Soltas
Mas antes bem soltas que darem mau atavio.
Não aprecio xadrez. Infelizmente não aprecio a noite. Mas adoro silêncios. E palavras estéreis. They shut me up in Prose- / As when a litle Girl / They put me in the Closet - / Because they liked me “still” -. E. Dickinson
Só se desfazem rebanhos quando eles existem. Quando se vêem carneiros despassarados e de badalo em riste, dos que fingem não ser do rebanho, nem me apetece tricotar-lhes a lãzinha. Está quase sempre ressequida e suja. Não produz “Softest clothing, wooly, bright” como diz W. Blake.
Escrever textos a procurar a piadola também dá cada vez menos pica, porque já há muitos profissionais no ramo e que têm de ganhar a vida. Agora escrever disparates é que ainda dá gozo. E aí só se encontram amadores.
Incapazes de clonar contribuintes modelo, e esgotando-se o esperma para a inseminação artificial de receitas, o estado confiscador vira-se agora para as técnicas tradicionais da reprodução animal com o “cruzamento entre o fisco e a segurança social”. Quando se acabar esta técnica talvez comecemos a ser enxertados em árvores das patacas. Crise na ciência. Não vejo.
Li o repto do Terras sobre a imprensa espanhola. Um “pedido” do terras é praticamente uma ordem (mais perplexidades não por favor, se bem que eu acho que o “sacanita” já não me lê). Espanha é um país intrinsecamente conservador, apesar de gostar de se armar ao pingarelho contestatário de vez em quando. E é um país com uma memória terrível. Não esquecerão tão cedo Guerras & Gonzalez, e a imprensa espanhola tem uma tradição veneradora para com o poder. Defendem a sua imagem, está-lhe no sangue, e querem fazer tudo sempre a um jeito “contrário ao dos franceses” – os seus verdadeiros “inimigos”. Não é bom nem mau, se eles gostam... Dizem até alguns iluminados portugueses que nós também devíamos ser assim. Não creio: no nosso sangue escorre a par da lamúria um gozo por desfazer o poder e o contra-poder. Só que as nossas lágrimas escorrem para o mar. Não há represa que as aproveite, e o gozo esfuma-se no bafo quente da preguiça. Ah e já me esquecia, como em quase tudo, há uma questão comercial: Zapatero não vende tão bem como aquele Guterres que nós por cá tivemos em tempo de saldos.
E caro João, se não visses que de facto a imprensa portuguesa é efectivamente mais dada à-la-gauche, não te vinham estas engraçadas “espicaçadelas”. Mas que só te ficam bem. Pois a melhor maneira de ir conservando a imprensa é mesmo “esquerdofilizá-la”. Em vácuo. É que o bolor ataca de todos os lados. Esta troca do humor pelo disparate não sei se foi boa.
Bem, agora vou ver os lagartos. ( já veremos se continua o disparate ou não...)
E-o-que-é-que-isso-interessismo em estado puro
Passam os dias e eu continuo ali sentado naquela cadeira feito parvo sempre à espera que aconteça qualquer coisa. Já me começam a doer as costas mas eu não me importo. Até passei pelas brasas, confesso. E sonhei que as palavras voltavam a mexer-se e a escarafunchar-me o espírito indolente e amorfo. A memória é traiçoeira e ainda me esqueço daquilo que lá descobri. Daquilo que lá "vivi". Não quero correr esse risco.
-«Que conversa balofa» diz-me o subconsciente de serviço.
-«Cala-te estúpido, deixa-me estar aqui sentadinho em paz».
Agora só faltava que não me deixassem carpir o que me apetece. Chiça, mas estas “ripas” da cadeira já me estão a marcar o lombinho. Cabrões dos escoceses que dormem em cima de qualquer pedregulho. Eu não estou habituado a uma natureza tão agressiva, e também sempre me fizeram as vontadinhas todas, essa é que é essa.
-« Parvo és tu, porque enleares-te numas palavras não é viver».
-«Insolente, ignorante, e presumido, vê-se que estás destinado a ser apenas inconsciente, sabes lá o que é viver ó toupeira de merda».
Uma vez tinha lá lido que “memory is older than thinking”, e é isto que ainda me fica de consolo. Agora vou desistir de pensar mais, basta-me olhar para trás. Mas que porra esta, tenho mesmo que me esticar um bocado na chaise longue do Corbusier e chupar uns cubos de “gelo”. E fico com aquela cor suave a massajar-me as pálpebras. Doridas de tanto segurar. Espantadas por eu não as deixar mais vezes fechadas, porque isto de ver aparvalha-nos. Oh Valha-nos Deus.
Passam os dias e eu continuo ali sentado naquela cadeira feito parvo sempre à espera que aconteça qualquer coisa. Já me começam a doer as costas mas eu não me importo. Até passei pelas brasas, confesso. E sonhei que as palavras voltavam a mexer-se e a escarafunchar-me o espírito indolente e amorfo. A memória é traiçoeira e ainda me esqueço daquilo que lá descobri. Daquilo que lá "vivi". Não quero correr esse risco.
-«Que conversa balofa» diz-me o subconsciente de serviço.
-«Cala-te estúpido, deixa-me estar aqui sentadinho em paz».
Agora só faltava que não me deixassem carpir o que me apetece. Chiça, mas estas “ripas” da cadeira já me estão a marcar o lombinho. Cabrões dos escoceses que dormem em cima de qualquer pedregulho. Eu não estou habituado a uma natureza tão agressiva, e também sempre me fizeram as vontadinhas todas, essa é que é essa.
-« Parvo és tu, porque enleares-te numas palavras não é viver».
-«Insolente, ignorante, e presumido, vê-se que estás destinado a ser apenas inconsciente, sabes lá o que é viver ó toupeira de merda».
Uma vez tinha lá lido que “memory is older than thinking”, e é isto que ainda me fica de consolo. Agora vou desistir de pensar mais, basta-me olhar para trás. Mas que porra esta, tenho mesmo que me esticar um bocado na chaise longue do Corbusier e chupar uns cubos de “gelo”. E fico com aquela cor suave a massajar-me as pálpebras. Doridas de tanto segurar. Espantadas por eu não as deixar mais vezes fechadas, porque isto de ver aparvalha-nos. Oh Valha-nos Deus.
Uma alma em aprovação de contas
A economia da salvação é a verdadeira ciência oculta. Não há orçamento, nem plano de negócios que resista a uma revelação que despreza os objectivos de controlo do mercado, para se deixar levar pelas pequenas coisas do economato da alma.
Bancos em transe, empregados boquiabertos, fornecedores a verem a coisa mal parada:“...Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou arruinar-se a si próprio” diz-se na “comunicação” de Lucas aos “accionistas”. As linhas dos gráficos começam a tremelicar, e já se suspira pelo velhinho papel milimétrico para nos podermos orientar neste casino de opções estratégicas desbaratadas. Os minoritários acotovelam-se nos corredores a ver o que fazem os accionistas de referência. «Vou vender tudo» diz de repente o samaritano do fundo de pensões. Instala-se a bagunça no sector dos fariseus que estavam a contar com uma mais-valia já apalavrada. Os penetras da concorrência esfregam as mãos e majoram as margens. Entra o amanuense de turno. Avisa que «as únicas acções com direito a voto são as “nominativas”». Gera-se a confusão nos que se refugiavam no anonimato dos títulos “ao portador”. Afinal tudo se mantinha artificialmente baseado no endosso fácil. Numa troca virtual de boas intenções.
E apareceu outra vez aquela moralidade básica, radical e desconcertante a fazer repensar tudo. Sacana do “contabilista”. Só que ninguém afinal estava preparado para cuidar de si próprio. Quando pensávamos que o universo era o limite, descobrimos o horizonte nas prateleiras da dispensa.
O mundo dos negócios fode-nos a alma. Mas desgraçados dos que andam com ela embrulhada num celofane de escrúpulos. Quem não dá para este peditório da salvação tem “sorte”. Vive sempre em saldos. Mas só até à liquidação total, claro.
A economia da salvação é a verdadeira ciência oculta. Não há orçamento, nem plano de negócios que resista a uma revelação que despreza os objectivos de controlo do mercado, para se deixar levar pelas pequenas coisas do economato da alma.
Bancos em transe, empregados boquiabertos, fornecedores a verem a coisa mal parada:“...Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou arruinar-se a si próprio” diz-se na “comunicação” de Lucas aos “accionistas”. As linhas dos gráficos começam a tremelicar, e já se suspira pelo velhinho papel milimétrico para nos podermos orientar neste casino de opções estratégicas desbaratadas. Os minoritários acotovelam-se nos corredores a ver o que fazem os accionistas de referência. «Vou vender tudo» diz de repente o samaritano do fundo de pensões. Instala-se a bagunça no sector dos fariseus que estavam a contar com uma mais-valia já apalavrada. Os penetras da concorrência esfregam as mãos e majoram as margens. Entra o amanuense de turno. Avisa que «as únicas acções com direito a voto são as “nominativas”». Gera-se a confusão nos que se refugiavam no anonimato dos títulos “ao portador”. Afinal tudo se mantinha artificialmente baseado no endosso fácil. Numa troca virtual de boas intenções.
E apareceu outra vez aquela moralidade básica, radical e desconcertante a fazer repensar tudo. Sacana do “contabilista”. Só que ninguém afinal estava preparado para cuidar de si próprio. Quando pensávamos que o universo era o limite, descobrimos o horizonte nas prateleiras da dispensa.
O mundo dos negócios fode-nos a alma. Mas desgraçados dos que andam com ela embrulhada num celofane de escrúpulos. Quem não dá para este peditório da salvação tem “sorte”. Vive sempre em saldos. Mas só até à liquidação total, claro.
Danças com Russos.
O império russo quando estertorava sob aquilo que hoje se chamaria a “diplomacia da influência” de uma czarina importada, de cabeça feita por um “bruxo” oportunista, e refém de um filho hemofílico, assistiu a momentos fascinantes que prenunciavam a revolução, ou aquilo que Pushkin previa como uma “Rússia tumultuosa, insensata e cruel”.
Um dos últimos primeiros-ministros “joguetes” de Alexandra & Rasputine foi Boris Stürmer. No auge do descontentamento contra este “artista” incompetente e corrupto, um deputado liberal chamado Milliukov teve um discurso incendiário na Duma.
Desta cessão – nos finais de 1916 - do parlamento russo ficam-me ( li tantas vezes estas histórias em “miúdo” que até parece que estive lá) imagens que hoje são “bem-vindas”. Milliukov ia intercalando as suas acusações ao governo da altura com a famosa interrogação: “Estupidez ou traição ? ”.Tempos de guerra onde o “inimigo” se emboscava de baioneta e não com “acordos parasociais”, “ memorandum of understanding” ou “call options”.
Mas nessa mesma sessão um outro deputado, Vasili Maklakov, “pega” também em Pushkin e “rouba-lhe” : «Ai do país onde o escravo e o mentiroso estão perto do trono».
Finalmente cheguei onde queria. Preambular é o aconchego dos incompetentes. Mas no preambular é que está o ganho.
A estupidez. A mentira. A traição. A escravidão. Tudo moças jeitosas. Casamenteiras, de bom dote, e vestindo das melhores marcas. A proximidade ao poder é corruptora. Esta é uma ideia terrível, mas dificilmente contornável. A existência de “moralidades paralelas”, ou “moralidades de exclusão”, ou “moralidades suspensas” ( como Kundera queria para o romance ) parece ser a receita para a subsistência do poder a níveis de sanidade aceitáveis. Incapaz de lidar com tanta realidade, quem detém o poder, mais tarde ou mais cedo só se consegue alimentar dessas carcaças que vão ficando bolorentas. Mas molha-as e assim já não sente a falta dos caninos afiados dos primeiros tempos. O resultado talvez não seja tão tumultuoso, a crueldade é servida ao ritmo do zapping, e a insensatez vem acompanhada com o molho das estatísticas, o que embebendo o pão traz uma sensação – por vezes chafurdosa – mas deliciosa.
Hoje, o poder também faz muitas vezes como o czar Nicolau, que nesse período de guerra visitava Kiev, os feridos nos hospitais e a sua maezinha.
