carrée

Y ahora umas entradas levezinhas, sans peur de estar cara a cara avec la realité, mas just in case, e para não deixar dúvidas, calling the oxes by the names. O dicionário não ilustrado nas entradas 1132 a 1140.

Proibição de Padres maricas – Todos poderão discutir a escolha, da mesma maneira que eu hoje teimava em chamar raineta a um pêro golden. O supermercado das reclamações está sempre aberto mas felizmente o código de barras tem dono.

Autobiografia da Mª de Filomena Mónica – (Retirado o ligeiro pormenor de não ter lido e de ter prometido à minha mãe que não lia) acho que seria sempre um mero aperitivo para as memórias da Fátinha Felgueiras

Beijinhos lésbicos no recreio – Manifestação de carinho em que a inocência faz de língua, a pouca-vergonha faz de lábio, e a modernidade libertário-hipócrita anda de mão dada com o puritanismo. Cócegas opcionais.

Crucifixos nas escolas – Apesar de Deus nosso Senhor ter dito ao bom ladrão para deixar de catrapiscar o calendário da Pirelli mesmo naquela situação desgraçada, infelizmente este precioso diálogo acabou por não ser destacado por nenhum evangelista.

‘Pulo do Lobo’ – Local que virou metáfora, metáfora que virou redundância, redundância que virou eufemismo, eufemismo que virou banalidade.

‘Super Mário’ – Quando a banda desenhada consegue transformar a força do patético – que a tem - no enjoo caricatural duma espécie de mister magoo em fato macaco

Educação sexual mas escolas – Sofisticado modelo pedagógico baseado na primazia da ecografia em detrimento da apalpação

Estudos sobre aeroportos – Seguindo a velha máxima de que o papel aguenta tudo, nem otam nem desotam. Ou como Almodôvar diria se viesse cá fazer um filme rodado em S. Bento : «Ota-me».

As listas de livros preferidos – Classificar é uma urgência da espécie, hierarquizar uma exigência da nossa condição, e dizer merdas em carreirinha uma necessidade deste dicionário
Fusionblog

«Bom. Concentrai-vos e fazei mas é o que tendes a fazer, sem ondas. O resto eu controlo daqui. Remotamente. Sim, com tudo o que o advérbio implica » (*) e olhando para a pantalla resignadamente mas procurando aguentar-me «tendo a risibilidade como fio condutor»(**).

(*) blogame mucho
(**) frenchkissin
O conto dos achocolatamentos desviantes

Sonhava-se o Ferrero roché a viver embrulhado num papel dourado, sendo fantasia por fora e doce avelanado e crocante por dentro, com baronesas a suspirarem afrontadamente por ele, mordomos a transportarem-no numa bandeja, qual andor de prazer, e vivendo resguardado numa caixa climatizada de raiz de nogueira lacada e forrada a cetim, fazendo duma travessinha Cantão o seu boudoir; tanto servia para se derreter aos poucos como para ser trincado aos repelões, e mostrava-se irrecuperavelmente sensível aos caprichos da translação do planeta e da camada de ozono.

Por outro lado o Mon chéri sentia-se um turbilhão de cereja por dentro, sentia que tinha poros a menos e demasiada ternura emulsionada para sair, era um magma de sensibilidade reprimida, imaginava-se pólen e queria ir abanar pralinadamente o seu cacau ao vento, não valorizava a companhia sedutora das trufas e estremecia deslumbrada e inesperadamente com a presença do pau de canela.

Sentiam-se ambos progressivamente orgulhosos dentro duma minoria gastronómica mas olhados de soslaio pelos toblerones, e acabavam sempre por se enfeitar demasiado entre laçotes, coloridos chamativos e frases de italianismo exacerbado, achando que a prateleira que mais lhes servia era a da mercearia fina, eles que nada ficariam a dever aos verdadeiros patés aux herbes, ao fois gras, inchados agora dum novo direito logístico que se chamaria ‘liberdade de escolha cacauzal’.

Mas sentiam-se sempre discriminados pelo grande Esterculiácio (esta é dedicada a especialistas em botânica), por não ter permitido que da junção das suas sofisticadas polpas germinassem novos Smarties às cores; a natureza era-lhes afinal tão madrasta como a sociedade, a hermafroditização das mutações ainda não era possível por decreto e restava-lhes assim conseguirem adoptar Ovos Kinder para poderem brincar às gamas completas, e em nada serem inferiores ao bombomfóbico marron glacé.

Mas um dia apareceu-lhe uma castanha pilada e disse-lhes: vocês pensam que tudo saiu duma grande mousse de chocolate e que cada um terá o direito a escolher como quer adocicar ou fermentar a sua cozedura, como pralinar ou enrijar, mas olhem, eu também quis fugir a ser assada e agora não passo duma iguaria de que todos fogem porque no fundo só sirvo para estragar os dentes.
O direito à diferença não passará afinal dum enfeite no cabaz das promoções.
Romaria à Senhora da Sufrágica Consolação

Editorial break: isto-é-mas-é o verdadeiro blog político

Como julgo ser de todos sabido nada de marcante na vida recente da sociedade portuguesa se deve a algo que algum Presidente da República tenha feito, dito, pensado, insinuado, elocubrado, recalcado, suspirado, sacudido o rabo, sublimado, rangido os dentes, ululado, piviado, ou qualquer outro movimento mais ou menos kamasutrico.

