A lagartada afunda-se e nós andamos preocupados com a merda
do país como virgens néscias. O afundamento leonino é algo que nos devia pôr
todos a pensar: há na realidade algo que está por dentro e tudo mina. Não pode
ser só incompetência, não pode ser apenas cancro, não pode ser apenas aldrabice,
não pode ser apenas azar. Mas também seria abusivo dizer que o Sporting encarna
o grande mistério da Impenetrabilidade do Ser, ou seja, meia dúzia de caralhos
que não conseguem - há anos! - pôr a jogar outra meia dúzia de caralhos (não se
escandalizem com tanto caralho e pensem como as boas gentes do norte que dizem
que caralho é virgula) não é o suficiente para definir um problema metafísico.
No entanto, algo estará quanticamente no interior daquele cabrão de sistema
chamado sporting club de portugal e que compete com o misticismo judeu, a
cabeleireira da judite de sousa e até aqueles modelos empíricos do gaspar devidamente
benzidos por borges & macedos. Temos excesso de interioridade e excesso de
litoral, somos demasiado densos, muita uva e pouca parra, concentramos
demasiada energia e precisamos de escapismos seleccionados, mas desgraçadamente
as balizas adversárias não têm estado no caminho dos nossos escapes, tal como
não foi na praia do bom senso que desembarcaram as derivadas de gaspar. Pensemos estar a ensaiar mais um método de interrupção involuntária da sensatez, e
que algo eternamente adiado pode afinal ser apenas um embrião embriagado.
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Jejumaldo
«o Sporting não foi superior, foi apenas mais feliz» disse-nos a ternura do Jesualdo Ferreira. Como se a felicidade não fosse uma espécie de superioridade.
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Segundo Sentido
Tomado em consideração que a lagartada este ano jogou o pior futebol desde que Maria Elisa tem dores nas costas, e nem teve a dignidade, como outrora, de se despedir no Natal, passando assim o ano todo a brindar-nos com uma via sacra de futebol de merda que só acabou ontem, penso que a grande mensagem desta época é a obscena dignificação do segundo-lugar-com-brinde. Durante anos o segundo teve sempre o desgraçado estigma de ser o primeiro dos últimos, mas este ano os lagartos trouxeram para o Olimpo dos grandes valores civilizacionais o sentimento de que o segundo-com-brinde é, em certas condições de humidade, temperatura e cólon espasmódico, sentido como primeiro, designadamente se um tal de primeiro, quando chega ao momento de tentar achincalhar um tal de segundo, parece um testículo a olhar para um orgasmo, promovendo inclusivamente um mecanismo inverso: a tripeirada teve o condão de, sendo um primeirão, sendo algebricamente (leia-se, a somar pontos) muito melhor, ficar a segurar a taça do ‘mas’.
Ao lagartos conseguiram libertar o mundo da ruinosa máxima do tudo ao nada, e permitem-nos pensar que a cauda da Europa pode ser afinal uma versão metafórica plena de segundos sentidos. Abanemo-nos.
Tomado em consideração que a lagartada este ano jogou o pior futebol desde que Maria Elisa tem dores nas costas, e nem teve a dignidade, como outrora, de se despedir no Natal, passando assim o ano todo a brindar-nos com uma via sacra de futebol de merda que só acabou ontem, penso que a grande mensagem desta época é a obscena dignificação do segundo-lugar-com-brinde. Durante anos o segundo teve sempre o desgraçado estigma de ser o primeiro dos últimos, mas este ano os lagartos trouxeram para o Olimpo dos grandes valores civilizacionais o sentimento de que o segundo-com-brinde é, em certas condições de humidade, temperatura e cólon espasmódico, sentido como primeiro, designadamente se um tal de primeiro, quando chega ao momento de tentar achincalhar um tal de segundo, parece um testículo a olhar para um orgasmo, promovendo inclusivamente um mecanismo inverso: a tripeirada teve o condão de, sendo um primeirão, sendo algebricamente (leia-se, a somar pontos) muito melhor, ficar a segurar a taça do ‘mas’.
Ao lagartos conseguiram libertar o mundo da ruinosa máxima do tudo ao nada, e permitem-nos pensar que a cauda da Europa pode ser afinal uma versão metafórica plena de segundos sentidos. Abanemo-nos.
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Clímaxes quaresmais
Os pachecos pereiras da bola dizem agora à boca cheia que os lagartos são um clube de resignados, um clube que perdeu a ambição e que se esconde no infortúnio dos Project finance, das mialgias e do Paratyismo. Paulo Bento será mesmo até o reflexo directo e mais perfeito dessa nossa imagem de derrotados: uns olhinhos húmidos a brilhar numa cara calimerosa, à qual uma lagriminha cairia melhor que num quadro de Murillo.
Enfim, talhados para sofrer, destinados ao sacrifício, à dor, à injustiça e à incompreensão, a lagartada este ano tem decorado a preceito o altar desta imolação, e vem aperfeiçoando a vitimologia a níveis nunca antes experimentados, passeando-se na sua via crucis que nem uns josés de arimateias a tomar conta da banca das queijadinhas à beira do calvário sempre a queixar-se da falta de trocos.
Mas muitos estarão esquecidos de que os lagartos se regem há bastante tempo pela máxima socrateana : «o que nos convence não é a força dos números, é a força da razão». Cientes de que o 5º império se vai construir ali entre telheiras e a churrrasqueira do campo grande, os lagartos são um clube de gentes que se sabem forjadas para libertar a civilização dos espartilhos pagãos da vitória e do sucesso, e que em cada lágrima retida de Bento está uma força praticamente catecumenal, tal como em cada pseudo cabeçada de Purovic estão contidas as sete chagas de Cristo.
Espero sinceramente que contra o Bolton, e depois de João Moutinho ter sido forçado a sair por lhe ter rebentado um furúnculo na virilha, e de Vujevic ter uma afta a debilitar-lhe o calcanhar do pé esquerdo, os ingleses marquem um golo já depois da hora, em puro fora de jogo não detectado pelo árbitro, que entretanto olhava para as barbaras elias nos camarotes.
A Quaresma deve ser pois vivida e sofrida a preceito, e para compensar todos os lagartos desta dolorosa e sinuosa via crucis, que certamente lhes propiciará a devida redenção, só que não se sabe é quando nem como, deixo-lhes aqui um atalho alternativo pela via penelopis, mas que também vai lá dar.
