O nosso Plimeilo Sóclates em Chinatown

Como sabemos José Sócrates está a ser recebido na China com honras de presidente da Câmara. Neste tipo de viagens a figura da geminação é um must que agora também não poderia faltar. Antecipo os mais relevantes:

A Muralha da China vai geminar com o Aqueduto das Águas Livres e assim também as Torres das Amoreiras e o Túnel do Marquês passarão a poder ser vistos da Lua (neste último caso será até a única hipótese, porque cá nem vê-lo).

O Chap Soi vai geminar com o Bacalhau à Brás, mas não se conseguirão terminar as negociações entre os clepes e os pastéis de bacalhau porque há conflito de interesses com o óleo Fula e a magalina Vaqueilo.

A Academia de acupunctura de Pequim vai geminar com a Procuradoria-geral da República e assim Maria José Morgado poderá picar cirurgicamente apenas nos podres da sociedade, sem precisar de shiatzar muito.

A Praça de Tiananmen vai geminar com o parque Eduardo VII e as poucas-vergonhas passarão todas a ser feitas debaixo de blindados de artilharia em riste.

Os Guerreiros de Terracota vão geminar com a loiça das Caldas, e será lançada uma série especial na qual cada chinês poderá beber o chazinho verde numa canequinha contemplando a sua heróica masculinidade que nem um imperador na Cidade Proibida.

Manuel Pinho vai geminar com uma casa de rifas de Macau e há fortes possibilidades que calhe a uma velha míope de Hong Kong.

O Pato à Pequim geminará com o Frango da Guia e assim este passará a ser servido com umas tirinhas de bambu enfiadas no, bem já estão a ver onde, julgo.
Luna Park

«(…) sinceramente, vigorosamente, ardentemente, fraternalmente, maternalmente, amigavelmente e apaixonadamente», de Milan Kundera, in ‘O livro do riso e do esquecimento’, D. Quixote, 1986

*

«O amor não produz tanto efeito como a sua aparência» de Robert Walser, in ‘A Rosa’, Relógio d’Água, 2004
O tal de voto

Para tratar a questão em referendo duma forma relativamente fria, o mais possível isentada do seu enquadramento moral ( e religioso) , procurando eliminar ao máximo as questões e retóricas que são acidentais, os paleios de consciência, relativizar ao máximo os extremos (ilimitado valor da vida e ilimitado valor da liberdade da mulher) , e dando de barato – porque parece óbvio e consensual - que em qualquer dos casos o legislador acabará por ‘eliminar’ as penas dos casos em que o aborto continuará a ser crime, (e deixando-me de piadolas que já maçaram a senhora aqui do estabelecimento) , coloco o seguinte em cada prato da balança, e sem grande receio de termos:

Deveremos ter uma lei dissuasória dum acto grave, porque termina com uma vida humana em progresso por razões que podem ser desproporcionadas, mesmo sabendo que assim se continuarão a praticar abortos ‘não protegidos’ pela lei em condições muito precárias e arriscadas

Ou

Deveremos proteger a autora desse acto, mesmo que grave, permitindo que o faça em condições médicas próprias e decentes

Voto no sentido da primeira, ou seja ‘Não’ no referendo.

(e agora sigam as piadas)
Centros de Saúde – tabelas 2º semestre 2007

Pensos – 3 €
Injecções – 1 €
Secagem de furúnculos – 2 €
Desencravagem de unhas – 2,5 € (por unha)
Interrupções voluntárias
- de gravidez: 5 €
- de digestão: 1 €
- de neuras: 2 €
- do pingo no nariz: 0,5 €
Lavagem
- ao estômago : 3 €
- ao cérebro: 5 € (com credencial do Minº das Finanças)
- de roupa suja: 3,5 €
Erupções involuntárias
- coçar: 1 €
- drenar o puzinho: 2€
- esfoliar: 3 € (só com receita de dermatologista)
Vapores – 3 € (Ventilan pago à parte)
Desencucanços – 4,75 € (no final as asinhas do cuco podem ser utilizadas em churrasco)
Desintoxicações
- de Lexotans: 0,25 € (trazer saquinho para bolsar)
- de Fairy: 0,50 € (ter o vileda sempre à mão)
- de crabbe au curry: 75 €
- de gelado: 5 € sem bolacha, 10 € com bolacha
Remoção de traumas devidos a Cartas astrológicas
- de todos os signos excepto aquários: 2,5 €
- aquários: 35 € (com oferta de um tratado de numerologia)
a alegre campanha

É vê-los afobados na plataforma a apanhar o comboio em andamento. Uns o do ’sim’, outros o do ‘não’. Todos à procura do melhor lugar à janela do vagão-restaurante. Não vá alguém deixar de os ver e esquecê-los à sobremesa no final do repasto. Porque depois será Carnaval e as máscaras já estarão soldadas. Digo, saldadas.
Moi et les femmes

A audiência googleana disto está a apanascar um pouco...

É só para informar que Clara de Sousa tomou a dianteira a Mª José Morgado, mas Florence Nightingale deu indicações de que não quer dar a liderança por perdida. Entretanto, Sta Teresinha parece também desejar entrar na corrida. De J. Binoche, nem sinais. E então de Mizé Nogueira Pinto deixou completamente de se ouvir falar. Saudades saudades, só dos tempos de Fátima Felgueiras.
Fita de franzir

«E já lá diziam os Gregos: não há mais convicta moralista que uma prostituta reformada.»

Sapphic challenge (Still no rules), em 21 Julho 2005
Dicionário de interiores #1

Toda a alma precisa duma boa decoração.

Remoer – Processo pelo qual uma ideia passa num tabuleiro da sala de jantar para a cozinha sem deixar a acidez dos restos transformar-se em mau feitio espalhado pelo chão.

Encucar – Técnica de lacagem das portas da arrecadação, e que lhes permite, ao estarem fechadas, parecerem-se a autênticas paredes de oratório em tempo de quaresma.

Elucubrar – Trabalho minucioso de marmoreados que pode levar um nicho com banalidades emocionais de fancaria parecer-se a um arranjo de baixelas sempre a brilhar.

Ruminar – Preparação do estuque que vai servir para disfarçar as rachas provocadas pelas infiltrações de boas intenções numa empena de desenrascanços.

Florear – Técnica destinada às barras de cortinados e que permite às bainhas dos sentimentos, mesmo andando sempre arrojar pelo chão, julgarem-se a esvoaçar ao vento.

Procrastinar – Tipo de torcido de verga mental usada em canapés, que acabam por não sair do hall porque nunca combinam com os sofás da sala coçados pelos remorsos.

Congeminar – Pavimento flutuante especialmente adaptado a zonas de passagem e que permite aos tacões afiados dos saltos altos soarem como autênticos pezinhos de lã.

Pirronar – Tipo de passe-partout que põe um simples emaranhado de sensações pífias parecer-se a um pollock de sentimentos nobres.

Aliviar – Modelo de abertura de estores que, com a deslocação da luminosidade no entardecer, permite saber se o cu está virado para a lua.
Sim

1) A sua fotografia é boa mas nada que justifique o repouso, de agora em diante, à sombra dos pneus.