Mas de certa forma acho isto um misto de injustiça, ignorância e falta de sensibilidade, e assim deixo aqui também uma dúzia dos momentos mais marcantes da presidência da república portuguesa nos últimos 25 anos; no fundo poderá alguém querer fazer daqui a uns tempos um congresso chamado ‘Portugal, que passado’.

1º - Discurso de Sampaio no 5 de Outubro de aqui há cinco anos que permitiu adormecer o meu filho mai novo depois duma birra que já se arrastava desde o 28 de Setembro - (no entanto cheguei a temer o pior com um ronco despropositado dum senhor fardado da 5ª fila).

2º - Beijo de Mário Soares à empregada da minha avó em 1989 e que a deixou num tal estado de êxtase pantagruelico que me fez o melhor arroz de cabidela que foi comido para cá dos Urais durante o século passado.

3ª - Momento em que Mário Soares diz que nunca convidaria Basilio Horta para casa dele e assim inicia a verdadeira revolução que é ser ‘presidente de todos os portugueses menos um’, deixando em aberto a possibilidade constitucional de recusarmos pelo menos uma amiga da nossa mulher de ir lá para casa dar-lhe sugestões cromatico-megalómanas sobre a decoração do quarto.

4ª - Discurso de Ramalho Eanes em 85 durante o qual após uma troca de água por 'Amarguinha' o levou a finalmente conseguir abrir uma vogal no final duma palavra e assim alcançar um orgasmo – ainda hoje se discute se foi simulado ou não – em falsete na Manelinha.

5º - Momento de grande tolerância em que Mário Soares autoriza Maria Barroso a fazer a primeira comunhão, demonstrando que uma mulher pode acreditar na existência de Deus mesmo sendo casada com um laico profissional, e simultaneamente abrindo o caminho para Guterres poder levar o país para uma via sacra em diálogo com terminação num gólgota pantanoso para aliviar o joelhinho.

6ª - Insulto de Mário Soares a um GNR que não só permitiu a Mizé Morgado introduzir nas técnicas de investigação criminal o método da ameaça de coacção presidencial, como acicatou um cabrão dum policia a multar-me nesse dia só porque ia a 207 na subida da A1 em Vialonga. Ora não lhe chamassem vialonga porra, e a subir também tem de se dar algum balanço.

7º - Momento em que Sampaio insta Guterres a demitir Armando Vara por causa duma tal de Fundação e que assim permite agora ao País ter um especialista em prevenção rodoviária como administrador da CGD.

8º - Quando Mário Soares diz que só percebeu a engenharia financeira da ponte Vasco da Gama depois de ter ouvido Perez Metello na televisão acaba por dar um estímulo de valor incomparável, não só a Manela Moura Guedes que inicia assim o seu project finance de cirurgia estética, mas a todos aqueles que sabem que um dia passarão para a outra margem e que estão a pagar antecipadamente a conta dos seus pecaduchos aos bocadinhos.

9º - Sampaio veta o casino no parque Mayer dando um sinal claro de que é preferível a roleta russa à sensaboria dum ‘par’ ou ‘impar’, e que o país não é uma slot machine, quanto muito uma bisca lambida na praça das flores (uma máquina de flippers também já não estou tão certo...). Foi visionário nesta sua medida ao proteger por antecipação o lobby dos reformados-jogadores-de-sueca-do-jardim-da-estrela.

10º - Sampaio, que já sabia da existência do povo pelos livros, teve o seu primeiro contacto com essa riquíssima realidade sociológica quando um puto deixou a marca da sua mãozinha no vestido da d. Maria José Rita durante uma festa do S.Martinho. A reacção foi tremenda e então a par da já existente ‘primeira-dama’ criou a figura do 'primeiro-irmão', destacando Daniel – não o profeta, claro – para o cargo, pondo-o a ensinar o povo a lidar com os miúdos ainda antes destes poderem dar beijos obscenos no recreio da escola.

11º - Soares inventa o famigerado ‘direito à indignação’, tipo 5ª emenda da ponte do Pragal , deixando em aberto a possibilidade do código penal passar também a poder ser usado como turbante nas viagens de estado, e em paralelo foi nessa precisa altura e decorrência que passei a ser eu a levar o lixo para a conduta.

12º - Soares na sua presidência aberta aos bairros da lata de Lisboa faz como a Rainha Vitória e leva as melhores jóias (demagógicas) para não desiludir os pobres, e assim, a par de acossar Cavaco (1º ministro da altura), demonstra que a escolha entre sermos Bordalos ou sermos Zé Povinho pode ser apenas uma questão de disponibilidade mental, tanto mais que a fronteira é já de si muito ténue.

É um cansaço, honroso embora, ser musa.
contradanças

"E tudo [cof cof] que eu [agora] posso te dar / É solidão [nem por isso] com vista pro mar [rio, sff] / Ou outra coisa [pastéis de Belém?] prá lembrar [é a idade, filho] // Se você quiser [se não? dá no mesmo] eu posso tentar [quer dizer...] mas / Eu não sei dançar [o problema é o inverso] / Tão devagar [ou isso] prá te acompanhar [pois...]"

Marina Lima, "Não sei dançar" (2003)
Maria,
(sim, agora dirijo-me directamente a si, e em serpentina, para não me poder agarrar)

Nos primórdios da psicanálise Freud escrevia que a «consciência de hamlet (outra vez este gajo) é a sua sensação inconsciente de culpa». Inaugurava-se assim aos poucos aquilo que G. Steiner chamaria de «metáforas controladoras», referindo-se aos mitos em oposição às «metáforas paralelas do pecado» que seriam estruturantes para as visões teológicas.

Ora a ‘confissão’ nasce essencialmente no seio dum processo reconciliatório, longe de ‘sensações inconscientes’ sejam elas do que forem, e antes a responder aos apelos de união com Deus que sentem as almas que dalguma forma o reconhecem.
A ‘forma’ actual do sacramento até é tardia – trazida para a europa ocidental por missionários irlandeses, julgo – mas não desvirtua o essencial da religião, ou religiosidade se quisermos adverbiar a conversa, que é ligar e converter (a par da dimensão vocacional).

O mecanismo/método/doutrina/literatura/mitologia/encenação/ freudiana é bem esgalhado mas baseia-se essencialmente na dimensão comercial da alma: todos temos uma consciência à venda, e todos queremos ser nós mesmos a comprá-la.

E agora vou abusar dos efeitos redutor e associativo e sacudidor que tantos fernicoques lhe causam: a palavra do ‘histérico’ é ‘consumida’ na psicanálise – e se calhar na vida - como o esgar duma insatisfação, a palavra do penitente é consumida na confissão como a fonte de energia do perdão. Mas o perdão não é uma ‘metáfora paralela do pecado’, é antes um «cogit peccatorem omnia libenter sufferre» (o latim está na moda).
"Passando-lhes pelo estrado"

6. Síntese
Confessamos que estamos a chegar desalentados e fatigados ao fim deste estudo, verificamos afinal que o homem é um mero lubrificante, é um mero encerador de estrados em pavimento flutuante, um betume que tem sempre de estar à cor senão vai destoar com a madeira, e por isso está cientificamente provado que há muitos que trocam essa merda toda por um ladrilho brilhante, às cores, e onde depois se possa passar com um pano e, desde que não se escorregue, já está.
reflexos e actos fal(h)ados

“Seria errado supôr uma oposição onde existe uma relação de cooperação” (*)

Numa conferência de 1893 Freud aborda a etiologia da histeria expondo pela primeira vez a noção de afecto como um dos elementos que liga alma e corpo, ou seja, as componentes psíquica e física do ser humano. Mais tarde, e ainda sobre a histeria, concluirá existirem três modalidades gerais através das quais se processará o aliviar da excitação na sequência do processo traumático na base da sua génese: o movimento, a fala e a associação. Em 1891 é publicada a que muitos investigadores consideram ser a primeira verdadeira obra teórica de Freud (**) em que se clarifica alguma da relação entre a histeria e o uso das palavras e onde se encontra, de forma simples e clara, explicação para alguns mistérios quase insondáveis da natureza humana em geral (e da blogueira em particular): "há casos em que os afásicos sensoriais não dizem nem sequer uma palavra compreensível mas desbobinam sílabas sem sentido numa sequência inexaurível".

Que se deva à igreja católica, através da confissão, a prioridade na descoberta do poder da psicanálise, é assumpção que não discuto. Que se deve a Freud, através dos estudos sobre a histeria, a heurística que permite a compreensão de tanto do que por essa "blogaria" fora se escreve, é certeza que reclamo.

(*) S Freud, Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, Lisboa: Livros do Brasil
(**) S Freud, A Interpretação das Afasias, Lisboa: Edições 70
E agora um pavesezinho mal passado em molho de cioran, servido com um montaignezinho a cavalo. As senecazinhas fritas acabaram por amolecer um bocado.

«Amiúde se me tem afigurado que mesmo os bons autores erram ao obstinarem-se a conceberem-nos como um todo coerente e constante». Na verdade essa polifonia da nossa condição perpassa-nos a existência, e alguns encontram o «segredo da adaptação à vida mudando de desespero como de camisa», enquanto outros admitem que «não nos libertamos de uma coisa evitando-a mas só passando através dela». Dá mesmo a ideia que «só somos desgraçados por culpa própria».
Constato que para viver decentemente basta lutar contra a supersticiosidade da alma, sabendo simultaneamente abraçar a sua iluminada e intrigante transcendência e a sua apaziguadora e perturbadora imanência. Em suma: um grande foda-se (senão nem aqueles gajos vendiam livros nem o padre borga escrevia canções).
Espero que tenham degustado.
apontamentos de fenomenologia

(ou da hermenêutica em versão so-letra-da)

Na língua de Camões - a quem Eugénio de Andrade atribuía a dádiva de "(um) aprumo de vime branco, (um) juvenil ressoar de abelhas, (uma) graça súbita e felina, (uma) modulação de vagas sucessivas e altas, (um) mel corrosivo da melancolia" - pode dizer-se "um burro não é um cavalo", em alternativa a dicionários especializados na arte vanguardista da fusão entre a epistemologia do cromo de futebol, a gnoseologia da centerfold da playboy e a semiótica do postal natalício dos ctt.
O conceito ‘candidato esfinge’ abriu todo um leque de possibilidades epistemológicas para a ciência política. O dicionário não ilustrado jamais poderia ficar alheio a esta nova perspectiva e esboça novos enlaces nas entradas 1123 a 1131