Os pachecos pereiras da bola dizem agora à boca cheia que os lagartos são um clube de resignados, um clube que perdeu a ambição e que se esconde no infortúnio dos Project finance, das mialgias e do Paratyismo. Paulo Bento será mesmo até o reflexo directo e mais perfeito dessa nossa imagem de derrotados: uns olhinhos húmidos a brilhar numa cara calimerosa, à qual uma lagriminha cairia melhor que num quadro de Murillo.
Enfim, talhados para sofrer, destinados ao sacrifício, à dor, à injustiça e à incompreensão, a lagartada este ano tem decorado a preceito o altar desta imolação, e vem aperfeiçoando a vitimologia a níveis nunca antes experimentados, passeando-se na sua via crucis que nem uns josés de arimateias a tomar conta da banca das queijadinhas à beira do calvário sempre a queixar-se da falta de trocos.
Mas muitos estarão esquecidos de que os lagartos se regem há bastante tempo pela máxima socrateana : «o que nos convence não é a força dos números, é a força da razão». Cientes de que o 5º império se vai construir ali entre telheiras e a churrrasqueira do campo grande, os lagartos são um clube de gentes que se sabem forjadas para libertar a civilização dos espartilhos pagãos da vitória e do sucesso, e que em cada lágrima retida de Bento está uma força praticamente catecumenal, tal como em cada pseudo cabeçada de Purovic estão contidas as sete chagas de Cristo.
Espero sinceramente que contra o Bolton, e depois de João Moutinho ter sido forçado a sair por lhe ter rebentado um furúnculo na virilha, e de Vujevic ter uma afta a debilitar-lhe o calcanhar do pé esquerdo, os ingleses marquem um golo já depois da hora, em puro fora de jogo não detectado pelo árbitro, que entretanto olhava para as barbaras elias nos camarotes.
A Quaresma deve ser pois vivida e sofrida a preceito, e para compensar todos os lagartos desta dolorosa e sinuosa via crucis, que certamente lhes propiciará a devida redenção, só que não se sabe é quando nem como, deixo-lhes aqui um atalho alternativo pela via penelopis, mas que também vai lá dar.

Na campanha da Mango, e naquela pose de valha-me-deus-onde-é-que-ela-tem-a-mão.
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All & But (*)
Apresento-me aqui na obrigação de escrever algo sobre os lagartos, mas acabo de ler que vinte e três lotes de Halibut foram retirados do mercado. Hesito. Ou falo de Miguel Veloso, ou falo da maravilha da Grunenthal. O meu coração e a minha virilha entram em súbita competição para ver qual fala mais alto. Vai ficando inclusivamente mais distante o grande texto canónico que hei-de escrever sobre Helena Roseta, e que será certamente um momento everéstico deste blog. Deus me dê saúde, como diria o nosso Santana Lopes, ou rigorosamente a não perder como diz o nosso Mário Crespo, ou Deus me dê rigorosamente uma saúde que eu nunca perca, diriam os dois a atrapalhar-se um a outro se tal se proporcionasse, o nem me parece difícil, dado que a mizé nogueira pinto já não pode ir à sic notícias porque os novos óculos que usa desmaiam muito no acrílico do estúdio cor de pintelho embebido em viochene. Voltemos à pomada: eu gostava de declarar que um halibut, mesmo em ligeiro estado de decomposição, é um bálsamo para qualquer tecido carente. Está para a pele como o Sebastião da Gama está para os desgostos de amor, ou como o ‘foda-se’ em formato interjeição está para um gajo a quem a suposta mulher que ama lhe tenha posto um belo par de cornos com enfeite, acordeão a acompanhar e tudo. Ou seja, a Grunenthal é uma espécie de academia de Alcochete para a assadura intersticial: é de lá que saem as maravilhas que rejuvenescem os tecidos e que podem pôr plateias inteiras (coxias incluídas) embasbacadas com a sedozidade das nossas zonas circumpélvicas. E é por estas e por outras que daqui a uns tempos o Beckenbauer será conhecido como o Miguel Veloso da Baviera. Um tipo que foi banhado com esta graça de ser lagarto, no fundo, se não se especializa em pomadas acaba a esfoliar a paciência a tudo e todos. Mas.
Apresento-me aqui na obrigação de escrever algo sobre os lagartos, mas acabo de ler que vinte e três lotes de Halibut foram retirados do mercado. Hesito. Ou falo de Miguel Veloso, ou falo da maravilha da Grunenthal. O meu coração e a minha virilha entram em súbita competição para ver qual fala mais alto. Vai ficando inclusivamente mais distante o grande texto canónico que hei-de escrever sobre Helena Roseta, e que será certamente um momento everéstico deste blog. Deus me dê saúde, como diria o nosso Santana Lopes, ou rigorosamente a não perder como diz o nosso Mário Crespo, ou Deus me dê rigorosamente uma saúde que eu nunca perca, diriam os dois a atrapalhar-se um a outro se tal se proporcionasse, o nem me parece difícil, dado que a mizé nogueira pinto já não pode ir à sic notícias porque os novos óculos que usa desmaiam muito no acrílico do estúdio cor de pintelho embebido em viochene. Voltemos à pomada: eu gostava de declarar que um halibut, mesmo em ligeiro estado de decomposição, é um bálsamo para qualquer tecido carente. Está para a pele como o Sebastião da Gama está para os desgostos de amor, ou como o ‘foda-se’ em formato interjeição está para um gajo a quem a suposta mulher que ama lhe tenha posto um belo par de cornos com enfeite, acordeão a acompanhar e tudo. Ou seja, a Grunenthal é uma espécie de academia de Alcochete para a assadura intersticial: é de lá que saem as maravilhas que rejuvenescem os tecidos e que podem pôr plateias inteiras (coxias incluídas) embasbacadas com a sedozidade das nossas zonas circumpélvicas. E é por estas e por outras que daqui a uns tempos o Beckenbauer será conhecido como o Miguel Veloso da Baviera. Um tipo que foi banhado com esta graça de ser lagarto, no fundo, se não se especializa em pomadas acaba a esfoliar a paciência a tudo e todos. Mas.
(*) possibilidade de slogan de campanha para uma nova imagem de Portugal como aquele país em que tudo é possivel, mas desde cada um traga a respectiva pomadinha consigo.
