Um dos problemas do novo dicionário não ilustrado é que eu já perdi o controlo àquilo, e já nem me lembro do que escrevi, das alarvidades que distribui, das anormalidades que subsidiei, e das aberrações que lubrifiquei. Hoje fui compulsivamente levado para o tema da percepção que as pessoas fazem uma das outras, e das mistificações que a apaparicam e adornam. ( entradas 652 a 666 )



A Fama – O que transforma as parvoíces que uma pessoa diz em aforismos, e as suas unhas encravadas em cataclismos.



O Sucesso – A etiqueta que acompanha a fazenda, sonhada caxemira, que é tosquiada no rebanho que se pastoreia pelo hall de entrada.



A Integridade moral – Espécie de laca que garante um penteado certinho, mas não evita as tentadoras lêndeas.



O Carisma – Auréola de cânon difuso, boa para realçar um altar bem iluminado, e melhor adornado pelas genuflexões de turno.



A Fortuna – Cobertor aconchegante, mas que depois vai-se a ver, não passava duma irregular autorização de descoberto, que acaba por ser desmascarada na auditoria final e independente.



A Piada – Idolatria periodicamente repescada, que desperta e alimenta génios de polichinelo à base de esmolas esfregadas de riso.



A Inteligência – Limbo apanhado a brincar aos paraísos com os anjinhos que têm medo de ficar à entrada do purgatório.



A Cultura – Crosta reluzente que produz efeitos especiais ao reflectir prolixidades perante os olhos ávidos de esbugalhamento.



A Atracção “sexual” – Cheiro inebriante que destila o desejo alheio num alambique, e que afinal mais não faz que serpentear o corpo até à evaporação final. Não passamos de gotas lambidas.



A Esperteza – Saracoteio de espinha, que põe as vértebras alinhadas a fazer de corrimão à ignorância.



A originalidade – Excreção que se podia limitar a filtrar os canais que transportam a respiração arrogante, mas que não resiste à tentação de ressequir, e permitir a sublimada mas sempre atraente coçadela de nariz



A Força – O que faz vender dinamómetros. Também embeleza ficha técnicas, provoca devoluções e atraiçoa garantias.



A mente brilhante – Emaranhada de fluorescências de filamento vaidoso, que à falta de melhor uso, sempre podem enfeitar uma árvore de natal



A Pessoa de Bem – Espécie de ungido, que deixa sempre um bocadinho de óleo sagrado a pingar, para lhe poderem limpar o beicinho

Faz de conta que isto é a caixa dos comentários da “mal traçadas



Tenho que confessar e admitir (dois em um – “confessar” é o shampoo, e “admitir” o amaciador) que nunca entrei em nenhuma cozinha. Mentira, entrei duas vezes. A primeira quando uma ardeu toda. Entrei. Mas até não me fez impressão nenhuma; eu nem nunca tinha visto uma, nem dessa forma nem doutra. De facto achei desinteressantes aqueles tons acastanhados do chamuscanço, ainda para mais num estilo degradé fatela, mas de resto nada de excessivo. Confirmei apenas que era um local com o qual podia viver bem sem lá voltar a pôr o corpinho. Simulei um ar desgraçado, estupefacto, interessado, algo penoso (julgo mesmo ter alcançado este ponto de dissimulação), mas nada que me impedisse de continuar a considerar a cozinha um local de frequência dispensável ou mesmo desaconselhável.

Da segunda vez foi tudo rodeado de maior liturgia. O Sporting estava prestes a ser campeão depois de largos anos de jejum. Eu iria demonstrar a todos que controlava a ansiedade a um nível... (porra não se pode dizer!) a um patamar... (porra não se pode dizer!), que se lixe, eu era superior àquilo, e não precisava de ter a televisão ligada para acompanhar o resultado. O tempo passava, à minha volta podiam-se ouvir irritantes risinhos, mas eu tinha de os tramar e já não aguentava mais; eis que detecto a televisão da cozinha acesa, como num apelo de sereia. Estava só, avancei! O Ducher tinha marcado um golo ao Salgueiros. A cozinha foi então o altar da minha recatada adoração. Não cheguei a entrar muito lá dentro. Abençoado torcicolo.

Ficam agora à vista quais são as duas opções que tenho em aberto para lá entrar eventualmente numa terceira ocasião. Só se arder tudo, é mais que certo...

E sobre os seus efeitos afrodisíacos, sempre tive algum receio de chãos escorregadios. É que para escorregadio já basta o torvelinho dos meus neurónios besuntados de mielina.

Também ouvi dizer que é lá que fazem os pastéis de bacalhau, mas ainda hei-de confirmar isso.







( Da transgressão. Sei muito poucos poemas de cor. Um dos que sabia, era este do Camões: “Transforma-se o amador na cousa amada/Por virtude do muito imaginar/Não tenho logo mais que desejar/Pois em mim tenho a parte desejada”.Disse sabia, porque já não sei. Esqueci-o. Mantinha-o guardado para um momento especial, e quando o usei acho que estraguei tudo. A poesia deve ter um instinto matador nas minhas mãos. Desgraçamo-nos mutuamente, se calhar. Só que eu nem desconfiava disso. Estúpido. Nunca o li como um poema de amor. Sempre vi nele um formidável elogio poético à cumplicidade; reforço: à cumplicidade pura, cristalina, de fina, de filigranada prisão, forte, de siderúrgica fusão. Difícil de descobrir, difícil de sustentar, mas difícil de matar. É até das poucas coisas que sedenta e sacia ao mesmo tempo, e que tem o condão de colocar o desejo na redoma do encantamento. Onde nem a imaginação presta vassalagem ao pecado. Mas isto se calhar são só parvoíces minhas, mas são parvoíces das que doem. )
Belas Artes



“ (...) a grande ruptura que reside na pintura abstracta não se prende apenas com a imagem da realidade. Terá a ver também (...) com a afirmação e autonomização dos valores plásticos propriamente ditos.” De Isabel Sabino em a “Pintura depois da pintura”.



Passa-se rigorosamente o mesmo com a política. Não estará apenas em ruptura com a realidade, assumiu já um grau de autonomização, com valores próprios, e com uma plástica que desdenha o meio, o suporte, e que releva o enquadramento formal em prejuízo do bom gosto. Só que a política não chega a destruir o espaço “pictórico”, apenas o gelatiniza numa bamboleante flacidez.

Avulsário irrelevantico

Os lingrinhas de espírito podem ler, mas depois têm de tomar o já clássico nausefe entremeado de nandrolona.



Negociações ortográficas ( I )

Já me esquecia de avisar



Depois do apoio simpático e competente duma mão amiga, consegui para este blog uma autorização especial para escrever a palavra explendor com “x”.

O mundo nunca mais será a mesma pasmaceira.



Se eu não me metesse nesta conversa nem era homem nem era nada ( I )



Tenho de confessar que um dos ostracismos léxicos que me desgosta é o que desprimora “prenda” em relação a “presente”.

Reparemos que a expressão “tu és uma bela prenda” acaba por ser bem mais interessante, do que o extraordinária “que belo presente que o menino aí fez”.

A constatação merdocrática escolheu o termo mais griffado, deixando para o juízo moralista a palavra mais carregada de suburbanidade. Têm de se tirar daqui as devidas ilações (enquanto esta expressão é permitida, claro está), até porque a elação também pode ser socialmente desagradável.

Por outro lado, uma mulher ao ser “prendada” será sempre de bom-tom e a todos beneficiando, conquanto uma mulher que é apenas “presente” pode-se transformar rapidamente numa mera dama de companhia, o que convenhamos esmorece um pouco o alcance da feminilidade.

E temos de saber ir reinventando a hermenêutica do foleiro, enquanto se puder ir utilizando a palavra “reinventar”, obviamente.

Peço então uma autorização especial para utilizar “prenda”, se faz favor



Se eu não me metesse nesta conversa nem era homem nem era nada ( II )



Não consigo encontrar pior expressão do que a: “ Como eu costumo dizer”. Não há palavras para descrever tamanha egofilia, e os únicos antídotos capazes passarão mesmo pelo recurso a jaculatórias de pendor piedoso como “Valha-me Deus”, senão até “Que Deus nosso Senhor me proteja”. Deus tem mesmo é que se chegar à frente e ajudar-nos nestas coisas pouquinhas. E a descrença no efeito purificador da elevação do coração à divindade, poderia deixar-nos à mercê de expressões de índole ordinária.

Mas o mais interessante é que praticamente todos acabamos por, numa altura ou noutra, cair na utilização desta expressão, o que vem demonstrar cabalmente a capacidade degenerativa do verbo quando entregue aos cuidados da mãe natureza.

Enterrar não chega, avançaria para o crematório.



Negociações ortográficas ( II )

Esta é nova



A minha tendência para escrever "obsessão" como "obcessão" está de tal forma entranhada, que roça a demência. O recalcamento produzido pela sistemática correcção, atasca inevitavelmente os recônditos cubículos da minha alma, que – estou certo - irá desforrar-se num momento em que eu não esteja à espera. Temo e tremo, por conhecer da minha fragilidade.

Sou levado a crer que o meu caso é sim de verdadeira “obcessão”, e por isso não enquadrado nos manuais académicos.

Libertar-me deste espartilho ortográfico será algo que só me trará dignidade e paz de espírito. Peço igualmente generoso deferimento.



Adenda: Faço notar que só um pleonasmo produz verdadeiro arrebatamento. Mas nisto podem borrifar, não faço tanta questão.