Candidato pirâmide – Tipo de candidato especialmente indicado para guardar as múmias do regime

Candidato vitral – Tipo de candidato que faz muito melhor efeito se tiver alguém a iluminá-lo por trás

Candidato menir – Candidato com real peso específico na sociedade civil

Candidato Jardim Suspenso – Tipo de candidato que tem as suas raízes num país em que o pessoal já esteja pelos cabelos

Candidato Altamira – Tipo de candidato que em poucos traços pode transformar um país que esteja na fossa num paraíso etnográfico

Candidato Taj-Mahalianio – Tipo de candidato que governará com a magnanimidade de quem está a celebrar um grande amor

Candidato Pompeia – Tipo de candidato feito para renascer das cinzas

Candidato Acrópole – Tipo de candidato especializado no tudo ao monte e fé nos deuses

Candidato navio escola Sagres – Tipo de candidato que poderá transformar a tanga numa vela e um politico vertical num mastro
"Passando-lhes pelo estrado"

5.3. Factores aleatórios
Teremos de saltar as 'festas com as costas da mão' porque o Patriarcado acabou de ameaçar não distribuir esta merda nos retiros do "verbo divino" e acabaremos por nos concentrar finalmente no 'dedilhar'. Antes de mais tem de ficar bem claro que todas as perversões relacionadas com a algema de dedos estão vedadas a este estudo, e que todos os trabalhos de campo se efectuaram após o devido aquecimento dos referidos dedos em reuniões de conselhos pedagógicos (ou como é que se chamam essas coisas em que gajas quarentonas vestidas de turcas se juntam para suspirar por homens belos, apolíneos e de gravata à espera de ser tirada e que lá não se encontram, obviamente).

Feito este prévio esclarecimento, não podemos fugir à evidência de que onde há um dedo terá de haver ou uma luva, ou uma tecla, ou um buraco. Ora este estudo não arranjou verba para o piano, já chegou atrasado à secção de marroquinaria e portanto teve de se contentar com esse equilíbrio proustiano que é um dedo à procura dum buraco aí perdido. É que caros leitores, muitas vezes ou o dedo trabalha ou está mesmo tudo perdido. Encontrámos situações desesperadas de dedos que já tinham vindo do pescoço, que já tinham passado temporadas a esfregarem-se desalmadamente em ombros despidos (e mordidos inclusivo), que já tinham chegado a vadiar por nádegas afastando rendas inoportunas, já se tinham arrastado em recursos sucessivos no grande tribunal que são os silicones peitorais e que mesmo assim têm de ir fazer figura de varetas de óleo!!!
dragon matters

‘We must say of Freud: after him there is only commentary’ (*)

Ao ler Clara F.Alves no Expresso a escrever isto « numa conversa que tive uma vez com George Steiner, queixava-se ele de que a literatura, e o romance como grande arte, tinha deixado de focar e tocar a história do mundo para a poder organizar com a imaginação» lembrei-me logo daquela vez em que eu e o Freud fomos comer uns caracóis ali à Rua da Esperança e em que ele espantado e intrigado por eu não usar os palitos chupando directa e deliciadamente os caracóis da casca, acabou por me dizer à laia de desabafo científico: é por estas e por outras que eu concluo que tive uma infância infeliz e não soube aproveitar devidamente o processo amamentativo ao estar sempre a pensar em como por os palitos ao meu pai.

(*) in ‘Where shall wisdom be found’ de H. Bloom, pag 240, ed. da Penguin group
Misoginias alternativas

Quando lia a pré-publicação das cartas de amor em tempo de guerra de António Lobo Antunes, encontrei, pressenti, lá - muito mais que as saudades de um futuro escritor enamorado – uma mulher que sabia deixar-se amar.
Vá Anybal pega no cavaquinho e nessa voz suja e surpreende-nos

«After saying that the words are the important thing, Dylan then proceeds to caress the melody, first on harmonica and then with his voice, until the song sounds less a political anthem and more like a lover’s question»

in texto que acompanha o cd ‘Bob Dylan – no direction home: the sound track' a propósito da versão de ‘Blowin’ in the wind’ que é apresentada no filme de Scorcese.
"Passando-lhes pelo estrado"

5.2. Variáveis dependentes
Temos de confessar agora que nutrimos pelo movimento sobre o qual nos iremos debruçar de seguida um carinho especial; trata-se da 'roçadela de polegar'. As combinações de estrado escolhidas são 1) o percurso braço-ombro-costas-rabo, que será uma carreira expresso temos de reconhecer, e 2) a zona traseira da coxa desde a dobra do joelho (ai que arrepio) até à sempre recorrente e omnipresente nádega esquerda (a nádega direita foi poupada ao estupro científico e foi oferecida em fermol aos artistas plásticos); aqui a velocidade e a intensidade são absolutamente determinantes, nelas se joga todo o sucesso do fraseado mímico-erótico do polegar; e crucial: a mulher tem de sentir que o olhar do homem está a acompanhar o movimento, é verdade, momentos ouve em que algumas desabafaram 'mas olha lá e tu estás a olhar para onde' quando se apercebiam que o polegar estava nas costas dela mas o resto estava virado para a sharon stone que descruzava as pernas no - ainda julgam assim hoje - canal panda. São verdadeiros instantes charneira, mas nada que uma boa foda (Função Orgânica Desenvolvida hArmoniosamente mas sem agá) rápida não resolva, pois qualquer movimento penetrante deixa o estrado feminino praticamente amnésico, é mesmo conhecido como 'comportamento refúgio', mas estamos a desviar-nos.

