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stanzas for music (*)

(*) Lord Byron (1815) Stanzas for Music © 2009 University of Toronto.
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Nails R Us

No entanto, afigura-se-me que a pintura decorativa de unhas desempenha no universo feminino também uma dupla missão: ajuda a controlar o impulso exibicionista e a manipular a orientação do interesse masculino, que são, como sabemos, os dois calcanhares de Aquiles da feminilidade: gerir simultaneamente a auto-imagem, e o efeito dela em terceiros; a mulher é um puro ser de múltiplas fusões.
Por outro lado, a técnica das unhas pintadas ao conseguir, numa só penada, cumprir um desiderato lúdico e um efeito diversivo – e subversivo - na atenção alheia, permitem à mulher gerir o seu universo fantasioso que tem tudo para a trair, ou pelo menos, para a deixar sem referenciais seguros e previsíveis.
Mas sendo o interesse estético masculino um bem escasso, e muitas vezes algo de natureza quase mineral, a mulher é levada a empolgar-se e a pensar que tem de fauvizar a sua existência, e transformar as pontas dos dedos numa arena portátil sacudida por um paso doble de falangetas. E assim surgem as famosas unhas pintadas de encarnado, um clássico da civilização ocidental, ao nível das colunas dóricas ou das abóbadas góticas, para já não falar nos famosos azulejos em vivendas da beira interior.
As unhas pintadas de encarnado (seja qual for o seu formato) revelam sempre uma mulher em fase de ‘necessidade de domínio’. É aquele momento em que as eventuais inseguranças exigem um acto veemente de tomada de posição; a simbologia é evidente: o sangue acorre às pontas, o coração ficou livre de emoções limitadoras, a melhor defesa é o ataque; o ser objecto confunde-se com o ser sujeito. Uma mulher com unhas pintadas de encarnado é sempre um brinquedo perigoso.
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imagem: capa do último cd dos suecos Hello Saferide
Por outro lado, a técnica das unhas pintadas ao conseguir, numa só penada, cumprir um desiderato lúdico e um efeito diversivo – e subversivo - na atenção alheia, permitem à mulher gerir o seu universo fantasioso que tem tudo para a trair, ou pelo menos, para a deixar sem referenciais seguros e previsíveis.
Mas sendo o interesse estético masculino um bem escasso, e muitas vezes algo de natureza quase mineral, a mulher é levada a empolgar-se e a pensar que tem de fauvizar a sua existência, e transformar as pontas dos dedos numa arena portátil sacudida por um paso doble de falangetas. E assim surgem as famosas unhas pintadas de encarnado, um clássico da civilização ocidental, ao nível das colunas dóricas ou das abóbadas góticas, para já não falar nos famosos azulejos em vivendas da beira interior.
As unhas pintadas de encarnado (seja qual for o seu formato) revelam sempre uma mulher em fase de ‘necessidade de domínio’. É aquele momento em que as eventuais inseguranças exigem um acto veemente de tomada de posição; a simbologia é evidente: o sangue acorre às pontas, o coração ficou livre de emoções limitadoras, a melhor defesa é o ataque; o ser objecto confunde-se com o ser sujeito. Uma mulher com unhas pintadas de encarnado é sempre um brinquedo perigoso.
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imagem: capa do último cd dos suecos Hello Saferide
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The Crabbe Corner
A The World of Interiors deste mês (a melhor revista aparentemente de decoração do mundo (*) e sem gajas para distrair a atenção nem nada) traz um especial ‘Design Week Fabrics’ praticamente dedicado a este blog, e eu não podia deixar de scannear dois postalinhos para vòceisss; apreciem à minha responsabilidade:
este primeiro, que permite dar um ar fresco e viçoso ao rebanho...
e agora este outro, que permite dar um ar mais imperial e clássico ao seu dark side...
(*) reparem nesta frase que arranca com a reportagem: «Trotting out everything from candy-striped cottons to the plushest of velvets…»; escrevem que nem uns baudelaires cruzados a prousts dum caralho. E nem pus a que tem uma cabrinha deliciosa adornada com uns richelieu tassels senão até lacrimejavam.
