Salada Easy Lovers
Ontem ouvia Feitas do Amaral citar Sá Carneiro que supostamente teria dito que era “nosso” hábito «para evitar falar do difícil falamos do fácil». É um bocadinho uma dialéctica de feira, mas serviu para mostrar que “eles-os-sábios” não se perdem com miudezas.
A vida mostra-nos muitas vezes que o fácil é bem mais terrível que o difícil. Mas o sonho de qualquer um é ser ele a próprio a definir o que é fácil e o que é difícil. Escolher os amantes a dedo para brilhar com o beijo que repenicamos melhor.
A actividade política – talvez a par da artística – é a que gere melhor os graus de liberdade da equação do difícil e do fácil. Primeiro, porque escolhe o que vai ser variável e o que vai ser solução, e depois porque também pode determinar a todo o momento quais as operações algébricas que os vão relacionar entre si. É a matemática das expectativas lubrificada pela geometria dos interesses.
A actividade política constrói-se – naturalmente - sobre um tapete de ambições. Causa por isso uma interessante sensação verificar que quando essas ambições se tornam explícitas as comadres tremelicam de escândalo e rubor. Era como se na praça as freguesas se escandalizassem com as peixeiras por estas venderem sardinhas em vez de discutirem o teor de calorias do safio.
O regime democrático não tem o encanto épico duma ditadura imperialista, nem a fantasia poética duma revolução libertária e anarquista, nem produz o maravilhamento estético duma república de mecenas. Embala-nos numa suave onda de parolice que nem afunda nem entuba. Marear é a sensação mais empolgante e sofisticada que podemos alcançar.
E eu desbarato o meu tempinho com isto porquê? Porque a tão badalada “maturidade” passa também por saber olhar para a ambição dos políticos com a mesma naturalidade – até indiferença - com que se olha para uma fritada mista. Acompanha com quê?
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