O “corso carnavalesco” que desfilou a dizer mal de Santana soou-me ao carro alegórico do “complexo”, logo seguido do carro alegórico da “parola obsessão”. O Rei Momo este ano entregou-se cedo demais aos caprichos dos que julgam ser os sambistas mais valiosos. O novo dicionário não ilustrado apresenta hoje o “caderno de encargos” a satisfazer para se entrar no carro alegórico dos comentadores de turno, mascarado de candidato presidencial sério. ( entradas 511 a 526)



”Ter Perfil” – Possuir um contorno bem definido que invalida o sfumato daVinciano, mas garante que não se confunde com a paisagem



“Ter Paixão” – Arrebatamento que produz um efeito espantoso principalmente se for daqueles que têm em anexo uma percentagem do PIB



“Ter uma ideia” – Condição de inestimável valor. Definir ideia é uma questão a ver depois das eleições. Bastando ter só uma, dá para facilitar e viver mais relaxados. Se tivermos duas, estamos dispensados da sempre maçadora contagem de neurónios.



“Ter um projecto” – Mais valia preciosa que se capitaliza totalmente quando após a eleição se conseguem fazer emigrar para a Bielorússia escritores de novelas histórico-afrodisíacas.



“Ter ambição” – Loucura química se misturado com dissolventes marados. Deixa depósito, e depois essa borra faz com que se borrem todos.



“Ter vontade para deixar tudo na mesma” – Sábia condição que permite ao rebanho um pasto calmo, podendo entreter-se a chamar nomes ao lobo, e a desopilar com as amigas do pastor.



“Ter timing” – Característica que permite o ranhoso só deixar cair o pingo no momento certo, de forma a nunca se confundir com mijadela descuidada.



“Ter os mínimos” – Expressão repescada do léxico olímpico e que nos remete para a corrida de obstáculos, alertando para o facto de termos de estar preparados para o fosso, e para a necessidade de nos afastarmos da zona de lançamento do marcelo, perdão martelo.



“ Não ultrapassar os limites” – Especial qualidade que permite ficar a olhar pendurado para a linha do precipício, limitando-se a fazer aguarelas literárias sobre a qualidade da paisagem



“Ter base de apoio “– Conceito que não garante a distinção entre um “sempre-em-pé” e um “pezinhos de lã”, mas pode causar incómodos aos que se julgam possuidores dos “pés-de-cabra” para nos abrir a mente à verdade.



“Ter uma mulher a chagar-lhe o juízo” – Condição de valor acrescido quando um candidato não é pressionável porque tem o pipo bem soldado e controlado.



“Ter os seus artigos citados” – Ao se escrever artigos de opinião tem de se ser citado, senão é como querer apalpar em condições umas mamas etruscas e só lhe saírem na rifa uns colunistas de silicone.



“Não ter tendência para lugares vazios” – Apesar de já estarem apinhados os lugares de grande conteúdo, ninguém deve mostrar inclinação para os outros, sob pena de também ficarem atascados.



“Ser credível” – Quem apresenta bom saldo contabilístico, mas depois vai-se a ver, na hora da verdade o saldo disponível não dá mandar cantar um cego. Geralmente os extractos vêm em forma de artigos de opinião onde a “data-valor” é um pormenor sem importância.



“ Ter gosto em servir a causa pública” – Não basta saber segurar na bandeja para servir os comensais, é igualmente preciso manter as aparências e não mostrar o rendilhado da farda nem o penteado de tal forma amachucados, que faça desconfiar as finas cortesãs que julgavam seguros os seus lugares na cama do poder.



“ Ser digno do lugar” – Prerrogativa chata que felizmente nem os comentadores, nem os eleitores se têm de esforçar muito por obter.

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