O tráfico de influenza

Uma guerra química à portuguesa



Tudo se passa num call center encafuado num escritório mal arejado ali à Estefânea (não, não é o centro de escutas da Judiciária). Uma empresa teve a ideia de oferecer os seus serviços de contágio biológico, enviando diversas estirpes do vírus gripal à cobrança. Tratava-se de permitir com a máxima confidencialidade e profissionalismo que alguém pudesse “desfrutar”, ou fazer “desfrutar”, desta benesse da microbiologia.

...



- Tá, aqui fala Soraya, em que posso ser útil



- Bem, eu soube dos vossos vírus, e estava a pensar se não poderia pôr aquele rapaz, o Portas, com umas dorzinhas no corpo e uma respiração ventilada...



- Ora estou a falar com...



- hum... Mário...



- Sô. Mário, nós temos um “envelope biológico” com muita saída. Se trata duma estirpe que funciona lindamente nos chamados cachimbos da paz. Tivemos quase a vender uma remessa ao Sô Saramago para ele levar a um almoço. Pulveriza-se na zona da boquilha, e dá inclusive direito a uma diarreia intermitente nos primeiros tês dias...



- Isso é óptimo. E diga-me uma coisa, acha que o pode deixar a fungar até ao meu Joãozinho ser eleito para o PS



- A fungadela já é um adicional. Mas se comprar dois pacotes oferecemos-lhe uma...



- Pode ser. O sacana do Ramalho Eanes ainda me ficou a dever uns pingos no nariz. E se eu depois lá mais prá frente quiser um efeitozinho de borbulhagem na testa, acha que é compatível?



- Ai sim, sim, tem é de reservar já!

...



- ‘Ta aqui fala a Dulce...



- Que nome delicioso...



- Ora e eu estou a falar com...



- Lopes. Mas pode-me tratar por Pedro.



- Ai valha-me Sant’ana, não me diga que é o senhor das revistas...



- É pá eu agora não tenho muito tempo menina Dulce, e o que eu queria mesmo era enfiar uma valente carraspana naquele rapaz barbudo o JPPereira. Mas tinham de lhe ficar a doer os ossinhos todos para ele nem poder escrever, e tinha de lhe arranhar tanto a garganta que nem pudesse dar um bocejo de jeito.



- Ah! Temos aqui o servicinho que lhe convém. É só embeber naquela canetinha em que ele faz os rabiscos no computador da SIC. Olhe que é tão rápido a actuar, que já vi alguns a mijarem-se em directo por cauda dos efeitos segundários de incontinência que nós estamos a oferecer de brinde.



- Oh Dulce você é um amor, e se eu não tivesse a agenda tão cheia, até ia brincar consigo às vacinas.



- Não há problema Sr Dr., vamos ter muitas oportunidades, pelo que vejo por aí ainda me vai telefonar mais vezes!...Porque é que não leva já qualquer coisa para O MSTavares e o MRSousa? Até lhe arranjava aqui umas gengivas gretadas.



- O Dulce, você é um torrãozinho!

...



- Tá, aqui está no falo Ludmila, em que poder ser utilizada



- Tá eu sou o Valentim...mas porra, «no falo»?..., se calhar enganei-me no número. Só me faltava agora a minha mulher ainda me apanhar a falar para estas merdas das linhas eróticas. Então mas isso aí não é a aquela coisa dos vírus da gripe à cobrança?



- É sim senhor; desculpe meu falar não perfeição. Vim de Ucrânia, e ainda dou algumas à calinada.



- É pá isto é só posições novas, «à calinada»!? Um gajo vai para velho e depois fica ultrapassado. Adiante. Olha lá miúda, eu queria pôr aquela gaja a Mizé Morgado de molho praí uns dois meses seguidinhos.



- Senhor, eu tenho aqui a indicação do pacote maquilhagem para esses casos. É só oferecer-lhe uma caixinha de rímel e de base já devidamente tratada com um vírus especial.



- Então e depois o que é que acontece, ó caraças



- Senhor, ela fica a cuspir fininho durante mais de um mês. Aquilo dá uns ardores na espinha tais, que ela até vai rezar à santa padroeira dos paraísos fiscais. E por um pequenino adicional o maridinho dela também fica com rinite alergia, se o senhor desejar...



- É pá miúda, tu és um amor. Eu compro já uns 20 desses pacotes para o que der e vier. A gaja há-de ficar tão encarquilhadinha, que os olhinhos até vão parecer as tômbolas da Santa Casa.

...



- Tá aqui fala Sofia, obrigada por ter ligado



- Como é que já agradeces, sem saber quem eu sou, nem o que quero?



- Olha, da mesma maneira que o Mourinho já sabia que FCPorto ia ser campeão mesmo antes do campeonato começar. Diga lá Sr. Rui Rio, com uma chamadinha a pagar no destino só podia ser mesmo o senhor...



- Tu és atrevidota. Mas sabes, o que eu queria mesmo era que me arranjassem aí uma infecçãozita crónica para o Pinto da Costa ficar de molho até às próximas autárquicas.



- Bem, olhe que aquilo é raça bravia. A única solução que temos para esse caso, é um daqueles pacotes tipo Kerastase, mas tem de se ir pondo no cabelinho todos uns dias sem falta...



- Então e como é que eu vou chegar assim ao couro cabeludo desse gajo? E ainda para mais eu queria guardar uns frasquinhos para aplicar no LFMenezes...



- Bem, nós podemos fornecer com aplicação incluída, mas não sei se o senhor terá verba...



- Mas olhe lá, os gajos ficam mesmo de cama, sem conseguirem pôr o corpinho direito?



- Este vírus é tão forte que até chegam a ficar com chagas no fundo das costas de tanto rebolar no edredon, e a tosse é tão avassaladora que a claque dos super-dragões vai parecer o coro de St. Amaro de Oeiras



- Ih Ih Ih . que se lixe o orçamento da câmara...mas oferece-me umas amígdalas gangrenadas, vá lá...

...



- Tá eu sou a Xana. Qual é tua cena?



- Bem...eu sou o António...aquele do desfazedor de ...



- Desfazedor? Késsa merda? Diz lá ao que vens meu!



- Isso também não são modos de atender um cliente...mas que se lixe. Olhe lá, é aí que vendem aqueles vírus da gripe por encomenda



- Tu o dizes.



- E isso é material em condições?



- Meu, digo-te só : comparado com este produto, o antrax parece pó para bochechar os dentes!



- E diga-me a menina, não é preciso tomar antes nenhuma daquelas anestesias maradas, pois não?



- Aish... tu não sacas nada disto. Este material emborca-se melhor que ginger ale. Mas ouve lá, tu afinal queres isto para quê, meu? Tenho de saber qual é a estirpe que vais tripar.



- Eu queria era mesmo uma daquelas gripes que desse só um bocadinho de febre, mas que nos pusesse com muita má cara, para todos terem pena de nós, e nos fazerem canja de arroz, e depois ficávamos na cama a ler a Anna Karenina pela 59ª vez sem ter aquela sensação de perda de tempo. E ligavam-nos dizendo que o mundo podia acabar se nós não recuperássemos rápido, e via os filmes todos do Tarantino de enfiada sem ninguém fazer cara de enjoo à volta, e...



- Man, eu arranjava-te isso, só que essa merda está esgotada há meses. Desde que se fala da remodelação não encomendam outra coisa.

...



-Tá eu sou a Alice, qual é a sua graça?



- Olhe, eu tenho que manter alguma discrição...mas pode-me chamar por Dr. Barroso



- E então Dr. Barroso, em que lhe posso ser útil?



- Bem, eu aí há uns tempos, levei uma solução injectável para o DeusPinheiro, só que agora queria ver se podia trocar...



- Desde que tenha guardado o talãozinho faça favor



- O que eu queria mesmo era que toda a gente apanhasse assim uma entaladelazinha viral, e ficasse acamado por uns dias, para eu poder depois explicar ao povo com calma que vamos no caminho certo, que a Europa é um aconchego de futuro, que temos de dar todos as mãos e fazer um caminhar consciente e responsável, que uns têm de ser poupadinhos para os que são mais inteligentes possam gastar o dinheiro nas coisas certas, que devemos seguir o exemplo dos outros que vivem numa sociedade de bem-estar e bem-fazer, e...



- Espera, espera, espera, tu queres é que eu te venda ganza. Olha que isto é uma casa séria!
Pergunta indiscreta

mas rápida



Que eu faço ao Voz do Deserto

Ele diz: «Os profetas diziam nas praças o que muitos não seriam capazes de segredar no confessionário»

Eu pergunto : Como é que sabes?

Hoje não há gajas inacessíveis

Histórias de desencantar



Sempre desconfiei muito dos artistas que se safam à base de truques. Pensava outra vez naquela rapaziada finória que monta a sua tendinha de farturas encostada à banca dos tirinhos da sorte, para poder sacar todo o tipo de clientela desencantada, e servir-lhes arte tenrinha e às trancinhas.



Um dos que teve de passar nessa venda de rifas foi, por exemplo, o G. Baselitz, que endrominou bem com a famosa inversão de sentido (primeiro andou a apalpar o terreno com umas árvores ao contrário, e depois foi por aí a fora, com miúdas e tudo, o que nem é próprio). O gajito andava já à toa com a fama de banha-da-cobra-seller, quando acaba por se safar por uma unha negra com a colagem à chamada “poética posicional”, desencantada noutro rapaz também muito recomendável que foi o P. Celan. Uma teoria é sempre uma moça amiga que vale a pena ter a jeito, não vá a mulher-a-dias estar com a ciática. Podemos ter de lhe aguentar alguns caprichos é certo, mas depois acaba por desenrascar num aperto. E vejam lá se “poética posicional” não é uma coisa que valha bem ter sempre à mão...