O império russo quando estertorava sob aquilo que hoje se chamaria a “diplomacia da influência” de uma czarina importada, de cabeça feita por um “bruxo” oportunista, e refém de um filho hemofílico, assistiu a momentos fascinantes que prenunciavam a revolução, ou aquilo que Pushkin previa como uma “Rússia tumultuosa, insensata e cruel”.
Um dos últimos primeiros-ministros “joguetes” de Alexandra & Rasputine foi Boris Stürmer. No auge do descontentamento contra este “artista” incompetente e corrupto, um deputado liberal chamado Milliukov teve um discurso incendiário na Duma.
Desta cessão – nos finais de 1916 - do parlamento russo ficam-me ( li tantas vezes estas histórias em “miúdo” que até parece que estive lá) imagens que hoje são “bem-vindas”. Milliukov ia intercalando as suas acusações ao governo da altura com a famosa interrogação: “Estupidez ou traição ? ”.Tempos de guerra onde o “inimigo” se emboscava de baioneta e não com “acordos parasociais”, “ memorandum of understanding” ou “call options”.
Mas nessa mesma sessão um outro deputado, Vasili Maklakov, “pega” também em Pushkin e “rouba-lhe” : «Ai do país onde o escravo e o mentiroso estão perto do trono».
Finalmente cheguei onde queria. Preambular é o aconchego dos incompetentes. Mas no preambular é que está o ganho.
A estupidez. A mentira. A traição. A escravidão. Tudo moças jeitosas. Casamenteiras, de bom dote, e vestindo das melhores marcas. A proximidade ao poder é corruptora. Esta é uma ideia terrível, mas dificilmente contornável. A existência de “moralidades paralelas”, ou “moralidades de exclusão”, ou “moralidades suspensas” ( como Kundera queria para o romance ) parece ser a receita para a subsistência do poder a níveis de sanidade aceitáveis. Incapaz de lidar com tanta realidade, quem detém o poder, mais tarde ou mais cedo só se consegue alimentar dessas carcaças que vão ficando bolorentas. Mas molha-as e assim já não sente a falta dos caninos afiados dos primeiros tempos. O resultado talvez não seja tão tumultuoso, a crueldade é servida ao ritmo do zapping, e a insensatez vem acompanhada com o molho das estatísticas, o que embebendo o pão traz uma sensação – por vezes chafurdosa – mas deliciosa.
Hoje, o poder também faz muitas vezes como o czar Nicolau, que nesse período de guerra visitava Kiev, os feridos nos hospitais e a sua maezinha.
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Russia
Será a neura aos tropeções
Será espelho mal amestrado....
Uma das constantes tensões que o cristianismo deixou (para quem se quer tensionar, claro) foi a da nobreza da discrição, com a grandeza do exemplo. Sem “idolatrar” as palavras bíblicas, mas também sem as evitar, recolho do dia de hoje a frase “de” S. Mateus : «...Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita, para que a tua esmola fique em segredo». Isto é de facto assombroso de ouvir da boca do tal que fazia “milagres pirotécnicos”. É a expressão de uma moralidade simples, “básica”, e até eventualmente previsível (as coisas que um gajo diz...), mas não me parece que esteja tão fortemente gravada assim – ab inicio – no lombo da natureza humana. A dita Revelação ainda tem destas coisas.
A discrição – quando não neurótica – e o esquecimento próprio – quando não esquizofrénico – são desafios à nossa condição. Sermos pó e em pó nos irmos tornar (se eu não dissesse isto hoje até me estranharia a mim próprio – ser óbvio é também um refúgio) já não deixa as filosofias demasiado apoquentadas (também aprenderam a lição do pragmatismo...), mas o “despojamento da imagem de nós mesmos” continua a viver sem teóricos à altura. Tirando, claro, os que antes se esfalfavam a subir o “monte carmelo”, e os que agora se deleitam a esquiar o “monte farelo” (em que está transformada a chamada opinião pública).
Isto são mais os parênteses que o texto. Não há de facto quem se entregue à verdade sem resistir a embelezá-la, aparelhando-a "parenteseada" com as suas nuances e as suas trancinhas.
...Ou será a quaresma a pedir expiações
Para as quais não se está preparado.
Será espelho mal amestrado....
Uma das constantes tensões que o cristianismo deixou (para quem se quer tensionar, claro) foi a da nobreza da discrição, com a grandeza do exemplo. Sem “idolatrar” as palavras bíblicas, mas também sem as evitar, recolho do dia de hoje a frase “de” S. Mateus : «...Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita, para que a tua esmola fique em segredo». Isto é de facto assombroso de ouvir da boca do tal que fazia “milagres pirotécnicos”. É a expressão de uma moralidade simples, “básica”, e até eventualmente previsível (as coisas que um gajo diz...), mas não me parece que esteja tão fortemente gravada assim – ab inicio – no lombo da natureza humana. A dita Revelação ainda tem destas coisas.
A discrição – quando não neurótica – e o esquecimento próprio – quando não esquizofrénico – são desafios à nossa condição. Sermos pó e em pó nos irmos tornar (se eu não dissesse isto hoje até me estranharia a mim próprio – ser óbvio é também um refúgio) já não deixa as filosofias demasiado apoquentadas (também aprenderam a lição do pragmatismo...), mas o “despojamento da imagem de nós mesmos” continua a viver sem teóricos à altura. Tirando, claro, os que antes se esfalfavam a subir o “monte carmelo”, e os que agora se deleitam a esquiar o “monte farelo” (em que está transformada a chamada opinião pública).
Isto são mais os parênteses que o texto. Não há de facto quem se entregue à verdade sem resistir a embelezá-la, aparelhando-a "parenteseada" com as suas nuances e as suas trancinhas.
...Ou será a quaresma a pedir expiações
Para as quais não se está preparado.
O “corso carnavalesco” que desfilou a dizer mal de Santana soou-me ao carro alegórico do “complexo”, logo seguido do carro alegórico da “parola obsessão”. O Rei Momo este ano entregou-se cedo demais aos caprichos dos que julgam ser os sambistas mais valiosos. O novo dicionário não ilustrado apresenta hoje o “caderno de encargos” a satisfazer para se entrar no carro alegórico dos comentadores de turno, mascarado de candidato presidencial sério. ( entradas 511 a 526)
”Ter Perfil” – Possuir um contorno bem definido que invalida o sfumato daVinciano, mas garante que não se confunde com a paisagem
“Ter Paixão” – Arrebatamento que produz um efeito espantoso principalmente se for daqueles que têm em anexo uma percentagem do PIB
“Ter uma ideia” – Condição de inestimável valor. Definir ideia é uma questão a ver depois das eleições. Bastando ter só uma, dá para facilitar e viver mais relaxados. Se tivermos duas, estamos dispensados da sempre maçadora contagem de neurónios.
“Ter um projecto” – Mais valia preciosa que se capitaliza totalmente quando após a eleição se conseguem fazer emigrar para a Bielorússia escritores de novelas histórico-afrodisíacas.
“Ter ambição” – Loucura química se misturado com dissolventes marados. Deixa depósito, e depois essa borra faz com que se borrem todos.
“Ter vontade para deixar tudo na mesma” – Sábia condição que permite ao rebanho um pasto calmo, podendo entreter-se a chamar nomes ao lobo, e a desopilar com as amigas do pastor.
“Ter timing” – Característica que permite o ranhoso só deixar cair o pingo no momento certo, de forma a nunca se confundir com mijadela descuidada.
“Ter os mínimos” – Expressão repescada do léxico olímpico e que nos remete para a corrida de obstáculos, alertando para o facto de termos de estar preparados para o fosso, e para a necessidade de nos afastarmos da zona de lançamento do marcelo, perdão martelo.
“ Não ultrapassar os limites” – Especial qualidade que permite ficar a olhar pendurado para a linha do precipício, limitando-se a fazer aguarelas literárias sobre a qualidade da paisagem
“Ter base de apoio “– Conceito que não garante a distinção entre um “sempre-em-pé” e um “pezinhos de lã”, mas pode causar incómodos aos que se julgam possuidores dos “pés-de-cabra” para nos abrir a mente à verdade.
“Ter uma mulher a chagar-lhe o juízo” – Condição de valor acrescido quando um candidato não é pressionável porque tem o pipo bem soldado e controlado.
“Ter os seus artigos citados” – Ao se escrever artigos de opinião tem de se ser citado, senão é como querer apalpar em condições umas mamas etruscas e só lhe saírem na rifa uns colunistas de silicone.
“Não ter tendência para lugares vazios” – Apesar de já estarem apinhados os lugares de grande conteúdo, ninguém deve mostrar inclinação para os outros, sob pena de também ficarem atascados.
“Ser credível” – Quem apresenta bom saldo contabilístico, mas depois vai-se a ver, na hora da verdade o saldo disponível não dá mandar cantar um cego. Geralmente os extractos vêm em forma de artigos de opinião onde a “data-valor” é um pormenor sem importância.
“ Ter gosto em servir a causa pública” – Não basta saber segurar na bandeja para servir os comensais, é igualmente preciso manter as aparências e não mostrar o rendilhado da farda nem o penteado de tal forma amachucados, que faça desconfiar as finas cortesãs que julgavam seguros os seus lugares na cama do poder.
“ Ser digno do lugar” – Prerrogativa chata que felizmente nem os comentadores, nem os eleitores se têm de esforçar muito por obter.
”Ter Perfil” – Possuir um contorno bem definido que invalida o sfumato daVinciano, mas garante que não se confunde com a paisagem
“Ter Paixão” – Arrebatamento que produz um efeito espantoso principalmente se for daqueles que têm em anexo uma percentagem do PIB
“Ter uma ideia” – Condição de inestimável valor. Definir ideia é uma questão a ver depois das eleições. Bastando ter só uma, dá para facilitar e viver mais relaxados. Se tivermos duas, estamos dispensados da sempre maçadora contagem de neurónios.
“Ter um projecto” – Mais valia preciosa que se capitaliza totalmente quando após a eleição se conseguem fazer emigrar para a Bielorússia escritores de novelas histórico-afrodisíacas.
“Ter ambição” – Loucura química se misturado com dissolventes marados. Deixa depósito, e depois essa borra faz com que se borrem todos.
“Ter vontade para deixar tudo na mesma” – Sábia condição que permite ao rebanho um pasto calmo, podendo entreter-se a chamar nomes ao lobo, e a desopilar com as amigas do pastor.
“Ter timing” – Característica que permite o ranhoso só deixar cair o pingo no momento certo, de forma a nunca se confundir com mijadela descuidada.
“Ter os mínimos” – Expressão repescada do léxico olímpico e que nos remete para a corrida de obstáculos, alertando para o facto de termos de estar preparados para o fosso, e para a necessidade de nos afastarmos da zona de lançamento do marcelo, perdão martelo.
“ Não ultrapassar os limites” – Especial qualidade que permite ficar a olhar pendurado para a linha do precipício, limitando-se a fazer aguarelas literárias sobre a qualidade da paisagem
“Ter base de apoio “– Conceito que não garante a distinção entre um “sempre-em-pé” e um “pezinhos de lã”, mas pode causar incómodos aos que se julgam possuidores dos “pés-de-cabra” para nos abrir a mente à verdade.
“Ter uma mulher a chagar-lhe o juízo” – Condição de valor acrescido quando um candidato não é pressionável porque tem o pipo bem soldado e controlado.
“Ter os seus artigos citados” – Ao se escrever artigos de opinião tem de se ser citado, senão é como querer apalpar em condições umas mamas etruscas e só lhe saírem na rifa uns colunistas de silicone.
“Não ter tendência para lugares vazios” – Apesar de já estarem apinhados os lugares de grande conteúdo, ninguém deve mostrar inclinação para os outros, sob pena de também ficarem atascados.
“Ser credível” – Quem apresenta bom saldo contabilístico, mas depois vai-se a ver, na hora da verdade o saldo disponível não dá mandar cantar um cego. Geralmente os extractos vêm em forma de artigos de opinião onde a “data-valor” é um pormenor sem importância.
“ Ter gosto em servir a causa pública” – Não basta saber segurar na bandeja para servir os comensais, é igualmente preciso manter as aparências e não mostrar o rendilhado da farda nem o penteado de tal forma amachucados, que faça desconfiar as finas cortesãs que julgavam seguros os seus lugares na cama do poder.
