Annus possibilis



Procurando dar uma machadada definitiva no tacanho vício de não sabermos olhar para o futuro, de apenas navegarmos à vista e de agirmos só para o imediato, o nosso venturoso governo decidiu estabelecer um calendário para a realização do “pouca-terra-pouca-terra” do futuro até ao ano 2018. Isto sim é estratégia e planeamento da mais fina água. Agora não devemos ficar por aqui, pois temos finalmente o futuro nas nossas mãos. Sou forçado a debitar um programa construtivo para Portugal:



2019 – Ano da limpeza. Bandeira Azul para o rio Trancão. Gigi revela ao mundo o “safio au bechamel”. As festas sociais rendem-se ao encanto do suburbano. Represas fará duetos com Emanuel. Portugal será um país asséptico, pleno de equilíbrios e irmandades. Uma serena Etar à beira mar.

2020 – Ano da castidade. Bragança inaugura sem complexos a ponte aérea com a Tailândia. O pecado será erradicado definitivamente através do “kit fidelidade”. Esta maravilha da tecnologia inclui um "excitómetro" que acompanha devidamente todo o homem casado. Modernos sensores darão nota de quando as massagens começam a amachucar o laço conjugal.

2021 – Ano do lodo da sorte. Santana Lopes inaugura o 1º casino submerso no metro do Terreiro do Paço. Sob estacas, os mortais verão que a sorte e a felicidade terrena são efémeras.

2022 – Ano da honestidade. É feita a primeira urbanização em Portugal ao abrigo do “Corrupt-free”. Trata-se de um programa de reinserção moral para autarcas, que entregam as “luvas” numa roulotte à entrada do empreendimento, e recebem em troca um saco azul com um terço e uma pagela da comissão de ética.

2023 – Ano da caridade. Mourinho finalmente sente que o Porto já não é perseguido e afasta-se para levar o Benfica ao título. Pinto da Costa volta duma Romaria a Fátima, e depois de uma visão apocalíptica convida Rui Rio a ir ao estádio. Este vai e vê em Pinto da Costa as chagas de Cristo. O estádio muda de nome para “ Estádio do Estigmatizado”

2024 – Ano da saúde. Longas listas de blocos operatórios em espera de doentes. As enfermeiras do hospital Sta Maria lançam a primeira colecção de tapetes de Arraiolos.



Agora uns anitos a relaxar com uns governos PS...



2025 – A filha de Martins da Cruz acaba o curso.

2026 – Terminam as obras para o euro 2004.

2027 – É inaugurado o aqueduto Alqueva-Casablanca. AntónioP.Vasconcelos diz que não tem verba para fazer o filme da vida de Bibi, que ele reputa essencial para a compreensão do Portugal moderno.

2028 – O Sri Lanka entra para a Comunidade europeia. A regra da rotatividade promove a presidente deste ano a Papua Nova Guiné. As nações unidas inauguram a sua nova sede num armazém em cabo ruivo. È o primeiro ano na clandestinidade.

2029 – Ferro Rodrigues apela ao apoio do partido depois de João Soares o ter chamado de velho ferrugento. O PS é novamente entregue aos credores.

Volta o sufoco da crise....




2030 – Ano do poder. Mega fusão entre a ordem dos advogados, a procuradoria, e o tribunal da relação. O tempo médio de conclusão dos processos passa agora para 15 minutos. A Polícia judiciária opta pela fusão com a SIC. A fase de inquérito dá-se no jornal da noite. O governo e o parlamento chegam a acordo para juntarem os trapinhos com a liga de clubes. O “diário da república” é distribuído com os bilhetes cativos de época. Finalmente três poderes estão bem definidos e separados. O quarto poder – Narciso Miranda – está à espreita.



2031 – Ano da poupança. Paulo Portas, em nova contenção de despesas, inaugura a 1º carreira regular dos submarinos entre Trafaria-Bobadela. De periscópio em riste procura ansiosamente o cadáver de Nélinho Monteiro a boiar junto de uma alforreca.

2032 – Ano das desculpas. Pedir desculpas pelas asneiras ditas passa a ser tributado e a principal fonte de receita para o estado. O tremendo sucesso desta medida leva ao entusiasmo de prometer outra vez a linha do TGV entre Lisboa e o Porto para o ano de 2058 (deste vez é que é).

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