Uma alma em aprovação de contas



A economia da salvação é a verdadeira ciência oculta. Não há orçamento, nem plano de negócios que resista a uma revelação que despreza os objectivos de controlo do mercado, para se deixar levar pelas pequenas coisas do economato da alma.



Bancos em transe, empregados boquiabertos, fornecedores a verem a coisa mal parada:“...Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou arruinar-se a si próprio” diz-se na “comunicação” de Lucas aos “accionistas”. As linhas dos gráficos começam a tremelicar, e já se suspira pelo velhinho papel milimétrico para nos podermos orientar neste casino de opções estratégicas desbaratadas. Os minoritários acotovelam-se nos corredores a ver o que fazem os accionistas de referência. «Vou vender tudo» diz de repente o samaritano do fundo de pensões. Instala-se a bagunça no sector dos fariseus que estavam a contar com uma mais-valia já apalavrada. Os penetras da concorrência esfregam as mãos e majoram as margens. Entra o amanuense de turno. Avisa que «as únicas acções com direito a voto são as “nominativas”». Gera-se a confusão nos que se refugiavam no anonimato dos títulos “ao portador”. Afinal tudo se mantinha artificialmente baseado no endosso fácil. Numa troca virtual de boas intenções.

E apareceu outra vez aquela moralidade básica, radical e desconcertante a fazer repensar tudo. Sacana do “contabilista”. Só que ninguém afinal estava preparado para cuidar de si próprio. Quando pensávamos que o universo era o limite, descobrimos o horizonte nas prateleiras da dispensa.



O mundo dos negócios fode-nos a alma. Mas desgraçados dos que andam com ela embrulhada num celofane de escrúpulos. Quem não dá para este peditório da salvação tem “sorte”. Vive sempre em saldos. Mas só até à liquidação total, claro.

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