Concluamos cerce: um polegar deslizante pode fazer mais que uma pila de elefante, soa a brejeiro, soa, mas a ciência não vai em snobeiras: nem todo o esfreganço resulta em amor ao próximo.
o drama (ou a prodigiosa questão)

Who’s there? [W. Shakespeare, Hamlet]

Numa das suas obras sobre o real, Clément Rosset (*) chama a atenção para a faculdade humana e quase mágica de oferecer resistência à informação externa não conforme com a expectativa e o desejo, de usar o livre arbítrio e ignorá-la se necessário fôr e mesmo de se lhe opôr, enquanto realidade, através da recusa da percepção com vista ao encerramento da controvérsia e do debate. O sucesso reside, por conseguinte, no paradoxo que é usar cabeça, olhos ou ouvidos para não entender, ver ou ouvir.

(*) Rosset, C. (1988). Le principe de cruauté. Paris: Éd. Minuit.
Moon again
(e conforme prometido)

Hamlet -
Em verdade, ser grande
Não é agitar-se sem argumento válido,
Mas encontrar com grandeza motivo de querela numa palha
Quando a honra está em jogo
(…)
Ah que doravante meus pensamentos
Sejam feitos de nada ou sejam sangrentos

Pag 183, da ed. bilingue da Lello, com tradução da Sophia de M.B.
tip / quiz

1. Jerónimo acusa Cavaco de «gerir silêncios» [TSF]

2. Iago (avvicinandosi molto ad Otello e sottovoce): Temete, signor, la gelosia! / È un'idra fosca, livida, cieca, / col suo veleno / sè stessa attosca, / vivida piaga le squarcia il seno. [Otello, 2º acto]

Com quantos (az)Iagos nos fará a vida cruzar?
Back to earth

Talvez vote cavaco, sim talvez vote cavaco. Não estou a ver bem porquê, mas talvez vote cavaco. Aliás mais ou menos sei, a alternativa seria um poeta do terceiro mundo ou um tipo que pode ficar gagá a todo o momento; todos podemos aliás. Mas parece-me pouco, parece-me uma coisa feita assim com pouca honra, não sei ( é pá agora vinha mesmo a calhar uma outra do Hamlet de que me lembrei, mas não sei de cor, no próximo post acrescento à laia de bónus) mas realmente o que me espanta é o entusiasmo todo em torno de cavaco – incluindo alegorias com mais ou menos citroen, mais ou menos bolo-rei. É que me fica sempre esta questão entalada: mas o Cavaco, prof Cavaco como lhe chamam – o que daria umas boas rimas mas o poeta anda distraído com o hip hop - ao certo ao certo poderá fazer o quê? Sim, o quê? Convence os chineses a comprarem as ilhas selvagens para plataforma logística, convence os sindicatos alemães a deixarem fazer cá os carros todos, obriga os esturjões a virem desovar todos ao mar da palha, faz da Katia Guerreiro um clone da Amália, inunda Espanha de gansos patolas, vende a alma por uma camadinha jeitosa de ozono, descobre um laxante milagroso e enfia-o no rabinho dos binladens, é padrinho de casamento duma filha Bush com o Villepin, descobre petróleo no pulo do lobo, franchiza as aparições de N. Srª de Fátima, transforma todos os ucranianos em cirurgiões plásticos, nacionaliza o pirilampo mágico, dá-nos a tomar uns pozinhos perlimpimpim e põe-nos a dançar de contentes nos alunos de Apolo, convence o mundo que as brasileiras dos call centers da almirante reis são melhores que as de Nova Deli, inventa a vaselina anestesiante, distribui-nos óscares para os melhores figurantes, o tipo vai fazer o quê ao certo, caralho!?
Presidenciais alternativas
ou do culto da personalidade entre duas cavadelas de adubo

Hamlet – (...) Um rei gordo e um pedinte magro nada são senão iguarias variadas: dois pratos, mas para uma só mesa
Rei – Ai de nós!
Hamlet – Um homem pode pescar com um verme que comeu um rei, e comer um peixe que jantou esse verme
Rei – Que queres tu dizer com isso?
Hamlet – Nada. Só mostrar-te que um rei pode desfilar através das tripas de um mendigo

E face a poetas, a comunas, a economistas ou a republicanos profissionais fico com um certo desencanto – mas não melancólico, valha-me isso – por não se encontrar aquilo que H. Bloom dizia no ‘Cânone Ocidental’ sobre Hamlet : um «livre artista de si mesmo», alguém que «dissolvesse as demarcações entre as ordens da natureza e do jogo».