(Deste rapazola, o Celan, eu apenas retenho – mal e não literal – um poemazito em que a “verdade aparece a repassar uma camuflagem que se desfaz em escamas”. Na altura não liguei, mas agora vendo bem até faz sentido, pois muitas vezes só depois duma boa peixeirada é que as coisas se vêm a saber. )



Sigamos (os que quiserem vir claro, ou será prossigamos?). Muitos famosos devem a sua reputação a essas afamadas relações conflituosas entre a expressão e a forma. Sim, porque um artista que se preze ou faz a sua “superação desconstruccionista”, ou então vira aguarelista de fim-de-semana a atrapalhar-se com os matizes do céu.



Kandinski com a sua abstracção talvez seja dos mais famosos a ter engalanado a sua arte com a palhaçada da descoberta. Mas já seria previsível: quando se sai para a abstracção vindo do mundo da cor, sai parolice. (É pá, mas eu já estou a aparvalhar, e a este tipo acho até que já lhe dei mocada a valer aqui no blog por causa das altas baboseiras que ele escreveu; deixo-o agora em paz; bem não deixo: a maior parte das pinturas abstractas do gajo são uma bela merda, e um gajo que diz que «todos os processos são pecado, se não forem justificados pela Necessidade Interior» é uma espécie de fariseu da trincha. Já está)



O Giacometi, com as suas esculturas delgadinhas e esticadinhas, também não o posso deixar a rir-se à minha conta. Ainda para mais acho que o depravado as começava de baixo para cima. O gajo, primeiro era o desespero das empresas de mudanças, porque ao princípio tudo que fazia era tão pequenino que cabia em meia dúzia de caixotes, mas depois quem lhe vai dar uma mãozita extra é aquele outro rapaz arejado, o Sartre. Dizia que a arte deste Gigi era a verdadeira “realidade existencial”. E então foi inevitável: escanzelar passou a ser a palavra de ordem na marcenaria fina. Moral da história: mais um que andou a alimentar o peditório da dita metamorfosis, com maneirismos de bronze e narizes de pinóquio.



(É engraçado como as influências cruzadas dos primitivismos com os surrealismos – que “limparam” mais ou menos toda uma geração – acabaram por condicionar o mecanismo criativo desse pessoal todo, à base de amores e traições, como convém . Por isso é que eu valorizo bem mais a "sofisticação" do que a “basificação”, mas isso já são parvoíces minhas. O surrealismo na pintura é antes de mais uma mera escolinha de desenho.)



Então e o Pollock!(deste não estavam à espera...) a pintar onde o pessoal sério e trabalhador usa o vileda. “Action painting “, pff !?...Essa coisa do dripping ( que nem é original dele, aliás, apesar disso não ser relevante), de regador em riste, sabemos hoje que pouco mais foi que uma pseudo-mijadela expressionista, elevada ao altar de arte informal. Supostamente ao serviço do inconsciente de turno, que afinal não passa dum consciente apenas mais in. No fundo, um consciente para aparecer nas revistas. Tal como a pintura de Pollock. Jeitosa e vistosa, boa mas para marchand se entreter, isso para mim é tinto (se bem que o gajo era mais bourbon).

O meu “deus” é Alechinsky e os outros COBRA’s, e por isso sou muito comichoso, também tenho de confessar.(safa! eu fui mesmo capaz de escrever isto do Pollock!...)



(E é engraçado ver como o Baselitz nos anos 90 até já começa a pintar ao jeito pollockiano: dir-se-ia que, perdido por um, perdido por mil!)



No fundo, no fundo, Sartre afinal até podia ter razão quando dizia que a «existência precede a essência». Estes expedientes de engate estético mostram que a vaselina também precede a terebintina, quando toca a kamasutrar-nos os miolos. Quebrar convenções pode garantir uma memória, mas nem sempre garante uma história de encantar. Não há nada melhor para apreciar uma obra de arte do que tirar-lhe primeiro o encanto.



Nem sempre atar a mão direita para desenhar com a esquerda produz um génio maneirista, e a mim se calhar hoje até deviam era ter-me atado as duas.

Uma das muitas artes que não possuo, é a arte de estar e de ser triste. Fico sempre sem pontinha de encanto, desprezado pelas deusas da estética, e rodeado de “ai credos”. Se calhar devia ter fechado definitivamente esta loja, mas o novo dicionário não ilustrado ainda acabou por me trazer – arrastado – para os sinais exteriores de tristeza. Hoje, isto nem é d’ homem.



A Tristeza – Grande caloteira quando toca a pagar dívidas e, agora descubro, péssima esfregona quando há que apagar dúvidas.



Lágrima ao canto do olho – Esguicho tímido dum canal que, cheio de vergonha, nem irriga em condições, nem nos despeja o esgoto da alma.



Olhos molhados – Estéril lubrificação, que na viscosidade que alimenta, só produz desfocagem e turvamentos. A visão torna-se pantanosa, e a sua drenagem faz-se directamente para o aterro da freguesia da desesperança.



Aperto no peito – Sintoma que, apesar de termos o consolo de não ser enfarte, temos o desconsolo de não passar com nenhum comprimidinho debaixo da língua.



Nó na garganta – Quando as amígdalas se roçam desavergonhadamente umas nas outras, e nem respirar se consegue em tamanho bacanal de inchaços, resta-nos a secura dum reles engolir.



Falta de palavras – Como seremos sempre adolescentes na tristeza, enlutamos constantemente alegres sentimentos, e o léxico fica anestesiado à base de epidurais produzidas com ramela de marca branca.



Tapar a cara – As mãos a encortinarem o rosto, é a melhor decoração quando as vistas só dão para um fardo de resíduos desgostosos.



Morder o lábio – Será sempre o sítio mais a jeito para trincar, desde que a língua se mantenha séria e recatada.



Espasmos de “mas porquê?” – Quando os músculos da alma não estavam preparados para os esticões do inesperado, nem para os saltos da incredulidade; não poucas vezes nos enganamos com emplastros palavrosos.



Olhar vazio – Quando um ponto algures no infinito de turno, é o melhor cantinho onde podemos repousar uma visão que já nada quer ver.



Tremer do queixo – Ao ritmo dessa compressora de sentimentos, deixamos a flacidez da face entregue nas mãos de uma broca estúpida e insolente, que desfaz a pintura e só fura onde não se quer pendurar nenhum quadro



e...



A lição – Mas depois, quando reparamos que há alguém muito mais forte que nós, muito mais inteligente e muito mais nobre, inevitavelmente a nossa tristeza terá de passar. É que a pior tristeza é a que faz de acólita à despedida. Ou de dama de honor, que segura no manto da falsa virgem da resignação



E gostava de poder dizer – enquanto se pode utilizar a expressão, claro! – que a tristeza “não vale um caracol”; a não ser que sejam guisados, e os ponhamos num folhado meio encruado, e embebido em molho esverdeado e morno a lembrar as cores do Sporting quando foi campeão. Bebe-se bem com um branco do norte da Borgonha. Hoje para tinto basta-me o sangue. Merda.
Abrilada em flor

O MFA que me desculpe, mas é assim que eu vejo a coisa

Miúdas, bola e dentes.



Quando se deu o 25 de Abril de 74 eu era um puto que andava no Liceu Pedro Nunes. Revolucionei à molhada entre os cocktails molotov e as fugas pelo cemitério dos ingleses. Com os chaimites à porta e os pides a rebolarem pela escadaria. Havia porrada. Dei mais do que levei, claro. Um gajo se não tem no passado uma juventude rebelde e dominadora é uma merda. Ah! e apareceram as gajas. Mas porra, elas já na altura sabiam mais que nós. O que eu tive de dissimular a fingir que já sabia tudo! (penso que para elas os problemas nem eram bem a revolução, nem a evolução, mas sim a ovulação, pela idade que tinham na altura...)



A vida ia deixando de ser só o “jardim-cinema”. Mas até foi a descer a Pedro Alvares Cabral, ali ainda antes de chegar à sede do MRPP - é verdade ó Plancha pá o que é feito de ti e do teu caderninho pautado ? – quando uma gajita me explicou como é que se dava um beijo na boca. Mas dos bons! Porra, mas quando eu fui contar aos outros, os sacanas já sabiam. Tive de dizer que tinha mesmo dado um ou dois, acho que disse dois. Tanga. A miúda tinha mais um palmo que eu, e nem sequer dignou baixar-se. As tipas só saíam com os do 5º ano. E eu apenas tinha ido com ela porque a mãe estava na esquina da R. de S. Bento à espera da filhinha. Fingi que ia para aqueles lados. Tanga. Eu ia mas era para a Infante Santo.

E depois foi ali num canto ao pé da secretaria, do lado direito de quem desce, onde me lembro de ter ouvido falar pela primeira vez dumas coisas que se podia fazer com as miúdas. Fiz um ar enjoado e distante, mas acho que eles pensaram que eu já fazia daquilo nas calmas e em grande. Tanga. Depois tive de ir perguntar tudo ao Xico, que até já tinha mesmo estado a sério com uma miúda, e tinha visto – e feito! - tudo ao natural. O cabrão. E com uma inglesa ainda para mais. Lá em cima os gajos do MRPP diziam que preparavam as RGA’s na sala Ribeiro dos Santos, mas o resto do pessoal desconfiava, porque as miúdas giras deles não se entretinham nada a colar cartazes. Iam era ver-lhes as mamas pelo que constava. Mas eu não acredito. Havia até uma que ia comigo às vezes no autocarro e não tinha mamas nenhumas que eu sei bem, apesar de nunca ter tido lata para lhe perguntar porque o irmão era do 6º ano. Tanga. Eu tinha era medo de levar uma chapadona dela logo ali, porque a gaja tinha a mania que era bera.