“ Ser digno do lugar” – Prerrogativa chata que felizmente nem os comentadores, nem os eleitores se têm de esforçar muito por obter.
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dicionário não ilustrado
Lost in Passion
"A Paixão de Cristo". Não vi o filme claro. E nada devo ao chamado ultra conservadorismo católico - mais claro ainda. Acredito na "verdade histórica" dum Deus-filho-de-Deus que encarnou e morreu por nós. E aparvalho-me no mistério que isso encerra. Sou de me deixar levar mais pelas "imagens" do que pelas "palavras". Sem medos e sem falsos respeitos. Não me encaixo naquela “categoria” dos "amigos cristãos" a quem a rua da judiaria pede opinião, mas não me importo de seguir, mesmo com atraso as suas pistas.
O "Deus católico" deixou-nos uma extraordinária, desconcertante - e pouco óbvia - mensagem: não quis que tudo rolasse à volta d'Ele. Deixou a "imagem" e a "palavra" no ponto certo sem nos colocar sequestrados por nenhuma delas. O "Mundo" e o "Paraíso" ficaram a bailar no mesmo palco. Como doutrina compagina um caminho difícil e rigoroso, que valoriza o sacrifício e a intimidade com Ele, com uma frescura de misericórdia, esperança e desvelo pelos desventurados. É um curto-circuito constante entre o " fechamento determinista" duma criação e a "abertura errática" duma redenção.
A situação do "povo judeu" é uma dessas desconcertantes searas que nos deixou para desbastar. Acabamos por viver “todos” demasiado reféns das suas origens, da sua diáspora e dos seus pesadelos. Fica negligenciado o valor da sua "radical" espiritualidade, dando aspecto duma religião não libertada. Mas isso também é resultado duma "estratégia" de defesa e ataque aparentemente penosa para um povo que - como muitos outros - produziu dos mais brilhantes pensadores, dos mais brilhantes homens de negócios, dos mais brilhantes cientistas, e - desgraçadamente - dos mais brilhantes mártires.
De facto Jesus era judeu. Só que, aí está, isso que significa? Pouco. Muito. E Jesus era filho de uma Virgem. E isso que significa? Pouco. Muito. E Pilatos lavou as suas mãos. E isso que significa? Pouco. Muito. A nossa alma também tem o dom de fazer dos mitos um bem descartável. É pena não aproveitarmos na dose certa. A morte de Jesus não é um caso de polícia ou para a justiça retroactiva. E para pecado original acho que nos basta o do “rapazola” da maçã.
Volto ao "cristianismo-catolicismo". O seu legado é dum duríssimo confronto entre a tolerância e a verdade absoluta. O catolicismo - ao contrário do que "parece parecer" - ensinou-me a não ser refém da história, nem refém do pecado, nem refém da lei, nem refém do sangue, e ....nem refém de mim, nem de Deus!
Não me entretenho no paintball das religiões e das suas justificações. Mas faço "paciências" com as minhas dúvidas e debilidades. Não são poucas as vezes que atiro as cartas todas para o chão. Confundido e revoltado por não dar gozo fazer batota connosco próprios.
Quando "olho" para a caminhada de Jesus para a Cruz sinto-me como se ele nos visasse como Henri Michaux (1) ao referir-se aos Indus «quando falam connosco é nariz contra nariz. Toma-nos o hálito da boca . Nunca se sentirá suficientemente próximo. A sua cabeça invasora e os seus olhos despropositados intrometem-se entre nós e o horizonte ». Penso por isso que a Paixão é intraduzível, e perco-me nela. Jesus chamou de insensatos e lentos de coração os que ignoravam ser necessário que Ele sofresse para entrar na sua glória. Mantemo-nos tal qual. Mas também faz parte, vendo bem as coisas.
(1) Em "Um Bárbaro na Ásia"
"A Paixão de Cristo". Não vi o filme claro. E nada devo ao chamado ultra conservadorismo católico - mais claro ainda. Acredito na "verdade histórica" dum Deus-filho-de-Deus que encarnou e morreu por nós. E aparvalho-me no mistério que isso encerra. Sou de me deixar levar mais pelas "imagens" do que pelas "palavras". Sem medos e sem falsos respeitos. Não me encaixo naquela “categoria” dos "amigos cristãos" a quem a rua da judiaria pede opinião, mas não me importo de seguir, mesmo com atraso as suas pistas.
O "Deus católico" deixou-nos uma extraordinária, desconcertante - e pouco óbvia - mensagem: não quis que tudo rolasse à volta d'Ele. Deixou a "imagem" e a "palavra" no ponto certo sem nos colocar sequestrados por nenhuma delas. O "Mundo" e o "Paraíso" ficaram a bailar no mesmo palco. Como doutrina compagina um caminho difícil e rigoroso, que valoriza o sacrifício e a intimidade com Ele, com uma frescura de misericórdia, esperança e desvelo pelos desventurados. É um curto-circuito constante entre o " fechamento determinista" duma criação e a "abertura errática" duma redenção.
A situação do "povo judeu" é uma dessas desconcertantes searas que nos deixou para desbastar. Acabamos por viver “todos” demasiado reféns das suas origens, da sua diáspora e dos seus pesadelos. Fica negligenciado o valor da sua "radical" espiritualidade, dando aspecto duma religião não libertada. Mas isso também é resultado duma "estratégia" de defesa e ataque aparentemente penosa para um povo que - como muitos outros - produziu dos mais brilhantes pensadores, dos mais brilhantes homens de negócios, dos mais brilhantes cientistas, e - desgraçadamente - dos mais brilhantes mártires.
De facto Jesus era judeu. Só que, aí está, isso que significa? Pouco. Muito. E Jesus era filho de uma Virgem. E isso que significa? Pouco. Muito. E Pilatos lavou as suas mãos. E isso que significa? Pouco. Muito. A nossa alma também tem o dom de fazer dos mitos um bem descartável. É pena não aproveitarmos na dose certa. A morte de Jesus não é um caso de polícia ou para a justiça retroactiva. E para pecado original acho que nos basta o do “rapazola” da maçã.
Volto ao "cristianismo-catolicismo". O seu legado é dum duríssimo confronto entre a tolerância e a verdade absoluta. O catolicismo - ao contrário do que "parece parecer" - ensinou-me a não ser refém da história, nem refém do pecado, nem refém da lei, nem refém do sangue, e ....nem refém de mim, nem de Deus!
Não me entretenho no paintball das religiões e das suas justificações. Mas faço "paciências" com as minhas dúvidas e debilidades. Não são poucas as vezes que atiro as cartas todas para o chão. Confundido e revoltado por não dar gozo fazer batota connosco próprios.
Quando "olho" para a caminhada de Jesus para a Cruz sinto-me como se ele nos visasse como Henri Michaux (1) ao referir-se aos Indus «quando falam connosco é nariz contra nariz. Toma-nos o hálito da boca . Nunca se sentirá suficientemente próximo. A sua cabeça invasora e os seus olhos despropositados intrometem-se entre nós e o horizonte ». Penso por isso que a Paixão é intraduzível, e perco-me nela. Jesus chamou de insensatos e lentos de coração os que ignoravam ser necessário que Ele sofresse para entrar na sua glória. Mantemo-nos tal qual. Mas também faz parte, vendo bem as coisas.
(1) Em "Um Bárbaro na Ásia"
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As Broncas de Caná,
henri michaux
O eu inconsequente e palavroso
Enternecem-me os que se insurgem contra a escrita afirmativa e arrogante. Chegam a insultá-la, aí sim já cheios de “peremptoriamentes”, sem pudores e carregadinhos de frases feitas, às vezes até aliviando das pisadelas do inconsciente.
Porquê ficar incomodado com quem não se perde nos pruridos da dúvida, na tolerância semântica e nas justificações de carácter. Porque faz tanta comichão quem não tem medo de estar errado?
Quem põe na vitrina um discurso titubeante e meramente aproximativo, está muitas vezes a refugiar-se naquela balofa e falsa humildade que serve para comprar aquiescências e para vender bonomias de vão de escada.
Ser «seguro de si», não é uma questão de escrita. Escrever para demonstrar que somos frágeis e titubeantes é tão amorfo e redundante, que só serve para atolar a mente de metáforas.
Quem jorra sentencioso apenas desiste da mordomia que é espojar-se no banho de leite aguado da coerência e da racionalidade que nem amacia, mas que embacia.
Ser obscenamente definitivo na escrita é apenas uma desforra com a condição de permanente inexperiência e incerteza a que estamos todos fadados. Mas quem se consola na babujem céptica, tudo bem, também tem direito ao paraíso, claro!
A escrita é apenas uma fluida dissimulação. Tolos dos que a põem no forno a ver se faz barro.
Ah... peço desculpa pelo incómodo, sim...
Enternecem-me os que se insurgem contra a escrita afirmativa e arrogante. Chegam a insultá-la, aí sim já cheios de “peremptoriamentes”, sem pudores e carregadinhos de frases feitas, às vezes até aliviando das pisadelas do inconsciente.
Porquê ficar incomodado com quem não se perde nos pruridos da dúvida, na tolerância semântica e nas justificações de carácter. Porque faz tanta comichão quem não tem medo de estar errado?
Quem põe na vitrina um discurso titubeante e meramente aproximativo, está muitas vezes a refugiar-se naquela balofa e falsa humildade que serve para comprar aquiescências e para vender bonomias de vão de escada.
Ser «seguro de si», não é uma questão de escrita. Escrever para demonstrar que somos frágeis e titubeantes é tão amorfo e redundante, que só serve para atolar a mente de metáforas.
Quem jorra sentencioso apenas desiste da mordomia que é espojar-se no banho de leite aguado da coerência e da racionalidade que nem amacia, mas que embacia.
Ser obscenamente definitivo na escrita é apenas uma desforra com a condição de permanente inexperiência e incerteza a que estamos todos fadados. Mas quem se consola na babujem céptica, tudo bem, também tem direito ao paraíso, claro!
A escrita é apenas uma fluida dissimulação. Tolos dos que a põem no forno a ver se faz barro.
Ah... peço desculpa pelo incómodo, sim...
Flesh. Flesh. Flesh.
Acabei por ficar com o Lucien Freud na cabeça. Por acaso acho que é um pintor que revela mais do que apenas a sua pintura. Sinto que acaba por ficar “ofuscado” pelo F. Bacon (com quem obviamente se influenciou e conviveu) e isso é algo que me atrai: alguém que fica ensombrado por outros que são mais fulgurantes, radicais, mais de “encher o olho”.
A “nova” figuração na pintura “produziu” dos mais interessantes – fantásticos diria mesmo – artistas (Hooper foi até uma das primeiras “discussões” de que eu dei conta aqui na blogosfera doméstica).
E L. Freud tem um percurso peculiar que vale a pena avaliar. Ele “parte” dum classicismo inicial (agora menos conhecido), fruto duma aprendizagem “tradicional” no estúdio dum retratista (Cedric Morris ), bem misturado com uma intensidade psicológica penetrante e suavemente desesperante (chegaram a chamá-lo o “Ingres do existencialismo” )
Só que “cansa-se”, e fazendo apelo a uma alteração na técnica específica da sua pintura, vai já na segunda metade do século, revelar-nos a carnalidade que o torna agora mais conhecido.
Juntamente a outros como L. Kossof, F Auerbach, D. Hockney, e o próprio Bacon, dá azo até a uma vaidadezinha inglesa como “best figurative country” dos anos 80.
Este novo brilho, e até “obscenidade” da sua nova pintura vão afastá-lo um pouco da força insinuante dos seus primeiros anos (alguns críticos “arrasam-no” mesmo, dizendo quase que ele hipotecou a sua inspiração para se manter “vanguardista”), mas vão permitir um brilho nos seus nus, que serão certamente dos melhores da história da pintura.
Mas nem precisava deste superlativo. Só que esta coisa de classificar também nos está no corpo quase em carne viva.
Mostrar diferença é mesmo uma terrível fatalidade de quem tem de agradar. É por isso que eu desprezo o discurso da originalidade. Mas faço Lucien Freud passar ao lado desta minha ressaca preconceituosa.
Acabei por ficar com o Lucien Freud na cabeça. Por acaso acho que é um pintor que revela mais do que apenas a sua pintura. Sinto que acaba por ficar “ofuscado” pelo F. Bacon (com quem obviamente se influenciou e conviveu) e isso é algo que me atrai: alguém que fica ensombrado por outros que são mais fulgurantes, radicais, mais de “encher o olho”.