2) Votarei em plena consciência de mãe que nunca abortou e estou farta de ler propaganda ao ‘não’.

3) Aqui como na eternidade do Vinicius.
Luna Park

“Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade. A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes da sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas acções - ridiculamente humanas às vezes - que ele quereria insisíveis, coa-as a lente da celebridade para espectaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade.”

Fernando Pessoa, “Notas Autobiográficas e de Autognose”
Luna Park

«A saudade é um bicho. Pode fazer-se dele um animal de companhia ou uma fera imprevisível e de difícil doma. Em qualquer dos casos a trela deve andar sempre curta e firme porque sem saudade os bichos somos nós. E, se nos arranhar, há que lamber rápido para apanhar ainda o sabor da ferida fresca» in ‘Azul Cobalto’

*

Contigo aprendí / que existen nuevas y mejores emociones / contigo aprendí / a conocer un mundo nuevo de ilusiones. // Aprendí que la semana tiene más de siete días / a hacer mayores mis contadas alegrías / y a ser dichoso yo contigo lo aprendí. // Contigo aprendí / a ver la luz del otro lado de la luna / contigo aprendí / que tu presencia no la cambio por ninguna. // Aprendí que puede un beso ser más dulce y más profundo / que puedo irme mañana mismo de este mundo / las cosas buenas yo contigo las viví. // Y también aprendí / que yo nací el día en que te conocí.

Armando Manzanero - «Contigo aprendi»
telha ou camião?
Banco de esprema

Gostaria também de vos dizer que me estou bastante a borrifar para os dramas pessoais e soberanamente a cagar para os dramas colectivos. Não é bonito de se dizer, não, e, saibam, não é sequer interessante de se sentir, mas a verdade é esta, não há que escamoteá-la, nem escanhoá-la, nem escalpelizá-la e agora não me estão a ocorrer mais palavras giras começadas por ‘esca’ tirando escalope e esgadanhar se bem que esta última tenha um malandro dum ‘g’ de gato. Um drama pessoal geralmente incomoda, desconcentra-nos e, não raras vezes, contemplá-lo torna-nos mais egoístas ainda, focando-nos no agradecimento bacoco pela nossa condição de meros gajos que apenas são espremidos até ao tutano pelo mundo cruel, mas que no fim acabam por não no-lo chupar (o tutano, registe-se) e ainda deixam qualquer coisinha para nós próprios desfrutarmos, género ir ao cinema, fumar um charuto ou mesmo empurrar o baloiço duma criança de faces rosadas e a dizer papá adoro-te, e se me deres uma nova playstation ainda poderei gostar mais de ti do que dos morangos com açúcar. Para além disso ainda não tenho uma opinião formada sobre o disco do JP Simões, e isso chateia-me, até porque sobre o referendo já tenho, mas, basicamente, eu hoje estou parvo, ou melhor, notar-se-á mais que estou; para compensar, a senhora dona aqui do estabelecimento até que podia pôr uma fotografiazinha para animar e tal.
Luna Park

Corpo de linho / lábios de mosto / meu corpo lindo / meu fogo posto.(…) milho vermelho / cravo de carne / bago de amor (…) volta a nascer / quando há calor (…) Olhos de amêndoa / cisterna escura (…) / Oh minha terra / minha aventura (…) Moira escondida / moira encantada / lenda perdida / lenda encontrada.

De Ary dos Santos, in ‘Desfolhada’
coração de betão

Eu gosto da expressão «a criança em concreto», mas soa-me sempre um pouco a humanismo de cinco de areia com uma de cimento: sem lágrima não funciona.
Uma coçadela casual entre duas erupções também pode ser considerado uma interrupção voluntária

«Na diversidade congregada nesta enorme distância que parece percorrer a linha (…) mesmo na esfera das posições híbridas (…) o sistema terá de estar dotado de capacidade dialogante e comissiva.» clarividência estonteante – e mesmo premonitória - de marta rebelo, no blog de sevilhanas sim-referendo (isto desde que aprendi a pôr links no wordpress, agora não pára)

(ai credo, vejo agora que interrompi involuntáriamente algumas frases prenhes de lógica e conteúdo… mas foi tudo uma questão de respeito pela liberdade do meu post)
night (high) light
Gajos com estudos moments

Isto do referendo vale essencialmente pela retórica, pelas piadas excessivas, pelo abuso de metáforas e analogias, pela estética e pela anti-estética. Algumas assim de chofre tiradas daquele blogue que diz que é uma espécie de magazine do sim (sim-referendo.blogspot.com)

«Não a vida como valor supremo, desencarnado, ficção possessiva, ideia enrolada» dum tal de João Sedas Nunes, também conhecido como o Ary dos Santos do ‘sim’

«vivemos numa sociedade de cidadãos, não numa sociedade de embriões» de um tal de João Pinto e Castro, agora evitando a piadola com pinto, parece-me claramente o Guterres do ‘sim’

«Voto SIM porque quero deixar de ter vergonha do meu país» da nossa f., hoje vestida de Miguel Sousa Tavares do ‘sim’

«nunca encontrei um único argumento que me impedisse de achar que se deva começar, primeiro e antes que tudo, por fazer o possível e o impossível para se evitar» dum tal de maradona, também conhecido como o Narciso Miranda do ‘sim’.

«O grande problema do “Não” é que o único salto abrupto do desenvolvimento humano ocorre no momento da fecundação» por um tal de Vasco Barreto, também conhecido como o Vasco Marta Crawford Granja do ‘sim’.

«As formulas são diversas. E, normalmente, muito originais. Mas vão todas dar ao mesmo: justificações para não se alterar uma lei indigna» por um tal de Vasco rato, também conhecido como a condolezza rice do ‘sim’.
Ordem dos arquitectos moments

Acho que esta campanha está a ser muito injusta para com os vãos de escada.
Luna Park

O que eu procuro na transfiguração cómica ou irónica ou grotesca ou burlesca é a saída da tacanhez e da univocidade de toda a representação e de todas as opiniões.

Italo Calvino, «Ponto Final»
Juliette Binoche moments

Todas as mulheres deveriam ter um bocadinho de Binoche. Um bocadinho chegava. Era, no fundo, o tal ‘happy enough’ de qualquer mulher.

