O dicionário não ilustrado desdenhando na separação de poderes foi outra vez à catequese; quando quisermos fazer a vontade a Cavaco, e estivermos à beira de descobrir os tais de "políticos competentes" podemos dar uma vista d’olhos nestas - pouco mais que meia dúzia - entradas. Isto depois de dizer um valente e reconfortante foda-se, claro. ( 925 a 932)



Políticos escatológicos –São os que antevendo o fim do mundo em cuecas preparam a sociedade com medidas elásticas e aderentes



Políticos exegetas –São os que nos apresentam o palavreado já bem passadinho a ferro e sem as rugas da dúvida, mas que não se esquecem de nos borrifar de esperança antes para descortinarmos neles personalidades modelares e bem vincadas



Políticos taumaturgos –São os que vivem para lá do explicável e nos fodem o possível, tornando insuportavelmente maçador o razoável



Políticos apologéticos – São os que refutam os que nos querem mal, e nos abrem os olhos para aquelas verdades que se não fossem eles até dariam bons “salvos-sejas”.



Políticos doxológicos –São os que nos tornam suaves e aconchegantes as maravilhas do poder, fazendo-nos ver que o seu manto glorioso só é às rendinhas porque quiseram poupar no fio e eram os musos das bordadeiras.



Políticos exorcistas – São os que convencem que nos tiram o diabo do corpo para depois serem eles a tomar o lugar pagando apenas renda condicionada



Políticos intercessores – São os que aliviam sempre com um “valha-nos deus” no intervalo entre dois “vale tudo”.



Políticos de parusia –São os que vivem constantemente a preparar um segundo regresso, deixando a sua primeira estadia sempre por explicar
Fezadas políticas

da separação de poderes



Se Deus quisesse que fossemos governados por Ele, não tinha feito a coisa assim.

“internettes”

em versão comunhão dos santos; walking aos bochechos around [1][2][3][4][5][6][7][8]and [9]



«Nenhum de nós vive para si mesmo, e nenhum de nós morre para si mesmo»