Bem, mas eu tenho outra coisa que me “marcou” muito. Como nunca havia aulas, passávamos o dia jogar à bola no ringue lá em cima, não sei se estão a ver, depois de passar o “metro-mijo”, e porra, dei uma queda do caraças e parti os dentes. Claro, fiquei lixado. Então não é que estava a dar um pontapé de moinho e ia marcar um golo “do caraças”. Lá fui um bocado à rasca para a farmácia, ali à esquerda de quem saia pelo portão grande. Mas ainda houve uns sacanas que ficaram a rosnar «bem feita», porque diziam que eu só estava “à mama”. Rancorosos de merda, tinham era inveja por eu ser o melhor marcador, e sabia fazer muita bem aquela finta que agora dizem que foi o Zidane que inventou. Então e não é que a estúpida da farmácia me perguntou se eu tinha apanhado os bocados dos dentes! A velha era parva ou quê? Então eu tinha acabado de falhar um pontapé de moinho com as miúdas todas a ver, e agora ainda me punha de cócoras a apanhar os bocadinhos do marfim!? Houve uma que me fez uma festa carinhosa na franja, lembro-me, mas era das feias, e eu, tenho agora que confessar, só queria mesmo era que a minha mãe aparecesse rápido e me levasse para casa.

Mas porra, tinha de haver uma revolução só para eu saber como é que se apalpava umas gajas, e ter passado a merda das tardes no dentista.
Acompanhei com certo tédio a ênfase dada a algumas tiradas pós-escleróticas do tal livro “Impasses” que, se Deus nosso Senhor me proteger em condições, nunca lhe porei os olhinhos em cima. Para indecisões já me bastam as saídas à noite da minha filha. Para delicadezas já me bastam os sermões da minha mulher (ups!...). Para evidências já me bastam os estragos do meu filho. No fundo eu sou uma pessoa muito caseira. Só que não gramo é pudins instantâneos disfarçados de doces conventuais. Nem fritadas que tresandam a previsibilidade. Exaustor ligado no novo dicionário não ilustrado para as entradas nºs 632 a 641.



“Não ter provas” – Estado da natureza em que o argumento perde a piada e fica ao mesmo nível da verdade, se bem que vestindo das melhores marcas. Mas como agora parece que não se tem provas de nada, acabamos por ter de viver todos no bom estilo “À Pai Adão”. Uma boa parra às vezes vale mais que um fraldário de banalidades descartáveis



“Análise” – Termo a pedir divã, só que geralmente se perde nos bordados da fina colchoaria que o cobre. A “indigência intelectual” é afinal a salvação de quem nada sabe desse ponto cruz.



“Insulto” – Verdadeira prova de que o “humanamente insuportável” apenas se aguenta, porque pensamos alegremente que há toneladas de malandros muito piores que nós e que precisam de ser devidamente postos no lugar.



“Desqualificação prévia do adversário” – Mais que óbvio imperativo da eficácia. De que vale termos as boas razões se depois perdemos no campeonato da fotogenia. Provar que o “parceiro” é um canastrão é meio caminho para termos razão, e para que o diafragma da verdade se nos abra de peito feito.



“Convicção própria” – Não vale um caracol. Se o valor das nossas ideias devesse alguma coisa às nossas convicções, passávamos os dias a passeá-las com trela curta, a dar-lhes banhinho, e a limpar-lhe as carraças.



“Argumentos de peso” – Aqueles que ajudam a descer às profundezas, mas dos quais nos temos de desfazer rapidamente se quisermos vir respirar à superfície. E as sereias não se interessam por mergulhadores muito ataviados.



“Velhas formas de discussão” – Aquelas onde "arrear" já se sabia que era um elemento com que se tinha de contar. A masculinidade – ou será machililinidade ? – do fenómeno, mais não fazia que erradicar os riscos da sodomia da razão.



“A verdade que nos é dado presenciar” – Mal sabem que a verdade é uma gaja discreta, não se encontra em qualquer esquina, e muito menos dorme com gajos que pensam muito. Geralmente esses tipos esquecem-se da carteira em casa, porque julgam que fornicam fiado.



“Boa-fé” – Estado da natureza em que a prepotência duma qualquer flatulência mental se vende como propano de rica e fina combustão



“Má fé” – Estado da natureza em que não há combustão que não seja logo acusada de fogo posto. Poucos percebem que o “estado de fé” é uma apólice de seguro que, vai-se a ver, cobre muito poucos riscos.
Flechas de sorte

Isto:

"O amor existe. Já aquela noção de que o amor pode «salvar-nos» nunca me convenceu minimamente. O amor não nos salva de coisíssima nenhuma. Pelo contrário, é a nós, pequenitos, inconsequentes, quotidianos, e demasiado inteligentes, que compete salvar o amor.

E, sendo assim, amor, temo por ti, a sério que temo. “ in Seta despedida



É terrível não querer acreditar numa coisa e não conseguir.
Apenas desenrebanhando num desperdício de palavras

Mas elas nem sequer são um recurso escasso



Admito que detesto livros. Não me encanta nada essa coisa de desfolhar, de andar atrás do que paira escrevenhado. De arregalar os olhos onde outros despejaram as suas conjuntivites verbais. Chegam a estontear-me, tenho de confessar.

Que valerá essa coisa que terá certamente um sabor empapelado? O que valerá esse horrível cheirinho tipográfico, que foi sugado aos corantes roubados às florinhas que ornamentavam os prados. Que valerá essa coisa que só vive se for esfregada com os dedos, ou adocicada pela imaginação.



É uma sensaboria ter de ler uma papelada encadernada e que nunca se esgota numa só folhagem. Ter de juntar mentalmente palavras, que andam sôfrega, funcionária, e arrastadamente a prestar vassalagem a uma pasta desresinada e poluente! De origem malcheirosa, e nascidos da decadência dum tronco!

Que idolatria mais balofa, essa que adora uns folhados insonsos e corrompidos por um padeiro que se imola ao sacrifício dos direitos de autor. Mas que religião sem dono, a que enche os altares dessa bafienta santaria. Infelizes dos que espirram laudes na poeira desse incenso fibroso.

Mas que sedução bolorenta; até o pipi, que lá se ia arrastando na alavanca palavrosa da sexualidade explícita, deixou a sua nhanha pseudo-delinquente fundir-se nesse mata-borrão celuloso.



Felizmente nunca entrei em nenhuma livraria. Acocorar-me na busca dum lombo de cartolina! Babar-me nas prateleiras que vivem dum tanso encavalitanço de papelaria fina! Enfeirar-me numa tenda de farturas encadernadas, mal amanhadas, e que nem trazem um besunto em condições para nos lambuzarmos! Livrarias!!! Mas que raio de possidonice é essa onde todos se tratam pelo nome, como se tivessem feito a tropa juntos, ou tivessem concorrido na mesma equipa das olimpíadas do tricot. Mas que raio de raça de loja é essa!? Que pulgas lá serão catadas, para que tanta gente se coce à volta duns títulos que muitas vezes nem serviriam para ajudar a vender cervejolas frescas num final de dia abafado.

Parecem sacristias, com os acólitos a fazer festas à paramentaria plastificada, com os meninos do coro a decorar as letrinhas à pressa para não desafinar na liturgia cantada e encomendada, e com as velhas beatas a adornarem o olhar para enternecerem o cura.



Livra! Felizmente isto não tem aquela caixa de esmolas dos comentários...

...e se calhar estou a dar cabo do tratamento...
Labirintos com ratoeira

Mas um gajo vai-se desenrascando



Eu lá tinha ido dar uma volta à terra onde uma Santa Senhora apareceu a uns pastorinhos em cima duma Azinheira; (por acaso cheguei a pensar que se eles se estivessem a portar da forma selvática como um dos meus filhos foi brindando toda a pequena multidão penitente, a Senhora de branco talvez tivesse pensado duas vezes em abençoar aquele povoado, e teria certamente questionado o seu Filho sobre certos detalhes da redenção, senão mesmo da própria criação)



No entanto, não é este episódio prosaico e irrelevante que me transporta directamente aqui a esta caverna blogspotica. O que aqui me traz, é que estava eu agora a abrir esta máquina-de-escrever-ilustrada, que por acaso até me brinda à entrada com “ A Bela Jardineira “ de Raffaello acompanhada pelo menino Jesus e S. João Baptista, quando o Outlook me escarrapacha com um presente enviado por uma mão amiga com vocação de deusa: a fotografia quase-tipo-passe de Madonna.

Fico assim aqui quietinho, de olhito a brilhar. Ainda com o sabor duma curta viagem peregrinativa. E agora com a imagem daquela mulher que me faz estremecer a parte glandular da alma. Um rosário não tem contas que cheguem para um homem que vive entalado – mas sem esbracejar muito - nestas armadilhas iconoclásticas. As “liberdades afectivas” traçam um risco que apela constantemente a ser pisado; mas que só faz tropeçar se se transformar em “murete”.

É que eu também nem sou daqueles que se escandaliza muito quando vê a imagem da Senhora de Fátima “mano-a-mano” com o emblema do Sporting. Não lhe encontro é nenhum efeito prático.