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Liedson
Custa-me que o principal assunto que me preocupa não esteja também a preocupar a generalidade das pessoas. Não sei se será falta de atenção, se será deslumbramento com as iluminações de Natal, ou andam todos a decorar poemas do cesariny- cesarine como diria o nosso Eanes – ou a discutir alternativas para o TGV (Trauma das Grávidas Voluntárias; atenção, um flagelo! uma mulher quer ter logo o filho às 10 semanas porque já não aguenta com as costas, já tem o enxovalinho pronto, tem saudades do período e assim, e ninguém lhe deixa, acho que nem em Badajoz), não sei, mas não vejo ninguém realmente preocupado com a falta de golos do nosso Liedson, acho que se chama mesmo insensibilidade; chega a dar-me, também tenho de reconhecer, se bem que é mais com after-shaves e azeitonas de elvas.
Para além de o sentir triste por se ver acompanhado por aquela dupla de artolas que mais parece uma colecção de armações da multiópticas para maricas ‘Alecsandro & Bueno’ - que quase me fazem sentir saudades do Spehar ou do Paulinho Cascavel – o rapaz não está a marcar golos, o rapaz está a falhar golos que já passaram bem as 10 semanas, e ainda para mais num ano que parece de benzedura para toscos - atentem na performance irreal dum tal de Postiga que parece saído dum conto de natal, e até o Manel Pinho acho que se vai aguentar até à penúltima trinchadela do peru (na última a cozinheira vai hesitar muito onde acertar).
Reparem que ele não é um Nuno Gomes, que tem o seu estado natural a ajeitar o cabelinho à volta da orelha e a rezar para que os centros do Nelson lhe acertem na esquina da nuca, ele joga mesmo à bola, ele saiu de repositor de supermercados directamente para marcar golos, ele deixou uma carreira para trás, é praticamente como o Armando Vara na banca de retalho.
É evidente que o Papa está na Turquia (já começaram a sair caricaturas, ou não?), é evidente que os espiões russos se andam a alambazar com raticida, é evidente que o McEwan se andou a inspirar na Lucilla (tem nome típico ovelha clonada, ou chimpanzé astronauta, por sinal) – para quando um Abel Mateus para o plágio? – é evidente que Prado Coelho está a ficar velho, mas grave grave é o Liedson andar a ficar parecido com a ministra da Cultura e o ataque do SCP mais parecer uma mistura entre o museu berardo e a vereação da CML. Também já estou a ficar vereado! O Liedson pode perfeitamente ter tirado os golos da agenda e ter lá posto valores, princípios, sei lá, o tipo se calhar agora até é democrata cristão, mas foda-se não me está a marcar golos, caralho, e vêm aí os cabrões dos lampiões e não vejo ninguém realmente preocupado, só falam de acessibilidades e do problema cultural da Europa. Daqui a pouco o Lobo Antunes publica uma correspondência secreta com a Inês Pedrosa e o Rodrigues dos Santos e depois é que eu quero ver como é, se o gajo não marca golos até lá. Já não se sabe distinguir o que é importante; não tarda fundo uma minoria ética.
Custa-me que o principal assunto que me preocupa não esteja também a preocupar a generalidade das pessoas. Não sei se será falta de atenção, se será deslumbramento com as iluminações de Natal, ou andam todos a decorar poemas do cesariny- cesarine como diria o nosso Eanes – ou a discutir alternativas para o TGV (Trauma das Grávidas Voluntárias; atenção, um flagelo! uma mulher quer ter logo o filho às 10 semanas porque já não aguenta com as costas, já tem o enxovalinho pronto, tem saudades do período e assim, e ninguém lhe deixa, acho que nem em Badajoz), não sei, mas não vejo ninguém realmente preocupado com a falta de golos do nosso Liedson, acho que se chama mesmo insensibilidade; chega a dar-me, também tenho de reconhecer, se bem que é mais com after-shaves e azeitonas de elvas.
Para além de o sentir triste por se ver acompanhado por aquela dupla de artolas que mais parece uma colecção de armações da multiópticas para maricas ‘Alecsandro & Bueno’ - que quase me fazem sentir saudades do Spehar ou do Paulinho Cascavel – o rapaz não está a marcar golos, o rapaz está a falhar golos que já passaram bem as 10 semanas, e ainda para mais num ano que parece de benzedura para toscos - atentem na performance irreal dum tal de Postiga que parece saído dum conto de natal, e até o Manel Pinho acho que se vai aguentar até à penúltima trinchadela do peru (na última a cozinheira vai hesitar muito onde acertar).
Reparem que ele não é um Nuno Gomes, que tem o seu estado natural a ajeitar o cabelinho à volta da orelha e a rezar para que os centros do Nelson lhe acertem na esquina da nuca, ele joga mesmo à bola, ele saiu de repositor de supermercados directamente para marcar golos, ele deixou uma carreira para trás, é praticamente como o Armando Vara na banca de retalho.
É evidente que o Papa está na Turquia (já começaram a sair caricaturas, ou não?), é evidente que os espiões russos se andam a alambazar com raticida, é evidente que o McEwan se andou a inspirar na Lucilla (tem nome típico ovelha clonada, ou chimpanzé astronauta, por sinal) – para quando um Abel Mateus para o plágio? – é evidente que Prado Coelho está a ficar velho, mas grave grave é o Liedson andar a ficar parecido com a ministra da Cultura e o ataque do SCP mais parecer uma mistura entre o museu berardo e a vereação da CML. Também já estou a ficar vereado! O Liedson pode perfeitamente ter tirado os golos da agenda e ter lá posto valores, princípios, sei lá, o tipo se calhar agora até é democrata cristão, mas foda-se não me está a marcar golos, caralho, e vêm aí os cabrões dos lampiões e não vejo ninguém realmente preocupado, só falam de acessibilidades e do problema cultural da Europa. Daqui a pouco o Lobo Antunes publica uma correspondência secreta com a Inês Pedrosa e o Rodrigues dos Santos e depois é que eu quero ver como é, se o gajo não marca golos até lá. Já não se sabe distinguir o que é importante; não tarda fundo uma minoria ética.