S.Paulo, Carta aos Romanos 14, 7





[1] A ideia do “corpo místico de Cristo”, apesar dos seus “contornos beatos”, tem um quê de especial. Tem uma "força metafórica" como toda a palavra revelada e lembra-me até que Deus é a única palavra que se manteve metáfora - e repare-se que Jesus nada escreveu, nem mandou escrever. E é por isso que Deus ( na sua concepção cristã – a até mais precisamente católica) será sempre a fusão entre o "Logos" joanino, o Parabolador dos sinópticos, o Paráclito, e aquela Coisinha que nos mexe na alma e que às vezes até deixa que lhe chamemos comichão; entre outras coisas.
[2] A ideia de que «só nós estamos no mundo; Deus não se aproxima desta atmosfera» ( in Aviz ) é instrumentalmente boa para servir o essencial - e louvável - conceito de separação entre a cidade de deus e a cidade dos homens, que Deus desejou ao nos ter criado livres, mesmo que nós não percebamos o alcance disso – e não percebemos mesmo; no entanto, essa expressão encerra uma ‘mentirita’: é que Deus é precisamente a nossa atmosfera; podermos pensar que Deus está fora do mundo é uma limitação da nossa condição, mas é ao mesmo tempo uma hipótese que Deus nos dá de não sufocarmos com a sua presença. Entrelaçante.
[3] A divindade, tal como o “tudo-liga-com-tudo” são realidades ora demasiado pesadas ora demasiado atraentes; Deus aparentemente deixou-nos também o caminho “armadilhado” entre uma 'salvação' intrinsecamente individual e uma 'salvação' intrinsecamente comunicante (é pena a imagem do rebanho estar anatematizada neste cantinho porque agora dava-me jeito; se calhar ainda terei de me agarrar à videira) e como não bastasse, na ratoeira o queijo era da ilha; dos amores.
[4] Verificar que precisamos uns dos outros é – e sempre foi - uma forte facada para as teorias da auto-suficiência ( quer ontológica quer ‘apenas’ sentimental); O meu sonho metafísico também era ser uma espécie de jardim suspenso da Babilónia, que para desenjoar de vez em quando me transformava em Taj Mahal, e nos dias piores me julgava mesquita Azul, mas no ‘acordar do ser’ confirmo-me sempre numa vida de videira. Que também precisa de respirar antes de ser usado; como algum ‘sumo da uva’.
[5] Sermos usados é uma inevitabilidade desta condição comunicativa. Somos todos seres por onde os outros passam e somos todos seres de passagem: todos seres vaginais; Fecharmos as pernas aos outros será apenas uma ilusão de pudor. Abri-las pode ser uma ilusão de poder. Deus quis-nos fodidos e bem fodidos. Alguns são bem pagos.
[6] Nem sempre a proximidade com Deus é uma experiência teológico-intelectual, nem sempre é uma experiência místico-sentimental, muitas vezes é quase uma experiência social: Deus ‘pensou-nos’, ‘concebeu-nos’, quis-nos essencialmente influenciáveis. Nós gostamos de nos ver seres artesanais, mas somos muito mais industriais, somos seres de repetição e replicação. A nossa imprevisibilidade é da ordem do estatístico, só que isto soa horrível assim escrito. É melhor não pensar nisso.
[7] Os conceitos de unidade consubstancial que a teologia distribui quase panfletariamente, poderiam deixar Deus à beira duma hecatombe de metáforas culinárias, no entanto bem vistas as coisas trata-se de dar à ‘ligação’ uma dignidade filosófica e mostrar que ela existe para além da fibra óptica ou das ondas a babarem-se na frequência. Só que às vezes eu gostava mesmo era que o cuspo de Deus se fizesse lama e me lavasse os olhos, para poder ir tomar banho prá piscina de Siloé e voltar topando tudo; e como se nada se tivesse passado. Caraças. Infelizmente esta palavra não existe em aramaico.
[8] No evangelho de S.João (14) a “despedida de Jesus” inicia-se com um claro «não se perturbe o vosso coração» e é seguido mais à frente dum quase entusiasmante «não se atemorize», que estão associados ao “poder” que decorreria de acreditar n’Ele, como «o caminho, a verdade e a vida» (num estilo quase exclusivista que hoje atrapalharia os ecumenismos mais bacocos, se levado à secura da letra). O amor a Deus não é um sentimento muito simplificável ou redutível, como não o é o amor entre os homens (até pelas suas ligações ao conhecimento/reconhecimento), mas em qualquer dos casos apresentam-se-me ambos como a única forma de nos “afastarmos” decentemente de nós mesmos, que é por sua vez a inesperada fórmula de sucesso (e de prova dos nove) para nos voltarmos a encontrar verdadeira e serenamente quanto baste, fazendo jus à Sua ( Pai e Filho) frase/promessa «nele faremos morada», reveladora em definitivo da nossa intrínseca, mas tão mal vista, hospitalidade ontológica. Mas que Deus me esconda de mim próprio é às vezes o meu desejo secreto; e se Ele ‘falhar’, que avance o Consolador se faz favor.
[9] Não é por podermos acreditar em Deus, no Céu, no Infinito, que deixamos de ser mamíferos, ali todos agarradinhos ao nosso meio natural, mas só o fenómeno religioso produz o arcaísmo e a ambivalência (mais ou menos mitológica) capazes de aliviar a nossa condição da sua frágil noção de tempo. É nesse ligar que está o ganho, mas também é no separar que se prepara a força da união. Deus também gostará de nos ver de mãos nos bolsos e a assobiar para o lado. Desde que no fim pisquemos o olho, claro. A criação é um universo de engate.


E ainda me apeteceu dizer mais isto

sobre o tal de “buttigliones em flor” case-study



Buttiglione pode perfeitamente ter equacionado bem a questão “moral” versus “política”, Bolonitiglione pode perfeitamente ter equacionado bem a questão “moral” versus “direito”, Bottrigglione pode perfeitamente ter equacionado bem a questão “convicções” ( isto é quê ao certo? já nem o Pascal faria aforismos com isso ) versus “exercício do poder”, Bruttiglione pode perfeitamente ter equacionado bem a questão “cidadania” versus “moralidade”, Brittilgnobne até pode estar a rezar o terço de braço dado com um panasca apelando pela salvação de ambos e isto tudo no intervalo inspirativo da elaboração duma lei em que os enfia a todos na pildra ou numa casa de correcção na companhia dumas putéfias de estimação, tudo referendado e bem embrulhado, mas lá por isso ele não deixa de parecer uma pagela de parvoíce e prestou um péssimo serviço a essas “mulheres fatais” todas aí de cima. É que a estupidez também foi criada por Deus, e há gajos que estão ‘talhados’ para se salvarem no meio dela. Mas isto sou eu a confundir tudo, claro. Mas se uma cambada de tolos insulta um tipo, ele não passa a ser inteligente e íntegro por causa disso.
A bola da paróquia

Ou do verdadeiro estado da nação



Este ano Mourinho seria campeão até no Gil Vicente, e dando prái uns 20 pontos de avanço. E se fizesse meia época no Moreirense ainda o levava à liga dos campeões.