Para a semana tenho de lá ir outra vez, é certinho. O que é que irão pensar cá em casa?

Hipocondriaquices

Cenas duma vida em ambulatório



Vou seguindo o tratamento da Drª Girassol. Se calhar já sem aquela sofreguidão da primeira vez; Talvez – hoje - já sem aquela pimenta de “mal dizer” que o acompanhou na primeira dose. Mas eu também – está visto - não sou homem de ficar a olhar para as primeiras pedras; sou mais de segundas pedras. Das que já calcam solo mais duro.

Um tratamento, dizem-me, vale pela sua continuidade, pelas tomadas às horas certas, sem interrupções, avaliando sistematicamente os efeitos.

Mas muitas vezes toma-se só por tomar. Até talvez por medo à Srª Drª, que, quem sabe, ainda se aborrece, e pode deixar de me passar as receitas, e lá vou eu outra vez para a bicha da caixa.



Dona "Unhaca"



Uma das figuras de estilo da moda é terminar um textozinho com uma frase curta e seca. Dão até muito boa serventia aquelas frases retiradas de expressões do léxico popular; este artifício de erudita coloquialidade transporta-nos para a imagem do escrevedor como pessoa que tanto navega nas ondas da alta argumentação, como encontra no corriqueiro dia a dia a inspiração donde outros apenas descortinam maleitas, desconsolos e vulgaridades. Os famosos fiéis peregrinos da santa Colunástica usam e abusam deste artifício de fino recorte, pensando que nos derretem com tanto espírito, com tanta delinquência juvenil recalcada e feita-frase-feita. A blogaria segue também com muito esmero este trejeito literário da saison. Pois que desfrutemos. (é pá, agora arranhei-me eu, chiça)



"O jogo da bola"



Perguntaram ao Pinto da Costa se ele se sentia a cara do FCPorto. Ele terá pensado, «anjinhos...sou a cara, o rabo, a espinha, a goela, os tomates e... espera, o nariz não, o nariz é o Mourinho». Empinado claro. Mas de facto é um desaforo que, para serem campeões europeus ainda tenham de jogar a meia-final com uns galegos. Isto já não há respeito por uma equipa que deu tanto ao futebol mundial.

Cá a lagartada, vocacionada que está para vias-sacras, já contratou o Mel Gibson para a próxima festa do título. É que nos nossos evangelhos, os Santos vêm primeiro e a ressurreição é só uns anos depois.



"Gajas inacessíveis"

...mas desiconoclastadas



Hoje ocorria-me falar de jogadoras de ténis. Mas assim de repente deu-me uma saudadezeca da Marie Elisabeth Mastrantonio (estará bem escrito?). Não consegui continuar sem falar desta “miúda” de quem já ninguém fala. Já ninguém se lembra do que ela se esfalfou no fundo dos mares, já ninguém se lembra dela cândida nas florestas de Nottingham. Uma verdadeira mulher inacessível, mas desenhada para ser acessível. Daquelas em que um beijo carnudo e sorvido no esgar dum deleite mais parece um beijo na testa. Daquelas que eu nunca poderia desejar, porque aos seus pés seria sempre um “bambino della lacrima”. As coisas que um gajo diz para sacar audiências. Ele há tratamentos lixados.



"In-out esquerda direita"



Na semana passada constatei que tinha alguma inveja de não ser de esquerda, porque para esta cada desvalido era uma mais-valia, e isso dava um descanso que não podia ser desprezável. E ser de direita também deve dar muito mais canseira. É que estar sempre a saltar entre a asneira dum balofo, previsível e não-há-pachorra teorizado conservadorismo, e um aleluia já-te-atendo, “coça-me a mim que eu coço-te a ti” liberalismo, deve pôr esta rapaziada com os bofes de fora.

É engraçado ver como os “valores” de esquerda acabam por ser mais achatados – a igualdade a isso obriga (e por isso o bloco de esquerda prestará sempre uns servicinhos involuntários ao PS); e os valores de direita são mais distendidos – a liberdade a isso obriga (e por isso o CDS retirará sempre votos ao PSD)

Mas isso de valores é o quê, ao certo?





"Links para os ilustres", ou não (meio comprimido)

Palavras que me ficaram mal traçadas



Se há conceito com o qual eu não me confronto bem é com o da timidez. Procurando ir aliviar dessa confrontação, descobri noutro dia que existe um sinónimo que é “semetidinho”. Não me aliviou nada sabê-lo. Se haverá palavra que me rodopiará tormentosamente o espírito será esta parola corruptela de diminutivo (?) de submetido. Não interessará agora se sou tímido ou não. Mas “semetidinho” nunca!!! São tramadas estas palavras que podem destruir o conceito que uma pessoa levou anos a elaborar sobre si próprio. Mas o blog que me atirou a timidez ao “focinho” (espero que isto em brasileiro não tenha nenhum sentido “mal traçado”) tem uma escrita deliciosa, e eu não podia deixar de dizer: miúda – tchi cuida tá! E a escreveres assim, o Ruben Fonseca que se cuide também...( tjímido, eu heim...)



"Links para os ilustres", ou não (a outra metade)

Ele há gajos do caneco



Mas apetecia-me gozar um bocadito com o dicionário do diabo, confesso. Estou aqui a roer-me todo...Mas o tipo tem uma virtude que eu tenho de reconhecer: gosta de dar o flanco. Arrisca e põe-se a jeito. Mesmo à herói lírico. Promete que vai falar daquilo e daqueloutro, que recebeu um email assim e assado, que depois conta tudo, que se vai embora mas que se fica, que é castrado ou desastrado ou desamestrado – tudo figuras como sabemos de belo efeito, que deixam as moças nervosas (desta boca se calhar não me vou recompor tão cedo) e inquietas, e os outros poetas desiludidos por não se terem lembrado disso antes.

Já não bastava o Prado Coelho lhe ter montado uma oração laudatória, que agora, tudo que é miúda gira lhe desatou a mandar a fotografia. Meu Deus, em que é que eu errei. Com que métrica de merda é que eu borrei o encantamento da minha alma. Que estranha cegueira provocam as minhas metáforas. A que reles desinteresse estão votadas as minha manhas! Eduardinho, diz qualquer coisa pá ! Madonna, manda-me lá a tua foto tipo passe!



"Citaçãozinha"



Olhem...nunca me façam isto, está bem:

Atirou-lhe um beijo para o ar, e deixou-o a mudar a lâmpada na entrada, consternado” de Amos Oz, em “O mesmo mar”.



Nota final:



A Srª drª me desculpe se eu não estou a tomar isto em condições. Mas eu também já me baralho com tanta droga, apesar de hoje ter engolido mais devagarinho, e se calhar até estou a misturar isto com o tratamento para as varizes.

Eu de facto sinto o disparate a circular com muita facilidade...
Pronto, só para falar de qualquer coisa, assim....pronto...concreta



No chamado “mundo das empresas” é muito frequente, face a uma “indefinição estratégica” – expressão sofisticada também utilizada para substituir o clássico “tudo à nora” - recorrer à figura mítica do consultor estratégico. Todos estão conscientes que a presidir a esta elaboradíssima e ponderadíssima decisão se encontram menos os critérios de eficácia, e bem mais os critérios de relaxe de consciência e de estética de estatuto & decisão. Mas avança-se sempre – haja dinheiro – numa senda de belos almoços e deliciosas reuniões cujo grau de salamaleques depende do montante da factura a pagar. Este é um circuito de manutenção que se repete várias vezes, como convém para estar sempre em forma, e não sermos sobressaltados com obstáculos inoportunos que resultam nas roturas ou tendinites de percurso.



O Estado, claro está, já descobriu este formato de alívio de consciências há muito tempo, e neste momento será mesmo o grande especialista nesta modalidade de aquecimento e distensão do body building.



Só que agora também foi descoberta uma nova pólvora que artilha em grande estilo: A chamada “reformulação dos modelos de financiamento”. Sempre que há um problema qualquer para o qual não se tem a mínima ideia de como resolver, reduz-se a solução a uma questão de “correcta afectação de recursos ” e de “arquitectura financeira de suporte”.

Confirma-se então: a economia – aquela ciência da metonímia dos recursos - será sempre a calha onde rolarão as carruagens quando o maquinista é preguiçoso, ou estúpido, ou sem imaginação, ou apenas gosta de ir lendo revistas de gajas nuas, nem sequer desfrutando da paisagem. E ainda têm de ser os outros a mudar o óleo.

Apenas eu, comigo, e amparado pelo próprio



Fico sempre chateado quando escrevo um daqueles textos “que não leva a lado nenhum”, e que ainda para mais apenas se sacode na tolice das palavras. «É pá mas isso são todos». E olha que “os ventos só sopram a favor daqueles que sabem para onde querem ir”, como diz o pessoal da vela (sempre cheio de tiradas profundas)

E olha, também que se lixe. Vou a motor e...



- A tua escrita é cansativa. Espiralada. De circuito fechado

- Redundante, queres dizer

- Sim, e é que nem todas as espirais dão uma boa mola, como sabes.

- Então, faz-te um favor: despreza-me

- Resolves tudo pondo-te numa concha

- O meu sonho é ser bivalve

- Para fazeres de vítima?

- Não, para poder ter duas almas. Mas uma é só para mim.

- Aagh! Mais joguinhos de palavras.

- Cada um brinca com o que pode. E eu nem sequer anseio ser perspectiva.

- És um desperdício de recursos da redenção

- É pá, porra, isso é que eu não admito. Mas serei mesmo?

