e o nome dele é antónio

O único livro que li inteiro do Lobo Antunes foi 'Os cus de Judas', e fi-lo já com uma persistência a roçar a experiencia religiosa limite; todos os outros que experimentei tive de abandonar porque me davam dores de cabeça, realmente a zona mais frágil do meu corpo, tirando as costas e considerando que já me desfiz de parte da tripa. No entanto, sempre fui fã das suas entrevistas, julgo inclusive que se trata duma categoria que falta ao Nobel e que podia perfeitamente substituir o da química, não vejo mesmo qualquer interesse pessoal no nobel da química e se alguém tiver algo a dizer a favor do nobel da quimica faça obséquio. E isto tudo porque acabei de comprar o livro de entrevsitas do proto-nobel das entrevistas, e agora encontrei a citação olímpica que me faltava: «Somos assim: pequeninos e feios. E eu gosto». Antunes, you are a wolf.

Espreguiçátlo Moderno

Jeanine Boltova Phelpina Meireles, natural de Reguengos, era a recordista mundial do Espreguiçátlo Moderno. Dominava a seu bel prazer todas as disciplinas desta modalidade sem permitir quaisquer veleidades à concorrência. Na prova constituída por ‘dizer fôódasse com o movimento dos braços puxados para trás’, numa espécie de anti-cristo sem argolas, Jeanine conseguiu o cruzamento traseiro dos referidos braços numa espreguiçadela de 18,76 segundos, enquanto o regulamentar «fóâdasse» se prolongou por uns fantásticos 28,62 segundos e sem chegar a invocar o termo popular que designa o pendente sexual masculino; marca obtida sem vento a favor, e sem a ajuda de qualquer flatulência acima do limite legal. A sua principal opositora era uma contorcionista tailandesa que apostava bastante na nota artística ao ter orgasmos múltiplos enquanto estrelava ovos com o pé esquerdo e gambas al ajillo com o direito, mas que comprometeu a sua prestação quando a micose do calcanhar se irritou no contacto com a mucosa nasal. Na prova de ‘elevação paralela de braços sem a ajuda de impropérios’ Jeanine fulminou o seu anterior record, tendo mantido a posição vertical dos membros superiores durante 37,46 segundos, e também sem esvaziamento de intestino grosso, para a qual certamente muito contribuiu o seu treino em altitude numa tasca em Monsaraz. Quando se pensava que Jeanine já não lograria apresentar a mesma hegemonia na dificílima sequência final de ‘mãos entrelaçadas atrás da nuca com pernas arqueadas e recitação de duas estrofes dos Lusiadas’ ela surpreende tudo e todos, superando a barreira dos 50 segundos e ainda oferecendo um verso do Bocage antes de desfazer o movimento com a ajuda de três flatos que, nesta disciplina, já são permitidos sem dar lugar a qualquer penalização. Quando questionada sobre esta sua opção final, Jeanine destacou que tal se deveu a ter optado por relaxamento com banhos de rainhas claudias, em vez dos clássicos banhos de gelo do seu colega Phelps que, destaquemos, acabou por se dedicar à natação pois, como tinha os dentes desalinhados e os incisivos muito salientes, não foi escolhido para o coro dos escuteiros da ópera chinesa de Baltimore.

Tenho pena pelo Pereirinha

Estes últimos dias ficaram marcados pelo desaparecimento de Soljenitsine, o empréstimo do Purovic, as fotografias da caminha imaculada de Maddie, Rodrigues dos Santos preparando o seu novo romance junto de velhinhas ossetas, e uma tendinite na zona do cotovelo que me impediram de dar o devido apoio ao representante português do lançamento do peso, que, de forma sincera, afirmou que nunca devia ter saído da caminha.

Tirando isto doem-me as costas e li o tal das Benevolentes, um romance histórico sobre como levar no cu pode insensibilizar o dedo do gatilho em 900 páginas. É pena o Bomarzo ser um livro que vos vai passar ao lado porque estivestes por certo embasbacadamente distraídos com aquele gaivotar de braços do Phelps; um tipo que inevitavelmente me faz lembrar Purovic; eu inclusive já tive uma secretária assim, mas não usava touca.

Podia já ir-me deitar mas estou indeciso entre isso e aguentar até à triatlada da Vanessa. Entre um epicurismo e um estoicismo eu pendo mais para um bom bacalhau à brás - um prato incrivelmente subvalorizado. As minhas pernas também me estão a pedir caminha; todos temos um lado Pedro Barbosa dentro de nós.

{Rochemback; vai ser um ano muito condicionado por Rochemback e pelos restaurantes que ele venha a frequentar. Eu cá tentava viciá-lo na nouvelle cuisine; ou então pôr-lhe um ex oficial das SS à perna}

animais d'estimação

Balthus (Baltusz Klossowki de Rola), 1949, Nude with cat. Óleo s/ tela, 65.1 x 80.5 cm. London, Tate

Jejumaldo

«o Sporting não foi superior, foi apenas mais feliz» disse-nos a ternura do Jesualdo Ferreira. Como se a felicidade não fosse uma espécie de superioridade.

desfazedor a banhos

E na bruma Tempestuosa

Subitamente

Nada



(de Jorge de Sena, final do Relatório, destacado por Sophia de Mello Breyner, em 'Correspondência 1959-1978', ed Guerra & Paz)