Isto vai-se a ver

continua a encher

não pára de encher
está sempre a querer encher
mas é apenas verbo de encher
e não sei quando irá acabar

porque sinto-me a alimentar

uma enorme câmara de ar

e só me apetece soprar

e mais soprar

e soprar
nem que seja para o ar
para ver uma pena voar
a despedir-se do pássaro

porque este nem sabia assobiar


Não basta dizer palavras enigmáticas para se ser shaliah; mas a economia até vai crescer, Pinilla já marca, o petróleo vai descer, uma Condoleeza casta - e ainda bem que não morde - é a imagem da América (que preteriu assim Laeticia), Mónica Lewinsky já era, Cicciolina não sei o que é feito dela, Bottiglione (ou o raio como o gajo se chama) voltou ao baptistério, Barroso já conseguiu acertar com uma equipa de matraquilhos a sério, vão acabar os benefícios fiscais e os prevaricadores têm os dias contados, ninguém atina com os juizes naturais, foda-se continua a ser um palavrão e merda uma indecência, o Jesus histórico atormenta-nos a consciência, Arafat neste momento se calhar já sabe o que é que Alá mas não nos pode dizer, marcelo já não pia e temos uma alta autoridade que é uma categoria, o ano tem doze meses, os indianos não tarda são mais que os chineses, Narciso Miranda pouco fala, Fátinha Felgueiras já não se rala, Collor de Melo já não é presidente do Brasil há uma carrada de anos, um minuto demora mais a passar que um segundo, e as bebedeiras de Yeltsin já não atormentam o mundo. Qualquer sumo manhoso precisa de liberdade de 'espressão', é bom ter um Guterres sempre à mão, e as coisas bem vistas talvez não fosse mau fazer o teste de alcoolémia ao Soares antes das entrevistas.
Uma democracia em referendo distrai-se enredada em perguntas constitucionais e concretas, e a vida muitas vezes anda adiada porque não se fazem perguntas normais e indiscretas. Há que tributar tudo o que mexe, já não se encontra facilmente um grande estupor e Borges nem era grande escritor, mas ainda é possível comer carapaus de escabeche.
Está bem protegido o mercado, o estado é amado também, o povo ainda gosta de fado mas já não há filhos da mãe. Lolita não era adolescente, Proust nem era maricas, em cada culpado há um inocente, e em cada bucha há dois esticas; o bigode de Hitler era postiço, o gulag era um spa, Torquemada um noviço e isto está no que está. Hamlet não sabia o que queria, Anais Nin gostava de homens mas não sabia, Yourcenar só foi bela com Zenão, e é mau amar em contramão. O mundo está feito num quioto, Anna K. mandou-se para debaixo dum comboio russo, mas nem todos os ratos são de esgoto, nem todos os excessos são abuso.
Afinal a caverna de Platão era arrendada, o ser de Sarte era emprestado, o idealismo de hegel tinha uma amante secreta , e o eterno retorno ficou parado no tempo. E é por isso que nem todo o sertão é brasileiro, nem todas as armas se compram no armeiro, nem todos ao males d’alma se curam no deserto, nem toda a bunda do leblon é carioca, nem todos os esquimós se casam com uma foca, mas também nem todo o chico é esperto.
Mas a economia vai prestar vassalagem aos bons costumes, a sacristia vai dar os paramentos aos pobres, toda a teologia será da libertação, e nunca mais seremos governados por um cabrão. Calvino engordará e praticará sumo com Buda, Maomé fará razias de mãos dadas com Rumsfeld, os homens terão todos a pila circuncidada e não andarão mais à porrada, os chineses perderão no ping-pong e seremos todos salvos antes de soar o gong. Descobriremos afinal que até somos todos persas, violados pelo Tamerlão que a desgraça tinha mais à mão, todos somos afinal pecadores, mas os tapetes que nos tiraram eram mesmo voadores, e aquilo que punha as mulheres aos berros eram mesmo dores, mas nem assim deixam de se enganar com flores.
Ingres é que não podia ver uma mulher de costas, Schiele não podia ver uma mulher nua, Duchamp não pôs o pneu na roda da sua bicicleta, e por isso toda a arte é incompleta, nenhum homem tem uma mulher sua, acabarão tristes os cavalos que viveram das apostas, e tristes dos asnos que se confiaram retoricamente nuns quiasmos. Leviatan acabará então por aparecer disfarçado de um liberal embrulhado em papel pardo, mas ao estado não há nada que o irrite, Adam afinal não era dos Smiths, David nunca podia ter pintado Ricardo, nem um homem que nunca tenha sido apunhalado poderá ter um coração de leão, e um dia, quando menos se espera, ainda se saberá que nas tardes de verão era o Sol que andava à volta da Terra. Nesse dia dar-se-á dispensa aos profetas requentados, pois estes já só mugirão, e sentados, galando os ruminantes de desgraças, porque afinal tinham todos desaprendido de assobiar. Deus, nessa altura, se calhar, vai entregar outra vez o mundo a quem tenha asas. Ou então arranca tudo de novo, mas desta vez começa com gajas.