A “nova” figuração na pintura “produziu” dos mais interessantes – fantásticos diria mesmo – artistas (Hooper foi até uma das primeiras “discussões” de que eu dei conta aqui na blogosfera doméstica).
E L. Freud tem um percurso peculiar que vale a pena avaliar. Ele “parte” dum classicismo inicial (agora menos conhecido), fruto duma aprendizagem “tradicional” no estúdio dum retratista (Cedric Morris ), bem misturado com uma intensidade psicológica penetrante e suavemente desesperante (chegaram a chamá-lo o “Ingres do existencialismo” )
Só que “cansa-se”, e fazendo apelo a uma alteração na técnica específica da sua pintura, vai já na segunda metade do século, revelar-nos a carnalidade que o torna agora mais conhecido.
Juntamente a outros como L. Kossof, F Auerbach, D. Hockney, e o próprio Bacon, dá azo até a uma vaidadezinha inglesa como “best figurative country” dos anos 80.
Este novo brilho, e até “obscenidade” da sua nova pintura vão afastá-lo um pouco da força insinuante dos seus primeiros anos (alguns críticos “arrasam-no” mesmo, dizendo quase que ele hipotecou a sua inspiração para se manter “vanguardista”), mas vão permitir um brilho nos seus nus, que serão certamente dos melhores da história da pintura.
Mas nem precisava deste superlativo. Só que esta coisa de classificar também nos está no corpo quase em carne viva.
Mostrar diferença é mesmo uma terrível fatalidade de quem tem de agradar. É por isso que eu desprezo o discurso da originalidade. Mas faço Lucien Freud passar ao lado desta minha ressaca preconceituosa.
"Para Deus foste intermédio
de alegria conseguida"
A montanha mágica junta-me Lucien Freud e Sta Teresa e pôs-me a alma caliente. Sinto que tenho de dizer qualquer coisa. Até para afastar os perigos do existencialismo blogosférico que está num novo ciclo de ataque peripatético. Parece que vivemos massartrerizados, essa é que é essa.
Eu gosto imenso daqueles blogues que vivem por conta própria. Olham para a carne viva de L. Freud e para alma em ferida de Sta Teresa sabendo que o homem é mais que a sua cruz, mais que a sua vida, mais que a sua imagem, mas também não deixa de ser tudo isso, e intensamente.
O homem é um ser complexo, claro, não vale a pena fugir deste lugar comum, que ao mesmo tempo se busca e se repele. Tem temor pelas zonas de fronteira, encanta-se com o consolo das extremidades ideológicas, e anda ufano nas ilusões de conhecer e desfrutar. Ninguém quer ser apenas um gajo porreiro.
Força Luís, lança-te serra acima.
Eu fico cá em baixo com “closed eyes” e “on a chair”. Infelizmente a vida não está a dar para pôr a “cabecita no sofá”....
de alegria conseguida"
A montanha mágica junta-me Lucien Freud e Sta Teresa e pôs-me a alma caliente. Sinto que tenho de dizer qualquer coisa. Até para afastar os perigos do existencialismo blogosférico que está num novo ciclo de ataque peripatético. Parece que vivemos massartrerizados, essa é que é essa.
Eu gosto imenso daqueles blogues que vivem por conta própria. Olham para a carne viva de L. Freud e para alma em ferida de Sta Teresa sabendo que o homem é mais que a sua cruz, mais que a sua vida, mais que a sua imagem, mas também não deixa de ser tudo isso, e intensamente.
O homem é um ser complexo, claro, não vale a pena fugir deste lugar comum, que ao mesmo tempo se busca e se repele. Tem temor pelas zonas de fronteira, encanta-se com o consolo das extremidades ideológicas, e anda ufano nas ilusões de conhecer e desfrutar. Ninguém quer ser apenas um gajo porreiro.
Força Luís, lança-te serra acima.
Eu fico cá em baixo com “closed eyes” e “on a chair”. Infelizmente a vida não está a dar para pôr a “cabecita no sofá”....
Mystic River.
Guerra aberta ao bucolismo
Estava indeciso entre falar da Fátinha Abadessa de Felgueiras ou abordar a importância do rio Trancão. Bem, este último também merece um momento de glória. Devo-lhe esta excitação de anti-poesis.
É de facto um dos momentos marcantes da minha ligação ao mundo, esse em que passo sobre o Trancão vindo na auto-estrada de regresso a Lisboa. O anoitecer naquele vale mítico cria-me uma predisposição interna para penetrar nos mistérios da existência, que não há terapia da fala que me faça desembuchar.
O serpenteio daquela dádiva da natureza pela badalhoca suburbanidade, o desprezo com que fedeu anos a fim sem prestar contas à delicatessen, e o ar vaidoso com que agora se afunila lamacento junto do regaço amaneirado dum Tejo indiferente, fazem-me olhar para ele do alto dum viaduto passado a ferro e gáspea, como quem procura uma resposta em forma de segredo. Um coração de azia que quer purgar sobre um rio de enxovia.
Lisboa irá aparecer “pós- bidonvílica”, com um céu rastejante a abafar uma ponte deslumbrante, e sem estrelas à altura da nobreza do entardecer. Inesperadamente parece que tudo se rasga, o mundo afinal é mesmo um morro desordenado e feio, que acompanha fiel e piedoso um rio miserável e babado de esgoto. E por isso sinto já o batuque da alma a pedir que a tire da lama. Chega. Ela quer espuma e da fofa. Chega de contradições. Um rio cinzento não é uma eminência parda. O esterco fertiliza, mas não salva nem aleita.
O rio já lá vai. O Trancão dá forma ao seu destino com a sua erosão. O homem provoca a erosão do seu destino com o seu conformismo. E a “portugalidade” hipoteca o seu esplendor na degradação duma ruralidade mal resolvida.
Só que a entrada de Lisboa tem sempre uma prenda guardada. Junto aos escombros de edifícios sem nome surge esplendorosa a marca de lingerie que tudo redime: “Triumph”. O céu de Lisboa merecia este reclame de glória. Só a simulação da intimidade duma mulher pode compensar o que um rio sinuoso e fétido parecia prenunciar.
O mundo triunfa na pele duma mulher.
Guerra aberta ao bucolismo
Estava indeciso entre falar da Fátinha Abadessa de Felgueiras ou abordar a importância do rio Trancão. Bem, este último também merece um momento de glória. Devo-lhe esta excitação de anti-poesis.
É de facto um dos momentos marcantes da minha ligação ao mundo, esse em que passo sobre o Trancão vindo na auto-estrada de regresso a Lisboa. O anoitecer naquele vale mítico cria-me uma predisposição interna para penetrar nos mistérios da existência, que não há terapia da fala que me faça desembuchar.
O serpenteio daquela dádiva da natureza pela badalhoca suburbanidade, o desprezo com que fedeu anos a fim sem prestar contas à delicatessen, e o ar vaidoso com que agora se afunila lamacento junto do regaço amaneirado dum Tejo indiferente, fazem-me olhar para ele do alto dum viaduto passado a ferro e gáspea, como quem procura uma resposta em forma de segredo. Um coração de azia que quer purgar sobre um rio de enxovia.
Lisboa irá aparecer “pós- bidonvílica”, com um céu rastejante a abafar uma ponte deslumbrante, e sem estrelas à altura da nobreza do entardecer. Inesperadamente parece que tudo se rasga, o mundo afinal é mesmo um morro desordenado e feio, que acompanha fiel e piedoso um rio miserável e babado de esgoto. E por isso sinto já o batuque da alma a pedir que a tire da lama. Chega. Ela quer espuma e da fofa. Chega de contradições. Um rio cinzento não é uma eminência parda. O esterco fertiliza, mas não salva nem aleita.
O rio já lá vai. O Trancão dá forma ao seu destino com a sua erosão. O homem provoca a erosão do seu destino com o seu conformismo. E a “portugalidade” hipoteca o seu esplendor na degradação duma ruralidade mal resolvida.
Só que a entrada de Lisboa tem sempre uma prenda guardada. Junto aos escombros de edifícios sem nome surge esplendorosa a marca de lingerie que tudo redime: “Triumph”. O céu de Lisboa merecia este reclame de glória. Só a simulação da intimidade duma mulher pode compensar o que um rio sinuoso e fétido parecia prenunciar.
O mundo triunfa na pele duma mulher.
Salada Easy Lovers
Ontem ouvia Feitas do Amaral citar Sá Carneiro que supostamente teria dito que era “nosso” hábito «para evitar falar do difícil falamos do fácil». É um bocadinho uma dialéctica de feira, mas serviu para mostrar que “eles-os-sábios” não se perdem com miudezas.
A vida mostra-nos muitas vezes que o fácil é bem mais terrível que o difícil. Mas o sonho de qualquer um é ser ele a próprio a definir o que é fácil e o que é difícil. Escolher os amantes a dedo para brilhar com o beijo que repenicamos melhor.
A actividade política – talvez a par da artística – é a que gere melhor os graus de liberdade da equação do difícil e do fácil. Primeiro, porque escolhe o que vai ser variável e o que vai ser solução, e depois porque também pode determinar a todo o momento quais as operações algébricas que os vão relacionar entre si. É a matemática das expectativas lubrificada pela geometria dos interesses.
A actividade política constrói-se – naturalmente - sobre um tapete de ambições. Causa por isso uma interessante sensação verificar que quando essas ambições se tornam explícitas as comadres tremelicam de escândalo e rubor. Era como se na praça as freguesas se escandalizassem com as peixeiras por estas venderem sardinhas em vez de discutirem o teor de calorias do safio.
O regime democrático não tem o encanto épico duma ditadura imperialista, nem a fantasia poética duma revolução libertária e anarquista, nem produz o maravilhamento estético duma república de mecenas. Embala-nos numa suave onda de parolice que nem afunda nem entuba. Marear é a sensação mais empolgante e sofisticada que podemos alcançar.
E eu desbarato o meu tempinho com isto porquê? Porque a tão badalada “maturidade” passa também por saber olhar para a ambição dos políticos com a mesma naturalidade – até indiferença - com que se olha para uma fritada mista. Acompanha com quê?
Ontem ouvia Feitas do Amaral citar Sá Carneiro que supostamente teria dito que era “nosso” hábito «para evitar falar do difícil falamos do fácil». É um bocadinho uma dialéctica de feira, mas serviu para mostrar que “eles-os-sábios” não se perdem com miudezas.
A vida mostra-nos muitas vezes que o fácil é bem mais terrível que o difícil. Mas o sonho de qualquer um é ser ele a próprio a definir o que é fácil e o que é difícil. Escolher os amantes a dedo para brilhar com o beijo que repenicamos melhor.
A actividade política – talvez a par da artística – é a que gere melhor os graus de liberdade da equação do difícil e do fácil. Primeiro, porque escolhe o que vai ser variável e o que vai ser solução, e depois porque também pode determinar a todo o momento quais as operações algébricas que os vão relacionar entre si. É a matemática das expectativas lubrificada pela geometria dos interesses.
A actividade política constrói-se – naturalmente - sobre um tapete de ambições. Causa por isso uma interessante sensação verificar que quando essas ambições se tornam explícitas as comadres tremelicam de escândalo e rubor. Era como se na praça as freguesas se escandalizassem com as peixeiras por estas venderem sardinhas em vez de discutirem o teor de calorias do safio.
O regime democrático não tem o encanto épico duma ditadura imperialista, nem a fantasia poética duma revolução libertária e anarquista, nem produz o maravilhamento estético duma república de mecenas. Embala-nos numa suave onda de parolice que nem afunda nem entuba. Marear é a sensação mais empolgante e sofisticada que podemos alcançar.
E eu desbarato o meu tempinho com isto porquê? Porque a tão badalada “maturidade” passa também por saber olhar para a ambição dos políticos com a mesma naturalidade – até indiferença - com que se olha para uma fritada mista. Acompanha com quê?
Para sossegar desta cegarrega das simbologias ficam aqui uns valdispert sintéticos do novo dicionário não ilustrado, porque isto há que poupar nas perplexidades para depois poder gastar nos disparates genuínos. Um trocadilho não faz as vezes dum Bloody Mary, mas substitui bem um cházinho de tília. ( entradas 501 a 510)
Símbolos de Masculinidade – Os que enquanto vão e vêm fazem folgar as costas
Símbolos de Feminilidade – Os que raramente se vêm mas frequentemente se racham
Símbolos de Poder – Os que fazem o roto desprezar o nu
Símbolos de Subserviência – Os que condenam os que calam a não terem concerto.
Símbolos de Fertilidade – Os que arredondam a saia e põem o credo na barriga
Símbolos de Virgindade – Os que nos deixam de boca aberta, mas nos dão piedosamente a ocasião de a fechar sem trincar a língua.
Símbolos de Justiça – Os que fazem as piruetas da costa de Malabar em cima dum colchão de penas.
Símbolos de Anarquia – Os que apresentam os domadores incontornáveis em cima da corda bamba
Simbologias de Direita – As que julgam recuperar com eficácia os valores de esquerda pela via da metáfora envergonhada
Simbologias de Esquerda – As que julgam conseguir recalcar sadiamente os valores de direita pela via da neurose igualitária
Símbolos de Masculinidade – Os que enquanto vão e vêm fazem folgar as costas
Símbolos de Feminilidade – Os que raramente se vêm mas frequentemente se racham
Símbolos de Poder – Os que fazem o roto desprezar o nu
Símbolos de Subserviência – Os que condenam os que calam a não terem concerto.
Símbolos de Fertilidade – Os que arredondam a saia e põem o credo na barriga
Símbolos de Virgindade – Os que nos deixam de boca aberta, mas nos dão piedosamente a ocasião de a fechar sem trincar a língua.
Símbolos de Justiça – Os que fazem as piruetas da costa de Malabar em cima dum colchão de penas.
Símbolos de Anarquia – Os que apresentam os domadores incontornáveis em cima da corda bamba
Simbologias de Direita – As que julgam recuperar com eficácia os valores de esquerda pela via da metáfora envergonhada
Simbologias de Esquerda – As que julgam conseguir recalcar sadiamente os valores de direita pela via da neurose igualitária
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dicionário não ilustrado
Nem todas as luas têm fases. Nem todos os mares têm marés.
Passo bem ao lado da ideia de que “há um tempo para tudo”. Quando as pessoas se deixam paramentar assim pela farpela do tempo passam a ser acólitos dum deus que se limita a ser marcador de ritmo.
Ir avançando na vida olhando para a lavagem dos dias e confundi-la com uma purificação alquímica, impede-nos de recuperar os pós “mal perdidos” pela filtragem grosseira do tempo. E assim se vão forjando muitas “mitologias do desenvolvimento”. Algumas ainda valem pelos rituais dançantes, ululando os corpos pintados em torno da fogueira mítica. O resto pouco mais.
O homem tem muita dificuldade em se desenvencilhar da espiral própria da sua condição. Resolve-a muitas vezes sobrevalorizando e adaptando os simbolismos de inversão: A “metamorfose” alivia - enganando - a dificuldade da mudança, e safa-nos dos arriscados malefícios de olhar para trás. Por isso às vezes nem enxergamos que a maré-cheia não mata a maré vazia.
Que bom que é hoje sermos isto, amanhã aquilo e depois de amanhã, se tudo correr benzinho, vamos ser aqueloutro. Mas não misturemos que estraga o sabor. Isto é pura e simplesmente enjeitarmos a Fénix, para apenas nos consolarmos com canjas de galinhas eternamente chocas, que servem para ir rejuvenescendo a vida feita tripa entrelaçada.
O desgraçado surrealismo ainda nos deu uma pista para gerirmos as “irracionalidades primitivas”, melhor ou pior aconchegadas, mas preferimos ficar sequestrados pelos que estigmatizaram o progresso não lhe deixando senão a marca do “afastamento do princípio”. Não poder voltar atrás é muitas vezes uma ilusão cobarde. Própria das almas de rebobinador estragado. Que nos impedem-nos de ver que “todos os tempos têm direito a tudo”.
O deboche que é quadricularmos a existência, apaparicada por algumas psicanálises de recurso, leva-nos a tornar o consciente apenas um tractor que carrega um inconsciente atafulhado mas sempre bem arrumadinho. O condutor em vez de ir guiando concentrado e de cabelos ao vento, passa o tempo a bater nos “miúdos” que se vão soltando do atrelado.
Para quê querer viver como satélites apenas iluminados por sóis caprichosos. A translação é para os calhaus gravitantes, a nós cumpre-nos escolher o movimento.
Há mas é um tudo para cada tempo.
Passo bem ao lado da ideia de que “há um tempo para tudo”. Quando as pessoas se deixam paramentar assim pela farpela do tempo passam a ser acólitos dum deus que se limita a ser marcador de ritmo.
Ir avançando na vida olhando para a lavagem dos dias e confundi-la com uma purificação alquímica, impede-nos de recuperar os pós “mal perdidos” pela filtragem grosseira do tempo. E assim se vão forjando muitas “mitologias do desenvolvimento”. Algumas ainda valem pelos rituais dançantes, ululando os corpos pintados em torno da fogueira mítica. O resto pouco mais.
O homem tem muita dificuldade em se desenvencilhar da espiral própria da sua condição. Resolve-a muitas vezes sobrevalorizando e adaptando os simbolismos de inversão: A “metamorfose” alivia - enganando - a dificuldade da mudança, e safa-nos dos arriscados malefícios de olhar para trás. Por isso às vezes nem enxergamos que a maré-cheia não mata a maré vazia.
Que bom que é hoje sermos isto, amanhã aquilo e depois de amanhã, se tudo correr benzinho, vamos ser aqueloutro. Mas não misturemos que estraga o sabor. Isto é pura e simplesmente enjeitarmos a Fénix, para apenas nos consolarmos com canjas de galinhas eternamente chocas, que servem para ir rejuvenescendo a vida feita tripa entrelaçada.
O desgraçado surrealismo ainda nos deu uma pista para gerirmos as “irracionalidades primitivas”, melhor ou pior aconchegadas, mas preferimos ficar sequestrados pelos que estigmatizaram o progresso não lhe deixando senão a marca do “afastamento do princípio”. Não poder voltar atrás é muitas vezes uma ilusão cobarde. Própria das almas de rebobinador estragado. Que nos impedem-nos de ver que “todos os tempos têm direito a tudo”.
O deboche que é quadricularmos a existência, apaparicada por algumas psicanálises de recurso, leva-nos a tornar o consciente apenas um tractor que carrega um inconsciente atafulhado mas sempre bem arrumadinho. O condutor em vez de ir guiando concentrado e de cabelos ao vento, passa o tempo a bater nos “miúdos” que se vão soltando do atrelado.
Para quê querer viver como satélites apenas iluminados por sóis caprichosos. A translação é para os calhaus gravitantes, a nós cumpre-nos escolher o movimento.
Há mas é um tudo para cada tempo.
Uma sinfonia de címbalos simbólicos. Eu cá vivo a toque de caixa.
Preambulo Andante
Penso já estar devidamente provado que desprezar o mundo é a primeira condição a cumprir para o podermos amar. É uma conclusão como outra qualquer. Hoje permite-me extrapolar que o homem é – ele sim - um mero símbolo religioso. Usado ostensivamente pelos filósofos, e abusado indecorosamente pelos políticos. E nos chamados “dias que correm” também emburkado pelas notícias, que já de si também andam enchouriçadas de mundos religiosamente simbolizados.
Dislates ma non troppo
As gajas são apenas gajas. Os gajos parece que também pouco derivam disso. Vivemos um impasse na retórica sexual. A costela do Génesis relegou o cromossoma Y para o simples lugar de símbolo religioso. Será que eu estou mesmo a perceber o que estou a escrever?
O Avatares e o Terras são dois blogues que constroem no seu fluxo uterino uma ponte entre uma esquerda vaidosa e uma direita reprimida. Esse religare tão peculiar faz também deles dois assumidos símbolos religiosos. Estar-me a meter com dois blogues é uma manifestação da arriscada exposição ao risco da indiferença. Ora esta situação também encerra um simbolismo. O do labirinto do amor-próprio.
Adágio da treta
Escrevejar à toa é uma futilidade de quem aproveita bem o tempo. O tempo pode ser assim exibido sem restrições simbólicas. Mas pode provocar inveja.
Finale : Allegro ben marcato
Tropeçar constantemente numa simplória simbologia é algo que dá muito gozo. A guerra do Iraque é um símbolo religioso na blogosfera militante. Chirac, vem cá tomar conta disto sff. Podes trazer o A. Juppé mas mete-lhe um capachinho laico.
Preambulo Andante
Penso já estar devidamente provado que desprezar o mundo é a primeira condição a cumprir para o podermos amar. É uma conclusão como outra qualquer. Hoje permite-me extrapolar que o homem é – ele sim - um mero símbolo religioso. Usado ostensivamente pelos filósofos, e abusado indecorosamente pelos políticos. E nos chamados “dias que correm” também emburkado pelas notícias, que já de si também andam enchouriçadas de mundos religiosamente simbolizados.
Dislates ma non troppo
As gajas são apenas gajas. Os gajos parece que também pouco derivam disso. Vivemos um impasse na retórica sexual. A costela do Génesis relegou o cromossoma Y para o simples lugar de símbolo religioso. Será que eu estou mesmo a perceber o que estou a escrever?
O Avatares e o Terras são dois blogues que constroem no seu fluxo uterino uma ponte entre uma esquerda vaidosa e uma direita reprimida. Esse religare tão peculiar faz também deles dois assumidos símbolos religiosos. Estar-me a meter com dois blogues é uma manifestação da arriscada exposição ao risco da indiferença. Ora esta situação também encerra um simbolismo. O do labirinto do amor-próprio.
Adágio da treta
Escrevejar à toa é uma futilidade de quem aproveita bem o tempo. O tempo pode ser assim exibido sem restrições simbólicas. Mas pode provocar inveja.
Finale : Allegro ben marcato
Tropeçar constantemente numa simplória simbologia é algo que dá muito gozo. A guerra do Iraque é um símbolo religioso na blogosfera militante. Chirac, vem cá tomar conta disto sff. Podes trazer o A. Juppé mas mete-lhe um capachinho laico.
O novo dicionário não ilustrado não podia perder a oportunidade de dizer que o namoro é uma chocha convenção que não convence. Andar de mão dada é uma das vergonhas da espécie. Felizmente as comichões acompanham-nos em permanência. Mas prontos: love is back in business. “Surfing on a rocket”. ( entradas 491 a 500)
Desejo – Está para a razão como o melaço está para a ração. A ausência de salivagem foi a prenda que o criador nos reservou.
Paixão – Material de que são feitas as lagartas que transportam o tanque dos sentimentos para o campo de batalha. Permitem que se passe por cima de tudo sem dar conta de nada. Estamos por conta da qualidade da blindagem.
Ciúme – Borla que o sentimento de turno oferece quando não tem troco para o freguês que está ao balcão. Só que esses trocos perdidos podiam ter dado para comprar uma sinceridade que estivesse em saldos.
Sexo – Caloria de efeito embriagante que pode fazer duma alma ansiosa um camião desgovernado, e duma alma deprimida um tractor revoltado. Uma alma revoltada e desgovernada será melhor ficar na garagem.
Fidelidade – Conceito que busca um lugar ao sol no reino da ambiguidade, mas que não consegue sair sem manchas do reino do eterno recalcamento.
Carinho – Quando o corpo dá boa serventia à alma, as lágrimas escorrem no coração de betonilha, e este transforma-se numa argamassa viscosa que entranha em tudo que é fresta, e a humidade passa a ser uma festa.
Erotismo – O grande rebarbador. Arredonda a sentimentália, pondo-a mais maneirinha e roliça para poder ser massajada pelas mãozinhas da ilusão felicitária.
Engate – Pinchavelho que nos junta a um atrelado, mas que não raras vezes nos pode levar estupidamente para o lado errado.
Incerteza – Carimbo permanente dum amor resistente. Preço exagerado dum amor couraçado.
Amor – Palavra que o vento não consegue levar, porque o corpo dos dias anda sempre besuntado com o cuspo da alma.
Chegar a este número redondinho com uma entrada enternecedora foi uma tentação a que eu não consegui resistir. Ser vulgar e banal é sempre algo que acaba por vir ao de cima.
