Romaria à Senhora da Sufrágica Consolação

Editorial break: isto-é-mas-é o verdadeiro blog político

Como julgo ser de todos sabido nada de marcante na vida recente da sociedade portuguesa se deve a algo que algum Presidente da República tenha feito, dito, pensado, insinuado, elocubrado, recalcado, suspirado, sacudido o rabo, sublimado, rangido os dentes, ululado, piviado, ou qualquer outro movimento mais ou menos kamasutrico.

Mas de certa forma acho isto um misto de injustiça, ignorância e falta de sensibilidade, e assim deixo aqui também uma dúzia dos momentos mais marcantes da presidência da república portuguesa nos últimos 25 anos; no fundo poderá alguém querer fazer daqui a uns tempos um congresso chamado ‘Portugal, que passado’.

1º - Discurso de Sampaio no 5 de Outubro de aqui há cinco anos que permitiu adormecer o meu filho mai novo depois duma birra que já se arrastava desde o 28 de Setembro - (no entanto cheguei a temer o pior com um ronco despropositado dum senhor fardado da 5ª fila).

2º - Beijo de Mário Soares à empregada da minha avó em 1989 e que a deixou num tal estado de êxtase pantagruelico que me fez o melhor arroz de cabidela que foi comido para cá dos Urais durante o século passado.

3ª - Momento em que Mário Soares diz que nunca convidaria Basilio Horta para casa dele e assim inicia a verdadeira revolução que é ser ‘presidente de todos os portugueses menos um’, deixando em aberto a possibilidade constitucional de recusarmos pelo menos uma amiga da nossa mulher de ir lá para casa dar-lhe sugestões cromatico-megalómanas sobre a decoração do quarto.

4ª - Discurso de Ramalho Eanes em 85 durante o qual após uma troca de água por 'Amarguinha' o levou a finalmente conseguir abrir uma vogal no final duma palavra e assim alcançar um orgasmo – ainda hoje se discute se foi simulado ou não – em falsete na Manelinha.

5º - Momento de grande tolerância em que Mário Soares autoriza Maria Barroso a fazer a primeira comunhão, demonstrando que uma mulher pode acreditar na existência de Deus mesmo sendo casada com um laico profissional, e simultaneamente abrindo o caminho para Guterres poder levar o país para uma via sacra em diálogo com terminação num gólgota pantanoso para aliviar o joelhinho.

6ª - Insulto de Mário Soares a um GNR que não só permitiu a Mizé Morgado introduzir nas técnicas de investigação criminal o método da ameaça de coacção presidencial, como acicatou um cabrão dum policia a multar-me nesse dia só porque ia a 207 na subida da A1 em Vialonga. Ora não lhe chamassem vialonga porra, e a subir também tem de se dar algum balanço.

7º - Momento em que Sampaio insta Guterres a demitir Armando Vara por causa duma tal de Fundação e que assim permite agora ao País ter um especialista em prevenção rodoviária como administrador da CGD.

8º - Quando Mário Soares diz que só percebeu a engenharia financeira da ponte Vasco da Gama depois de ter ouvido Perez Metello na televisão acaba por dar um estímulo de valor incomparável, não só a Manela Moura Guedes que inicia assim o seu project finance de cirurgia estética, mas a todos aqueles que sabem que um dia passarão para a outra margem e que estão a pagar antecipadamente a conta dos seus pecaduchos aos bocadinhos.

9º - Sampaio veta o casino no parque Mayer dando um sinal claro de que é preferível a roleta russa à sensaboria dum ‘par’ ou ‘impar’, e que o país não é uma slot machine, quanto muito uma bisca lambida na praça das flores (uma máquina de flippers também já não estou tão certo...). Foi visionário nesta sua medida ao proteger por antecipação o lobby dos reformados-jogadores-de-sueca-do-jardim-da-estrela.

10º - Sampaio, que já sabia da existência do povo pelos livros, teve o seu primeiro contacto com essa riquíssima realidade sociológica quando um puto deixou a marca da sua mãozinha no vestido da d. Maria José Rita durante uma festa do S.Martinho. A reacção foi tremenda e então a par da já existente ‘primeira-dama’ criou a figura do 'primeiro-irmão', destacando Daniel – não o profeta, claro – para o cargo, pondo-o a ensinar o povo a lidar com os miúdos ainda antes destes poderem dar beijos obscenos no recreio da escola.

11º - Soares inventa o famigerado ‘direito à indignação’, tipo 5ª emenda da ponte do Pragal , deixando em aberto a possibilidade do código penal passar também a poder ser usado como turbante nas viagens de estado, e em paralelo foi nessa precisa altura e decorrência que passei a ser eu a levar o lixo para a conduta.

12º - Soares na sua presidência aberta aos bairros da lata de Lisboa faz como a Rainha Vitória e leva as melhores jóias (demagógicas) para não desiludir os pobres, e assim, a par de acossar Cavaco (1º ministro da altura), demonstra que a escolha entre sermos Bordalos ou sermos Zé Povinho pode ser apenas uma questão de disponibilidade mental, tanto mais que a fronteira é já de si muito ténue.

Sem comentários: