Hoje apenas para acompanhar a cervejita e o tremoço, o novo dicionário não ilustrado tenta decifrar os nomes que os “gajos” nos chamam. Um pires com as entradas 263 a 275.



Na televisão...

“Povo” – Palavra que exprime a resignação pelo facto de não conseguirem fazer omeletas sem nos limparem primeiro as salmonelas, e verificarem que temos casca boa para partir.



“Cidadãos” – Palavra de registo cacofónico que acaba por dar muito boa serventia nas correntes de solidariedade.



“Eleitorado” – Designação que revela o encanto quasi-fetichista que provocamos, quando temos um papelito dobrado na mão, uma cruz para distribuir, e umas ilusões para hipotecar.



“Gentes do nosso país” – Expressão de cariz lírico-bucólico que, à falta de música a acompanhar, só Júlio Isidro poderá usar em condições higiénicas.



“Amostra representativa” – Expressão elogiosa do foro estatístico, que faz de alguns privilegiados um misto de fita métrica calibrada com rato de laboratório.



“Portuguesas e portugueses” – Expressão respeitadora das “quotas” e caída em desuso depois de ter sido drenado o pântano.



“Munícipes” – Palavra que infelizmente rima mal com acepipes, por causa da porra da acentuação. Mas na realidade não passamos de salgadinhos de carne no grande cocktail do “orden(h)amento”



“População” – Termo que designa a gentalha que se tem de pôr aos pulos para que reparem nela.



“As Pessoas” – Palavra refúgio, utilizada somente em desespero de causa e já com um pouco de baba retórica a escorrer.



Apenas nas chamadas telefónicas...



“Os filhos da puta” – Designação corrente que exprime o nobre sentimento de que apenas servimos para extorquir a parte do orçamento que podia ser utilizada em viagens de estado e obras de fachada.



“Os cabrões” – Designação corrente para exprimir o desconforto que os políticos sentem quando a populaça levanta a cabeça, e os chifres que nos colocaram os começam a arranhar.



“Os gajos” – Expressão carinhosa que revela a bíblica sabedoria de que “ pó somos e em pó nos tornaremos”. Vão aproveitando assim a poeira que “já cá canta” e apontam-na inevitavelmente às vistas dos crentes arregalados.



“O pessoal” – Expressão erudita que revela o secreto desejo dos políticos de que todos fossemos ucranianos rastejando por uma autorização de residência.

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