Mas eu já desço à terra. Dá muito trabalho ser terra à terra, é coisa de agricultor.
porque "um z é um s com mais relevé nas curvas"


Mi casa es tu casa

Quando Deus se revelou na sua versão literária-exegética – porque obviamente também se revela constantemente naquilo que se convencionou chamar ‘coração de cada um’ – sempre deu a entender que existiria uma ‘casa do Pai’. Esta toponimização aplicada à transcendência pode aparentar ser uma abébia metafórica de Jesus para que nós apanhássemos - e nos aconchegássemos - melhor as ideias de salvação, de vida eterna, de céu, de paraíso. Mas eu cá topei-o bem: não há Deus sem sítio, não há amor sem lar. Não há religião sem fios, não há alma sem pele.
su casa es mi casa

Deve ser o ex-libris em versão pós-moderna de quem descobre ter acesso gratuito a quatro diferentes fornecedores de serviços de internet por obra e graça do altruísmo do sistema wireless da vizinhança.
"Passando-lhes pelo estrado"

5. Materiais e procedimentos (ou metodologia)
Escolhemos como metodologia um sistema de base matricial: uma 'técnica' para 'duas zonas'; a variável 'velocidade' será introduzida sempre que se considerar pertinente. Procuraremos não sucumbir ao mero efeito estético e por isso ficam afastadas, por exemplo, as combinações 'roçar de polegar' /'mamas' e 'dedilhar'/'costas' (esta últimas têm inclusivamente tratamento autónomo nos estudos sobre drenagens linfáticas, pois as investigações de campo fizeram ressaltar algumas incomodativas respostas do género "as gajas querem mas é massagens à borla").
Evoluamos pois.

5.1. Variáveis independentes
Para o originalíssimo movimento denominado 'apalpar' escolhemos as combinações pouco óbvias com a zona 'entre-pernas-vindo-de-baixo', e com a zona 'colina-ascendente-da-nádega-esquerda-vindo-de-poente'; como adereço epistemológico foi escolhido uma saia larga a três quartos da maconde porque a verba afecta aos ensaios não dava para a utilização de saia travada trussardi. Destacamos em qualquer destas combinações o 'efeito surpresa', que já foi apelidado também de efeito 'és mesmo brutinho', mas ficou catalogado como 'não penses que é assim que vais lá'. A reacção mais usual da sofisticada química feminina é a de 'turquês fechada', e o homem quedar-se com a mão entalada e com cara de parvo sem saber o que fazer com ela é um efeito secundário muito observado. No entanto, refira-se desde logo, a nádega tem-se mostrado inesperadamente como um dos elementos anatómicos mais rebeldes às instruções do cérebro feminino (este órgão é tratado em bruxura, perdão brochura separada), é apelidada como a grande traiçoeira e apresenta-se muito errática nas suas convicções; fala-se duma tal de lingerie como elemento paliativo, foram inclusive encontrados alguns exemplares que... bem voltemos à ciência que estão-me a dar suores e não são frios.

Concluamos nesta fase: apalpar poderá ser um bom movimento de compromisso desde que acompanhado dalgumas alegorias verbais e sempre com a intensidade devida para não ser confundido com as vulgares cócegas que são comprovadamente de propriedades eróticas muito duvidosas, mas nesta porra um gajo tem de se preparar para ver de tudo.
quase nada

Quando tudo o que resta de uma história banal sobre cleptocracia, apadrinhada pelo concluio silencioso do nosso mundo de palhaços ricos, é uma alegria desamparada nos olhos das crianças que Deus parece ter esquecido.
Quase filosofia

A questão que realmente me assola a mente neste momento nem são os mandatários da juventude, nem o sexo criminoso antes dos 18, nem a falta que sinto do peseiro, reparem bem: é a questão dos ‘porta-vozes’. Todos sabemos que a vida seria bem mais difícil sem porta-chaves, nem sei o que faríamos sem porta-bagagens, sem porta-estandartes já se aguentaria melhor mas em todo caso também é bem vindo, o porta-luvas será um caso de duvidosa utilidade e há mesmo quem tenha com ele uma relação difícil, mas também lhe encontro potencialidades para esconder restos de bolachas oreos, o porta-Portas agora está um bocado em baixo com aquele rapaz o Ribeiro-que-ventila-Castro (uma espécie de Nuno Cardoso da direita) mas o rapaz das feiras voltará certamente um dia, quando o Cavaco estiver no intervalo entre uma fatia de bolo rei e uma condecoração ao Saramago, estou-me a desviar – e afinal não tive nenhum sonho marado, volta Freud estás perdoado – mas critica crítica é aquela situação de o Soares ter um porta voz – o Severiano-também-porta-gravatas-Teixeira , e depois vai-se a ver o Cavaco diz que é ele o porta-voz de si próprio. Pessoal, assim, a gente, não se entende. Eu reconheço os méritos da opção cavaquista, ( o Dic. Houaiss é arrasador com esta palavra) é uma coisa mais limpinha, um tipo transporta a sua própria voz, não expõe o gargomil ao perdigoto do povo por dá cá aquela palha, parece-me pois uma opção higiénica, desde que tenha por hálito, perdão por hábito comer-se com a boca fechada. No entanto, a opção de delegar a portabilidade da sua voz é uma solução que também poderá ser encarada como mais arriscada por causa das correntes de ar durante o transporte, mas, vendo bem, ao estar safa a próstata não me parece que as amígdalas venham a atraiçoar, pior será mesmo o Severiano ainda poder ser contratado pela TVI para fazer de Vitinho na hora de deitar as crianças tal o seu ar de embalo e a irrelevância do que diz.
São contudo claramente, e isto é que é importante destacar, duas maneiras distintas de ver o mundo, não diria duas mundovisões mas arriscaria em falar de duas formas diferentes de encarar o céu da boca: um tem lá o credo, outro tem lá o peixe.
Penso que esta questão tem sido muito desvalorizada pelos analistas, mais concentrados no teor de ansiolíticos dos manifestos e por isso vou ainda discorrer mais um pouco em torno dela. A mensagem ao ser transmitida por um porta-voz exógeno pode incorrer num fenómeno de transferência, mas ao ser emitida pelo porta-voz endógeno pode criar mecanismos perversos de feed-back. Se estivermos atentos constataremos facilmente que é nesta dinâmica peri-neurótica: ‘transferência’ versus ‘feed-back’ que se podem jogar os destinos da nação, mas o importante mesmo é que na baliza do Sporting vigora d’hoje em diante a regra do coito interrompido - só é considerado golo do adversário se já levarmos duas de avanço, e porra já estou a passar outra vez as 25 linhas. Abrevio, portanto: o sonho de qualquer nominalista é um dia ser tomado por eminente platónico. No fundo, ninguém gostará de ser lembrado como um mero porta voz.
quase religião