- Não te preocupes, vivemos nos tempos em que a eficácia e o desperdício se passeiam de braço dado.

Quem se submete ao veredicto dos outros é um cobarde



Quando o próprio não se sustenta a si mesmo é porque está a fazer um frete ao nosso destino de meros "seres de convívio".

Precisar de se deixar avaliar pelos outros para saber se valho algo!? Fazer do gosto alheio a regra e o esquadro da minha parvoíce!? Tudo isto é perder tempo em campeonatos de regra marada, e de eliminatórias falseadas.

Um amor não correspondido é uma bênção para a alma. Um esforço ou um talento que tenha de ser recompensado e reconhecido é um marasmo de reciprocidade.

O novo dicionário não ilustrado hoje está a servir ao balcão shots de autoconfiança com rodelinhas de “arrogância-de-enfeite”; em regime de bar aberto. Dedicado aos bamboleadores da psique alheia, que nos polvilham de ideias enfareladas e précozinhadas sobre como fazer um bom panado de ego.

Podemo-nos dar aos outros sem ser numa bandeja de croquetes. ( entradas 625 a 631 )



“Ir a jogo” – Quando nos deixamos imolar pelo fogo da curiosidade, somos incapazes de ficar a sonhar em que ninguém tem melhores sequências que nós.



“Mostrar o que se vale” – Limitamo-nos a ser meros outorgantes do contrato das aparências, e assim ficamos presos aos limites dos direitos e dos deveres escriturados no papel timbrado das convenções de turno, perdendo a chance de brincar com a roleta dos costumes e da lei.



“Ser sufragado” – Submeter-se a uma contagem de méritos, onde o rebanho se vinga, e passa a ser ele efectivamente quem mais ordenha, invertendo a ordem das coisas, e deixando o pastor apenas a ilusionar-se de que o leitinho possa vir já achocolatado; não está mal para fatalidade, mas é um desconchavo como escolha.



Confrontarmo-nos com o veredicto dos outros – Quando arrastamos a nossa existência como uma dança de salão. Acabamos sempre com um sorriso estúpido colado à cara, e o esforço dispendido, em vez de purgar o espírito, apenas produziu um liquidozinho irritante que nos faz colar a roupa ao corpo enquanto olhamos para o placard das pontuações



“ Dar o corpo ao manifesto” – Quando queremos ver se o bluff da nossa “maquillhagem”, que chamamos pomposamente “genuinidade”, aguenta o calor dos holofotes da maralha, que esfrega as mãos cuspidas de cobiça disfarçada de interesse.



Ir ao mercado – Viver condicionados pelo tamanho do bolso do cliente, e pelo recheio de circunstância que apresente o seu saco gástrico! Só que não se conseguem vender ilusões nem a peregrinos de indigências, nem a padroeiros de obesidades.



“Dar a cara” – Infeliz ridicularia de quem não consegue virar a alma para dentro. Seca a pele, isso é certinho, cria apelos de espelho, isso é automático, fica nas mãos do estrabismo da assistência, isso é trigo limpo.



Agora é só ir de joelhos a Fátima e fica tudo como dantes. Tenho é de tomar duches de humildade e bom senso prai de 100 em 100 metros.
Apenas tratando dos canteiros do quintal. Sempre varrendo para o quintal do vizinho.



“ E como pessimista e filósofo nebuloso o arrumaram, ele que é a própria imagem da vida activa, da juventude, do inconformismo, da provocação, da coragem – qualidades incómodas – que é preferível deixar no esquecimento por troca com o poeta amargurado, que ele também foi, mas inofensivo, um entre tantos, neste pais de poetas, com um lugarzinho garantido nos compêndios escolares e na cultura geral” de Ana Maria Almeida Martins no prefácio aos Sonetos de Antero de Quental.



O sonho de alguns escrevedores de profissão é serem catalogados numa das duas extremidades da fama: Ou “visionário-acutilantes”, ou “lírico-decadentes”.



E a poesia é muitas vezes um mero refúgio ou estratagema. Disfarçada de encantamento. Balelas que, a maior parte das vezes, nem sequer ocupam a largura da folha, quanto mais a largura da alma. Quanto mais envenenarem o mundo.



Às vezes só mesmo uma "informed guess"- “person” me pode ajudar a “superar” das majoretes de metáforas e dos O’Neils de pandeireta.



Mas digam lá se não gostavam de ter escrito “isto” ao raiar da manhã:



O que trazes ao mundo em cada aurora?

O sentimento só, só a consciência

Duma eterna, incurável impotência,

Do saciável desejo que o devora

....

E é esse aroma lânguido, e profundo,

Feito de seduções vagas, magnéticas,

De ardor carnal e de atracções poéticas,

É esse aroma que envenena o mundo




A. de Q. sonetos ( excertos do Hino da manhã)



Estou a precisar é doutra Quaresma rápido. Esta parece que passou ao lado.
Quando os outros fazem melhor, um tipo deve é estar calado, mas....



Nas últimas entradas do dicionário reparo que me esqueci do “voto de qualidade” , mas reparo também que o Manuel Jorge Marmelo o “ilustrou” muito melhor que eu ( como seria de esperar, aliás).

Se bem que eu talvez metesse a minha colherada naquela conversa de miúdos...É que a “vida de infância” é um must da ascética cristã.

Todos nos sentimos bem junto ao lugar comum de que a “verdade está na inocência das crianças”, mas poucos se dão ao luxo de experimentar essas "loucas" paragens. A sociedade tributa em excesso tais sinais exteriores de riqueza.

Se Deus tivesse sufragado o seu povo para decidir se haveria de morrer por nós ou não, julgo que o abstencionismo teria tomado conta das hostes. A morte de Deus não seria de todo um assunto que influísse na nossa vidinha, a ponte da Páscoa não se podia desperdiçar ao sabor dos caprichos dum criador indeciso e titubeante, e Ele que se amanhasse sozinho, pois por isso é que era Deus.

Mas claro que se criariam logo as inevitáveis ondas do “sim” e do “não”. A sempre empolgante e esclarecida clivagem dos grandes básicos.

Uns defenderiam que “sim”, que deveria morrer, porque também tinha de suar as estopinhas e carpir como todos; outros – o do “não” – argumentariam que a Deus já lhe bastava existir e zelar por nós, que não se devia desgastar noutras canseiras desnecessárias. Mas...não... não vou continuar com esta converseta de chacha. Vou-me guardar para mais tarde, para quando tiver de ocupar os tempos mortos entre as análises à próstata e ao colestrol.

É que o meu sonho de xéxézice é que venham a confundir a minha espessa incontinência com mayonnaise caseira, da fresca, feita na hora.

Hoje o novo dicionário não ilustrado vai ficar de varinha mágica em riste treinando-se apenas a misturar ovos com azeite. (bem, confesso, tive de acrescentar uns dentinhos de alho - entradas 611 a 624)



Voto em branco – Apenas o corolário lógico duma estranha cegueira branca mal ensaiada.



Voto nulo – Quando uma folha de papel pode fazer as vezes duma montra Cartier



Voto de castidade – Apostar em não fornicar na esperança de não ser fornicado.



Voto expresso – Aquele que não se contenta em ser um reles café de encher o saco das presunções de legitimidade. (o trocadilho é admissível nas entradas de fim de semana) Até porque os eleitos em votações implícitas acabam sempre por sufocar nas borras da dúvida.



Voto universal – Quando ao vermos todos fazerem o mesmo nos cria a ilusão de que todos valemos o mesmo.



Voto secreto – O que nos faz sentir importantes sem precisarmos de nos pôr em bicos dos pés



Voto de braço no ar – O consolo de quem não tem graveto para os leilões da moda. De qualquer forma convém ver se não lhe atribuem um número à entrada.



Voto directo – Aquele que aponta para o buraco, mal sabendo que vai passar o tempo a brincar às três tabelas.



Voto “mama” – Aquela ligeira protuberância do boletim (americano) que não chegou a furar, e que pôs Bush na presidência e alGore a dar conferências, acaba por ser uma interessante alternativa para os chamados indecisos: picam o boletim, mas não até ao fim, e deixam sempre a decisão para a rapaziada das contagens



Votos de felicidade – Os que sabem sempre bem, não precisam de ser muito mastigados, lambuzam-nos de fugacidade, não servem para nada, mas lembram-nos que fomos “eleitos” para uma coisa qualquer.



Voto por correspondência – Quando a ranhura do nosso amor vive numa urna distante (esta foi só para dar uma nota erótica a esta coisa)



Votar (abster-se de) – A displicente indiferença feita ideologia. Dos que não se importam de beber uma meia-de-leite mesmo sabendo que ele foi mugido por mãos alheias.



Voto útil – O que nos transporta, qual tapete voador, para as encostas com as melhores vistas, enquanto o resto do pessoal fica a coleccionar postais ilustrados



Voto de veto – Uma espécie de voto beicinho, até porque um amuo também tem direito à sua dignidade

A neura de mão em mão

à deriva nas nervuras duma sina



O que diria um psicoterapeuta :

- está aí a desenvolver-se um mecanismo pré-depressivo



O que se diria no meio dumas cervejolas:

– Foda-se, sirvam mais uma caneca àquele gajo



Picasso diria:

- Tens de ver ao mesmo tempo as várias faces do problema



O que diria a revista xis:

- Reconcilia-te contigo e com o teu mundo



O que diria a mãezinha:

– Tu tens-te alimentado mal filho



O que diria Camões:

“Que dias há que na alma me tem posto

Um não sei quê, que nasce não sei onde,

Vem não sei como, e dói não sei porquê”




O que diria uma filha:

– Bem talvez não seja o melhor momento de lhe pedir para...