De facto estamos encaminhados, só que isto, vai-se a ver, corre o risco de perder mesmo a piada. Mas como somos animais racionais vivemos bem com qualquer ração.
Este é praticamente um post político



Li a propósito da reabertura do MoMA que o seu primeiro director Alfred Barr desdenhando um pouco da pintura naturalista/realista, dizia que “não haveria problema em eliminar o ‘parecido com a natureza’ porque no melhor dos casos é supérfluo, no pior distrai”. Também prefiro as abstracções porque acabam por nos concentrar no essencial. E tenho uma certa pena dos que nos querem mostrar ‘as coisas como elas são’. É que assim nem distraem.


Porque isto é mesmo assim. O delgado precisa de companhia; e eu se calhar estou mas é grosso.



Portas é um caso típico de sobrevalorização da análise politica. É o vulgar gajo inteligente que será sempre utilizado por outros mais estúpidos dando a ideia que é ele que está a dominar a coisa. Portas é pois um caso de confrangedora fragilidade. Um boneco cuja inteligência dará para brincar com outros bonecos mas que nunca fará mais que toys stories. Eu também já pensei que o problema podia ser ele. Mas não é. Entrou arrombando a porta do fragilíssimo monteiro, pode até ter sido ele a impedir a AD martelada de marcelo, mas acabou por ser guterres a entregar o poder de fininho a barroso, e à pele, safa – ajudado por santana (a anedota barroso nunca teria ganho umas eleições sem santana). Assim portas deu à costa apenas para fazer uma aritmética eleitoral simples a barroso; tem poder, claro, até uma porteira tem poder, pois se quiser lixa-nos a conduta do lixo. Hoje portas continua a ser o produto que os media criaram e que necessitam para ir fazendo notícias salgalhadas à direita, como louçã & cia vão fazendo o jeitinho nas notícias à esquerda, só que como estes se contentam sem comprar gravatas novas, não exigem tanta coligação nem ajudas de custo, e sobrevivem bem apenas com o ar eterizado das notícias.

Santana afeiçoou-se à técnica ginecológica da salvaguarda das águas territoriais e vai fazendo agora de marcelos e pachecos autênticos 'borndieps', deixando-os a falar sozinhos, consolados por pensarem que estão no mar alto, e portas nunca passará duma majorete das notícias que abanará enquanto lhe emprestarem as plumas, mesmo que depois se vá casando à vez com as estrelas da equipa principal.
pensando bem

Desta vez não tive de te mentir, foi mesmo meia dúzia, claro, estava a ver que não te rias, já foi um sorriso mais gozão eu vi bem, também não era para menos, escusavas era de ter ficado depois com esse olhar distante, refugiaste-te nas festas do polegar, o que é que me querias com o polegar, já sabes que detesto sinais, mas agora olhaste para mim outra vez e não encolheste os ombros, olha que se quiseres podes estar-te a marimbar, eu não importo, eu sei que me segues com o olhar que tens dentro, mesmo quando te afliges porque a respiração já não é o que era, e já não te distrais tanto com esse olhar que tens de fora. Meia dúzia, bem, eu também não vi, mas já me disseram que foi bailareco, agora é que ninguém nos apanha, os lampiões já andam à nora, é, está no papo, eles já nem dão luta pois aquilo está ganho, até amanhã então, mas agora fizeste um sorriso meigo, não me mintas assim a sorrir está bem, mas pensando bem mente-me mesmo se fazes favor. Só a mentir é que a gente se entende.
Contos em que a companhia era uma merda também



A cidade era Dublin, a chuva era estúpida, o céu benza-o Deus, o gajo do taxi era maluco, excêntrico era uma palavra muito comprida, o hotel era uma merda, a companhia era uma seca, mas o viajante era pouco exigente, e no fundo não passava da primeira vez.
O bar era típico mas horrível, a cerveja era doce e sofrível, a música quase não se percebia e inesperadamente recitavam poesia. Ele não tinha saco para poemas, não apreciava fumar erva, só que a companhia era uma merda, tem de se repetir isto porque senão nem parece possível, a cerveja já enjoava e cheirava a cânhamo, foda-se se aquilo era a Irlanda vou ali e já venho, bem vamos lá tentar perceber o que é que eles diziam, merda não se percebe nada, parece que miam, que filha da puta de pronúncia, e nem são escoceses os cabrões, é que ele pensava mesmo assim, com muito fumo, com muita cerveja morna e uma companhia de merda só se consegue pensar à base de palavrões, caralho ó menos vendem o livro dos poemas no fim, que se foda ele compra, a companhia também era uma merda e o hotel uma merda ainda maior, e ele ainda era praticamente um puto, e um puto precisa muito de companhia, que se foda comprou mesmo, “Favourites Poems we Learned in School”, olha dá a uma gaja qualquer. Não deu, mas o livro tinha uma dedicatória picante e ele quase ainda se fodeu com uma outra companhia que veio a ter, daquelas assim já a doer, não sei se estão a perceber, daquelas que ainda por cima já lá não vão com uma boa rima, querem mesa posta e toalha fina. E um dia destes, já não tão desesperado com a companhia, ele ainda lá leu ao de leve nesse livro comprado no meio da levedura - e que até estava sublinhado, a companhia devia ter sido mesmo um achado :

We are the music-makers,

And we are the dreamer of dreams,

Wandering by lone sea-breakers,

And sitting by desolate streams; -

World-losers and world-forsakers,

On whom the pale moon gleams:

Yet we are the movers and shakers

Of the world for ever, it seems.

Dum tal de Artur O’Shaughnessy; pelo menos é o que diz o livro, porque os gajos que declamavam já estavam podres de bêbedos e ele já nem se lembrava de nada até porque ainda para mais a companhia era um merda e o sotaque a lúpulo até saia pelos sovacos. Mas se os gajos aprendiam isto na escola, foda-se, assim também eu, mesmo com companhias de merda; e o que me lixa é que se calhar nunca mais é como da primeira vez, mesmo que estivesse carregadinha de ordinarice; e caraças, se calhar, que parvoíce, somos todos uns forsakers de primeiras vezes. Como ele.
Machonices clássicas para desenjoar

Outono again



Há uma coisa que está cientificamente provada: o exercício físico reduz as capacidades intelectuais da mulher. Este ser, já de si frágil, mesmo osteoporoticamente quebradiço, ao entregar o seu corpo ao desgaste provoca uma migração enzimática da bainha de mielina que se transforma numa espécie de mero collant de axónios. Esta deslocação não terapeutica vem catalizada pelo suor que nos revela assim a sua envergonhada faceta de forte diluente das capacidades intelectuais femininas sempre reféns dum sudário masculino. A mulher quando se deixa envolver pela actividade corporal em regime de esforço, seja qual for a forma em este que se apresente, acaba por criar uma turbulência hormonal na camada de ar electricamente condutora que ela foi constituindo intra-craneanamente com um esmero bordatório, e que permitiu ao bolbo raquidiano feminino conviver saudavelmente com o seu cerebelo e sem intrigas nem infiltrações de maior causadas pela humidade salgada que ia escorrendo pelas fissuras da parede cerebral com que fazem gaveto. A mulher ao querer elevar os seus músculos à condição de robustez olímpica está inevitavelmente a comprometer a sensibilidade e a intuição, que no fundo são as suas prerrogativas oficialmente reconhecidas pela OMS, e a alargar exageradamente a fenda sináptica entre os seus neurónios, tornando a comunicação entre a arborização terminal do axónios e as dentrites num mero fenómeno do acaso, ou da boa vontade, compreensão e condescendência do cérebro masculino que com ela conviva e lhe enlace a cinturinha. Mesmo a dança ou até o sexo, que aparecem sub-reptíciamente como formas aparentemente mais sofisticadas do esforço físico, vai-se a ver depois que por via da elaborada química que libertam, constituem igualmente fenómenos fortemente inibidores da actividade intelectual da mulher. Uma mulher a arfar ou a arquear as ancas, para além da inadequação estética que representa, pressupõe uma desproporcionada exigência de irrigação sanguínea – o sangue na mulher custa muito mais a subir como se sabe por causa dos diversos obstáculos naturais que encontra pelo caminho que é especialmente sinuoso e montanhoso – e deixa-a praticamente incapaz de juntar duas ideias. Escrevê-las então pode-se tornar um verdadeiro suplício. Descansem, repousem filhas, por amor de Deus, e fiem-se na Virgem, mas não corram pela vossa rica saúde.
A verdadeira pergunta sobre o verdadeiro conflito



Onde estará agora Arafat?

com todos os efes e erres



Reparei há pouco que esse tal de guterres terá dito que vivemos um reality show na política portuguesa. Esse político-sacristão que nos fez viver num virtuality show uns quantos anos, foi o mesmo que teve como ministro da agricultura um gajo que comeu mioleira para assinalar ao povo que não havia crise com as vacas loucas, que chegou a ter como ministro um tal de armando vara (sem comentários), que teve como ministro das finanças um tal de oliveira martins ( não, não foi da cultura: foi finanças mesmo) , é verdade o nosso narciso miranda chegou até onde?, que descobriu para o mundo o génio político de jorge coelho, que conseguiu arrancar do cabeleireiro uma tal de maria de belém, e que deixa como legado político um carrilho casado com uma bárbara.

Portugal ao recordar guterres, portugal ao destapar guterres da benta pia, portugal ao preparar-se para levar guterres num andor ao poder, mostra de facto um país que nem merece que ponham a derreter umas velinhas por ele. Nunca o vento balofo e morno esteve tão perto de pela segunda vez ser confundido com um tornado.


de nuncas e de tantos
Disse-te que o sporting tinha cilindrado o porto. Menti-te está bom de ver, mas soube-me bem; «vamos "limpar" aquilo outra vez» e ainda te saquei um meio sorriso, aquele meio sorriso ainda de miúdo que sempre tiveste, a segurar os olhos verdes de malandro, de bom e decente malandro. Apalpavas-me a manga do casaco, parecia que estranhavas a fazenda, mas tu querias lá saber da fazenda, perguntei-te se gostavas da gravata, mas tu querias lá saber da gravata, só querias confirmar que eu estava ali, que daquela vez não te ia deixar sem companhia para as piadas; Esforçavas-te para ouvir os meus disparates, mas depois só encolhias os ombros, aquilo era um encolher de ombros não era, nunca me custou tanto ver um encolher de ombros, nunca me custou tanto apertar-te a mão, mas também nunca me apeteceu tanto apertá-la; e nunca me custou tanto dizer-te até amanhã. Tantos nuncas para um nunca tanto é que é a porra.
Numerologia de trazer por casa nas entradas 916 a 924 do dicionário não ilustrado.



Um – É um número a desprezar, reparemos que nem Deus nosso Senhor quis ser apenas um.



Dois – O número mais lixado de se aguentar.



Três – Muito mau dia para falar desta conta; estou com peseiros na consciência (sorry, um dicionário também tem direito aos seus recalcamentos)



Quatro – O número sagrado para qualquer batoteiro. Gosta de ver os adversários de gatas a procurarem onde é que ele escondia os trunfos



Cinco – Reflete a angústia da falta no manipulador maneta



Seis – O número que demonstra que muitas vezes uma “meia” pode chegar a ser mais famosa que uma “completa”.



Sete – Se não fosse a semana este número nem existia.



Oito – Duas bolas serão sempre duas bolas, estejam em que posição estiverem.



Nove – O número do dia em que foi inventada a verdadeira prova real. Nem todas as razões se confirmam na inversão dum rácio.
Estou praticamente



A angústia kirkegaardiana do afastamento entre o ser e a existência tem hoje um nome: Peseiro. Este sacana bem podia pelo menos ser exterior ao meu pensamento.

Ser lagarto e andar a escrever sobre os estados d’alma

Não, não é um conto. Antes fosse.



Eu em rigor neste preciso momento estou na agradável situação de entre a merda e o fodido. Não estou a encontrar assim de repente nenhum filósofo para insultar, e aquele rapaz o Peseiro... bem, nada.

Os estados d’alma voltam ao dicionário não ilustrado. Há que tratar também das nossas coisinhas e assim. (No fundo todos somos gajas, não será verdade ó almodôvar). Nas entradas 907 a 915, descodificam-se alguns dos mais nobres momentos por que pode passar a nossa condição de seres eleitos se bem que nem todos sufragados. ( e pronto não passei das 10... entradas, claro.)



Estou na merda – Situação de suave decadência, que ao deixarmos fermentar muito poderemos rapidamente passar à condição de meros gasjos naturais.



Estou fodido – Situação de decadência político-sexual em que deixamos de controlar os orgãos de cópula e passamos a estar dependentes da reacção dos ossos do orifício.



Vai-se andando – Situação que ocorre quando tomamos excessivamente consciência da nossa condição de bípedes. Muitas vezes isso atrapalha e afinal nem queremos muito mais do que viver alegremente com uma mão à frente e outra atrás.



Estou puto – Estado d’alma cujo enunciado é aconselhável por decência só no masculino; sendo mulher é socialmente mais bem visto ser apenas caprichosa ou mimadinha. Mas ele há gajas para tudo.



Estou assim, não sei, coiso, percebes – Quando tomamos a verdadeira consciência coisal da nossa condição necessitamos sempre de ser compreendidos pelos outros. Uma coisa tem esta característica: precisa sempre doutra coisa para ser alguma coisa que preste. O que no fundo a distingue da “merda” pois esta autosustenta-se.



Estou para a desgraça – A convicção de que a graça em sobra é um estado que pode causar algum desnorte leva-nos a rumar muitas vezes para leste do Paraíso. Confio que Deus o tenha feito a este também redondinho.



Olha, estou práqui – A consciência do nosso isolamento existencial vivida como se o mundo não passasse duma eterna bicha da caixa. “Kirk & Nitch” não passam de filósofos da taxa moderadora à cata de genéricos.



Estou como hei-de ir – Situação periclitante que acaba por revelar um gajo que nunca consegue estar quieto; e ao parecer estar dominado pelos bichos carpinteiros o melhor mesmo é ir dar um dedo de conversa com o Filho do dito.



Estou no ponto – Quando tomamos consciência de que não passamos dum banho maria a fugir a sete pés duma fritura, mas ainda sonhamos em passar um bom e picante bocado numa salada de grelos.



O agora muito batido “Estou que nem posso” já não reflete um genuíno estado de alma, mas sim apenas um piadinha da estação.
Esta é básica

Só lê livros quem não consegue ler corações. Mas quem só vê caras está entregue aos bichos.

Ou se calhar eu também não podia escrever frases à toa



Ser simbólico é o consolo dos que não conseguem ser abstractos.

Contos duma mulher ali em combinação e que nem sequer olha para a janela

sem palavrões, sem sexo, sensaboria



Mas a mim não me enganas. Passaste estes anos todos sentada nessa cama, vestida só com uma camisa de dormir, fazias-te triste a olhar para um papel desdobrado mas sem nada escrito, ó julgas que eu não topei logo. Eu deixei foi a coisa ir correndo, as mulheres são umas sonsas, isso já se sabe, mesmo quem não sabe nada de mulheres isso pelo menos sabe, e então vestida só com uma “combinação”- que deliciosa palavra- ali com a alcinha a babar-se por ver um beijinho no ombro e o pescoço a treinar a sensualidade dum acto esquivo, ali com o cabelo arredondado, a fingir um carrapito, a dar-te um ar genuinamente sério e desgraçadinho, quero-te avisar isso comigo não pega. Vamos jantar fora ou não vamos? Decide-te, então! Detesto perder tempo em quartos de hotel. Não sabes ao certo se eu sou o homem da tua vida. Acontece, é uma dúvida que acontece, mas se pensasses bem verias que eu sou o homem da vida de qualquer mulher. Estou calhado para agradar. Estou talhado para vos fazer felizes. Tu serás mesmo a única que comigo aqui se deixaria ficar a olhar para uma folha de papel sem nada, nem sequer olhas para a janela como as outras. Se eu escrevesse ensaios a metro diria que tu eras ‘o símbolo duma mulher armadilhada na sua condição’. Sim outras, claro que já estive aqui com outras. Fazia-lhes a folha a todas, e nem ficavam a olhar para o desdobrável como tu. Só que nunca ficavam tristes e pronto eu precisava de experimentar uma triste, não esperava é que desse nisto; até já estou baralhado, pelo menos podias piscar-me o olho e eu ficava a perceber que era mesmo tudo uma sonsice.
Um homem com mulheres assim nunca sabe as coisas ao certo.


