O novo dicionário não ilustrado não podia perder a oportunidade de dizer que o namoro é uma chocha convenção que não convence. Andar de mão dada é uma das vergonhas da espécie. Felizmente as comichões acompanham-nos em permanência. Mas prontos: love is back in business. “Surfing on a rocket”. ( entradas 491 a 500)



Desejo – Está para a razão como o melaço está para a ração. A ausência de salivagem foi a prenda que o criador nos reservou.



Paixão – Material de que são feitas as lagartas que transportam o tanque dos sentimentos para o campo de batalha. Permitem que se passe por cima de tudo sem dar conta de nada. Estamos por conta da qualidade da blindagem.



Ciúme – Borla que o sentimento de turno oferece quando não tem troco para o freguês que está ao balcão. Só que esses trocos perdidos podiam ter dado para comprar uma sinceridade que estivesse em saldos.



Sexo – Caloria de efeito embriagante que pode fazer duma alma ansiosa um camião desgovernado, e duma alma deprimida um tractor revoltado. Uma alma revoltada e desgovernada será melhor ficar na garagem.



Fidelidade – Conceito que busca um lugar ao sol no reino da ambiguidade, mas que não consegue sair sem manchas do reino do eterno recalcamento.



Carinho – Quando o corpo dá boa serventia à alma, as lágrimas escorrem no coração de betonilha, e este transforma-se numa argamassa viscosa que entranha em tudo que é fresta, e a humidade passa a ser uma festa.



Erotismo – O grande rebarbador. Arredonda a sentimentália, pondo-a mais maneirinha e roliça para poder ser massajada pelas mãozinhas da ilusão felicitária.



Engate – Pinchavelho que nos junta a um atrelado, mas que não raras vezes nos pode levar estupidamente para o lado errado.



Incerteza – Carimbo permanente dum amor resistente. Preço exagerado dum amor couraçado.



Amor – Palavra que o vento não consegue levar, porque o corpo dos dias anda sempre besuntado com o cuspo da alma.



Chegar a este número redondinho com uma entrada enternecedora foi uma tentação a que eu não consegui resistir. Ser vulgar e banal é sempre algo que acaba por vir ao de cima.

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