Desejo – Está para a razão como o melaço está para a ração. A ausência de salivagem foi a prenda que o criador nos reservou.
Paixão – Material de que são feitas as lagartas que transportam o tanque dos sentimentos para o campo de batalha. Permitem que se passe por cima de tudo sem dar conta de nada. Estamos por conta da qualidade da blindagem.
Ciúme – Borla que o sentimento de turno oferece quando não tem troco para o freguês que está ao balcão. Só que esses trocos perdidos podiam ter dado para comprar uma sinceridade que estivesse em saldos.
Sexo – Caloria de efeito embriagante que pode fazer duma alma ansiosa um camião desgovernado, e duma alma deprimida um tractor revoltado. Uma alma revoltada e desgovernada será melhor ficar na garagem.
Fidelidade – Conceito que busca um lugar ao sol no reino da ambiguidade, mas que não consegue sair sem manchas do reino do eterno recalcamento.
Carinho – Quando o corpo dá boa serventia à alma, as lágrimas escorrem no coração de betonilha, e este transforma-se numa argamassa viscosa que entranha em tudo que é fresta, e a humidade passa a ser uma festa.
Erotismo – O grande rebarbador. Arredonda a sentimentália, pondo-a mais maneirinha e roliça para poder ser massajada pelas mãozinhas da ilusão felicitária.
Engate – Pinchavelho que nos junta a um atrelado, mas que não raras vezes nos pode levar estupidamente para o lado errado.
Incerteza – Carimbo permanente dum amor resistente. Preço exagerado dum amor couraçado.
Amor – Palavra que o vento não consegue levar, porque o corpo dos dias anda sempre besuntado com o cuspo da alma.
Chegar a este número redondinho com uma entrada enternecedora foi uma tentação a que eu não consegui resistir. Ser vulgar e banal é sempre algo que acaba por vir ao de cima.
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dicionário não ilustrado
Mentalidades. Em saldos.
O apelo à concorrência é uma pura mistificação, a roçar o bluff, que adorna as ideologias (???) ultra liberais.
Constatar que é preciso estar a competir para se ser competente, é constatar a mediocridade de não se ter energia própria e auto estimulação suficiente para se ser sempre competitivo.
Por outro lado, anunciar a sadia concorrência é outra falácia que só faz vender papel, encher comícios em forma de congressos, e atirar poeira aos olhos dos incautos.
Qualquer empresa busca arruinar os seus concorrentes. Excepto quando:
1. Não se tem concorrentes (o monopólio é o sonho recalcado)
2. Se vive em ambiente de cambalacho (a bela da combinação é um orgasmo garantido; romper uma combinação é um duplo orgasmo)
3. Se aceita uns concorrentes pequeninos que vão tendo estratégias suicidas, e que depois serão comprados em “liquidação total”. (É uma das formas de sucesso mais bem vista na praça)
Só existe concorrência desleal. É uma alavanca, sim senhor, mas não levanta o mundo. É como viver suspenso numa corrente de ar, pensando que se está a dominar uma turbina.
E é pena que os contrapontos (palavra hoje com direitos de autor...) sejam apenas as suaves boçalidades do mercado regulado, ou mesmo autoregulado. E dourar a pílula com a panaceia da “liderança” é pura sacudidela da mesma poeira. Pois se estivermos a dirigirmo-nos para a “merda”, a nossa esperança é que o líder seja mau e portanto demoremos mais tempo a chegar.
Formação. Cultura. Conhecimento. Espírito crítico. Gosto pelo trabalho. Organização do tempo. Espírito de sacrifício. Humildade. Ambição. Porra é assim tão difícil ver as coisas!
Nunca os empresários poderão ser os mobilizadores das novas mentalidades. Nunca. Uma empresa é, e será sempre, um ninho de conflitos internos e externos que sobrevive e cumpre-se nessa eterna conflituosidade de interesses. Para uma empresa a mentalidade é apenas um negócio.
Para os políticos o trabalho sujo. Se eles não prestam compremos outros. Ou fabriquem-se. Fabricar geralmente demora mais tempo.
O apelo à concorrência é uma pura mistificação, a roçar o bluff, que adorna as ideologias (???) ultra liberais.
Constatar que é preciso estar a competir para se ser competente, é constatar a mediocridade de não se ter energia própria e auto estimulação suficiente para se ser sempre competitivo.
Por outro lado, anunciar a sadia concorrência é outra falácia que só faz vender papel, encher comícios em forma de congressos, e atirar poeira aos olhos dos incautos.
Qualquer empresa busca arruinar os seus concorrentes. Excepto quando:
1. Não se tem concorrentes (o monopólio é o sonho recalcado)
2. Se vive em ambiente de cambalacho (a bela da combinação é um orgasmo garantido; romper uma combinação é um duplo orgasmo)
3. Se aceita uns concorrentes pequeninos que vão tendo estratégias suicidas, e que depois serão comprados em “liquidação total”. (É uma das formas de sucesso mais bem vista na praça)
Só existe concorrência desleal. É uma alavanca, sim senhor, mas não levanta o mundo. É como viver suspenso numa corrente de ar, pensando que se está a dominar uma turbina.
E é pena que os contrapontos (palavra hoje com direitos de autor...) sejam apenas as suaves boçalidades do mercado regulado, ou mesmo autoregulado. E dourar a pílula com a panaceia da “liderança” é pura sacudidela da mesma poeira. Pois se estivermos a dirigirmo-nos para a “merda”, a nossa esperança é que o líder seja mau e portanto demoremos mais tempo a chegar.
Formação. Cultura. Conhecimento. Espírito crítico. Gosto pelo trabalho. Organização do tempo. Espírito de sacrifício. Humildade. Ambição. Porra é assim tão difícil ver as coisas!
Nunca os empresários poderão ser os mobilizadores das novas mentalidades. Nunca. Uma empresa é, e será sempre, um ninho de conflitos internos e externos que sobrevive e cumpre-se nessa eterna conflituosidade de interesses. Para uma empresa a mentalidade é apenas um negócio.
Para os políticos o trabalho sujo. Se eles não prestam compremos outros. Ou fabriquem-se. Fabricar geralmente demora mais tempo.
Eis o regresso dos velhos mitos energéticos. O poder é força. A força é energia, a energia é movimento...blá blá blá blá....blá blá blá blá. Somos um país aberto ao exterior. Dizem. Para não nos abafarmos a nós próprios com tanta pujança interna. Deduzo. O novo dicionário não ilustrado também está apostado em demonstrar que a salvação está nas energias renováveis. E é que qualquer uma nos calha muito bem. ( entradas 485 a 490 )
Energia eólica – Quando se vive ao sabor do vento a secreta esperança é que o sopro se acabe por afeiçoar a nós, e nos brinde com o bafo quentinho da retoma mundial a encher o nosso balão. (e que não haja um cabrãozito dum espanhol com um alfinete por perto...)
Energia de combustão – Quando se é refém de uma chama de ignição externa, resta-nos ir dando o nosso contributo despejando os gases de forma discreta e organizada, mas veemente, e esperar que a faísca alheia não nos apanhe com as calças completamente em baixo.
Energia das marés – Quando a força bate às horas certas, podemos organizar a nossa vidinha olhando para a beleza da lua e refrescando-nos nos tempos mortos. Se chegarmos atrasados à maré-cheia temos sempre o consolo de ir apanhar conquilhas.
Energia Hidráulica – A acumulação de águas é o que nos propícia o verdadeiro acto libertador que é verter líquidos. A força dum jorro é redentora, (porra, esgotei noutro dia a imagem da mijadela, agora o que é que eu escrevo!?)...e é um consolo. No fim sempre podemos sacudir os complexos de inferioridade.
Energia solar – O excesso de calor na moleirinha sempre foi um estigma paroquiano. Olhar de frente o astro rei será a chance de nos reencontrarmos com o nosso lugar na história, lembrando-nos dos tempos em que éramos guiados pelas estrelas, e evitando o sobreaquecimento do neurónio nacional.
Energia vulcânica – Choram-se as instituições que estão a ruir tectónicamente por dentro. É tempo de aproveitar a pedra-pomes que vai chover anarquicamente nas encostas para limar as calosidades criadas pela ilusão pluralista. E tanta pujança interna também precisa da sua válvulazita de escape.
Energia eólica – Quando se vive ao sabor do vento a secreta esperança é que o sopro se acabe por afeiçoar a nós, e nos brinde com o bafo quentinho da retoma mundial a encher o nosso balão. (e que não haja um cabrãozito dum espanhol com um alfinete por perto...)
Energia de combustão – Quando se é refém de uma chama de ignição externa, resta-nos ir dando o nosso contributo despejando os gases de forma discreta e organizada, mas veemente, e esperar que a faísca alheia não nos apanhe com as calças completamente em baixo.
Energia das marés – Quando a força bate às horas certas, podemos organizar a nossa vidinha olhando para a beleza da lua e refrescando-nos nos tempos mortos. Se chegarmos atrasados à maré-cheia temos sempre o consolo de ir apanhar conquilhas.
Energia Hidráulica – A acumulação de águas é o que nos propícia o verdadeiro acto libertador que é verter líquidos. A força dum jorro é redentora, (porra, esgotei noutro dia a imagem da mijadela, agora o que é que eu escrevo!?)...e é um consolo. No fim sempre podemos sacudir os complexos de inferioridade.
Energia solar – O excesso de calor na moleirinha sempre foi um estigma paroquiano. Olhar de frente o astro rei será a chance de nos reencontrarmos com o nosso lugar na história, lembrando-nos dos tempos em que éramos guiados pelas estrelas, e evitando o sobreaquecimento do neurónio nacional.
Energia vulcânica – Choram-se as instituições que estão a ruir tectónicamente por dentro. É tempo de aproveitar a pedra-pomes que vai chover anarquicamente nas encostas para limar as calosidades criadas pela ilusão pluralista. E tanta pujança interna também precisa da sua válvulazita de escape.
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dicionário não ilustrado
Adolescer fare niente
Uma miúda adolescente vive num mundo de fantasias. O pai de uma miúda adolescente vive num submundo de recalcamentos, complexos e baralhações.
Esta coisa da adolescência faz vender papel impresso aos quilos. Quer no estilo psicopanfletário, quer no estilo papel psicouché, quer no estilo científico recheado de entrevistas trabalhadas e análises cuidadas.
Crescer é outra fatalidade cada vez mais sofisticada da nossa condição. Essa é que é essa!
Uma das ideias que dá mais gosto apreciar é a de que a adolescência é um segundo nascimento. Forças ocultas dão essa oportunidade (?) ao mamífero indefeso que usa calças sem cós, apresenta o umbigo como um estandarte, e o telemóvel como piercing sonoro. Namorando a vida adulta, a adolescente anda de mãozinha dada com a parvoíce, e segue esse caminho traçado com uma segurança própria de quem parece que sabe que se irá rir dele no futuro.
Mas quem “progenita” este processo está reduzido a uma imagem a defender: disfarçar a hesitação e abolir a sensação de permissividade. Fazer uma cara de pau dando uma boa notícia, ou impor uma restrição enquanto se faz um ar amoroso, são as fantásticas opções técnicas para um pai.
Não, não vou sucumbir perante a sedução da desfiar aqui uma novela piadética sobre a situação em que se encontra um pai perante o esforço de demarcação de território por parte da filha.
Quem se constrói ao ritmo desta “fase de todas as autonomias” é mesmo o desgraçado do pai. Vive na contínua incerteza de nunca saber qual o tamanho do sapatinho que encaixa bem no pezinho da sua princesa cinderelada. E de também nunca saber qual o valor da factura do telefone a partir do qual o colégio interno voltará a ser opção. É uma bela fase para contemplarmos a nossa estupidez, de vez em quando adornada pela nossa incompetência, a passear-se de mão dada com a falsa segurança de ser homem.
Quem inventou esta porcaria da adolescência não tinha nada para fazer, e deixou tudo para ser negociado pelos outros, que agora andam a borrar-se de parvoíce também.
Ainda para mais o amor aos filhos sempre foi muito enjeitado pelos poetas de génio. Estes vivem arregimentados em amores mais comerciais, em amores de cama, em amores de choro que seca rápido. Ficamos assim apeados do grande descodificador poético, e irremediavelmente relegados para o embasbaque fornecido pelas revistas de turno, que glorificam a doçura da descoberta do mundo.
