Nem todas as luas têm fases. Nem todos os mares têm marés.



Passo bem ao lado da ideia de que “há um tempo para tudo”. Quando as pessoas se deixam paramentar assim pela farpela do tempo passam a ser acólitos dum deus que se limita a ser marcador de ritmo.



Ir avançando na vida olhando para a lavagem dos dias e confundi-la com uma purificação alquímica, impede-nos de recuperar os pós “mal perdidos” pela filtragem grosseira do tempo. E assim se vão forjando muitas “mitologias do desenvolvimento”. Algumas ainda valem pelos rituais dançantes, ululando os corpos pintados em torno da fogueira mítica. O resto pouco mais.



O homem tem muita dificuldade em se desenvencilhar da espiral própria da sua condição. Resolve-a muitas vezes sobrevalorizando e adaptando os simbolismos de inversão: A “metamorfose” alivia - enganando - a dificuldade da mudança, e safa-nos dos arriscados malefícios de olhar para trás. Por isso às vezes nem enxergamos que a maré-cheia não mata a maré vazia.



Que bom que é hoje sermos isto, amanhã aquilo e depois de amanhã, se tudo correr benzinho, vamos ser aqueloutro. Mas não misturemos que estraga o sabor. Isto é pura e simplesmente enjeitarmos a Fénix, para apenas nos consolarmos com canjas de galinhas eternamente chocas, que servem para ir rejuvenescendo a vida feita tripa entrelaçada.



O desgraçado surrealismo ainda nos deu uma pista para gerirmos as “irracionalidades primitivas”, melhor ou pior aconchegadas, mas preferimos ficar sequestrados pelos que estigmatizaram o progresso não lhe deixando senão a marca do “afastamento do princípio”. Não poder voltar atrás é muitas vezes uma ilusão cobarde. Própria das almas de rebobinador estragado. Que nos impedem-nos de ver que “todos os tempos têm direito a tudo”.



O deboche que é quadricularmos a existência, apaparicada por algumas psicanálises de recurso, leva-nos a tornar o consciente apenas um tractor que carrega um inconsciente atafulhado mas sempre bem arrumadinho. O condutor em vez de ir guiando concentrado e de cabelos ao vento, passa o tempo a bater nos “miúdos” que se vão soltando do atrelado.

Para quê querer viver como satélites apenas iluminados por sóis caprichosos. A translação é para os calhaus gravitantes, a nós cumpre-nos escolher o movimento.



Há mas é um tudo para cada tempo.

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