Nota: o ranking de buscas a nomes de mulheres neste local de praticamente culto é liderado pela Maria José Morgado, logo seguida de perto pela Clara de Sousa, e em terceiro lugar a Florence Nightingale. Espero agora inverter esta tendência para poder estar bem com a minha consciência. E o meu corpo, inclusive.
O Culpado disto

É José Sócrates. Na presunção de uma capacidade única para ‘fazer o que deve ser feito’ leva o país para um referendo absurdo, tanto nos termos como na oportunidade. E porquê? Porque para esse iluminado a quem o poder caiu nas mãos como um ‘feto resultante duma noite de bebedeira’, a gravidez passou a ser mais um tema como a incineração, ou os aterros sanitários, ou as facturas discriminadas, ou o crédito à habitação, ou o seguro automóvel, ou seja, algo para se resolver limpinho, certinho e mais nada. O ‘direito à vida’, ou o ‘direito da mulher’ serão tratados como mais uns item no direito do consumidor; mas com direito a uma fanfarra referendária que alimenta ‘sim’s’ por respeito e tolerância, e ‘não’s’ por convicção de consciência. Aqui para nós, tudo uns belos fodasses.
Luna Park

«Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo - / Transeunte inútil de ti e de mim, / Estrangeiro aqui como em toda a parte / Casual na vida como na alma, / Fantasma a errar em salas de recordações / Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem / No castelo maldito de ter que viver…» - Álvaro de Campos, Lisbon Revisited, 1926
step-by-step
Oskar Schlemmer (1925). «Frauentreppe». Basel: Kunstmuseum (óleo s/ tela 120.5 x 69 cm)
La couveuse sportif

Podemos reduzir todos os problemas humanos à sua face prática, ou seja, a como encaixá-los da melhor maneira na vidinha, por forma a que não nos façam muitas comichões e nos permitam seguir em frente num caminho mais fácil, mesmo que pisque nas bermas um ‘depois logo se vê’ em cores vivas de casa de alterne. A gravidez, por exemplo, também tem essa face, ou seja: se atrapalha deve haver algumas soluções de aplicação mais fácil que outras. Desmanchá-la é por vezes a tal solução prática mais fácil e mesmo aquela que comporta menores danos face a uma análise de prós e contras ‘práticos’, é a que convive melhor com qualquer dos estilos, desde o lounge lifestyle até ao sportif lifestyle, já sem falar no ai-eu-preocupam-me-as-pessoas lifestyle. E garantir que as soluções mais fáceis sejam aplicadas com a maior limpeza e desempoeiramento é algo que se afigura duma lógica praticamente irrefutável.

O homem tem de conseguir saber viver bem sem valores muito sofisticados, senão seríamos uma espécie de tábuas da lei com pernas. A ‘vida humana’ é um valor muito rebuscado, credo. Não facilita nada as coisas enfiá-lo na nossa equação doméstica. Nem falemos então de ‘pessoa’, ou ‘alma’, e então de ‘finalidade’, que susto, até pode criar fungos no estômago. E, já se sabe, o homem presume-se inocente antes do aparecimento da serpente.

Restrinjamo-nos então às coisas simples: quem tem um poder , uma capacidade, deve exercê-la, quem cá está, está, quem não está, estivesse, só fazem falta os que cá estão ( esta é muito futeboleza, aliás), só os verdadeiramente malandros devem ir para a prisão, e antes o direito duma mulher na mão que o direito de dois fetos a voar.

Passemos agora à economia das aflições. ‘Já bem basta o que não podemos evitar’ é a contrição do momento; David Hume dizia que «um prazer que nos é conhecido afecta-nos mais do que outro, que reconhecemos ser superior, mas cuja natureza nos é totalmente desconhecida» (*), ou seja, subvertendo-o com aprumo, já que algo se vai foder, que seja algo que não nos possa fazer mal de seguida, se temos de viver aflitos ao menos que seja só com a inflação e os impostos, e se possa ir aos saldos e ver a bola com calma, que da condição humana tratamos quando tivermos verba para isso.

No fundo regemo-nos pela mesma lei do galinheiro: se as galinhas estiverem a chocar, a primeira prioridade continua a ser safarem-se da raposa, que o dono do churrasco também não se queixa.

Enquanto não houver provas irrefutáveis de que o árbitro vê tudo acho que devemos levar a vida na desportiva; e bem equipados de preferência.

(*) Tratado da Natureza Humana, Livro II , ‘das paixões’
Luna Park

«Os homens, já reparei, podem ser efectivamente indiferentes ao que os rodeia (…). As mulheres não são assim.»

Martin Amis, in ‘Experiência’, Teorema (2002)
Gajas inacessíveis moments

Ontem vi pela primeira vez na vida (!) um episódio inteiro da Ally Mc Beal. Ia com a indicação técnica, e remota, de ‘mulher engraçada’. Mas não sei, a minha referência de ‘mulher engraçada’ será sempre a Sandra Bullock. A mulher engraçada tem de ter o chamado ‘funk apeal’, ou seja, uma espécie de ‘sex apeal’ mas que leve a cantar, ou a pensar em qualquer coisa assim medianamente dançável ou mesmo rebolável (não basta ser uma mulher em que se fique a pensar nela tout court); mesmo que eu ache a dança uma manifestação da degradação do mamífero, que fica ali situado entre a borboleta e o beija-flor, consoante o ritmo do abananço de rabiosque. Uma ‘mulher engraçada’ tem de aguentar ouvir connosco os ‘I’m from Barcelona’ sem nós conseguirmos ficar com as mãos quietas, tipo jamiroquais lovers, e passarmos meses sem nos sair essa vertigem ululante da cabeça. Sintetizaria, a título de mensagem prática: toda a mulher deveria gostar de ser uma mulher engraçada, começando pela cintura e caminhando em qualquer dos sentidos.
QREN e o código da estrada

As prioridades do novo ‘Quadro de Referência Estratégico Nacional’ (os socialistas aplicam-se mais quando toca a escolher slogans - o chamado sloganismo democrático, bastante semelhante a onanismo democrático, por sinal) são: ‘qualificação dos recursos humanos’, ‘competitividade’ e ‘valorização do território’. Julgo que sempre os mesmos de há vinte anos. Não é uma crítica, eu acho que pode ser bom que se mantenham as prioridades. Desde que se mantenha constante o sentido, claro. E conservar também uma distância prudente para com os da frente, não vá de se dar alguma colisão.
Maria José Morgado moments

(pessoal: vocês leram bem, repito: leram bem!? as declarações da tal de procuradora geral adjunta??? Topem só: ‘sim porque’ por exemplo…«o aborto ilegal é um negócio que produz dinheiro sujo, que não é tributado”, ou «Estes fenómenos potenciam a corrupção, a venalidade e crimes de enriquecimento ilícito». Volte Cardeal, está perdoado!)