Mas como deixar andar não é solução, agarramo-nos ao que é mais sagrado. No fim do dia pergunto-lhe sempre se teve saudades do pai.
Uma miúda adolescente vive num mundo de fantasias. O pai de uma miúda adolescente vive num submundo de recalcamentos, complexos e baralhações.
Esta coisa da adolescência faz vender papel impresso aos quilos. Quer no estilo psicopanfletário, quer no estilo papel psicouché, quer no estilo científico recheado de entrevistas trabalhadas e análises cuidadas.
Crescer é outra fatalidade cada vez mais sofisticada da nossa condição. Essa é que é essa!
Uma das ideias que dá mais gosto apreciar é a de que a adolescência é um segundo nascimento. Forças ocultas dão essa oportunidade (?) ao mamífero indefeso que usa calças sem cós, apresenta o umbigo como um estandarte, e o telemóvel como piercing sonoro. Namorando a vida adulta, a adolescente anda de mãozinha dada com a parvoíce, e segue esse caminho traçado com uma segurança própria de quem parece que sabe que se irá rir dele no futuro.
Mas quem “progenita” este processo está reduzido a uma imagem a defender: disfarçar a hesitação e abolir a sensação de permissividade. Fazer uma cara de pau dando uma boa notícia, ou impor uma restrição enquanto se faz um ar amoroso, são as fantásticas opções técnicas para um pai.
Não, não vou sucumbir perante a sedução da desfiar aqui uma novela piadética sobre a situação em que se encontra um pai perante o esforço de demarcação de território por parte da filha.
Quem se constrói ao ritmo desta “fase de todas as autonomias” é mesmo o desgraçado do pai. Vive na contínua incerteza de nunca saber qual o tamanho do sapatinho que encaixa bem no pezinho da sua princesa cinderelada. E de também nunca saber qual o valor da factura do telefone a partir do qual o colégio interno voltará a ser opção. É uma bela fase para contemplarmos a nossa estupidez, de vez em quando adornada pela nossa incompetência, a passear-se de mão dada com a falsa segurança de ser homem.
Quem inventou esta porcaria da adolescência não tinha nada para fazer, e deixou tudo para ser negociado pelos outros, que agora andam a borrar-se de parvoíce também.
Ainda para mais o amor aos filhos sempre foi muito enjeitado pelos poetas de génio. Estes vivem arregimentados em amores mais comerciais, em amores de cama, em amores de choro que seca rápido. Ficamos assim apeados do grande descodificador poético, e irremediavelmente relegados para o embasbaque fornecido pelas revistas de turno, que glorificam a doçura da descoberta do mundo.
Mas como deixar andar não é solução, agarramo-nos ao que é mais sagrado. No fim do dia pergunto-lhe sempre se teve saudades do pai.
Real Politik. Virtual Bloguitik. Banal Erotik.
1.Sinto-me muitas vezes como aquele crítico de cinema que primeiro escreve a crítica e depois escolhe o filme.
2. Só que hoje não há nenhum “filme de jeito” para escolher. Tirando o Bruno que é muito melhor a escrever sobre mamas que sobre futebol. O que só lhe fica bem. ( ...eu hoje devia é ficar de bico caladito...)
3. Mas agora lembro-me que noutro dia li num jornal da Espanha profunda ( e popular ) que Zapatero “era um guirigay e que votar nele era um acto de heroísmo ideológico que se devia fazer tapando o nariz”. Muitas vezes as ideologias servem mesmo para evitar que certas “cenas” cheirem mal. É por isso que eu acho muito bem que existam a “esquerda” e a “direita” que é para os caixotes do lixo estarem sempre à mão.
Pôr Zapatero sentado ao lado de Guterres nas reuniões da Internacional Socialista é estar a dar aos espanhóis uma fortíssima inclinação de voto: “ Então mas não foi aquele gajo que deixou os rapazitos aqui do lado...”. Se é que eles já teriam esquecido uns tais de Gonzalez & Guerra....
4. Mas Durão avisa que mesmo perdendo as europeias não faz como “o outro”, e não foge. Deixa em aberto o que fará se perder as legislativas: será que o tipo fica lá na mesma porque é inidemitível ?!
5. AH! Claro... e Sampaio parece que disse que “lhe pagam para ser optimista”...Tanta piadita que daqui podia desabrochar! É pá... pelo menos não deixem o senhor com os salários em atraso.
6. Tudo se pode pois resumir a que o decote é um “espaço de adivinhação”, os blogues um espaço de presunção ou experimentação, e a política um espaço de fatal atracção.
1.Sinto-me muitas vezes como aquele crítico de cinema que primeiro escreve a crítica e depois escolhe o filme.
2. Só que hoje não há nenhum “filme de jeito” para escolher. Tirando o Bruno que é muito melhor a escrever sobre mamas que sobre futebol. O que só lhe fica bem. ( ...eu hoje devia é ficar de bico caladito...)
3. Mas agora lembro-me que noutro dia li num jornal da Espanha profunda ( e popular ) que Zapatero “era um guirigay e que votar nele era um acto de heroísmo ideológico que se devia fazer tapando o nariz”. Muitas vezes as ideologias servem mesmo para evitar que certas “cenas” cheirem mal. É por isso que eu acho muito bem que existam a “esquerda” e a “direita” que é para os caixotes do lixo estarem sempre à mão.
Pôr Zapatero sentado ao lado de Guterres nas reuniões da Internacional Socialista é estar a dar aos espanhóis uma fortíssima inclinação de voto: “ Então mas não foi aquele gajo que deixou os rapazitos aqui do lado...”. Se é que eles já teriam esquecido uns tais de Gonzalez & Guerra....
4. Mas Durão avisa que mesmo perdendo as europeias não faz como “o outro”, e não foge. Deixa em aberto o que fará se perder as legislativas: será que o tipo fica lá na mesma porque é inidemitível ?!
5. AH! Claro... e Sampaio parece que disse que “lhe pagam para ser optimista”...Tanta piadita que daqui podia desabrochar! É pá... pelo menos não deixem o senhor com os salários em atraso.
6. Tudo se pode pois resumir a que o decote é um “espaço de adivinhação”, os blogues um espaço de presunção ou experimentação, e a política um espaço de fatal atracção.
PIG’s IN SPACE
Portugueses Inteligentes e Garbosos no Espaço
«Temos de nos libertar dos espartilhos administrativos, temos de nos libertar dos recalcamentos orçamentais, temos de nos libertar do nosso atávico miserabilismo» Foi com estas palavras que Durão deu início ao conselho de sábios que ia lançar as bases para o programa espacial português. «Fazer jus à nossa história, fazer truz-truz às portas da glória» foi o lema criado pela agência de publicidade de turno.
Estavam nomeados dois grupos de trabalho para encontrar o nome da nave espacial, que era a primeira fase do processo. O “grupo populista” liderado por Valentim Loureiro e Narciso Miranda tinha apresentado duas propostas: “Traineira das estrelas” ou “ Cacilheiro lunar”. Durão foi avisando que não se poderiam fazer alusões à via Láctea depois do escândalo da Parmalat. O “grupo intelectual” liderado por V. Graça Moura e MM Carrilho espumando com raiva da concorrência sugeria “ Pégaso da Andrómeda” ou “Caravela do Olimpo”. No entanto ficou claro para todos que esta etapa estaria de ficar concluída em Janeiro de 2015. (Temia-se uma solução de compromisso tipo “ Traineira do Olimpo”).
Segue-se a discussão sobre a metodologia para nomear o responsável pela missão. Antes que qualquer sugestão fosse apresentada, Nélinha Ferreira Leite pede a palavra e diz que tem uma «proposta irrecusável»: Noutro dia tinha percebido que o canalizador russo que lhe resolveu os problemas de infiltrações em casa era um astronauta reformado. Viu a destreza com que lhe pôs o sifão a dar vazão e ficou rendida. Os elementos de esquerda apanhados de surpresa disseram que se exigia uma comissão parlamentar para tratar do assunto da nomeação (entretanto Jorge Coelho pediu o telefone do canalizador russo à Nélinha, porque lá para os lados do Rato vive-se com humidade permanentemente a escorrer pelas paredes, que até já têm musgo). Durão avisa que a nomeação tem de ficar decidida em 2020. Lacão diz que já não dá para os peditórios das comissões. Todos lhe imploram que fique. Condescende heroicamente. É que não há comissão sem Lacão.
A terceira fase era a escolha do local de lançamento. Exigia-se um local com história, isso era unânime. Abundavam assim as hipóteses. Um local que fizesse pirraça aos espanhóis. Consensual. Um que já tivesse uma rampinha, para poupar o motor de arranque. Foi aprovado por aclamação. É que somos um povo com visão, com consciência do seu lugar na história, mas com sentido das responsabilidades. Por último, Mário Soares diz que o local não pode ter conotações religiosas (o que deixou a hipótese do santuário de Fátima arredada, para pena de muitos). Cria-se um impasse, faz-se um silêncio inconveniente. «Portugal não é um país de sítios, mas sim de pessoas - portuguesas e portugueses » - diz Guterres de rompante. O padre Milícias levanta-se e diz solenemente: O lançamento será feito no seio da alma portuguesa. É onde está a nossa força! Gera-se um ambiente de euforia. Não ouve lobbies autárquicos, não houve interesses financeiros, não ouve demagogia rasteira: Somos um país limpo, a “Traineira do Olimpo” vai restaurar-nos o orgulho do novo império, e vai ser lançada do interior de todos nós. Levada pelo vento da nossa imaginação aconchegado nas velas da nossa coragem.
A ultima fase - por ser a menos crítica - era a escolha do modelo de financiamento. Já nem interessava. A salvação duma nação não tem preço.
Portugueses Inteligentes e Garbosos no Espaço
«Temos de nos libertar dos espartilhos administrativos, temos de nos libertar dos recalcamentos orçamentais, temos de nos libertar do nosso atávico miserabilismo» Foi com estas palavras que Durão deu início ao conselho de sábios que ia lançar as bases para o programa espacial português. «Fazer jus à nossa história, fazer truz-truz às portas da glória» foi o lema criado pela agência de publicidade de turno.
Estavam nomeados dois grupos de trabalho para encontrar o nome da nave espacial, que era a primeira fase do processo. O “grupo populista” liderado por Valentim Loureiro e Narciso Miranda tinha apresentado duas propostas: “Traineira das estrelas” ou “ Cacilheiro lunar”. Durão foi avisando que não se poderiam fazer alusões à via Láctea depois do escândalo da Parmalat. O “grupo intelectual” liderado por V. Graça Moura e MM Carrilho espumando com raiva da concorrência sugeria “ Pégaso da Andrómeda” ou “Caravela do Olimpo”. No entanto ficou claro para todos que esta etapa estaria de ficar concluída em Janeiro de 2015. (Temia-se uma solução de compromisso tipo “ Traineira do Olimpo”).
Segue-se a discussão sobre a metodologia para nomear o responsável pela missão. Antes que qualquer sugestão fosse apresentada, Nélinha Ferreira Leite pede a palavra e diz que tem uma «proposta irrecusável»: Noutro dia tinha percebido que o canalizador russo que lhe resolveu os problemas de infiltrações em casa era um astronauta reformado. Viu a destreza com que lhe pôs o sifão a dar vazão e ficou rendida. Os elementos de esquerda apanhados de surpresa disseram que se exigia uma comissão parlamentar para tratar do assunto da nomeação (entretanto Jorge Coelho pediu o telefone do canalizador russo à Nélinha, porque lá para os lados do Rato vive-se com humidade permanentemente a escorrer pelas paredes, que até já têm musgo). Durão avisa que a nomeação tem de ficar decidida em 2020. Lacão diz que já não dá para os peditórios das comissões. Todos lhe imploram que fique. Condescende heroicamente. É que não há comissão sem Lacão.