Ivan Gontcharov poria o seu Oblomov a dizer:

- Isto agora passava era com uma boa soneca



O que diria uma secretária:

– O Sr Dr quer que lhe vá buscar alguma coisa



O que diria uma gaja qualquer, num bar qualquer, num hotel qualquer, dum país qualquer :

- Então os negócios não lhe correram bem, deixe lá...Mas eu já cá o tinha visto com melhor cara...



O L. Wittgenstein diria:

- “Toda a dedução ocorre à priori” . As neuras podem cancelar-se mutuamente. Não fazem parte do mundo, mas são o limite do mundo.



Scolari diria:

- Uma pessoa está sempre em construção. Só no final seremos avaliados



Um advogado avesso a litigâncias e adorador de fees, entre duas audiências diria:

- Podemos tentar o acordo noutro dia



A mulher-a-dias diria:

- Eu hoje posso não aspirar no escritório...



O que diria F. Pessoa:

- Bem esse gajo disse tanta coisa, que atascava o servidor do Blogger



Jesus diria:

- Faça-se segundo a Tua vontade
Ecce homo. Versão light

Meio-calimero style. P’ra desenjoar.



Agora constato que não gosto de revistas de automóveis. Se estou para comprar um carro ainda vá lá, mas ora bolas para que é que eu quero ver o que faz um Ferrari se não vou comprar nenhum. É como apreciar um quadro, dizem-me. Se calhar têm razão, mas eu, pelo sim pelo não, mando-os sempre “àquela parte”, para não alimentar mais conversas.



Passa-se o mesmo com a poesia amorosa escrita por mulheres. Eu transtorno-me com aquilo. Para quê ficar ali extasiado, se não era em mim que elas estavam a pensar. Não é dos meus lábios que falam, não é do meu suspiro, não é do meu abraço, não é do meu olhar, não é do meu enlevo, nem é do que eu arrebato nem do que eu assolapo, nada daquilo sou eu! Só me vai criar neuras, ou invejas desmedidas, ou estéreis desfalques d’alma.



Se for um poeta-homem a falar da sua mulher amada, isso eu vou ainda gerindo na boa. Aliás, até alivio um pouco “reinando” à socapa: «Siiiim, está bem filho, sim sim, pois pois, mas se te esqueceres da data do casamento, ou não lhe deres a mãozinha no cinema, já vais ver o tamanho do beicinho que te fazem as rimas».



Agora uma mulher a escrever aquelas coisas! Isso é que eu não aguento. Porque há sempre a possibilidade daquilo ser mesmo verdade. Há sempre a possibilidade de haver um “sacana-dum-cabrão” que produza mesmo aqueles sentimentos; e eu não suporto a ideia de que haja homens que alavanquem aquelas emoções e eu não seja um deles. No fundo tenho medo de me ver confrontado com a triste confirmação de que sou mesmo uma grande sensaboria-desenxabida. Façam-me então um favor queridas poetisas: escrevam, mas escrevam antes sobre a natureza, ‘ tá bem.



Se calhar vou mas é fazer um spin of de ego, despacho-me duns activos supérfluos e rentabilizo o que é bom. Sim, porque se há quem “tome firme” a Mediacapital, tomam firme qualquer coisa.



Bem, e para aliviar vou a uma récita do Sebastião da Gama ( chiça...)

......

É pá!... qué isto que eu estou a ouvir cantar cá em casa...



“A fuego lento tu mirada

A fuego lento tu o nada

Vamos tramando esta locura

Com tu fuerza de los vientos

Y el calor de la ternura”




Ah ! é o rádio da minha filha.

Ainda encolhido na tenda



Por uma inspiração muito especial lembrei-me de que todos afinal acabamos por ter uma Nadia Comaneci dentro de nós. Ilusionei com as coreografias do trapezismo voador da política e da vida. Só que no acolchoado tapete da minha alma comezinha. Procurando fugir duma mera faena de palavras que se soltaram dos “ferros” falhados, mas sem saber se consegue, o novo dicionário não ilustrado esta semana arranca de trampolim.

Fazendo suar a política e a vida, que no fundo, e por muito que nos custe, se acabam por lavar na mesma barrela.( nas entradas 603 a 610)





Políticos em “espargata” – Forçam o músculo afastando até ao limite as extremidades, deixando o centro muito exposto e em risco de rasgamento, mas com a consolação de ficar tudo a olhar para eles a ver o que acontece. Aliviar é sempre a posição que se segue.



Vidas em “mortal encarpado” – Quando se quer deslumbrar, muitas vezes apalpamos primeiro o terreno numa geometria controlada e angulosa, porque não gostamos de esgotar todos os cartuxos na primeira caçada em campo aberto. É o compromisso entre o efeito suficiente e o risco necessário.



Viver a “fazer a ponte” – O equilíbrio é uma posição forçada, eventualmente bela, mas sempre de cansativa sustentação. Vende bem porque é muito protegida pelas figuras “obrigatórias”



Viver a “fazer o pino” – Ver tudo ao contrário é uma frágil sedução da nossa condição. Demonstra que o aspecto é, muitas vezes, é uma simples ilusão de posição. E inverter o sentido das coisas não raramente é uma mera táctica medrosa de aproximação, disfarçada da viciosa originalidade.



Políticos de “triplo mortal à retaguarda” – Quando querem deslumbrar pela exuberância e espectacularidade, muitas vezes vão para o lado em que todos menos esperam para que, se correr algo mal, terem sempre desculpa e, eventualmente, a canja ou os pachos quentes da mãezinha.



Vidas em “ flic-flac “ – Quando andamos pela vida tocando nas coisas apenas fugazmente, temos sempre de ir arqueando de impulso para não ficarmos espalhados ao comprido e de peitaça virada para o criador. O rabito, vá lá, está sempre protegido.



Políticos de “dupla pirueta” – Aqueles que pretendem ver o mundo todo duma só assentada e rodada, acabam por ter de se fixar num só um ponto para não marearem. Por isso é que muitos se especializam em pares para terem sempre onde se agarrar.



Vidas de “Mortal esticado” – Quando não nos contentamos com uma acrobacia simples, e precisamos também de ir ocupar o espaço dos outros, fazendo-os sentir que éramos nós que lá devíamos estar.



E acabo pensando que estar “política” ou “vida” tanto dava.

Delírios. Mas não tremens. Espero.



Recebi noutro dia uma receita para engorda do sitemeter. Quem mo enviou não gosta de nomes, e por isso fica aqui registada como Dra Girassol. Na sua especial perspicácia e saber desfiou-me o rol de drageias a tomar. Comecei hoje o tratamento em sua especial consideração.

Numa exposição quase pornográfica de tempo abusado, inutilizado e desperdiçado, aqui vai a dose de cavalo:



"Muita unhaca" – Dizer mal por sistema é um registo que tem tendência para esgotar, principalmente se abusarmos dele. Hoje, no entanto vou arriscar em fazê-lo com um blog de que gosto, e que ainda para mais é dos blogs mais consensuais e apreciados, segundo me dá a parecer. Dizer mal do que se gosta é um arriscado - e até eventualmente perturbante - exercício, mas vou fazer isso porque o Avatares tem esse talento de ir aí por fora à busca dos recônditos buracos do desejo e não o deve desbaratar. Só que ultimamente tem-se perdido um bocadinho em descodificações de fancaria, parece que escolheu a secretária dum criptógrafo, quando podia perfeitamente andar por aí a fazer de “espião-duplo”, endrominando-nos mas é a todos. Bruno, tu não precisas de te “vender” ao estilo “produções-fictícias-do-antropologismo-erotificado”. Tu vais muito mais longe. Por exemplo, para aliviares da hermenêutica do piropo, podias “vadiar” sobre a “pinocada” que dão o Jude Law e a Rachel Weisz na camarata, com os outros soldados a dormirem ao lado, durante o cerco a Estalinegrado pelos Nazis, no filme “ Inimigo às Portas”. Desculpa Bruno, mas eu tinha hoje de começar o tratamento.



Gajas inacessíveis – Aqui nesta blogaria a roçar a pepineira erótico-depressiva, agora parece que já ninguém gosta daquelas miúdas de beleza exuberante e explícita, que raio! Daquelas que têm o explendor plasmado no corpo. Agora tudo se entretém com belezas simuladas, ou saídas da pecaminosa adolescência ou enclausuradas no fantasmagórico conceito de interessante. Até há decálogos paridos ao ritmo da baba pseudo-poética que não chegou a ser saliva. Porra, mas agora já ninguém fala das gajas meramente “boas”, “ordinárias”, e assumidamente provocantes! Ninguém suspira para que a Madonna o adormeça com uma canção de embalar. Ninguém recorda a Kim Bassinguer lambuzada. Volta Cláudia, estás perdoada;eu já enjoei de subtilezas.



"Futebol, sempre duas vezes por semana" – Aqui reside um problema base. Sou lagarto. E como não gosto de alimentar mecanismos maníaco-depressivos, estou perante o grave problema de tentar explicar como é que uma equipa com mais atacantes do que agora há porco preto em herdade alentejana, não marca a merda de um golo!!! Eu até ao ano passado ainda tinha uma saída boa para quem me chateava: dizia que o meu filho mais novo, agora com quatro anos, tinha passado a maior parte da vida dele com o Sporting campeão. Este ano não estou a arranjar nem um algoritmo manhoso e aldrabado que me safe as estatísticas.