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Depilocracia

'Como Guardar o Desejo', lápis ikea sobre pasta de celulose prensada 80 gr, colecção particular, sem assinatura
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As anotações de um picheleiro dos afectos
Caderno 2 – Compêndio de teoria política para mulheres curiosas
Caderno 2 – Compêndio de teoria política para mulheres curiosas
5º capitulo - A almotolia de bomba
Poderia o leitor apressado e displicente, no seu legítimo direito embora, pensar que este pequeno estudo se limitaria a ser um exercício ligeiro de misoginia recreativa, mas efectivamente aqui pretende-se apenas desenhar um contributo, humilde que seja, de natureza técnica sobre a forma de melhor incluir a mulher numa actividade que lhe é agreste e para a qual se deve preparar não apenas perseguindo os clichés típicos de ser ‘uma gaja tesa’.
A mulher que sinta o apelo da coisa pública, não se contentando assim com o poder que lhe é conferido pela natureza e que possui – irresistivelmente - na coisa privada, tem que saber de antemão que o mundo, por estar consciente disso, parte desconfiado com ela: «ela vem para aqui fazer o que não consegue em casa»
Já aflorámos aqui o papel que as assessorias desempenham no refrescamento e fortalecimento do corpo (jurídico) da liderança, mas importa agora abordar de que forma a mulher-política deve encarar a questão ideológica, ainda para mais sabendo-se que o cliché paradigmático aponta para : «as mulheres são mais práticas», ou seja, antes uma moulinex que uma beauvoir.
Ora, à semelhança do penteado, a mulher deve optar por correntes ideológicas de mainstream, ou seja, não pode arriscar, por exemplo, nem em liberalismos exacerbados, nem em planificações opressivas, a ideologia deve ser o baton da mulher-política: deve assediar convenientemente o beijador mas não lhe deve deixar marca excessiva.
Esta noção de instrumentalidade ideológica é algo com que o feminino lida na perfeição. No fundo, deixar uma plateia em suspenso com um enigma de natureza programática, pode representar para a mulher-política o mesmo que no ‘jogo-amoroso’ pode representar o «depois vemos isso». A mulher está treinada para sacar dum princípio ideológico quando apenas dizer que lhe doem as costas se poderia revelar pouco convincente.
E, definitivamente, a ambiguidade que a mulher tem incrustada no ser que nem uma glândula em festa assume aqui um papel crucial. O pão-pão-queijo-queijo da mulher tesa e conservadora, rapidamente passa a manteiguinha de Azeitão se for necessário mostrar uma líder progressista que se adapta a tudo. Mas, na mulher, isto não é vira-casaquismo: é apenas mudança de colecção.
A mulher que sinta o apelo da coisa pública, não se contentando assim com o poder que lhe é conferido pela natureza e que possui – irresistivelmente - na coisa privada, tem que saber de antemão que o mundo, por estar consciente disso, parte desconfiado com ela: «ela vem para aqui fazer o que não consegue em casa»
Já aflorámos aqui o papel que as assessorias desempenham no refrescamento e fortalecimento do corpo (jurídico) da liderança, mas importa agora abordar de que forma a mulher-política deve encarar a questão ideológica, ainda para mais sabendo-se que o cliché paradigmático aponta para : «as mulheres são mais práticas», ou seja, antes uma moulinex que uma beauvoir.
Ora, à semelhança do penteado, a mulher deve optar por correntes ideológicas de mainstream, ou seja, não pode arriscar, por exemplo, nem em liberalismos exacerbados, nem em planificações opressivas, a ideologia deve ser o baton da mulher-política: deve assediar convenientemente o beijador mas não lhe deve deixar marca excessiva.
Esta noção de instrumentalidade ideológica é algo com que o feminino lida na perfeição. No fundo, deixar uma plateia em suspenso com um enigma de natureza programática, pode representar para a mulher-política o mesmo que no ‘jogo-amoroso’ pode representar o «depois vemos isso». A mulher está treinada para sacar dum princípio ideológico quando apenas dizer que lhe doem as costas se poderia revelar pouco convincente.
E, definitivamente, a ambiguidade que a mulher tem incrustada no ser que nem uma glândula em festa assume aqui um papel crucial. O pão-pão-queijo-queijo da mulher tesa e conservadora, rapidamente passa a manteiguinha de Azeitão se for necessário mostrar uma líder progressista que se adapta a tudo. Mas, na mulher, isto não é vira-casaquismo: é apenas mudança de colecção.
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As anotações de um picheleiro dos afectos
Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas
Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas
4º capitulo - Limas murças e bastardas
Uma das paragens obrigatórias neste percurso analítico em torno das miudezas mais íntimas da mulher enquanto animal político é o estudo do papel do humor.
