mais ou menos transcrever o texto que apanhei num site brasileiro há uns tempos mas que já não sei qual é

Listonosz Cheval

Max Ernst, 1932
As anotações de um picheleiro dos afectos

Caderno 1 - Tratado de educação sentimental para homens bons

7º capitulo - Girândola de foguetes & salva de morteiros

Existe também a questão fóbica. A mulher tem receio que o amor lhe estrague a pele, o homem tem receio que o amor lhe estrague a carteira. Por isso a mulher é epidermicamente esquiva e o homem trabalha por investidas que preservem o valor residual.

O não feminino é diplomático e vem sempre acompanhado de muito creme hidratante, o não masculino é bruto como uma saída de bolsa em pleno crash.

Sendo o espécime feminino um falso passivo e um estratega simulado serve-se do amor-sentimento como o defesa preguiçoso se serve da regra do fora de jogo: dá um passo em frente para deixar o homem com cara de parvo a olhar para a bandeirola. O homem de tendência bondosa, como o são quase todos, é um eterno atacante a tentar iludir o fora de jogo, e é incapaz de assumir que pouco mais capacidade tem do que jogar pelas laterais como um galgo atrás duma lebre de cartão.

A única verdadeira arma que o homem tem para enfrentar a mulher é o choro. Muita mulher se tornou escrava sexual apenas para não ver o seu homem mendigar amor em lágrimas. Poucos homens bons, de tão bonzinhos que são, têm esta noção, e, por isso, é uma raridade encontrar uma escrava sexual bem trabalhada pelo macho-carente. Quando o homem, num assomo de inteligência, consegue ultrapassar a barreira do choro – mesmo que austeramente regado – chegam a assistir-se a declarações pungentes em reduzida roupa interior e, inclusivamente, há registos, algumas sinceras palavras de arrependimento feminino – sentimento de natureza arqueológica, como sabemos.

Mas o que importa aqui reter é isto: a chantagem emocional é o último tesouro escondido da masculinidade.

Desafortunadamente para o homem o grande troféu da mulher é um macho ligeiramente insatisfeito. Socialmente, um homem feliz é um cabrão, ou um trouxa.

Design In Nature

Max Ernst, 1947
As anotações de um picheleiro dos afectos

Caderno 1 - Tratado de educação sentimental para homens bons

6º capitulo - Vulcão de estrelas

A noção pós romântica de que o homem é um ser geneticamente impreparado às mãos do ser hormonalmente superior que é a mulher faz ciclicamente algum sucesso estético, no entanto, este pequeno compêndio em capítulos não pretende abusar de nenhum efeito de miserabilismo lírico.

Para a mulher, o sentimento-amor vem programado como sendo um resíduo tóxico, algo como o subproduto duma parafilia que o espécime masculino não conseguiu estripar da sua cadeia artesanal de sentimentos avulsos. Ciente deste defeito de fabrico do homo sapiens, - versão com pendentes na zona púbica - a mulher fez, desde há muito, correr a ideia generalizada de que está sempre em suspenso duma grande paixão que a apazigúe que nem uma canção do José Pedro Pais, dando, por isso, azo a que o homem desenvolva aquela lúbrica convicção de que se pode constituir no objecto essencial para a mulher alcançar tal desiderato e, de brinde, ainda brincariam às enfermeiras.

Ora que a paixão se apresente como constituinte essencial na vida da mulher, concedo como hipótese de trabalho, mas nenhum sinal evidencia que seja pelo homem. O homem é uma alavanca afectiva da mulher. Segurança, conforto, animal de companhia, espelho amestrado, fecundador asseado. O macho-homem é para a fêmea-mulher o ser logístico por excelência, e o afecto-amoroso um puro amplificador de entropia.


Fica uma questão pertinente no ar: como é que o homem ao longo dos séculos não aprende? Atentemos que o homem até aprendeu a tirar pura merda do rabo dos filhos; em situações limites, entenda-se. A explicação é esta: a mulher desgasta-se na produção da renda, mas o homem resolve despachar a coisa logo com o bibelot. Um bibelot é uma coisa que se pode adorar, uma renda é algo pensado para se construir. A mulher pensa que constrói o homem, o homem pensa que a mulher o decora. O amor-sentimento é um mero joguete nesta equação interminável.

Men Shall Know Nothing of This

Max Ernst, 1923