Então por uma corrupção legalzinha e limpinha: Junta-se um dirigente desportivo com as vacinas em dia com um árbitro sem alergias a fungos. Encontram-se num restaurante devidamente vistoriado e aprovado pela ASAE e de caixa registadora com o talãozinho numerado e identificado a servir de factura. O dirigente solicita o NIB ao árbitro que entretanto apresenta o documento aprovado pela câmara que o tinha licenciado para fiscal de linha. O Dirigente pega no cartão multibanco e dirige-se à caixa mais próxima na presença duma carrinha de reboques do ACP que tinha ganho a concessão para o acompanhamento das corrupções na grande Lisboa acima dos 25.000 euros. Efectuada a transferência, o árbitro emitia o respectivo recibo – estava ainda em averiguação se se tratava duma operação sujeita a IVA, ou não – e anotava no caderninho – também modelo da câmara - qual o joguinho a ser devidamente assessorado. A conta do restaurante seria paga em cheque pelo árbitro porque andava a precisar de despesas de representação verdadeiras. O clube prejudicado, por cada golo que visse anulado, poderia deduzir 5% das pretações atrasadas da SSocial, e por cada golo que levasse em fora de jogo tinha direito a abrir uma barraca de farturas na zona das bilheteiras.
original sin
‘Homem moderno fez sexo com Neandertais’ (*)

Certamente Baudelaire não o saberia, Sade deixou passar, Picasso topou-o bem, Charlie parker sonhou em fazer a música ambiente, a Quercos quer essa pila embalsamada, Mª José Morgado diz que não é uma prioridade para a sua investigação, António Damásio diz que já não vai a tempo porque aquilo são um monte de ossos, Paula Rego diz que lhe parece uma cena demasiado bucólica, Inês Pedrosa diz que é uma notícia bonita porque não refere os sexos envolvidos, Cristiano Ronaldo diz que nem viu bem como elas eram, Vasco Graça Moura diz que rima com ‘doce inverno’ e ‘almas banais’, mas Luis Pacheco diz que rima bem com ‘dores no esterno’ e com ‘outras que tais’, S. Rushdie diz que o mal foi um deles ter começado a pensar que Deus os estava a ver, mas Sócrates quer garantir que, se voltar a acontecer, tudo se pode resolver com a maior responsabilidade e limpeza possível.

(*) mais um título da Público de hoje, claro
Fedra moments

Pior que um coração despedaçado é mesmo uma rima não ser compreendida. Toda a vida ( intra e extra-uterina ) deve poder ser resumida a uma cadência alexandrina.

‘Medeia é uma história desgraçadamente muito actual’ (*)
Janeiro 16th, 2007

As utopias mais ou menos camufladas sobre o destino do género humano deslocaram os mitos da felicidade para o campo da facilidade e do bom senso. O bom é o fácil, é o que não faz sofrer, é o que relaxa as consciências dadas ao tormento. Criaram-se novos romantismos, novos idealismos, novos realismos, todos ao serviço da vertigem dum ‘tem de ser’ com cheirinho. Carentes duma causalidade mais profunda os homens têm de se satisfazer com as causalidades de ocasião, com os servicinhos que a espécie exige para se manter à tona com a aparência de mamíferos esclarecidos e sem comichões nas partes. O pragmatismo é agora apenas um caroço que se chupa, é o que resta dum fruto que já nem se sabe de que árvore veio; nem interessa, desde que dê bom efeito na salada. Caminhamos para a fusão entre o nominalismo e a metafísica, coisa que o sexo explica bem: a potência é um acto mal explicado.

Título dum artigo do Público de hoje que transcreve uma entrevista a propósito duma adaptação da Medeia.
The f. ’rendum

Existe um novo desporto nacional (*): acompanhar o que fernanda cancio (com circunflexo – o nome, claro) escreve, e que se encontra também em glória fácil (http://gloriafacil.blogspot.com), sobre o referendo ao ivgorto.

O conteúdo já pouco importa, e, tal como na discussão sobre o futebol, o essencial é ver se os argumentos passam ou não pelo crivo do slow motion. Ou seja, se aquilo tudo dito, mas mais devagarinho, com as câmaras a apanhar todos os ângulos, continua a fazer sentido. Basicamente, tudo me parece um pouco a famosa ‘mão de Vata’ (atenção isto não é trocadilho!!! Estou mesmo a referir-me à famosa mão do lampião Vata) um bailado esbracejante de retórica, crendices e voluntarismo, mas que por vir acompanhado de boa música nos encanta.

Mas eu confesso, gosto daquilo; não a acho tanto um Afonso Costa, como dizia o João Gonçalves do PdP (http://portugaldospequeninos.blogspot.com), mas sim um Ronaldinho Gaúcho da liberalização, (tudo comparações masculinas, que aborrecimento) alguém a quem se perdoam todos os rodriguinhos, todas as bolas que apenas foram feitas para bater no poste e rodar pela nuca, mas, desde que, meu Deus… um sorrizinho, vá, apenas um sorrizinho malandro.

A minha opinião sobre o tema é também irrelevante: votarei ‘não’ porque a Igreja manda; não bufem, trata-se dum mero raciocínio dentro da economia pessoal da salvação; já me são bastantes os pecados mais clássicos da soberba (reparem que não disse luxúria) e afins, e outras desobediências avulsas, que tenho de poupar-me nestas coisas duvidosas e menores, e dalguma forma alheias; o sufrágio é também uma legitimação democrática do egoísmo, devemos votar por nós e não pelos outros porque, regra geral, pelos outros votam eles, isto tirando a ideia - de esquerda - de que nós é que sabemos o que é bom para os outros, claro.

Farei doravante apenas uma análise puramente técnica, serei o Gabriel Alves do ‘não’, e darei o devido ênfase à cobertura dos espaços vazios e às diagonais.

IVG – O Lorosae do género feminino

Libertar o feminino do jugo duma sociedade masculinizada, falocêntrica nos preceitos e nas prioridades. Parece-me lindamente; até agora apenas a pílula, o micro-ondas, os caldos Knorr e os lubrificantes vaginais tinham feito alguma coisa de jeito pela mulher, exige-se que as leis da República acompanhem em conformidade, dado que o busto não evoluiu, e o cardeal está mais sensibilizado para a guerra química. A mulher é um paraíso petrolífero e não pode estar paralisado por ali alatas opressores e egoístas. Passada esta fase, entrando no ‘sim’ do dia seguinte, haverá sempre certamente uma Austrália qualquer para vir tomar conta da mulher, entretanto aliviada por não precisar de, clandestinamente, ir subir as saias para as montanhas.

A cada ovário o seu pilhão

A mulher é uma reserva ecológica. Parecendo claro que já não há mais argumentos nem dados novos do ‘sim’ e ‘não’, já se esgotaram as ideias peregrinas sobre contabilidades de traumas, ansiolíticos, despesas hospitalares, e prerrogativas de zigotos e companhia, a opção de curto prazo é sermos todos uma grande ASAE: a nova ética é a higiene, a comida pode ser uma merda desde que seja tudo feito muito limpinho. Procriar será apenas mais uma opção do big fuck menu, e os molhos devem ser incluídos.

A revolução grelária: o ovário a quem o trabalha

A mulher não é um pasto, não é um espaço de treino para pousios e fertilizações. É sim uma fonte de rendimento, porque, como se sabe, o verdadeiro capital são as pessoas, e tem de ser garantido que se produzem tendencialmente: boas pessoas. A mulher tem essa responsabilidade e esse direito: não é a dona do sacho, mas é ela mexe no tacho.

