Naturalmente



Recolho de Eduardo Lourenço o angustiante confronto da nossa condição entre a «tragédia cultural da domesticação da natureza», e a definição dessa mesma condição pela «vontade de descobrir o mundo, de o conhecer e transformar». O problema é que a nossa peregrinação é feita desta malandra mas luminosa arreliação.

Felizmente a “Natureza nunca toma partido” (*) dos seus adoradores, pelo que “desdenho” a «imposição das leis de um naturalismo preguiçoso, limpo e espontaníssimo».

E como desfruto ao descer um elevador panorâmico, que esventrou uma falésia a caminho duma praia burguesa enquanto oiço apenas o Billy Joel !...

A “poesia” e a “natureza” são apenas grafismos sui generis e sobreavaliados duma criação que não precisa de pedigree.

Nem de incompetentes como eu para as apreciar.



E um ano novo que não vos “reveille” do bom sonho.



(*) Frase retirada do livro de Gonçalo Tavares “Um homem : Klaus Klamp” . Óptima revelação – minha... – deste final de ano que, arriscando num “ladainhar aforístico” dentro duma perturbante ficção, mostra frescura de quem pensa sem medo das “coisas” chamadas palavras.

A última citação era dum interessante artigo de João Lopes no DN sobre o cinema moderno (de há uma semanas).

Sem comentários: