Pintores de escrita à pistola



Uma das coisas que dá mais pena é ler as banalidades que grandes pintores escrevem sobre a pintura. O génio está-lhes quanto muito no pincel, bem longe do verbo. Acabam geralmente por apenas distribuir trocadilhos suavemente metafísicos sobre os conceitos que suspeitam dominar.

É a velha obsessão de conseguir ver o todo, e de não nos contentarmos por andar distraídos e entretidos apenas com as partes.

«Só o aspecto puro dos elementos numa relação equilibrada pode aplacar a tragédia da vida.»

“Por detrás das formas naturais mutáveis jaz a realidade pura que é inalterável.”


Lia-se de Mondrian no murmúrios do silêncio (que na sua boa fé nem tem culpa...). Esse rapaz foi de facto um dos que perdeu tempo com um ideotário estéril e quase pueril, não se contentando em apenas pintar brilhantemente e ir ouvindo um bocado de jazz. Na linha doutro rapaz - o Kandinsky – que também se desfez em palavreado de trivialidade conceptual, e tanto esgotou a sua verborreia ( de triângulos a agredir curvas) que muitas vezes nem sobejou nada para dar uns títulos de jeito a muitos dos seus sobrestimados quadros.



Pintem, nós gozaremos e agradeceremos, mas não chateiem. Já nos basta o também sobrestimado Manuel António Pina ter dito que “ O azul não é deste mundo, / nem os olhos são deste mundo “

Se calhar aqui já fui longe demais....

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