O tribunal das motivações

Mais importante que uma opinião é, como se sabe, uma motivação. Mais importante que o próprio ‘sim’ é que ele seja motivado pelo ‘respeito’ e não pela ‘pena’. Por exemplo, enquanto um ‘sim’ por respeito vale 10 pontos, um ‘sim’ por pena vale apenas 6, enquanto que um ‘não’ por respeito poderá valer entre 5 a 8, encontrando-se assim uma pequena franja de ‘não’s que poderão ombrear com alguns ‘sim’s que sejam apenas suscitados pela pena. O ‘não’ por ‘pena’ classifica entre 0 a 0,5 , mas até agora só foi encontrado o caso dum leitor do César das Neves que trabalha na sopa dos pobres da almirante reis e que tem medo de ficar sem hipótese de exercer a caridade às sextas em que não tem bridge. O ‘não’ apresenta ainda uma terceira motivação (aparenta ser mais rico em motivações, mas é aparente) que é o ‘não’ porque não, e classifica entre 0,5 a 5 consoante a) o cartaz que mais se identifique; b) argumento de bioética ter menos de 2 anos e não ser dum americano criacionista e evangélico; c) a fotografia de ecografia às 8 semanas já vir com o nº de sócio do sporting. O ‘sim’ de quem já deu graveto para um desmancho com anestesia e tudo (também conhecido por ‘muito boa pessoa’) tem bónus e pode encarrilar para o ‘sim’ dois votos nulos de católicos em crise pascaliana. O tribunal das urnas terá assim de fazer uma contagem ponderada, no fundo apenas uma forma mitigada do método de Hondt, e uma maneira de arranjar mais negócio à Euroexpansão.

Todos estamos de acordo, tomos queremos o melhor para as pessoas, todos sabemos o que é ‘o melhor’, todos sabemos o que é ‘querer’, só não sabemos o que são ‘pessoas’. Rushdie quando escreveu sobre a morte de Raymond Carver ( blaaaarghh) disse: «A sua morte é difícil de aceitar, mas pelo menos ele viveu». É o que se diz duma pessoa, no fundo.

(*) surripiei, corrompendo, uma expressão utilizada pela própria ‘f.’ (a propósito de Ana Gomes)
Luna Park

«Nada é mais erótico do que aquilo que te é feito guiado pelo puro egoísmo do teu amante. A caridade, por outro lado, é o maior anafrodisíaco.»

‘The Book of Shadows’ de Don Paterson, ed Picador, 2005
Eva moments

Deus pensara em tudo, mas como não tinha jeito para o desenho, deixou os últimos retoques nas mãos dum pintor naturalista. Saiu um paraíso pomaroso. Frutas de pele aveludada e caroço misterioso. E temperada frondosidade. O casal primordial desconhecia a maldade, só ao de leve a adversidade, por isso olhavam-se como se por detrás da pupila, estivessem o coração, o fígado e o rim, todos numa fila, e respiravam com o ofego suave, sem ponta de neura, como a quem do pulmão só lhe interessasse a pleura. Ela encontrou a serpente num dia solarengo; fizeram-se amigas e decidiram alambazar-se - como se o futuro fosse antes - com umas reinetas de formas jeniferlopezantes. Caminharam primeiro no sentido da polpa para a grainha e depois sumo para o batido. Chegou a alvitrar-se que o pecado original fora patrocinado pela Moulinex: first peel, after sex . Mas o Adão, claro, não quis perder pitada, e interpôs-se, está bom de ver, no sofisticado sistema de equilíbrio entre uma cobra e uma mulher. Incapaz de perceber o que se passava, gerindo a aparente rejeição, escolheu a maçã, enquanto o fruto certo se baloiçava noutras árvores, no meio das folhas que rejubilam, brincando com a seiva e com as amigas que clorofilam.
French kissin’ moments

(apreciar outros em http://frenchkissin.blogspot.com)

E no que concerne (palavra essencial, registe-se) a regimes políticos, a determinismos históricos e a outros beijos de judas da dialéctica: apesar das utopias, não tenciono abandonar as desilusões.
Marlon Brando moments

O senhor alega que nunca esteve com a rapariga em sua casa mas apenas em casinos e hotéis. A rapariga interrogada insiste em tê-lo conhecido em restaurantes e hotéis. Naturalmente. Os diferendos começam sempre com a geografia dos lugares da memória. Selectiva.
Sta Teresinha moments

Mas na págª 5 do referido Público (que também pode ser considerada a antepenúltima se acabarmos a leitura na págª 7, o que já nem era um esforço tão pequeno como isso) o nosso Pacheco Pereira (hoje ‘historiador’, não sei se terá uma escala de profissões por dia da semana) que também faz arranjos de flores em abrupto.blogspot.com (mas não sei se tem entregas ao domicílio) diz que «Para o ‘mundo’ faz mais falta uma Igreja sólida, lenta e prudente, ou seja conservadora, do que uma Igreja ‘progressista’». Lá está, ser pago para escrever em vez de ser pago para pensar dá nestes arrojos.

A Igreja não foi criada - quem criou… quem foi? Quem foi? – para dar estabilidade ao mundo, nem para ser útil ao ‘mundo’. Para isso inventaram a roda, o micro-ondas e – às vezes parece que infelizmente – a imprensa. A Igreja, é antes de tudo, antes de tudo, antes de tudo, foda-se: antes de tudo! Hem! Uma Igreja de Vocações. Algo que ‘ficou’ para ajudar o homem a unir-se a Deus, sabendo-se que é da sua condição: amar a Deus acompanhado. Para dar estabilidade ao mundo, ora segundo grande foda-se! para isso Deus nosso senhor tinha posto uns amortecedores gigantes nesta merda e passávamos todos por cima dos comentadores de moral de bancada que até pareciam relva fofinha!

Pacheco Pereira (historiador) diz que a Igreja «é pelo magisterium que muda» O caralho é que é pelo magisterium que muda! (isto é porque ainda não tinha dito caralho). Pelo magisterium um gajo pode passar a vida a jogar sudokus de valores e princípios e convicções. Não é isto que muda a vida duma pessoa; o que muda a vida duma pessoa é a razão íntima da sua relação com Deus e com os Outros, e é isso que a Igreja acompanha: fazendo próxima a presença de Deus junto do Mundo e de cada um.

Ora desde quando é que uma Igreja «dissolvida no mundo» (ai que horror!) teria de deixar de ser um motor de doutrina, de interpretação da fé e da revelação. Mas desde quando é que a Igreja tem como missão equilibrar o mundo, e «estabelecer fronteiras definidas fundadas numa fé genuína dos seus crentes’, ora porra! A Igreja construiu-se com S. Paulos, com Stos Agostinhos, S. Jerónimos e mais um colhão de gajos e gajas (versão a cumprir quotas) que viveram apenas com aquela simples ideia de que a Igreja era um caminho, uma ligação com Deus, uma fonte e uma bilha, (e uma pomada para a virilha, não resisti, sorry). Ratzinger, sim Ratzinger - até conheço bem, ainda JPP andava a decifrar mensagens nas cuecas borradas dos comunas presos em Peniche já eu lia Ratzinger - escreveu coisas fabulosas sob o que é ser cristão ( como até já aqui trouxe algumas) mas nunca li que fossemos (os cristãos) uma espécie de Arquimedes em miniatura que seguravam e alavancavam a civilização enquanto os infiéis iam pondo óleo marado na engrenagem. Terei dito foda-se?
Marlene Dietrich moments

Hoje, na melhor página do Público, a antepenúltima, e que fala sempre das fofocas e bizarrias – no fundo o que verdadeiramente interessa nos jornais desde que apareceram os blogues e desapareceu a ‘cara da gente’ do Diário Popular – refere-se que foi encontrado um brinco de Marlene Dietrich, que ela tinha perdido junto a um lago em Inglaterra há mais de 70 anos. (Note-se que apenas mulheres muito especiais perdem os seus brincos, sejam quais forem as circunstâncias).

