Adolescer fare niente
Uma miúda adolescente vive num mundo de fantasias. O pai de uma miúda adolescente vive num submundo de recalcamentos, complexos e baralhações.
Esta coisa da adolescência faz vender papel impresso aos quilos. Quer no estilo psicopanfletário, quer no estilo papel psicouché, quer no estilo científico recheado de entrevistas trabalhadas e análises cuidadas.
Crescer é outra fatalidade cada vez mais sofisticada da nossa condição. Essa é que é essa!
Uma das ideias que dá mais gosto apreciar é a de que a adolescência é um segundo nascimento. Forças ocultas dão essa oportunidade (?) ao mamífero indefeso que usa calças sem cós, apresenta o umbigo como um estandarte, e o telemóvel como piercing sonoro. Namorando a vida adulta, a adolescente anda de mãozinha dada com a parvoíce, e segue esse caminho traçado com uma segurança própria de quem parece que sabe que se irá rir dele no futuro.
Mas quem “progenita” este processo está reduzido a uma imagem a defender: disfarçar a hesitação e abolir a sensação de permissividade. Fazer uma cara de pau dando uma boa notícia, ou impor uma restrição enquanto se faz um ar amoroso, são as fantásticas opções técnicas para um pai.
Não, não vou sucumbir perante a sedução da desfiar aqui uma novela piadética sobre a situação em que se encontra um pai perante o esforço de demarcação de território por parte da filha.
Quem se constrói ao ritmo desta “fase de todas as autonomias” é mesmo o desgraçado do pai. Vive na contínua incerteza de nunca saber qual o tamanho do sapatinho que encaixa bem no pezinho da sua princesa cinderelada. E de também nunca saber qual o valor da factura do telefone a partir do qual o colégio interno voltará a ser opção. É uma bela fase para contemplarmos a nossa estupidez, de vez em quando adornada pela nossa incompetência, a passear-se de mão dada com a falsa segurança de ser homem.
Quem inventou esta porcaria da adolescência não tinha nada para fazer, e deixou tudo para ser negociado pelos outros, que agora andam a borrar-se de parvoíce também.
Ainda para mais o amor aos filhos sempre foi muito enjeitado pelos poetas de génio. Estes vivem arregimentados em amores mais comerciais, em amores de cama, em amores de choro que seca rápido. Ficamos assim apeados do grande descodificador poético, e irremediavelmente relegados para o embasbaque fornecido pelas revistas de turno, que glorificam a doçura da descoberta do mundo.
Mas como deixar andar não é solução, agarramo-nos ao que é mais sagrado. No fim do dia pergunto-lhe sempre se teve saudades do pai.
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