E-o-que-é-que-isso-interessismo em estado puro



Passam os dias e eu continuo ali sentado naquela cadeira feito parvo sempre à espera que aconteça qualquer coisa. Já me começam a doer as costas mas eu não me importo. Até passei pelas brasas, confesso. E sonhei que as palavras voltavam a mexer-se e a escarafunchar-me o espírito indolente e amorfo. A memória é traiçoeira e ainda me esqueço daquilo que lá descobri. Daquilo que lá "vivi". Não quero correr esse risco.

-«Que conversa balofa» diz-me o subconsciente de serviço.

-«Cala-te estúpido, deixa-me estar aqui sentadinho em paz».

Agora só faltava que não me deixassem carpir o que me apetece. Chiça, mas estas “ripas” da cadeira já me estão a marcar o lombinho. Cabrões dos escoceses que dormem em cima de qualquer pedregulho. Eu não estou habituado a uma natureza tão agressiva, e também sempre me fizeram as vontadinhas todas, essa é que é essa.

-« Parvo és tu, porque enleares-te numas palavras não é viver».

-«Insolente, ignorante, e presumido, vê-se que estás destinado a ser apenas inconsciente, sabes lá o que é viver ó toupeira de merda».

Uma vez tinha lido que “memory is older than thinking”, e é isto que ainda me fica de consolo. Agora vou desistir de pensar mais, basta-me olhar para trás. Mas que porra esta, tenho mesmo que me esticar um bocado na chaise longue do Corbusier e chupar uns cubos de “gelo”. E fico com aquela cor suave a massajar-me as pálpebras. Doridas de tanto segurar. Espantadas por eu não as deixar mais vezes fechadas, porque isto de ver aparvalha-nos. Oh Valha-nos Deus.

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