Post Estruturado com capital e link garantido, e com rendimento e feeds indexados à taxa de crescimento do PIB na Somália

O conflito entre a bailout e o short selling levam a um regresso tímido do dicionário não ilustrado, com as suas entradas swapadas nos números 3 biliões 1.228 a 3 biliões 1.235 (agora com números abaixo dos 3 bi, ninguém liga nenhuma).

Efeito Dominó – Movimento de registo horizontal que resulta na queda de várias peças, numa sequência envolvente e vistosa, e eventualmente sinuosa, simulando o quanto o mundo tem simultaneamente de tectónico e de lúdico.

Efeito Bolha – Um dos mais clássicos mecanismos de crise que aproveita toda a hidraulicidade da Criação e nos lembra, numa alternativa ginecológica à metáfora da cinza quaresmal, que: duma bolha saímos e numa bolha nos iremos esvair.

Efeito Bola de Neve – Movimento que enfatiza o lado feminino do Planeta, recordando-nos que apesar do recente, e praticamente inquestionável, aquecimento global, nunca saímos da idade do gelo.

Efeito Espiral – É o design industrial aplicado aos grandes movimentos de crise, e permite que um crash possa ser convenientemente preparado, ou seja, se a coisa helicoida para dentro é arranjar um bom ralo, se a coisa helicoida para fora é pôr uma rede à volta. E durante o vaivém podem vender-se bilhetes de montanha russa e acompanhar com farturas.

Efeito Onda – É uma espécie de subprime das crises porque geralmente só apanha quem está à beira mar acampado e a apanhar conquilhas para o jantar; o pessoal informado das marés geralmente já está no restaurante a chupar lagostins e a filmar a rebentação do terraço.

Efeito Borboleta – O mais mítico dos efeitos é hoje relegado para segundo plano pois, nos dias que correm, ainda a borboleta é larva na Nova Zelândia e já o Rui Ramos tem um artigo sobre o tufão da modernidade na penúltima página do Público.
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Efeito Car-jacking – Situação em que um depósito a prazo vai calmamente a entrar no seu período de vencimento e é subitamente abordado por um swap de default que o põe na bagageira dum hedge fund de alta cilindrada

Efeito Beckett – Movimento de cariz visionário que fez Sócrates convencer Chavez a investir maciçamente em manicómios desde que soube que afinal no sistema capitalista não regulam bem.
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Obséquio

Cecille era uma electrona bem posta que trabalhava em microondas numa loja em Genéve. Habituada a viver em ambientes muito magnéticos não havia partícula masculina capaz de lhe exercer uma atracção irresistível, pelo que se mantinha fresca que nem uma electrólise acabadinha de fazer. Mas num daqueles fins de tarde agradáveis à beira do lago, depois de ter comido um gelado com uma amiga que era especialista em torradeiras Phillips – daquelas em que as fatias de pão ficam entaladas na merda dos arames – não lhe saía da cabeça o protão Jacques Philippe que tinha conhecido havia umas semanas no aniversário da sua colega Ófelia, uma electrona portuguesa que trabalhava em aspiradores, pois, dizia-se, tinha elevada capacidade se sucção. Jacques Philippe, que descendia duma linhagem real dado que o seu trisavô tinha estado no próprio Big Bang a combater ao lado do mítico Boson de Higgs, acabara o estágio para pintelho de cronómetros na loja do seu primo Patek, e chegou a acalentar o grande sonho de poder acelerar no novo circuito de LHC, tendo inclusive chegado a conseguir o patrocínio duma casa de ponteiras laser. Infelizmente fora preterido em favor de Louis de Chamounix, um protão ao qual tinha sido diagnosticada hiperactividade desde pequenino e que até já tinha feito o treino em altitude no carril dum funicular dos Alpes. Louis andara meio perdido na vida, e como era muito acelerado dedicara-se inclusive ao roubo de esticão, tendo sido descobertos os seus dotes por um contabilista do CERN alertado pelo grito histérico duma velha electrona alsaciana de férias em Genéve: «agarra que é hadrão!».
Cecille hesitava agora entre a distinção e pedigree de Jacques e a original fogosidade de Louis, cumprindo o clássico dilema feminino: segurança ou aventura; ou seja, no caso: uma vida estável nas suaves e previsíveis ondas electromagnéticas, ou uma vida de ansiedade e emoção sempre a ver se o seu amor se transformava em fogo de artifício iluminando quanticamente a humanidade, ou se escaqueirava todo numa curva mais apertada do magnético acelerador.
Estava Cecille absorta nestes pensamentos quando lhe aparece a sua amiga Ofélia, chorosa: tinha sido alvo de assédio por um buraco negro em expansão. Temerosa, agora, via bandos de quarks por todo o lado a tentarem violá-la. Mas Cecille, enquanto a consolava e a ajudava a recompor-se, nem acredita naquilo que os seus olhos focam: Jacques Philippe passeia-se calma e alegremente com uma Neutrona vistosa e loira, que parecia saída duma sessão de oxigenação de partículas – moda muito em voga desde que Stephen Hawking fez o seu primeiro artigo ilustrado sobre cosmologia inflacionária para a revista Elle. -«Filho duma grandessíssima Protona! E dizia ele que me seria para sempre fiel que nem um protão suíço» desabafou Cecille, espumando radiação. E foi assim que, ao saber-se e sentir-se enganada, Cecille fez uma plástica à base de fermionas, e se tornou na primeira electrona a acelerar nas pistas de Genéve, arrastando a cauda a uma legião de hadrões speedados, tendo ficado conhecida na história da física nuclear como a Bozona de Lemán.