O artigo refere ainda que, para além do brinco, no lago, entretanto esvaziado, foram encontradas mais «três dentaduras, um olho de vidro e um soutien». Não indica se eram também da nossa Marlene. Vamos sonhar que não, claro, pois nunca mais nos seduziríamos com uma mulher a piscar-nos o olho e a sorrir. Mas não vos deixo sem que antes cite o nosso P. Mexia (http://estadocivil.blogspot.com), que está cada vez melhor: «A natureza fez com que ele não a satisfizesse. A civilização fez com que ela não o desejasse». O que este gajo não descobriria se se dedicasse a secar barragens.
'Ser liberal como opção quando já palpita um' Estado-nação?

Manifesto pelo ‘sim’ à burocracia

Custa-me ver o país a querer simplificar-se. O Estado deve ser barroco nos procedimentos, maneirista no contacto com os cidadãos, e suprematista na sua autocrítica. O cidadão é um elemento frágil do sistema social e não tem capacidade para se organizar sem um devido enquadramento de formulários, despachos intercalares e deferimentos.

O acompanhamento do cidadão deve ser efectuado em várias sedes, somos todos uma fusão de corpo, direitos, alma e vícios, pelo que nenhum documento deverá ser de única via, só o quadruplicado protege o cidadão atormentado.

O cidadão só deverá ser confrontado com o sufrágio directo em casos de extrema delicadeza, como seja o uso da epidural, da terebintina, ou o teor de calcário na água benta, e de preferência deverão ser aproveitados experientes administrativos já bem rodados e oleados, como a declaração do irs, o selo do carro, ou, no limite, os cartões de boas festas da unicef.

O poder é pela sua essência transitivo e deve ser exercido em puro estado de representatividade. A liberdade do indivíduo deve ser algo adquirido; todos devemos nascer reclusos, doentes e réus, e ter de conquistar o livre arbítrio da cidadania progressivamente, cumprindo os procedimentos predefinidos.

Todo o cidadão tem o direito a ser um número, um dado, e, em sociedades mais desenvolvidas, um ficheiro; todos devemos ter o nosso lugar no google earth e para isso deveria ser fornecido um boné individualizado com o nosso código de barras pessoal no cocuruto. Cidadão que não é controlado, não é eficiente, cidadão que decide sozinho e sem um caminho previamente documentado é oficialmente um perigo para os outros e para si próprio.

O interesse individual não deve ser mais que um registo informático, uma estatística. A sociedade deve ser vista como um presépio e o Estado deve cumprir todas as funções: de n. senhora, s. José, vaquinha e jumento; até a Redenção está intimamente ligada a um recenseamento. Medir deve ser uma obsessão do Estado, ser medidos uma devoção do cidadão.

Só existe uma moral: a do Estado. O indivíduo tem apenas o direito a adquirir excepções; todas devem ser pagas, e preferencialmente com o corpinho para evitar descriminações abusivas e injustas. É o princípio do exceptador-pagador. A gestão da excepção é uma das funções mais elevadas do Estado. Preencher o formulário das excepções deverá ser considerada a obrigação mais nobre e prioritária do cidadão.

As leis deverão ser tendencialmente abolidas. O Estado deve evoluir para poder avaliar de forma automática todos os casos individualmente, agir em conformidade e inapelavelmente. O limite é a discriminação perfeita: o cidadão é sempre um freguês ao balcão.

O cidadão deve sentir o Estado como o próprio coração, mas não deve abusar dos actos de contrição para não aleijar o Magno Músculo. O Estado não se justifica por um desígnio de soberania mas de sim de motorização e estabilidade. O conceito de ´poder’ deve ser apenas usado metaforicamente. Sem o Estado o cidadão é uma mera extremidade mal irrigada. A burocracia é o nosso sistema linfático. Devemos protegê-la e acarinhá-la. Um expediente é uma salvação, um despacho um descanso, uma conformidade uma bênção.

O bem comum não existe. O que existe é uma fórmula mágica para vivermos juntinhos. O Estado é a primitiva dessa equação. Saibamos ser variáveis solícitas, e corresponder sempre aos insondáveis desígnios do cálculo burocrático : Todos pelo Estado, todos pela burocracia, chupem todos os dias um rebuçado juntos e nunca mais terão azia. Nem mais um euro para os hospitais do individualismo, quando já palpita um estado que toma conta de nós. Simplificar é tornar-nos insignificantes.

Se quisermos desaguar umas águas pluviais teremos de conceder direitos de excesso de velocidade, se queremos um aborto às 10 semanas e meia teremos de ceder os direitos de abater dois sobreiros, se quisermos construir sobre estacas em cima do mar da palha teremos de deixar enterrar a avozinha no aterro do Piódão, se quisermos comer uns jaquinzinhos fritos, teremos de disponibilizar os direitos de tocar acordeão no poliban a partir da meia noite. E por aí adiante. A equidade e a justiça são algo para se viver nestas pequenas coisas. Um formulário, uma repartição, um despacho, uma concessão. O indivíduo serve para atrapalhar, é a sua razão de existir.
Henry Miller moments

Um grupo de trabalho, presidido por um senhor aparentando estado catatónico permanente e irreversível, recomenda ao governo português que seja disponibilizada ao contingente de cidadãos a frequentar os manic… er… as escolas nacionais o mínimo de uma sessão mensal (haja quem ensine estatística), obrigatória e devidamente avaliada, de sexualidade, perdão, sobre.
Luna Park

“Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?”, in «Pecado original», Poemas de Álvaro de Campos (p. 175), INCM
Luna Park

«António.

Que raio de nome, António. Eu devia era chamar-me Wladimir!»

Antº Lobo Antunes em ‘Cartas de Guerra- d’este viver aqui neste papel descripto’, 3 julho de 71 (aludindo a uma das personagens de Beckett em ‘à Espera de Godot’)
Clara de Sousa moments

E você, está bastante chocado?
um homem perfeito: a constatação
Peggy Guggenheim moments

O meu ideal estético cumprir-se-ia com a fusão dum óbvio Vasareli com um romântico Yves Klein. Mas só se tivesse garantias que nunca se transformaria num Frank Stella. E muito menos num Keith Haring.
Florence Nightingale moments

O referendo das metáforas e das analogias começa a trazer uma novidade: dentro das mesmas barricadas já começam a abundar os atropelos; todos querem ser a menina da cruz vermelha para escolher quem são os feridos mais graves.
Luna Park

“Conhecer as coisas não é sê-las [à minha responsabilidade acrescento «ou tê-las»]; nem sê-las [vg. «tê-las»], conhecê-las. Para ver uma coisa é necessário que nos afastemos dela, e a distância converte-a de realidade vivida em objecto de conhecimento.”

