O eu inconsequente e palavroso



Enternecem-me os que se insurgem contra a escrita afirmativa e arrogante. Chegam a insultá-la, aí sim já cheios de “peremptoriamentes”, sem pudores e carregadinhos de frases feitas, às vezes até aliviando das pisadelas do inconsciente.

Porquê ficar incomodado com quem não se perde nos pruridos da dúvida, na tolerância semântica e nas justificações de carácter. Porque faz tanta comichão quem não tem medo de estar errado?

Quem põe na vitrina um discurso titubeante e meramente aproximativo, está muitas vezes a refugiar-se naquela balofa e falsa humildade que serve para comprar aquiescências e para vender bonomias de vão de escada.

Ser «seguro de si», não é uma questão de escrita. Escrever para demonstrar que somos frágeis e titubeantes é tão amorfo e redundante, que só serve para atolar a mente de metáforas.

Quem jorra sentencioso apenas desiste da mordomia que é espojar-se no banho de leite aguado da coerência e da racionalidade que nem amacia, mas que embacia.

Ser obscenamente definitivo na escrita é apenas uma desforra com a condição de permanente inexperiência e incerteza a que estamos todos fadados. Mas quem se consola na babujem céptica, tudo bem, também tem direito ao paraíso, claro!

A escrita é apenas uma fluida dissimulação. Tolos dos que a põem no forno a ver se faz barro.

Ah... peço desculpa pelo incómodo, sim...

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