PIG’s IN SPACE

Portugueses Inteligentes e Garbosos no Espaço



«Temos de nos libertar dos espartilhos administrativos, temos de nos libertar dos recalcamentos orçamentais, temos de nos libertar do nosso atávico miserabilismo» Foi com estas palavras que Durão deu início ao conselho de sábios que ia lançar as bases para o programa espacial português. «Fazer jus à nossa história, fazer truz-truz às portas da glória» foi o lema criado pela agência de publicidade de turno.



Estavam nomeados dois grupos de trabalho para encontrar o nome da nave espacial, que era a primeira fase do processo. O “grupo populista” liderado por Valentim Loureiro e Narciso Miranda tinha apresentado duas propostas: “Traineira das estrelas” ou “ Cacilheiro lunar”. Durão foi avisando que não se poderiam fazer alusões à via Láctea depois do escândalo da Parmalat. O “grupo intelectual” liderado por V. Graça Moura e MM Carrilho espumando com raiva da concorrência sugeria “ Pégaso da Andrómeda” ou “Caravela do Olimpo”. No entanto ficou claro para todos que esta etapa estaria de ficar concluída em Janeiro de 2015. (Temia-se uma solução de compromisso tipo “ Traineira do Olimpo”).



Segue-se a discussão sobre a metodologia para nomear o responsável pela missão. Antes que qualquer sugestão fosse apresentada, Nélinha Ferreira Leite pede a palavra e diz que tem uma «proposta irrecusável»: Noutro dia tinha percebido que o canalizador russo que lhe resolveu os problemas de infiltrações em casa era um astronauta reformado. Viu a destreza com que lhe pôs o sifão a dar vazão e ficou rendida. Os elementos de esquerda apanhados de surpresa disseram que se exigia uma comissão parlamentar para tratar do assunto da nomeação (entretanto Jorge Coelho pediu o telefone do canalizador russo à Nélinha, porque lá para os lados do Rato vive-se com humidade permanentemente a escorrer pelas paredes, que até já têm musgo). Durão avisa que a nomeação tem de ficar decidida em 2020. Lacão diz que já não dá para os peditórios das comissões. Todos lhe imploram que fique. Condescende heroicamente. É que não há comissão sem Lacão.



A terceira fase era a escolha do local de lançamento. Exigia-se um local com história, isso era unânime. Abundavam assim as hipóteses. Um local que fizesse pirraça aos espanhóis. Consensual. Um que já tivesse uma rampinha, para poupar o motor de arranque. Foi aprovado por aclamação. É que somos um povo com visão, com consciência do seu lugar na história, mas com sentido das responsabilidades. Por último, Mário Soares diz que o local não pode ter conotações religiosas (o que deixou a hipótese do santuário de Fátima arredada, para pena de muitos). Cria-se um impasse, faz-se um silêncio inconveniente. «Portugal não é um país de sítios, mas sim de pessoas - portuguesas e portugueses » - diz Guterres de rompante. O padre Milícias levanta-se e diz solenemente: O lançamento será feito no seio da alma portuguesa. É onde está a nossa força! Gera-se um ambiente de euforia. Não ouve lobbies autárquicos, não houve interesses financeiros, não ouve demagogia rasteira: Somos um país limpo, a “Traineira do Olimpo” vai restaurar-nos o orgulho do novo império, e vai ser lançada do interior de todos nós. Levada pelo vento da nossa imaginação aconchegado nas velas da nossa coragem.

A ultima fase - por ser a menos crítica - era a escolha do modelo de financiamento. Já nem interessava. A salvação duma nação não tem preço.

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