Ortega&Gasset, in “Para uma psicologia do homem interessante” (Estudos sobre o amor, pg. 145)
ups’ndowns
Querem fazer o favor de assobiar (*)

À semelhança de pintores, patés, blogs, after shaves e marcas de lingerie existem muitos escritores sobreavaliados. Raymond Carver é um dos casos mais paradigmáticos. Diz-se que inventa ambientes como se estivéssemos a falar dum hemofílico a lamber uma ferida; pois eu cá vou mas é finalmente entregar todos os livros que tenho dele à obra do padre Américo, algo que já venho a adiar desde que o lobo antunes começou a escrever livros que nem um neurónio art deco enfiado numa massa encefalica manuelina.

Desconfiem sempre de gajos que só estão bem com os mundos criados pela cabeça deles, pois nenhuma cabeça está à altura duma salada de búzios, ou duns profiteroles. Aliás, o verdadeiro teste dum escritor é vê-lo a descrever uma receita de cozinha; não é uma foda, nem um pôr do sol, nem uma pilha de nervos, nem uma ida à pesca, nem uma senhora a passear com um cão, não, isso qualquer tcheckov fazia no intervalo de duas radiografias aos pulmões, vão por mim: testem-no a descrever a nhanha margarínica a espraiar-se no fundo da frigideira, e depois os míscaros, aos risinhos nervosos, a tomarem o contacto com quentinho, e só aí saberemos se estamos perante um escritor ou se será apenas um proust com o hemorroidal mais sensivel. Raymoooond Caaaarver, foda-se é que só de nome, já enerva. Podia-se ter ficado por fazer finais enigmáticos de romances policiais, ou por crónicas a coktails de apresentação de cabriolets com estofos coçados, mas não: tinha logo de se arvorar em saber dizer com poucas dúzias de linhas, e com gajos que em beckett nem serviriam para levar chás de tília às mesas, o que outras almas se têm de esmifrar que nem rodrigues dos santos a descrever mamadas. Num dos seus contos uma personagem diz algo como «essa história não é preciso nenhum tolstoi para contá-la», como se dissesse que não é preciso ir ao gambrinus para comer um prego, como, no fundo, justificando todo o mundo, toda a escrita, do Raimundo. É por essas e por outras que há tipos que escrevem livros banais e depois quem inesperadamente os leia como se fossem fois gras do fauchon; até o Borges dizia que os livros dele só andavam a servir para ser oferecidos como presente e não para ser lidos.

Morreu em 88; claro um gajo destes só podia ter morrido em 88. Nesse dia eu até ia para a praia.

(*) pode ser o ‘let me kiss you’ do morrissey, se conseguirem. Nota técnica: não abusem dos trinados que fica foleiro
We are our own parables

Com o mar português a balançar os seus sentimentos entre uma despenalização próxima e uma pena capital longínqua parecemos a tripulação duma traineira que não sabe se haverá de congelar se de amanhar logo o peixinho. Conhecendo apenas o que é a vida por apalpação e o que é a morte por exclusão de partes vivemos reféns duma cultura de informação e de menorização de danos. Ou seja : de sobrevivência, apesar de sermos uma espécie de aparência tendencialmente autodestruidora (inconsciente e pulsionarmente?); haja algum cabrão que explique isto sem ser à base de lapsus. Já fui tentado várias vezes a pensar que Deus não existia, mas o meu corpo expeliu mais rapidamente a ideia do que a própria mente; formigueiro nas extremidades, algum atordoamento, nem deu tempo para me mijar pelas pernas abaixo, nem para aprofundar a ideia em condições mínimas, estou por isso também refém daquele cagaço mitológico da falta de sentido; se isto tudo não tem um sentido até poderia ser filho bastardo do capitão hook e enrabador de peter pans. Foi um desabafo. Pouco convincente. O que eu penso realmente é que temos de ir levando isto com calma mas sem poupar nos lubrificantes. Saber passar ao lado da merda deixando claro que não fomos nós, se for o caso de a pisarmos deixar claro que estávamos distraídos a pensar no bem da humanidade, e saber ser dos primeiros a levantar o queixo quando o aroma começar a aflorar. Acabei de me sentir mal com o que escrevi. É uma sensação boa saber que nos custa qualquercoizinha ser execrável. Mas quantas vezes não nos sentimos reconfortados com claras manifestações de ódio, quantas vezes não nos sentimos consolados com um raciocínio não importa a que resultado chegámos, quantas vezes não nos satisfazemos por chegar onde queríamos esquecendo-nos do como, quantas vezes não percebemos nada de nada mas precisamos de ter as tais extremidades com toda a sua capacidade sensorial, de demonstrar que somos pessoas de bem, e de que sabemos separar o trigo do joio que nem sofisticados centrifugadores éticos. Teremos todos direito a uma banca de monopólio privada de fins e meios, para gerir parcimoniosamente? Teremos todos direito a uma parábola só para nós? Tenho aquela impressão que Deus muitas vezes pensou desanimado: eu dei o meu melhor… mas depois algum anjo mais atrevido com cara de jack nickolson lhe terá sussurrado: é pá, olha lá, isto não é nenhuma retrosaria, hem. Mas a minha parábola particular é a da costureira: o tamanho certo da bainha depende mais do aperto da cintura do que da altura das pernas.
Luna Park

Porque sou Cavaleiro Andante / que mora no teu livro de aventuras / podes vir chorar no meu peito / as mágoas e as desventuras / (…) / Sempre que a rádio diga / que a América roubou a Lua / ou que um louco te persiga / e te chame nomes na rua / (…) / Podes vir chorar no meu peito / longe de tudo o que é mau / que eu vou estar sempre ao teu lado / no meu cavalo de pau. De Rui Veloso e Carlos Tê, em «Cavaleiro andante»
‘portugal é o país em que um gajo vai ao restaurante e pede um bife mal passado e recebe um duro como cornos’ (*)