(porque "o pecado, esse já se sabe, está na carne". ou na influenza das aves)

descongelam-se no micro-ondas; envolvem-se no pó de uma sopa instantânea de marisco para ficarem a parecer panados sem o serem (o rigor não interessa nada para o caso); depois deitam-se num pyrex amanteigado (convém usar margarina, também não vale a pena mais despesa), cobrem-se de natas (daquelas em conta das linhas brancas dos supermercados) e deixa-se a arrastar no micro-ondas aí por uns 3000 segundos, em banho-maria; acompanha obrigatoriamente com arroz, salada e vinho branco

parece complicado? não é! vendo bem não é sequer necessário usar qualquer tempero específico para fazer estes "filetes de pescada expresso", tão de encher-o-olho quanto desenxabidos e intragáveis, valha-lhes a santa. ou outra coisa qualquer
My nhiqui nhiqui side of the soul

Não gostei de ver Madonna com aqueles brincos horrorosos, fazem-lhe na cara o mesmo efeito que Manuel Alegre na corrida presidencial que dá ao país um ar de bidonville a maquilhar-se, como um país de farófias que um dia sonharam ser profiteroles, parecemos uma Venezuela a recauchutar-se em realismo mágico, como se não nos bastasse ser um país de pitágoras que é constantemente encornado pelas hipotenusas. Mas foge-me a lógica, sou puxado para o trocadilho, apetece-me adormecer num sofisma e empolar o que me falta; hoje se sonhar, vai sair merda. Se amanhã ainda tivesse coração poria a boca no trombone, mas felizmente a tal de lua nova já se está a baldar.
"Passando-lhes pelo estrado"

- Toda a mulher é uma lição -

Parte II - Afagando e andando

4. Notas prévias
Na dialéctica em análise o papel das mãos assume uma posição muito sensível, delicada mesmo. É o clássico dilema do investigador: onde termina o cientista e começa o homem; ou o drama do artista: onde termina o modelo e começa a amante; ou mesmo, não o esqueçamos nunca, o drama do homem do lixo: onde termina o trabalho e começa a merda.

Escolhemos para objecto deste capítulo desde os movimentos mais clássicos como o 'apalpar', até aos menos evidentes como o 'roçar de polegar', passando pelas sempre enigmáticas 'festas com as costas da mão', sem esquecer o febril 'dedilhar' nas suas mais diversas combinações estilísticas. O acto de 'espremer borbulhas' foi afastado da análise pela sua evidente falta de gosto e por apenas servir o cruel desiderato de uma das partes.

Existe uma premissa que deverá ser de imediato vertida porque é transversal a toda a análise: para as mãos de um homem todo o estrado feminino deve merecer o seu cuidado, não deverão existir zonas de primeira e zonas de segunda pois a mulher é muito sensível a estas classificações e não assimila bem que fazer-lhe uma festinha ao de leve com o indicador percorrendo a curva torneada do cotovelo possa ser ligeiramente menos estimulante para o homem do que apalpar-lhe valentemente o rabo.
história de z

Era uma avózinha tão saudosista que chegava a sonhar com a Mary Poppins. Só por causa do guarda-chuva, claro.
"Passando-lhes pelo estrado"

3.4. Perspectiva panteísta
Antes de passarmos às mãos importaria reflectir sobre os locais onde os lábios efectivamente podem trazer um real valor acrescentado no estrado feminino. Afastado o mistificado, ou pelo menos sobrevalorizado, pescoço, teremos forçosamente de avançar para as zonas de maior valor ginecológico. Face à extensão e riqueza do corpo feminino teremos de nos concentrar nesta breve exposição apenas nalgumas. Aqui avançaríamos para as sempre muito interessantes zonas de fronteira. Escolheria duas: aquela que fica entre as protuberâncias mamárias e o umbigo, e uma outra, também não menos eriçadora do pêlo, entre o final das costas e o início da encosta descendente das dunas de retaguarda. Cremos que ambas as zonas foram criadas por Deus e julgamos que terão sido mesmo aí que nasceram as primeiras heresias panteístas. Não era caso para menos. É nessas zonas de antecâmara que parece tudo se jogar; é aí que parece se revelarem os passos chave de toda a dança pelo estrado, é aí que um gajo tem de estar atento a essa merda dos sinais, porque porra, um gajo já não lhe basta ter de decorar o código do Multibanco que ainda tem de se pôr a adivinhar qual é o momento certo do orgasmo feminino.