"in-out" entre esquerda e direita – Eu tenho de confessar que adoraria ser de esquerda. Veria em cada oprimido uma vantagem competitiva, veria em cada explorador uma encarnação de Satanás, veria em cada desigualdade uma prova científica, poderia dizer que estamos numa “deriva liberal e securitária” sem me desmanchar a rir e sem pôr toda a gente a rir ao lado, poderia fazer anedotas sobre pobrezinhos sem me levarem a mal, poderia ser amigo das vítimas da sociedade sem desconfiarem que estava feito com os agressores, poderia recitar poesia sem pensarem que só queria direitos de autor. No fundo, se calhar até poderia ser também de direita sem ninguém recriminar.



"Link prós ilustes" – E eu agora reparo que há muito tempo não me meto com o Abrupto. E coitado, noutro dia a Mme Constança C&Sá no Independente arrasou-o, coitadinho, insinuando que ele representava o «equívoco cultural português». E depois disse que as reflexões dele eram das que «todos nós temos quando vamos fazer à cozinha fazer um sumo de laranja».

Ora também gostava de saber onde é que ela então arranja as ideias para os seus artigozinhos de opinião...Fará retiros espirituais? Conhecerá alguma posição do yoga que nos será inatingível? Suspenderá a mente no estendal da roupa? Será elo permanente dalguma corrente espírita? Adormecerá em cima da enciclopédia Britânica? Evacuará em trono sapiencial ? Fuma ganza? Passa a ferro num piano de cauda ? Ou será que o micro-ondas dela lhe envia radiações especiais?

Então hoje – até porque a saúde do sitemeter está em primeiro lugar - vou dedicar um pequenino texto ao Abrupto:

Pholeira

Em 3 de Abril de 2004, JPacheco Pereira foi à cozinha fazer um sumo de manga. Tropeçou num poema que Vasco Graça Moura tinha traduzido de véspera. Sentiu aquilo como um bom presságio. A fruta era sumarenta. O diálogo esquerda-direita a partir desse dia poderia tornar-se uma doce fatalidade. Saiu de casa e encontrou Odete Santos. Tinha sido escolhida para nº 3 da lista do PC para o Parlamento Europeu. Foram andar os dois de bicicleta. Ela tropeça num capitalista. JPP olha para ela, e reflecte nas suas memórias: «O poder do dinheiro será sempre um obstáculo à liberdade – isto em Marte nunca aconteceria, aquilo são ciclovias que não acabam»”


E assim começou o êxodo de equívocos culturais para o espaço sideral.



"Citaçãozinha" – Parecia o mais fácil, só que agora não estou a arranjar nenhuma para a situação. Mas como me esqueci desastradamente de saudar a vinda da Primavera, saco estes versitos do W. Blake: ( a condizer com a minha parvoeira ): do "Spring" das “Songs of Innocence”:



"Little Boy

Full of joy;

Little Girl,

Sweet and small;

Cock does crow,

So do you;

Merry voice,

Infant noise,

Merrily, Merrily, to welcome in the year"




Nota final

É pá, mas agora é que reparo... Eu não tenho o tal “contador de visitas”!!! Para quê então este tratamento!? Devo estar a ficar hipocondríaco. Bem se arranjarem qualquecoisinha para as insónias...

Humor muito nublado



Pode ser triste mas é verdade. Nunca me ri com nenhuma comédia grega. Nunca me comovi com nenhuma tragédia grega. Nunca me empolguei com nenhuma epopeia clássica. Não me estico tanto como Baudelaire que diz que «é em “nós” cristãos, que reside o cómico», só que acho de facto que essa "gregalhada" toda bem pode saciar a nossa sede referencial, mas depois sabe a pouco. É como um esquema de abcissas e ordenadas: pode-nos indicar às quantas andamos, mas que raio não nos ensina a derrapar nas curvas, nem a fugir com o carro da valeta aliviando uma sacudidela de traseira.

(A ignorância é atrevidota, também é certo...)

Talvez fosse a falta da televisão que lhes conferia essa sensaboria. Hoje Aristófanes se tivesse acesso à TVI e às entrevistas da MMGuedes, talvez “As Nuvens” fossem diferentes. Arrisco numa mimesis de vão-de-escada.



Soares pai tinha mandado Soares filho à escola socrática do Sousa Tavares. Soares filho seria instruído para resistir aos credores do PS e colocar o partido no Olimpo do poder.



MMGuedes – Ó dr. Soares então mandou o rapaz para a escolinha do MiguelSTavares?



Soares Pai – É que o orfanato do Rato, desde que o beato Guterres o deixou apeado, nunca mais se endireitou, e o meu filho com umas dicas é capaz de vir a dar conta do recato



MMGuedes – Ó Miguel acha que faz do rapaz um líder de futuro?



MSTavares – Porque me chamas, efémera criatura? Não vez que estou a ouvir o relato do FCPorto?



Soares Filho – Eu preferia ter ido para a escola do Santana Lopes ou do MMCarrilho!! As musas lá são muito mais giras!



Soares Pai – Ó Miguelinho salva-me o meu filhinho, senão a Maria diz que sou um pai fracassado, e manda-o para as Doroteias.



MSTavares – Eu vivo com o meu espírito suspenso. Se estivesse junto à terra, o pensamento esvaía-se-me como a seiva dos agriões!! Porque me maçam? Chamem o Rogeiro!



MMGuedes – Ó Miguel, a falares assim o share vai-se-me todo para o Balsemão



Soares Pai – E eu fico arrasado se não deixo uma linhagem republicana e triunfante



Soares Filho – Ó paizinho mas então não era socialista e laico?



Soaes Pai – Filho, tu andas esgotado e nervoso. Até parece que tens aquela doença esponjosa das vacas. Miguel pede-me o que quiseres, juro-te pelos Deuses que te pagarei, mas faz do meu filho um estadista como o Cavaco!



MSTavares – Vinde cá Nuvens, vede esta espécie de gente e vejam se lhe arranjam lugar no coro das ninfas



MMGuedes – É pá estão-me a dizer que já estamos com o share ao nível do canal adois. E já me estão a pedir que meta a velha que foi assaltada na Mamarrosa, ou que tire a alça esquerda da blusa. E a sacana da reportagem da velha acho que está com interferências...



MSTavares – Bem Joãozinho, o que tu tens de fazer é deixares de ir aos banhos quentes porque isso torna os homens cobardes. Tens de reforçar o nervo da tua verve, e não podes continuar a dar sorrisinhos abafados com as asneiras do teu pai



Soares Filho – E como poderei eu respeitar meu pai e manter a sanidade e o pudor público!



MMGuedes – Sim Miguel, ainda estás a baralhar mais o rapaz! E a criar-lhe problemas de consciência. E despacha-te que eu tenho de ir para os “Morangos com açúcar” porque as acções daqui a bocado já estão ao preço da uva mijona

...

Soares Pai – Então! Então o que é isto João, levantas a mão a teu pai?



Soares Filho – Sim! E vou-lhe demonstrar que estou a fazer um bem à humanidade e à justiça! Provar-lhe-ei que um enxerto de porrada é a medida mais acertada!



MMGuedes – Hossana! Está a pular o sitemeter – perdão o share – o meu Zé Eduardo diz que até acabou de comprar um Porshe Cayenne



Soares Pai – Por Zeus! Fui eu que te mandei aprender na escola da argumentação do MSTavares, e agora tu vais convencer-me que é justo os filhos arrearem nos pais!!!



MMGuedes – Então mas estás à espera de quê ó maricas! Depois dos anúncios quero ver tudo engalfinhado.



Soares Pai – Como eu estava delirante quando entreguei o meu dilecto filho nas mãos de comentadores sem escrúpulos. Que me aconselhas grande Hermes?



MSTavares – Chiça... estava a ver que os sacanas não marcavam um golito! Aquele Carlos Alberto é muito melhor que o Deco.



MMGuedes – Ó Miguel então isto está aqui a descontrolar-se e o menino está a ouvir o relato. Agradecia que estivesse atento às minhas perguntas



MSTavares – Eu quero lá saber disto. Eu sou independente! Todos os disparates que eu digo aqui não são encomendados por ninguém, fui mesmo eu que me lembrei deles. E agora até vou escrever um best-seller sobre os autarcas de destruição maciça e a costa alentejana e mainada!



Soares Pai – Tragam-me o archote que eu vou tratar desta escolinha de trampa como deve de ser!



MMGuedes – Que estais a fazer homem de paz!



Soares Pai – Vou apenas pôr o fósforo a dialogar subtilmente com a madeirinha envernizada deste estúdio!



MSTavares – Chiça.. e eu que pensava que o meu pai era maluco!



Soares Pai – Sim, mundo perdido, porque andais com falinhas mansas que ofendem os deuses. Porque andais com sondas a cuscar Marte. Porque andais a adocicar monopólios. Porque andais a vender a alma a meninos de coro.



MMGuedes – Bem isto daqui a bocado acaba com tanta audiência como aquela merda do “desfazedor de rebanhos”. Se calhar vou mas é fazer dobragens para o canal.....Odisseia.



E agora reflicto sobre uma inevitabilidade: Quem nunca leu “As Nuvens” do Aristófanes (facto louvável e saudável) provavelmente não entenderá a "lógica", e nem apreciará o "quase-absurdo" que aqui em cima se desenrola; e quem leu também não lhe vai encontrar especial comicidade, precisamente porque o absurdo rasteiro deixou de ter grande encanto.



Porque escrevi isto então? Porque, tal como a antiguidade na tropa, a futilidade e a irrelevância neste blog também são um posto.