Eu hoje estou ladino



Todos somos génios. Todos vivemos dentro duma lâmpada. Só precisamos que nos esfreguem bem. E que peçam os desejos certos, claro.

Agora para variar um post marado



Estas eleições americanas revelam-nos até à exaustão que o país que endeusa a competição, o país que precisa quase obsessivamente de premiar os mais eficientes, que possui os melhores centros de saber, que alimenta as mentes mais brilhantes, vive agora abanando o cu entre um tal de homem básico e bronco, e um tal de “mal menor” e “ o melhor que se arranja”.



Na ânsia viciante de escolher os melhores, a competição e a concorrência podem-se transformar num simples “biologismo” ( devo ir pagar isto com juros) , num “endeusamento” dos mecanismos de adaptação, e farão resvalar o exercício do poder para uma mera amanuência da sobrevivência das espécies, que acabará forçosamente por diluir os conceitos de “bom” e “mau”, fabricando líderes de polichinelo que mais parecem frutos secos embebidos em Armagnac.



A terra da monitorização das instituições, a terra onde se disputam os mais capazes e estes são treinados para se disputarem entre si, a terra em que se leva ao limite a regulação da concorrência e da competição para que leões e gladiadores estejam a comer do mesmo prato, apresenta-nos agora para o cocktail do poder uns panadinhos de abéculas, dois homens que parece não serviriam nem para presidentes da junta, num verdadeiro elogio à mediocratização do poder disfarçada pelo pó de arroz da mediatização.



O mundo dos negócios ( e até a teoria dos jogos) mostra-nos há muito que a concorrência não leva a que se escolha “o melhor ao mais baixo preço”, nem sequer “ o melhor com o menor esforço possível”. A percepção anda de mão dada com a persuasão, e o ambiente competitivo transporta-nos vezes sem conta para a banalização do espectro do valor: o ganho marginal vive de beijo na boca com o ganho médio, e a vida passa a desenrolar-se no patamar da escada olhando para a clarabóia e pensando que estamos no terraço. Marcando passo.



O mundo lembra um teatro em que o promotor do espectáculo face à sua incapacidade para gerir tantas vedetas tão canastronas quanto caprichosas, acaba por desistir e monta um estaminé de marionetas.
Qual é a solução: conseguir ser competitivo para saber desprezar a competição. É o velho segredo do batoteiro.



Fezadas sul-americanas. Mas com pouco picante.



Dumas famosas conversas entre E. Sabato e J.L. Borges “orientadas” por O. Barone entre finais de 74 e princípios de 75 (e passadas a livro), retirei esta passagem:



Sábato: (Con tono escéptico) Pero dígame, Borges, ¿a usted le interesa el budismo en serio? Quiero decir como religión. ¿0 sólo le importa como fenómeno literario?



Borges: Me parece ligeramente menos imposible que el cristianismo (ríen). Bueno, quizá crea en el Karma. Ahora, que haya cielo e infierno, eso no.



Sábato: En todo caso, si existen, deben ser dos establecimientos con una población muy inesperada. (Por un instante las risas se confunden con las palabras. Los dos se divierten).



Barone: ¿Y que opina de Dios, Borges?



Borges: (Solemnemente irónico) ¿Es la máxima creación de la literatura fantástica! Lo que imaginaron Wells, Kafka o Poe no es nada comparado con lo que imaginó la teología. La idea de un ser perfecto, omnipotente, todopoderoso es realmente fantástica.



Sábato: Sí, pero podría ser un Dios imperfecto. Un Dios que no pueda manejar bien el asunto, que no haya podido impedir los terremotos. O un Dios que se duerme y tiene pesadillas o accesos de locura: serían las pestes, las catástrofes..



Borges: O nosotros. (Se ríen.) No sé si fue Bernard Shaw que dijo: God is in the making, es decir: "Dios está haciéndose".



Se estes tipos falassem de gajas se calhar até Deus tinha posto a mão na consciência.
Fezadas panteístas



Num poema sobre o sol, Pedro Homem de Mello diz «Chamam-lhe Deus os pagãos»; infelizmente hoje já não há pagãos em condições, se calhar é porque o povo já não se lava no rio. Agora é mais duche in altum.