3.5. Síntese prévia
Pois seja a roçar, seja a beijar, seja a sorver, nesses locais o lábio será sempre magister luxuriae, mas valha-me Deus eu agora vou interromper o estudo e vou ali e já venho. É apenas mais trabalho de campo, nada demais, cience oblige. Sim até porque se não fosse a ciência nem sequer sabia que nada destas coisas existiam.
y's e concisão

O minimalismo é um efeito de expressão de genes holândricos. Tal como a hipertricose auricular, de resto. Ou a surdez selectiva.
"Passando-lhes pelo estrado"

3.2. Perspectiva sensório-motora
Acabou no entanto por ser depositada muita esperança no mero movimento arrastado dos lábios sob o estrado dérmico. Esse "roçar labial "absolutamente carregado de insinuação, era uma resposta masculina à acusação de 'táctica barata' com que muitos lábios-em-kiss-module viam ser catalogada a sua humilde actuação. Este movimento deslizante de lábios, numa primeira fase, conseguia parecer transportar consigo o tão falado, e elogiado, pela sensibilidade feminina: poder do implícito. Mas como não foi até agora localizado nenhum espécime do género masculino da raça pura que se tenha chegado a satisfazer com esse conceito, ele passou a ser um mero refúgio de frustrações canalizadas para a literatura.

3.3. Perspectiva psicológica: Freud, Piaget e Vigotsky
Menos prosaico que estes dois movimentos referidos anteriormente no que concerne aos lábios, mas julgamos de valor epistemológico não inferior, é a denominada 'sucção'. Trata-se dum movimento aglutinador de competências e que possui um elevadíssimo potencial teórico de excitação. Certos estrados mais sensíveis conseguem no entanto arruinar liminarmente todo esse caudal erótico com a frase carregada de encanto: "não gosto que me chupes". É cruel, houve mesmo quem ficasse tão traumatizado que passou apenas a beber de palhinha. Mas não generalizemos, os estudos demonstram que qualquer homem normal já ficou muitas vezes a chupar no dedo e a pensar na vida porque não acertou num tal de ponto G e acabou por superar isso recuando de letra e apostando no que f...lixe. O alfabeto será sempre um manancial desde que um tipo não seja kapado de todo.
The country club

O dicionário não ilustrado com entradas avulsas entre todos os santos e os fiéis defuntos, mas a piscar o olho ao limbo dos inocentes. (1110 a 1122)- fui acrescentando até à capicua

Constituição – Documento que começa a ficar para as democracias modernas como o livro dos Salmos para o catolicismo.

Poderes presidenciais – Tipo de poderes tão bem definidos que deixariam o Leviathan a pedir ao Hobbes para escrever tudo outra vez.

Magistratura de influência – Sofisticado processo que permite o nariz penetrar em locais para onde não foi chamado. Pingo ( de vergonha, claro) a evitar.

Procuradoria geral da Republica – Local selecto onde a República faz de palheiro, o cidadão de agulha e a lei faz de palha.

Políticos profissionais – Os que descontam para a caixa mesmo que depois não dêem uma para ela.

Política – Actividade nobre que assim relega para um segundo plano a actividade isidoro. (Em qualquer caso entram picados e saem enchidos).

Sessão legislativa – Tipo de convenção semelhante ao orgasmo feminino e que dura o tempo que o povo leva a gemer.

Estado – Zona de caça associativa que se aproveita das regras da caça livre e sobrevive como couto privado. Livre de pandemias porque trabalha mais à base de revoadas.

Poderes consagrados na constituição – Tipo de relíquia em que o santo depois do martírio ainda ficou um bocadinho a aquecer as mãos.

Regime semi-presidencialista – Tipo de regime que está para a democracia com o cobertor curto para um corpo enregelado.

Mandatário eleitoral – Figura que está para um candidato como as fábulas para a literatura e as parábolas para a revelação.

Regime parlamentar – Tipo de regime que está para a liturgia democrática como os fieis defuntos para a católica: devemos primeiro pedir a todos os santinhos que quando for o juízo final se lembrem e valorizem as pequeninas coisas boas que algum dia, mesmo que inadvertidamente, conseguimos fazer. Agonizar é o martírio possível.

Presidência da República – Limbo do regime que apenas se agita ligeiramente quando o pessoal do purgatório quer arejar um bocado e, lembrando-se que ir às putas pode ser opção arriscada, vai antes comer algodão doce.
big brother pbx

Ouvido hoje numa radio: "todos têm um talento que devem descobrir e desenvolver nem que seja recorrendo ao auxílio das fadas de Neverland". Deve residir nesta crença a explicação para haver quem pretenda ensinar antes de aprender a soletrar.

['musa intertextual' e 'francesinha especial' não são sinónimos: rimam e é tudo]