A terceira fase era a escolha do local de lançamento. Exigia-se um local com história, isso era unânime. Abundavam assim as hipóteses. Um local que fizesse pirraça aos espanhóis. Consensual. Um que já tivesse uma rampinha, para poupar o motor de arranque. Foi aprovado por aclamação. É que somos um povo com visão, com consciência do seu lugar na história, mas com sentido das responsabilidades. Por último, Mário Soares diz que o local não pode ter conotações religiosas (o que deixou a hipótese do santuário de Fátima arredada, para pena de muitos). Cria-se um impasse, faz-se um silêncio inconveniente. «Portugal não é um país de sítios, mas sim de pessoas - portuguesas e portugueses » - diz Guterres de rompante. O padre Milícias levanta-se e diz solenemente: O lançamento será feito no seio da alma portuguesa. É onde está a nossa força! Gera-se um ambiente de euforia. Não ouve lobbies autárquicos, não houve interesses financeiros, não ouve demagogia rasteira: Somos um país limpo, a “Traineira do Olimpo” vai restaurar-nos o orgulho do novo império, e vai ser lançada do interior de todos nós. Levada pelo vento da nossa imaginação aconchegado nas velas da nossa coragem.
A ultima fase - por ser a menos crítica - era a escolha do modelo de financiamento. Já nem interessava. A salvação duma nação não tem preço.
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La vie au Tanga
O incidente de recusa de país
Como me enternecem os que julgam que não lhes saiu na rifa o seu “país natural”, país que realmente mereceriam. Sentem-se com direito a uma nacionalidade mais digna; a nação-fatalidade apouca-os. O seu gosto refinado não é correspondido pela portugalidade servida no prato dos dias.
Só cá se mantêm nesta casa de pasto, porque também sentem que sem eles o País ainda se desgraçaria mais. Um jugo suave é o pedido que fazem para que pelo menos lhes reconheçam o sacrifício.
Obrigado compatriotas. Por nos privilegiarem com o vosso exemplo de lúcida e imolada resignação. Que o Supremo vos conceda na eternidade a Pátria que hoje vos falta.
Aos outros desgraçados que continuam a pensar que os caramelos espanhóis são péssimos porque se agarram à placa, só lhes resta ficar com o sorrisinho estúpido das queijadinhas de Sintra coladas ao céu da boca, e ir continuando a viver e a aliviar a bexiga ao sabor do vento.
Bem...pelo menos têm três possibilidades...
Os que mijam a favor do vento – Têm a nobre missão de escolher em quem acertar.
Os que mijam contra o vento – Têm a nobre missão de escolher a tonalidade de amarelo com que querem ficar.
Os que só pingam – Têm a nobre missão de não chatear ninguém. Mas vivem na incerteza de quando acaba a missão.
Como me enternecem os que julgam que não lhes saiu na rifa o seu “país natural”, país que realmente mereceriam. Sentem-se com direito a uma nacionalidade mais digna; a nação-fatalidade apouca-os. O seu gosto refinado não é correspondido pela portugalidade servida no prato dos dias.
Só cá se mantêm nesta casa de pasto, porque também sentem que sem eles o País ainda se desgraçaria mais. Um jugo suave é o pedido que fazem para que pelo menos lhes reconheçam o sacrifício.
Obrigado compatriotas. Por nos privilegiarem com o vosso exemplo de lúcida e imolada resignação. Que o Supremo vos conceda na eternidade a Pátria que hoje vos falta.
Aos outros desgraçados que continuam a pensar que os caramelos espanhóis são péssimos porque se agarram à placa, só lhes resta ficar com o sorrisinho estúpido das queijadinhas de Sintra coladas ao céu da boca, e ir continuando a viver e a aliviar a bexiga ao sabor do vento.
Bem...pelo menos têm três possibilidades...
Os que mijam a favor do vento – Têm a nobre missão de escolher em quem acertar.
Os que mijam contra o vento – Têm a nobre missão de escolher a tonalidade de amarelo com que querem ficar.
Os que só pingam – Têm a nobre missão de não chatear ninguém. Mas vivem na incerteza de quando acaba a missão.
Hoje o novo dicionário não ilustrado foi inspirar-se outra vez na fútil fatalidade dos factos e atacou de retro ( ou seja ... inspirou-se nas terminações). (Eu bem sei que é legal escrever estas coisas, mas agora estou preocupado em saber se será legítimo – coisa que certamente o Bruno me esclarecerá depois de depurar um bocadinho a sua deliciosa - e suavemente “aduladora”? – ausência de preconceitos) (Entradas 475 a 484)
Inimputável – Político que usa como justificação para as suas atitudes, os mesmos argumentos que levam os cidadãos normais a deixarem de puder usar faca e garfo sem limitações
Responsável – Político que usa os mesmos argumentos que o demagogo, mas que não tem o dom da palavra, nem agrada às miúdas.
Presidenciável – Político que, ou agrada às miúdas, ou então às avós delas.
Elegível – Lugar político tipo guarda-fato, onde se põe a rapaziada que se ajusta aos cabides disponíveis, que não se atrapalha com o cheiro da naftalina, nem se incomoda que o estejam sempre a mudar de varão desde que não o misturem com a roupa suja.
Notável – Gajo que rentabiliza o seu engajamento.
Negligenciável – Maravilha do mundo dos factos, que vive suspenso até que a porra da gravidade o faça pousar qual moscardo na sopa dos vigilantes de turno.
Sensível – Ponto de natureza parasexual que leva o poder político a não lhe mexer muito, com medo que lhe ejaculem para a gravata, sem ter tempo para dizer “no cariño”.
Colunável – Vertebrado que gosta de se pendurar, empertigando as vértebras, no estendal das marquises que estão viradas para a paragem dos autocarros.
Instrumentalizável – Escravo moderno cuja galera se chama “sufrágio”, e os remos se chamam votos. A diferença é que o capataz canta música de embalar.
Miserável – Pôr-se atrevidamente em jogo, quando os donos da bola ainda estão a sacudir a caspa da vitória e a limar as unhas da arrogância. (esta com dedicatória, claro...)
Inimputável – Político que usa como justificação para as suas atitudes, os mesmos argumentos que levam os cidadãos normais a deixarem de puder usar faca e garfo sem limitações
Responsável – Político que usa os mesmos argumentos que o demagogo, mas que não tem o dom da palavra, nem agrada às miúdas.
Presidenciável – Político que, ou agrada às miúdas, ou então às avós delas.
Elegível – Lugar político tipo guarda-fato, onde se põe a rapaziada que se ajusta aos cabides disponíveis, que não se atrapalha com o cheiro da naftalina, nem se incomoda que o estejam sempre a mudar de varão desde que não o misturem com a roupa suja.
Notável – Gajo que rentabiliza o seu engajamento.
Negligenciável – Maravilha do mundo dos factos, que vive suspenso até que a porra da gravidade o faça pousar qual moscardo na sopa dos vigilantes de turno.
Sensível – Ponto de natureza parasexual que leva o poder político a não lhe mexer muito, com medo que lhe ejaculem para a gravata, sem ter tempo para dizer “no cariño”.
Colunável – Vertebrado que gosta de se pendurar, empertigando as vértebras, no estendal das marquises que estão viradas para a paragem dos autocarros.
Instrumentalizável – Escravo moderno cuja galera se chama “sufrágio”, e os remos se chamam votos. A diferença é que o capataz canta música de embalar.
Miserável – Pôr-se atrevidamente em jogo, quando os donos da bola ainda estão a sacudir a caspa da vitória e a limar as unhas da arrogância. (esta com dedicatória, claro...)
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dicionário não ilustrado
Novelo em desatino. Tomara que o desates com a tua arte. Causas e Efeitos à parte. Que não te seja nicotino.
EntreMIAda de COUTO
“O parto da água não tem testemunha”
E a mim rebentam-me as águas nesta estúpida ansiedade de ser estéril.
“Evitando juntar o inútil ao desagradável”
Fico-me quase sempre pelo pior dos dois.
“Os frutos só caem é na cabeça de quem abana a árvore”
Apetecia-me acreditar que abençoadas são as árvores que só se abateram pelo peso dos seus frutos.
“A bondade da água é o seu incansável retorno”
E a maldade do vento é o seu súbito desdém, próprio dos que julgam que nunca lhes poderão pedir contas.
“A água é amante incerta”
Mas amar também é a incerteza armada ao pingarelho da certeza.
“Cada metade é ainda o mundo todo”
E a outra face nunca é apenas meia moeda, nem, infelizmente, existem meias verdades
“Vejo o que vejo, deixo o espreitar para a girafa”
Sim, e porquê querer ver as coisas por cima, se elas se fazem por debaixo.
“Olhei em volta: o mundo não tinha nada para me explicar”
É que o mundo foi criado para apenas ser problema. Ninguém se entreteria com soluções
“Quem sabe da estrada não sabe do mundo”
Por isso querer apenas caminhar é ser sempre refém dum destino e servente duma origem.
“Cá eu prosseguirei o fatigável labor de encontrar a ostra dentro da pérola”
Este embalo do “dentro” e do “fora” é um trágico pêndulo para quem gosta de pastar num eterno “entre”.
“Os defuntos se extinguissem às suas custas”
Porque agora são tempos de pagar para não se ver. Pokers para maricas.
“A noite chegou, cansada do seu trabalho na outra face do mundo”
O dia também tinha direito à sua mulher-a-dias. Alguém que lhe trafique o pó e não vá preso.
“Seus olhos tinham superado a validade”
Pudessem os iluminados de turno dizer o mesmo. Mas eles próprios vivem dos azedumes que enganam o prazo.
“Um filho, afinal, é quem dá à luz a sua mãe”
E é por isso, afinal, que não existem filhos da puta.
“Nunca ponho três pontos que é para não pecar de insinuência”. Foi a esta “memória” que me levaram as últimas entradas no dicionário não ilustrado. Está no “Cronicando”, livro de crónicas de Mia Couto donde foram retirados os itálicos de cima. Isto foi uma mera repescaria de subriscados em tempos de sobradeira. O repriscador é que é tosco. Mas bem disposto porque “A vida nos rouba até os motivos da tristeza”.
EntreMIAda de COUTO
“O parto da água não tem testemunha”
E a mim rebentam-me as águas nesta estúpida ansiedade de ser estéril.
“Evitando juntar o inútil ao desagradável”
Fico-me quase sempre pelo pior dos dois.
“Os frutos só caem é na cabeça de quem abana a árvore”
Apetecia-me acreditar que abençoadas são as árvores que só se abateram pelo peso dos seus frutos.
“A bondade da água é o seu incansável retorno”
E a maldade do vento é o seu súbito desdém, próprio dos que julgam que nunca lhes poderão pedir contas.
“A água é amante incerta”
Mas amar também é a incerteza armada ao pingarelho da certeza.
“Cada metade é ainda o mundo todo”
E a outra face nunca é apenas meia moeda, nem, infelizmente, existem meias verdades
“Vejo o que vejo, deixo o espreitar para a girafa”
Sim, e porquê querer ver as coisas por cima, se elas se fazem por debaixo.
“Olhei em volta: o mundo não tinha nada para me explicar”
É que o mundo foi criado para apenas ser problema. Ninguém se entreteria com soluções
“Quem sabe da estrada não sabe do mundo”
Por isso querer apenas caminhar é ser sempre refém dum destino e servente duma origem.
“Cá eu prosseguirei o fatigável labor de encontrar a ostra dentro da pérola”
Este embalo do “dentro” e do “fora” é um trágico pêndulo para quem gosta de pastar num eterno “entre”.
“Os defuntos se extinguissem às suas custas”
Porque agora são tempos de pagar para não se ver. Pokers para maricas.
“A noite chegou, cansada do seu trabalho na outra face do mundo”
O dia também tinha direito à sua mulher-a-dias. Alguém que lhe trafique o pó e não vá preso.
“Seus olhos tinham superado a validade”
Pudessem os iluminados de turno dizer o mesmo. Mas eles próprios vivem dos azedumes que enganam o prazo.
“Um filho, afinal, é quem dá à luz a sua mãe”
E é por isso, afinal, que não existem filhos da puta.
“Nunca ponho três pontos que é para não pecar de insinuência”. Foi a esta “memória” que me levaram as últimas entradas no dicionário não ilustrado. Está no “Cronicando”, livro de crónicas de Mia Couto donde foram retirados os itálicos de cima. Isto foi uma mera repescaria de subriscados em tempos de sobradeira. O repriscador é que é tosco. Mas bem disposto porque “A vida nos rouba até os motivos da tristeza”.
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Mia Couto
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