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Os novos anacoretas da bola
Agora por todo lado se instalou a mania de ser original a falar de bola. Fazem-se nostálgicas associações, ensaiam-se ‘males de montano’ ajustados ao sofisticadíssimo fenómeno, esgalham-se autênticas engenharias de poética para misturar bola com pessoal que tenha o nome na enciclopédia, e em desespero de causa até há quem tente ter piada entre o fina e o retro, mas parecem todos, benzósdeus, saídos dum cabeleireiro de panascas mal desfrisados (ó como é que essa merda se chama). Esquece-se o básico: a bola só faz sentido no meio da irracionalidade, da brutalidade, da beleza estupidificante e da inanição do cerebelo.
Dado o enquadramento, fico impedido de contar a minha primeira ida com o meu paizinho à bola ver os lagartos, mas com ele aprendi: aqui dizem-se os palavrões que calamos em casa, desfruta-se o que não se explica e sente-se o que não se fornica. E isto tudo sem ele alguma vez ter dito uma palavra sequer, porque era do estilo silencioso a ver a bola. E sim dizer o quê, caralho. Aquilo é a pornografia que não faz mal à alma nem nos condena à fornalha, e chega; quem fala do Roberto Baggio (o último jogador verdadeiramente perturbante) como se fosse a Gina Lolobrigida está é a precisar de creme esfoliante na mioleira. Ó sei lá, tentem falar dos banhos turcos enxertados do expressionismo alemão e do aquecimento global. Falar de bola sem erros de sintaxe, e como se estivessem a aliviar a tensão cultural que lhes inunda o ser, é tal qual relatar uma depilação em verso decassílabo.
Pessoal, enxerguem-se. Se querem parecer originais e romântico-místico-científicos a falar de bola, pelo menos embebedem-se primeiro.
Agora por todo lado se instalou a mania de ser original a falar de bola. Fazem-se nostálgicas associações, ensaiam-se ‘males de montano’ ajustados ao sofisticadíssimo fenómeno, esgalham-se autênticas engenharias de poética para misturar bola com pessoal que tenha o nome na enciclopédia, e em desespero de causa até há quem tente ter piada entre o fina e o retro, mas parecem todos, benzósdeus, saídos dum cabeleireiro de panascas mal desfrisados (ó como é que essa merda se chama). Esquece-se o básico: a bola só faz sentido no meio da irracionalidade, da brutalidade, da beleza estupidificante e da inanição do cerebelo.
Dado o enquadramento, fico impedido de contar a minha primeira ida com o meu paizinho à bola ver os lagartos, mas com ele aprendi: aqui dizem-se os palavrões que calamos em casa, desfruta-se o que não se explica e sente-se o que não se fornica. E isto tudo sem ele alguma vez ter dito uma palavra sequer, porque era do estilo silencioso a ver a bola. E sim dizer o quê, caralho. Aquilo é a pornografia que não faz mal à alma nem nos condena à fornalha, e chega; quem fala do Roberto Baggio (o último jogador verdadeiramente perturbante) como se fosse a Gina Lolobrigida está é a precisar de creme esfoliante na mioleira. Ó sei lá, tentem falar dos banhos turcos enxertados do expressionismo alemão e do aquecimento global. Falar de bola sem erros de sintaxe, e como se estivessem a aliviar a tensão cultural que lhes inunda o ser, é tal qual relatar uma depilação em verso decassílabo.
Pessoal, enxerguem-se. Se querem parecer originais e romântico-místico-científicos a falar de bola, pelo menos embebedem-se primeiro.
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Basicamente, um post de futebol para gajas (*)
O actual momento futebolístico está marcado por diversas circunstâncias que apenas estão ao total alcance do universo feminino.
Tomemos o caso de Nuno Gomes. A menina. Esse maravilhoso jogador conhecido na Europa pelo movimento arredondado que faz com a mãozinha no cabelo em torno da orelha, de repente torna-se de igual modo notado porque começou a marcar golos. A última vez que o conseguiu foi precisamente no sábado passado, onde acabou por ser acolitado pelos defesas-tipo-araras de uma equipa treinada por aquele moço holandês que já fez mais pelo ensino do inglês que duas reformas educativas juntas, dado hoje não haver puto que antes de sair para a bola não se chegue à mãe e lhe peça um ‘white handkerchief’. Poderia dissertar um pouco mais sobre estes inesperados sudários da futebolidade, simbologias para novas vias sacras, mas preferia antes deixar definitivamente claro que todos os problemas do futebol moderno se situam no equilíbrio entre as variáveis, que passo desde já a elencar:
- a função preponderante dos trincos
- a subida constante dos laterais
- A construção da equipa de trás para a frente
- A pressão global
- O controlo do jogo
Ora aqui é imediatamente notório estarmos perante opções que parece ter sido o universo feminino a influenciar determinantemente . Comecemos pelos ‘trincos’. Julgo que a alternativa óbvia seriam os ‘chupões’, género de jogadores que fariam uma espécie de ventosa no jogo do adversário o que me pareceria bastante mais perturbador e eficaz, no entanto colocou-se antes o ênfase nesta operação de ‘trincar’ sob flagrante capricho do desejar e pensar feminino. Não contentes com isto, os novos estrategos do jogo em vez de valorizar a zona dianteira central, que acaba por ser onde se situa a baliza, sucumbem novamente e resignam-se à utilização de técnicas da ordem do preliminar como sejam o papel excessivo dos ‘laterais’ e o construir dos movimentos de consolidação do jogo vindo ‘de trás para a frente’. O que não deveria passar de mera manobra de diversão alcança agora o posto de condição sine qua non. Como se isto não fosse suficiente, ainda aparece um tipo sempre agarradinho à mulher e aos filhos, conhecido por Mourinho, e inventa essa coisa da ‘pressão total’ quando o pessoal já estava serenamente habituado apenas à ‘pressão alta’. Isto baralha, pois baralha. Um homem sabe bem que não tem mãos para tudo, e só um espírito feminino poderia conceber uma tal de ‘pressão total’; o jogo, até reconheço, ganhará eventualmente em potencial orgásmico mas ao intervalo garanto que o pessoal já não sabe o que anda ali a fazer bem ao certo e o jogo seguirá por conta e risco da dona do carrocel . Chegamos assim lógica e finalmente ao ‘controlo do jogo’, onde no fundo se concretiza toda a influência feminina no futebol moderno. Ter a bola sempre em seu poder e determinar os momentos de penetração é o que está por detrás deste conceito estratégico que nos dias de hoje é a chave mestra do domínio duma partida e do aumento da probabilidade de criação de situações de concretização, isto para já nem falarmos na obsessão de treino das bolas paradas – nós, os homens prestamo-nos a tudo, é o que é; valha-nos Deus. Estamos, em consequência, perante uma absoluta femininização do futebol, esse novo gineceu, antevendo-se assim os tempos de glória para Nuno Gomes. Haja quem desfrute.