Sócrates, o grande chefe faz-o-que-tem-que-ser-feito, sabe que pode ser uma daquelas figuras da história que passará ao lado duma grande biografia. Tal como aconteceu ao cavalo de gengis khan, ou ao cabeleireiro do marquês de Pombal, à virilha de Napoleão, ou mesmo o tipo que segurava no saco de enjoo do Cristovão Colombo, há personagens na história que cumprem o seu dever mas que correm o risco de não servirem nem para nota de rodapé, nem mesmo para decorar o teleponto da Barbara Guimarães. Sócrates informou-se junto do drink tank ( ou seja, o think tank depois duma almoçarada bem regada, como já tive aqui ocasião de explicar) e indicaram-lhe que tudo tinha a ver com a combinação de duas coisas chamadas: carisma e sorte. De sorte ele já tinha ouvido falar – era uma sandes mista de sampaio, barrosada com santana – mas agora a tal coisa do ‘carisma’ deixou-o intrigado. Tentou falar com o tipo mais inteligente que conhecia, que era o Constâncio, mas veio desesperado porque ele não tinha a mais pequena ideia da coisa, chegou até a suspeitar que fosse alguma paneleirice estatística do desvio padrão que punha umas ropinhas mais vistosas e transvestia-se de variância à noite; inconformado, chamou o Jorge Coelho, que de certeza já teria ouvido o pacheco pereira falar sobre esse tema, mas ficou desconsolado porque JC lhe disse que Cavaco já tinha esgotado o formato em género magro, e que Soares já tinha esgotado o género em gordo, ele só ainda tinha algumas hipóteses no género corcunda; assim não dava, pensou Sócrates, se deixasse de andar emproado não convencia nem a edite estrela, e antes uma lexicóloga na mão do que dois carismas a voar, e virou-se para o Alegre pensando que dos inimigos poderia sair uma sinceridade inesperada, tendo ouvido um conselho artístico: tens de ter pose de clint eastwood, voz um bocadinho arrastada, dás uma na evasão fiscal e duas nos genéricos, enfim podes ficar parecido com AP Vasconcelos, mas tens boas hipóteses de vir a ter um busto na cinemateca e o Bénard ainda escrever um artigo sobre ti e a gina lolofrígida, perdão lolobrigida; Sócrates começou a baralhar-se todo, pensou inclusive em manter Manuel Pinho até ao final do mandato e assim ficar para a história como o 1º ministro que nos voltou a devolver aos valores sãos e genuínos da terra e da agricultura, um povo de viriatos e amantes de couratos, lembrou-se depois de criar uma arma nova no exército: a Fancaria, e assim Portugal enviaria novamente batalhões de gente pelo mundo, ele seria o novo infante de sagres – que tinha entretanto ganho ao lobi da super bock – e eu já estou perdido neste paleio, mas realmente um tipo esforça-se para ter um 1º ministro com carisma do lombo, assim género ronald reagan com molho berlusconi, e leva sempre com um cabrão dum bitoque embebido em pickes avinagrados tipo genro do motorista do ministro do ambiente do montenegro. Eu cá rebobinava esta merda desde o D. Dinis, e íamos todos fazer picnics para o pinhal de Leiria. E nem falei da mizé nogueria pinto, nem do severiano teixeira. Estou a ficar mole. Salvo seja.

(*) frase acabada de ouvir neste momento por um gajo na sic, mas a expressão ‘como cornos’ é minha; faça-se justiça.
Luna Park

«A ‘verdade’ do batoteiro, se é que isso existe, é muito bíblica: alguns fins justificam alguns meios.» - nem Don Juan nem Ortega
ups’ndowns
Luna Park

“Charles Darwin tinha razão quanto ao poder de escolha da fêmea: ela tem capacidade para moldar os machos e para criar novas espécies.”

Therese Ann Markow, bióloga, Universidade de Arizona, Julho 2003

*

“Os adornos do macho não são necessariamente uma componente física, mas sim bens adquiridos.”

Gerald Borgia, biólogo, Universidade de Maryland, Julho 2003
Da moral do indivíduo à conservação da espécie passando por reduzidos afloramentos sexuais

Hoje todos nos arrepiamos com quem dá ares de professor de moral. «Quem é este gajo para estar a dizer o que se deve fazer» é o gargarejo mental com que imediatamente bochechamos a nossa dita consciência livre, e que queremos tão tranquila que nem um bebé depois de bolçar.

E é assim que, progressivamente, se vão instalando os discursos de tolerâncias bacocas e ‘enquadramentos relativizantes’, deixando campo aberto tanto para a ignorância ético-patológica, como para aquele tipo de arrogância zoológica de quem olha para a banana chamando-lhe abacaxi e esperando que os outros salivem em carreirinha. Ou seja, as modernas alergias ao correcto e incorrecto e os clássicos pruridos morais e amorais, convivem agora alegremente com aquela força que move os novos iluminados, aqueles tais que ‘sabem o que deve ser feito’, ou aqueles que, ao mesmo tempo que vão dizendo: «eu não quero dar lições de moral a ninguém», rematam sempre com um previsível «mas acho que isto devia ser feito assim»

É certo que todos procuramos um mínimo de base para o pêndulo. Uns precisam do achatamento arredondado típico dum sempre-em-pé, outros da quilha dum salva vidas inafundável, outros a rede que está por baixo da corda de trapezista, e há ainda os que eriçam o pêlo em sky surfings, à espera de que as emoções fortes dos ares ascendentes lhes dêem o que não conseguiram com o cerelac de pimenta verde ou com a ameaça do óleo de fígado de bacalhau, mas certinha certinha é a necessidade dum padrão mínimo de comportamento que pode ser decorado desde a bajulação precoce até ao espasmo livre e prolongado.

‘Todos temos cabeça para pensar e saber o que é melhor para cada um de nós’ é uma ideia que chega a assolar a zona esponjosa intracraneana de muito boa gente. Mas é algo que não está provado. Sabe-se que juntamos conceitos, sabe-se que juntamos recordações, sabe-se que há produtos químicos a tratarem da lubrificação dos neurónios, sabe-se até que há zonas mais dadas à brincadeira e outras mais dadas aos assuntos da lida da casa, enfim, sabe-se quase tudo menos o que interessa, ou seja: não se sabe que filha da puta de mecanismo nos levará ao caminho do certo e do errado e nos faria dispensar os bons conselhos de outros gajos que produzindo produtos químicos do mesmo género do nosso, até dá ideia de que são de melhor marca. Aquela mítica zona ética do cérebro é tanga, não existe, e a noção do bem e do mal mantém-se filha mais ou menos bastarda da cultura e do gene. Cada vez somos menos autónomos na distinção do que é feitio e do que é defeito, do que é virtude e do que deve pôr o sol a entrar-nos apenas pelas frestas.

Mais ou menos todos os ocidentais sabem que somos enteados da porra duma moral parida entre desertos e mares barrentos, mal enjoricada (não sei como se escreve isto) por profetas, viúvas, reis vaidosos, fornicadores olímpicos e arrependidos profissionais, amancebada com metáforas, refém de decifragens e escorada no cabrão dum betão com fissuras por todo o lado onde a humidade trabalha que nem corrimento numa profissional da satisfação masculina.

Mas o que antes nos sossegava hoje apoquenta-nos. Preferimos uma certeza de ocasião na mão a várias perenes a voar, e gostamos de conselhos que nos façam sentir confiantes, e crentes e auto-insuflados na nossa natureza mamífera. Transformámo-nos todos em empresas em reestruturação, que ora downsizam, ora spinoffam, ora diversificam, ora concentram, ora reciclam, ora fazem merda, mas precisam sempre de mercado e de concorrência.

A nossa natureza pede companhia. Somos uma mistura bichos de estimação com fama de grandes felinos, e liliputeanos com fama de gulliveres, fornicadores resignados com fama de masturbadores esclarecidos. Abençoados serão os que nos disserem o que fazer com voz meiguinha.

Toda a moral é adquirida, e nós pelamo-nos por saldos; e a mudança de estação é a raiz da nossa sobrevivência. A espécie aguenta-se porque tem conseguido ir combinando uma moral airosa num manequim abonecado, e na montra Deus pôs vidros fumados.
ups’ndowns