Maçada

Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, José, natural de Maçada, Vilar de, sente agora que já só lhe devem ser colocadas as grandes questões da humanidade. Deve pronunciar-se sobre guerras frias e/ou aquecimentos globais, federalismo europeu e/ou autonomias caucasianas mas, pela vossa rica saúde, não o macem com as miudezas da governação, para isso perguntem ao Silvas, Augusto e Santo, se preferirem com coirato, ou então Cavaco e Aníbal, se preferirem com bolo rei.

Outrora coincinerador compulsivo, hoje estadista e reformador credenciado, depois de nos libertar úteros e pulmões, falem-lhe agora apenas do que realmente importa; Portugal está a ficar uma grande Vilar de Maçada, pontilhada aqui e acolá por casinos, golfes e etares.

O estado deficitava, não era? Ele resolveu; os professores andavam folgados, não andavam? Ele resolveu; o metro afundava-se no Terreiro do Paço, não era? Ele resolveu; ninguém receitava remédios de linha branca, pois não? Ele resolveu; queriam um restaurante com um estrelinha no Michellin, não queriam? Ele arranjou; o pinhal ardia todo, não ardia? Ele resolveu; andava tudo na bisga na estrada, não andava? Ele resolveu; queriam o Leonard Cohen ao vivo, não queriam? Ele tratou; que maçada, digam-lhe só onde está o problemazinho que ele resolve ou manda resolver, mas, se querem pormenores, perguntem ao Pinho, Manuel, se quiserem rir, ou à Ferreira Leite, Manuela, se quiserem chorar. Essencial: agora que já saiu definitivamente de Vilar de, não o macem.

O próprio mundo poderá estar a ficar perigoso e José, ex Maçada, Vilar de, Sócrates, terá agora coisas mais importantes que fazer; Guterres, Barroso e Obama não podem ficar a tratar disto sozinhos; e Portugal já maça muito. Até a Madonna se vem cá repetir. Não tarda até queremos cá a Nossa Senhora a aparecer outra vez; ainda a SIC tinha de ir arranjar uns pastorinhos à pressa.

Perna de Palin

Nunca uma catequista com ameaças de celulite sonhou poder chegar tão longe: acólita dum piloto de guerra, praticamente uma co-pilota de guerra. Os extremos têm-se tocado nas reacções, mas as mais bem esgalhadas são de facto aquelas que vêem uma ratice suplementar em Mc Cain por ter escolhido uma mulher-catequista para o pleno de sacar votos à esquerda, empolgar o volátil mulherio, e fixar o sufrágio da malta que recita as epistolas de s.paulo entre churrrascos, deixando o black one ( claramente em dominação pela sua mulher guerreira (*)) entalado por ter resistido a escolher Hillary, um dos vértices opostos a Palin no paradigma feminino, Broodway against Alasca, hard freedom versus sweet dogma, Chanel versus H&M.

Ora o modelo ‘Catequista’ sempre significou no imaginário masculino um ícone de desejo e sublimação - dê um passo em frente o primeiro gajo que na sua fase iniciática aos grandes mistérios da humanidade não acordou com a imagem da catequista a decorar-lhe o cortinado (falo especialmente para aqueles que dormiam virados para a janela) qual profano sudário. Um verdadeiro tesouro politico. A mulher-catequista com o homem-soldado cumprem o binómio que faltou às últimas legiões romanas emboscadas no meio de tanto bárbaro. Poderá ser finalmente concedida a dignidade de Estado a um dos grandes filões escondidos do feminismo ocidental: the woman of the fresh faith, a mulher cujo traçado de perna reflecte apenas uma serena cumplicidade com o inefável.

{Deverá, assim, ser também um recurso a explorar pelos partidos portugueses, que mais recentemente têm optado pela opção, notoriamente mais bafienta, da sacristia. E Deus Nosso Senhor seria incapaz de negar o que quer que fosse a quem O serviu com diligência na espinhosa missão de explicar a um catraio ainda tenrinho como é que alguém fica famoso só por transformar água em vinho}.


(*) que quantas vezes não lhe terá dito: ‘se perdes com a cabra da loira ficas a pão e água’…

(na foto Palin e o marido, enquanto ela lhe explica que não pode jogar à cabra cega porque tem uma rotura no 6º mandamento cruzado)

Luna Park

«A união conjugal é suficientemente funcional para se constituir a si própria e subsistir, com assistência mínima, apenas subsidiária, do Estado. Ao contrário, o "casamento" homossexual é inteiramente uma criação do Estado. Sendo estéril e carecendo de metade do material genético necessário, tem que ser o Estado a tratar da sua "descendência": destacando e atribuindo direitos de parentalidade, facilitando a adopção e subsidiando as formas de procriação assistida que forem precisas, para satisfazer o "direito à família" integrante da actual agenda homossexual.» de Pedro Ferro, in Público, 'Proibido discordar?', hoje.

a preto e branco

my knight in rusty armor

[...]

The "perfect" prince does not exist.
A knight to save me is all I need.
But his army won't be shiny.
It will be rusty, I know.
For my knight will have his problems, too.
And while he saves me from my trials,
I'll save him from his.
And we'll ride into the sunset.
But life will carry on.

[...] fonte

after sun













ferrugens, 2008



Luna Park

"Não há como um humorista para ser poeta; delicioso e autêntico poeta. Em geral não gosto daqueles poetas a quem, como diria Nietzsche, a dor faz cacarejar como as galinhas. Nos autênticos poetas, o humor é prova duma desilusão profunda. Algo que, por ser subtil, não tem nome nem aspecto. É uma sombra da dor, mas não é dor."

Agustina Bessa-Luís, "Dicionário Imperfeito", Guimarães Editores, 2008 (pg 220)