(*) ‘gajas’ - conceito de índole arcaico pois se já nem têm escrita específica é porque não existem senão como figura de retórica gasta.
O actual momento futebolístico está marcado por diversas circunstâncias que apenas estão ao total alcance do universo feminino.
Tomemos o caso de Nuno Gomes. A menina. Esse maravilhoso jogador conhecido na Europa pelo movimento arredondado que faz com a mãozinha no cabelo em torno da orelha, de repente torna-se de igual modo notado porque começou a marcar golos. A última vez que o conseguiu foi precisamente no sábado passado, onde acabou por ser acolitado pelos defesas-tipo-araras de uma equipa treinada por aquele moço holandês que já fez mais pelo ensino do inglês que duas reformas educativas juntas, dado hoje não haver puto que antes de sair para a bola não se chegue à mãe e lhe peça um ‘white handkerchief’. Poderia dissertar um pouco mais sobre estes inesperados sudários da futebolidade, simbologias para novas vias sacras, mas preferia antes deixar definitivamente claro que todos os problemas do futebol moderno se situam no equilíbrio entre as variáveis, que passo desde já a elencar:
- a função preponderante dos trincos
- a subida constante dos laterais
- A construção da equipa de trás para a frente
- A pressão global
- O controlo do jogo
Ora aqui é imediatamente notório estarmos perante opções que parece ter sido o universo feminino a influenciar determinantemente . Comecemos pelos ‘trincos’. Julgo que a alternativa óbvia seriam os ‘chupões’, género de jogadores que fariam uma espécie de ventosa no jogo do adversário o que me pareceria bastante mais perturbador e eficaz, no entanto colocou-se antes o ênfase nesta operação de ‘trincar’ sob flagrante capricho do desejar e pensar feminino. Não contentes com isto, os novos estrategos do jogo em vez de valorizar a zona dianteira central, que acaba por ser onde se situa a baliza, sucumbem novamente e resignam-se à utilização de técnicas da ordem do preliminar como sejam o papel excessivo dos ‘laterais’ e o construir dos movimentos de consolidação do jogo vindo ‘de trás para a frente’. O que não deveria passar de mera manobra de diversão alcança agora o posto de condição sine qua non. Como se isto não fosse suficiente, ainda aparece um tipo sempre agarradinho à mulher e aos filhos, conhecido por Mourinho, e inventa essa coisa da ‘pressão total’ quando o pessoal já estava serenamente habituado apenas à ‘pressão alta’. Isto baralha, pois baralha. Um homem sabe bem que não tem mãos para tudo, e só um espírito feminino poderia conceber uma tal de ‘pressão total’; o jogo, até reconheço, ganhará eventualmente em potencial orgásmico mas ao intervalo garanto que o pessoal já não sabe o que anda ali a fazer bem ao certo e o jogo seguirá por conta e risco da dona do carrocel . Chegamos assim lógica e finalmente ao ‘controlo do jogo’, onde no fundo se concretiza toda a influência feminina no futebol moderno. Ter a bola sempre em seu poder e determinar os momentos de penetração é o que está por detrás deste conceito estratégico que nos dias de hoje é a chave mestra do domínio duma partida e do aumento da probabilidade de criação de situações de concretização, isto para já nem falarmos na obsessão de treino das bolas paradas – nós, os homens prestamo-nos a tudo, é o que é; valha-nos Deus. Estamos, em consequência, perante uma absoluta femininização do futebol, esse novo gineceu, antevendo-se assim os tempos de glória para Nuno Gomes. Haja quem desfrute.
(*) ‘gajas’ - conceito de índole arcaico pois se já nem têm escrita específica é porque não existem senão como figura de retórica gasta.
nota técnica: neste momento o Sporting é assunto do foro religioso e por isso não me posso pronunciar
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Subsídios para uma demissão
(peseiro pode estar genuinamente aflito, a sua alma gentil pode estar a aparvalhar e a não o deixar partir serenamente, e eu gostava de lhe dar uma mãozinha que a todos beneficiaria; assim aqui vai uma hipótese desinteressada para uma carta de demissão)
Queridos sportinguistas,
Esta é hora de alguma tristeza, mas temos de enfrentar os factos, e as oportunidades da vida têm de ser agarradas com determinação. Fui efectivamente convidado para mandatário da campanha do dr. Soares para os ‘falhados, incompreendidos, perdedores e deprimidos’. É um convite que muito me orgulha e estou confiante de que posso fazer um bom trabalho junto destes cidadãos que também merecem ter uma voz, que também merecem ter um saldo credor na sociedade.
Sei que deixo um ataque criativo como um pintor medieval, uma defesa de betão apenas com despiciendas brechas dalgumas polgadas, e um meio-campo em perfeito carrossel qual circo chinês, reconheço que fiquei impedido de impor a minha inovadora técnica do soneto, o 4 x 4 x 3 x 3 , mas note-se contudo que fiquei aquém porque não me deram os jogadores suficientes, e como se sabe o recurso ao 4 x 4 x 2 é de rima muito mais difícil.
Não sucumbi a esta contrariedade mas os últimos momentos foram de alguma tensão, a bola parecia rendida aos encantos dos adversários, quer fossem altos e loiros, quer morenos e atarracados e não havia maneira de lhes dar a volta, no entanto consegui que a equipa resistisse e não se viram trancinhas nem desfrisados no plantel, que assim manteve a sua dignidade capilar, um valor que todos devemos valorizar e preservar.
Apesar de ter sempre feito prevalecer o efeito do conjunto queria realçar que o meu testemunho inclui alguns clímax de individualismo, dos quais destacaria o Paíto ter conseguido fazer um centro para dentro do campo, o Sá Pinto ter corrido dois sprints seguidos no sentido da baliza adversária, o Tello – há registos vídeo a confirmá-lo – ter acertado três passes no mesmo jogo, e houve quem me jurasse a pés juntos que o Beto se chegou a posicionar bem para segurar um contra-ataque.
Tenho a lamentar a descida de negócio das croissanteries do Alvaláxia com a saída do P. Barbosa, mas compensam certamente as papelarias com as palavras cruzadas que venderão ao Hugo, esse homem que eu ajudei a consolidar como mito, juntamente com o nosso Ricardo.
Deixo-vos pois um pântano com muito boas possibilidades de drenagem, muitos dos sapos já foram entretanto engolidos e voareis certamente como libelinhas neste futuro nenufariado que merecidamente vos ajudei a construir.
Não tenho genuinamente o intuito de disfarçar a minha tristeza, mas compreendam o país tem um grande desafio pela frente, fortes e fracos podem e devem unir doravante as mãos e eu sinto-me realmente vocacionado para ser essa charneira. Consolidei convosco esta minha enorme capacidade de fazer arrastar a merda fazendo-a parecer um lugar com esperança e a essa esperança dei-lhe a força duma utopia. E isto sempre com a serenidade daqueles que sabem ter uma missão a cumprir: demonstrar com obra feita que vencer é coisa para quem não saiba fazer mais nada. E é este realmente o meu legado: vós nem acreditáveis no que vos estava a acontecer, mas era, e foi, mesmo verdade. Deixo-vos pois homens de fé reforçada.
Do vosso
peseiro
(peseiro pode estar genuinamente aflito, a sua alma gentil pode estar a aparvalhar e a não o deixar partir serenamente, e eu gostava de lhe dar uma mãozinha que a todos beneficiaria; assim aqui vai uma hipótese desinteressada para uma carta de demissão)
Queridos sportinguistas,
Esta é hora de alguma tristeza, mas temos de enfrentar os factos, e as oportunidades da vida têm de ser agarradas com determinação. Fui efectivamente convidado para mandatário da campanha do dr. Soares para os ‘falhados, incompreendidos, perdedores e deprimidos’. É um convite que muito me orgulha e estou confiante de que posso fazer um bom trabalho junto destes cidadãos que também merecem ter uma voz, que também merecem ter um saldo credor na sociedade.
Sei que deixo um ataque criativo como um pintor medieval, uma defesa de betão apenas com despiciendas brechas dalgumas polgadas, e um meio-campo em perfeito carrossel qual circo chinês, reconheço que fiquei impedido de impor a minha inovadora técnica do soneto, o 4 x 4 x 3 x 3 , mas note-se contudo que fiquei aquém porque não me deram os jogadores suficientes, e como se sabe o recurso ao 4 x 4 x 2 é de rima muito mais difícil.
Não sucumbi a esta contrariedade mas os últimos momentos foram de alguma tensão, a bola parecia rendida aos encantos dos adversários, quer fossem altos e loiros, quer morenos e atarracados e não havia maneira de lhes dar a volta, no entanto consegui que a equipa resistisse e não se viram trancinhas nem desfrisados no plantel, que assim manteve a sua dignidade capilar, um valor que todos devemos valorizar e preservar.
Apesar de ter sempre feito prevalecer o efeito do conjunto queria realçar que o meu testemunho inclui alguns clímax de individualismo, dos quais destacaria o Paíto ter conseguido fazer um centro para dentro do campo, o Sá Pinto ter corrido dois sprints seguidos no sentido da baliza adversária, o Tello – há registos vídeo a confirmá-lo – ter acertado três passes no mesmo jogo, e houve quem me jurasse a pés juntos que o Beto se chegou a posicionar bem para segurar um contra-ataque.
Tenho a lamentar a descida de negócio das croissanteries do Alvaláxia com a saída do P. Barbosa, mas compensam certamente as papelarias com as palavras cruzadas que venderão ao Hugo, esse homem que eu ajudei a consolidar como mito, juntamente com o nosso Ricardo.
Deixo-vos pois um pântano com muito boas possibilidades de drenagem, muitos dos sapos já foram entretanto engolidos e voareis certamente como libelinhas neste futuro nenufariado que merecidamente vos ajudei a construir.
Não tenho genuinamente o intuito de disfarçar a minha tristeza, mas compreendam o país tem um grande desafio pela frente, fortes e fracos podem e devem unir doravante as mãos e eu sinto-me realmente vocacionado para ser essa charneira. Consolidei convosco esta minha enorme capacidade de fazer arrastar a merda fazendo-a parecer um lugar com esperança e a essa esperança dei-lhe a força duma utopia. E isto sempre com a serenidade daqueles que sabem ter uma missão a cumprir: demonstrar com obra feita que vencer é coisa para quem não saiba fazer mais nada. E é este realmente o meu legado: vós nem acreditáveis no que vos estava a acontecer, mas era, e foi, mesmo verdade. Deixo-vos pois homens de fé reforçada.
Do vosso
peseiro
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Puro barroco tardio e decadente. Sem excitações, e sem remissões para revistas literárias
Bola e mais bola
Eu cá a mim entristece-me ver falar de bola utilizando a expressividade leviana dos palavrões. Isso não fica bem para a dignidade dum jogo que vive do cavalheirismo entre duas pernas e uma bola (se bem que possa ocorrer igualmente a troca de intimidades entre uma perna junto de duas bolas). Para já, o efeito do palavrão desfocaliza-nos da beleza do jogo, e não raras vezes nos introduz numa temática sociológica que já conduziu muitos ao inferno, onde, como se sabe, o jogo da bola é proibido e a TV por cabo também.
Temos, por exemplo, o abuso do efeito artificial duma obscenidade que à primeira vista poderia descrever luminosamente a situação futebolística em que uma bola transpõe o intervalo anguloso que se produz quando duas pernas se abrem numa posição indecorosamente defensiva, chamando-lhe “grande rata”, o que me deixa desapontado, não só porque estes bichos não têm nada que ver com as inestéticas posições de equilíbrio defensivo que os primatas utilizam, como também não foram eles os responsáveis pela gretalidade que encerra toda a feminilidade. Quando deixaram Adão perante a opção "ou vai ou racha", ele também não hesitou. Toda a bola tem direito ao seu arco do triunfo.
Dizer igualmente que um jogador em concreto “não joga um caralho” reorienta-nos para a problemática da impotência sexual que como sabemos não se resolve com terapias violentas, mas sim com o carinho que deve moldar qualquer relação. Assim, deveremos antes informar o jogador de que o afluxo sanguíneo que proporciona geralmente o crescimento e enrijecimento do seu órgão sexual deverá ser canalizado durante o jogo para o cérebro, principalmente no momento em que se está, por exemplo, de frente para o guarda-redes e marcar um golo possa ser uma opção interessante a considerar. Poderemos pois chamar-lhe antes à atenção – em abstracto - de que ele deve jogar, isso sim, com a pontaria em constante erecção. Será um conselho praticamente científico e duma humanidade que ele não esquecerá, na condição da mulher nunca vir a saber. E poderá inclusivamente acontecer que o Viagra seja um bom mascarante para a Nandrolona, matando-se assim dois coelhos.
Admito ainda que o treinador possa ser um “cabrão”, eu próprio, à atrasado, utilizei esta desbocada e despudorada expressão, facto pelo qual de imediato me penalizo contorcida e contritamente, e só não fecho o blog porque não sou dado a êxtases escrupulosos, no entanto reparo que a localização de hastes marfínicas no topo da moleirinha poderá fazer apelo à estratégica colocação das bandeirinhas nacionais, o que nalguns brazucas de bigode ficaria bem a matar. Chamar ao “nosso” treinador apenas um porta estandartes será certamente mais mobilizador da sua estima e arrepiaremos caminho na utilização correcta na nobre língua portuguesa, e no respeito pelas espécies que podem dar o leitinho com que se produzem queijos saborosos, até porque de Sabrosas estamos conversados (choninhas da porra)
O desencanto provocado pelos resultados muitas vezes desemboca na utilização da expressão “vão para a puta que vos pariu”” dirigida a toda a comitiva. É desolador chegar a esse ponto de desrespeito; a insinuação de um parto menos desejado deveria ficar escondida nos recônditos da nossa obscura perversidade, e jamais ser revelada àqueles que um dia puderam ter feito a felicidade dum alma destinada ao sofrimento e à mais baixa degradação. Recolher ao regaço materno é um direito que a todos nos assiste, e que não deve dar azo a ser confundido com recriminações que são fruto certamente de recalcamentos que ficaram com a cabecinha de fora.
De facto também não deverá ser agradável ver a nossa equipa levar um penalty no último minuto, incluindo a expulsão do guarda-redes que já de si era o suplente. Mas a expressão «estão fodidos», que pareceria apropriada, poderá ser evitada se constatarmos na lição de civismo e elevação democrática com que uma coligação que leva uma enrabadela, perdão, uma penetrante lição eleitoral consegue continuar alegre e confiante agradecendo ao povo o tempo que ainda lhe deu de descontos. A esperança é a virtude que deve ser recuperada nestas circunstâncias, e jamais nos devemos deixar levar pelo desespero que conduz ao uso de expressões sexualmente agressivas e que nem sempre revelam consentimento mútuo.
Verifico no entanto, num misto de desencanto e ao mesmo tempo de admiração pelo grau de civismo que subentende, que a expressão «são uns enconados» caiu um pouco em desuso. A ambiguidade sexual que carregava esta frase, fazendo crer que a apatia e falta de iniciativa se situariam ali entre o lavatório e o bidé, junto à caixa dos evax-ultra-com-alas ( ai como fazem falta os alas meu Deus, se bem que centrar para o segundo poste na selecção portuguesa dá o mesmo efeito que fazer uma mijinha na bandeirola de canto), foi relegando-a para alguns nichos etnográficos, sendo substituída muitas vezes pela de “paneleiros de merda” . Trata-se duma alternativa a evitar porque concentra dois vocábulos ordinários levando a inebriar-nos num leverage de abandalhamento. Este simbolismo sexual poderá ser transferido - e com ganho – para a recuperação do fenómeno do hermafroditismo, que no fundo apela à versatilidade, factor tão importante nas tácticas de hoje que privilegiam os jogadores polivalentes.
Nota editorial: A utilização de expressões de índole levemente obscena neste texto, deve-se unicamente a critérios instrumentais e didácticos, e jamais motivados por uma alma conspurcada, doente ou vingativa.
Bola e mais bola
Eu cá a mim entristece-me ver falar de bola utilizando a expressividade leviana dos palavrões. Isso não fica bem para a dignidade dum jogo que vive do cavalheirismo entre duas pernas e uma bola (se bem que possa ocorrer igualmente a troca de intimidades entre uma perna junto de duas bolas). Para já, o efeito do palavrão desfocaliza-nos da beleza do jogo, e não raras vezes nos introduz numa temática sociológica que já conduziu muitos ao inferno, onde, como se sabe, o jogo da bola é proibido e a TV por cabo também.
Temos, por exemplo, o abuso do efeito artificial duma obscenidade que à primeira vista poderia descrever luminosamente a situação futebolística em que uma bola transpõe o intervalo anguloso que se produz quando duas pernas se abrem numa posição indecorosamente defensiva, chamando-lhe “grande rata”, o que me deixa desapontado, não só porque estes bichos não têm nada que ver com as inestéticas posições de equilíbrio defensivo que os primatas utilizam, como também não foram eles os responsáveis pela gretalidade que encerra toda a feminilidade. Quando deixaram Adão perante a opção "ou vai ou racha", ele também não hesitou. Toda a bola tem direito ao seu arco do triunfo.
Dizer igualmente que um jogador em concreto “não joga um caralho” reorienta-nos para a problemática da impotência sexual que como sabemos não se resolve com terapias violentas, mas sim com o carinho que deve moldar qualquer relação. Assim, deveremos antes informar o jogador de que o afluxo sanguíneo que proporciona geralmente o crescimento e enrijecimento do seu órgão sexual deverá ser canalizado durante o jogo para o cérebro, principalmente no momento em que se está, por exemplo, de frente para o guarda-redes e marcar um golo possa ser uma opção interessante a considerar. Poderemos pois chamar-lhe antes à atenção – em abstracto - de que ele deve jogar, isso sim, com a pontaria em constante erecção. Será um conselho praticamente científico e duma humanidade que ele não esquecerá, na condição da mulher nunca vir a saber. E poderá inclusivamente acontecer que o Viagra seja um bom mascarante para a Nandrolona, matando-se assim dois coelhos.
Admito ainda que o treinador possa ser um “cabrão”, eu próprio, à atrasado, utilizei esta desbocada e despudorada expressão, facto pelo qual de imediato me penalizo contorcida e contritamente, e só não fecho o blog porque não sou dado a êxtases escrupulosos, no entanto reparo que a localização de hastes marfínicas no topo da moleirinha poderá fazer apelo à estratégica colocação das bandeirinhas nacionais, o que nalguns brazucas de bigode ficaria bem a matar. Chamar ao “nosso” treinador apenas um porta estandartes será certamente mais mobilizador da sua estima e arrepiaremos caminho na utilização correcta na nobre língua portuguesa, e no respeito pelas espécies que podem dar o leitinho com que se produzem queijos saborosos, até porque de Sabrosas estamos conversados (choninhas da porra)
O desencanto provocado pelos resultados muitas vezes desemboca na utilização da expressão “vão para a puta que vos pariu”” dirigida a toda a comitiva. É desolador chegar a esse ponto de desrespeito; a insinuação de um parto menos desejado deveria ficar escondida nos recônditos da nossa obscura perversidade, e jamais ser revelada àqueles que um dia puderam ter feito a felicidade dum alma destinada ao sofrimento e à mais baixa degradação. Recolher ao regaço materno é um direito que a todos nos assiste, e que não deve dar azo a ser confundido com recriminações que são fruto certamente de recalcamentos que ficaram com a cabecinha de fora.
De facto também não deverá ser agradável ver a nossa equipa levar um penalty no último minuto, incluindo a expulsão do guarda-redes que já de si era o suplente. Mas a expressão «estão fodidos», que pareceria apropriada, poderá ser evitada se constatarmos na lição de civismo e elevação democrática com que uma coligação que leva uma enrabadela, perdão, uma penetrante lição eleitoral consegue continuar alegre e confiante agradecendo ao povo o tempo que ainda lhe deu de descontos. A esperança é a virtude que deve ser recuperada nestas circunstâncias, e jamais nos devemos deixar levar pelo desespero que conduz ao uso de expressões sexualmente agressivas e que nem sempre revelam consentimento mútuo.
Verifico no entanto, num misto de desencanto e ao mesmo tempo de admiração pelo grau de civismo que subentende, que a expressão «são uns enconados» caiu um pouco em desuso. A ambiguidade sexual que carregava esta frase, fazendo crer que a apatia e falta de iniciativa se situariam ali entre o lavatório e o bidé, junto à caixa dos evax-ultra-com-alas ( ai como fazem falta os alas meu Deus, se bem que centrar para o segundo poste na selecção portuguesa dá o mesmo efeito que fazer uma mijinha na bandeirola de canto), foi relegando-a para alguns nichos etnográficos, sendo substituída muitas vezes pela de “paneleiros de merda” . Trata-se duma alternativa a evitar porque concentra dois vocábulos ordinários levando a inebriar-nos num leverage de abandalhamento. Este simbolismo sexual poderá ser transferido - e com ganho – para a recuperação do fenómeno do hermafroditismo, que no fundo apela à versatilidade, factor tão importante nas tácticas de hoje que privilegiam os jogadores polivalentes.
Nota editorial: A utilização de expressões de índole levemente obscena neste texto, deve-se unicamente a critérios instrumentais e didácticos, e jamais motivados por uma alma conspurcada, doente ou vingativa.
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O cálice da vitória
Mourinho reflecte cada vez mais um tique muito especial. O tique do sucesso mal assimilado, do sucesso mal resolvido, do sucesso mal relativizado.
No FCPorto encontramos um fenómeno muito próprio do alcoolismo: quem sofre deste “vício” basta-lhe uma pinguita para ficar bêbedo; aos do FCPorto basta-lhes também uma pequena contrariedade para assumirem uma posição absoluta, extremada e patética de valorização do seu sucesso. Encapotada da nobre estratégia de “ fingir perseguido para melhor prosseguir “.
Os “meus” lagartos, por exemplo, andaram uma carrada de anos à míngua, e acabaram por ganhar um campeonato sem estar à espera, lá fizeram a sua festarola e pronto: Partiram para outra - disparate claro, mas não ficaram a “remoer” na vitória. Depois ganharam outra vez, disseram-lhes que foi o Jardel que ganhou sozinho, mas olha ...gozaram a vitória, repetiram a festarola e partiram para outra – disparate claro, mas sem dramas, sem nostalgias folclóricas, sem bacocas psicologias de galvanização.
Esta vertigem “tripeira” do sucesso, comummente associada ao afã-desmedido-de-vencer-próprio-dos-grandes-campeões-dos-quais-rezará-a-história, mais me parece agora o exibicionismo de um falso complexo de superioridade, que procura esconder o tal profundo e envergonhado complexo de inferioridade. O eros e thanatos do bulhão.
A competência não é sinónima de bem-estar, nem de estar-bem. Competência é apenas competência. Um purgatório, não um paraíso.
Mourinho reflecte cada vez mais um tique muito especial. O tique do sucesso mal assimilado, do sucesso mal resolvido, do sucesso mal relativizado.
No FCPorto encontramos um fenómeno muito próprio do alcoolismo: quem sofre deste “vício” basta-lhe uma pinguita para ficar bêbedo; aos do FCPorto basta-lhes também uma pequena contrariedade para assumirem uma posição absoluta, extremada e patética de valorização do seu sucesso. Encapotada da nobre estratégia de “ fingir perseguido para melhor prosseguir “.
Os “meus” lagartos, por exemplo, andaram uma carrada de anos à míngua, e acabaram por ganhar um campeonato sem estar à espera, lá fizeram a sua festarola e pronto: Partiram para outra - disparate claro, mas não ficaram a “remoer” na vitória. Depois ganharam outra vez, disseram-lhes que foi o Jardel que ganhou sozinho, mas olha ...gozaram a vitória, repetiram a festarola e partiram para outra – disparate claro, mas sem dramas, sem nostalgias folclóricas, sem bacocas psicologias de galvanização.
Esta vertigem “tripeira” do sucesso, comummente associada ao afã-desmedido-de-vencer-próprio-dos-grandes-campeões-dos-quais-rezará-a-história, mais me parece agora o exibicionismo de um falso complexo de superioridade, que procura esconder o tal profundo e envergonhado complexo de inferioridade. O eros e thanatos do bulhão.
A competência não é sinónima de bem-estar, nem de estar-bem. Competência é apenas competência. Um purgatório, não um paraíso.
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