A sociedade ocidental, por razões de sociologia reprodutiva certamente, sedimentou bem a ideia de que o humor utilizado pelo macho-político é sinal de inteligência, perspicácia e alguma irreverência, mas se for utilizado pela mulher pode ser sinal de badalhoquice e ligeireza de raciocínio. Assim, a utilização do humor por parte da fêmea-política deve respeitar algumas regras que impeçam o suicídio da sua imagem e a recambiem para as instituições de beneficência, casamento incluído.
Comecemos pela auto-comiseração lúdica. Este elemento estruturante do humor masculino está completamente vedado à mulher; ou seja, a mulher não se pode colocar em zonas de fronteira, de dúvida, onde a verdade e a mentira estejam muito próximas, pois a leitura será sempre vertiginosamente contra si; é conhecido como o ‘estigma do abismo da vulva’.
A mulher-política deve, portanto, usar um humor inequívoco e deve deixar a subtileza para os 'gabinetes de estudo' (*).
Outra das zonas de risco para a mulher é o sarcasmo. Existe uma linha que a mulher política não deve passar, é a linha que separa a zona de eficácia de ‘grande cabra’ da zona de ruína de ‘grande filha-da-puta’; e esta linha muitas vezes fica completamente a descoberto quando a irrisão é levada ao limite sem compensações, entrando mesmo naquilo a que o povo, e mesmo alguns teóricos, denominam de ‘zona das mal fodidas’(**).
Uma das técnicas que leva muitas mulheres a destruírem uma carreira de manipulação-política que se mostrava promissora é a do humor-enigmático, também conhecida como a ‘insinuação intelectualizada’. A insinuação feminina em geral apela, mesmo que inadvertidamente, aos sentimentos mais básicos do homem-cidadão, aos mecanismos do ‘oquetuqueresseieu’ que costumam ser fatais para a fêmea em pose de Estado, mesmo que esteja a passar revista às forças em parada, ou debruçada sobre um decreto.
Finalmente o trocadilho irónico. A arma da ambiguidade semântica na mulher-política é uma faca de dois gumes, e a mulher só a pode utilizar quando estiver no ‘mummy side’ (***) do seu espectro, alavancando algum efeito poético que possa criar. Como sabemos a mulher discursa com o corpo e a palavra serve-lhe apenas como anabolizante de retórica.
Concluiria dizendo apenas que o húmus feminino é efectivamente parte integrante da sua capacidade de sedução e do seu potencial integrador, no entanto, uma mulher-politica ao fazer rir a sua corte terá sempre de contar com o risco de meretrizar a sua influência.
(*) vide ‘capitulo 2 – joelho fêmea’
(**) leia-se: mulheres nas quais a penetração de registo fornicativo não se efectua de molde a propiciar o gozo espectável pela natureza
(***) vide 'capitulo 3 - chave de grifo'
A sociedade ocidental, por razões de sociologia reprodutiva certamente, sedimentou bem a ideia de que o humor utilizado pelo macho-político é sinal de inteligência, perspicácia e alguma irreverência, mas se for utilizado pela mulher pode ser sinal de badalhoquice e ligeireza de raciocínio. Assim, a utilização do humor por parte da fêmea-política deve respeitar algumas regras que impeçam o suicídio da sua imagem e a recambiem para as instituições de beneficência, casamento incluído.
Comecemos pela auto-comiseração lúdica. Este elemento estruturante do humor masculino está completamente vedado à mulher; ou seja, a mulher não se pode colocar em zonas de fronteira, de dúvida, onde a verdade e a mentira estejam muito próximas, pois a leitura será sempre vertiginosamente contra si; é conhecido como o ‘estigma do abismo da vulva’.
A mulher-política deve, portanto, usar um humor inequívoco e deve deixar a subtileza para os 'gabinetes de estudo' (*).
Outra das zonas de risco para a mulher é o sarcasmo. Existe uma linha que a mulher política não deve passar, é a linha que separa a zona de eficácia de ‘grande cabra’ da zona de ruína de ‘grande filha-da-puta’; e esta linha muitas vezes fica completamente a descoberto quando a irrisão é levada ao limite sem compensações, entrando mesmo naquilo a que o povo, e mesmo alguns teóricos, denominam de ‘zona das mal fodidas’(**).
Uma das técnicas que leva muitas mulheres a destruírem uma carreira de manipulação-política que se mostrava promissora é a do humor-enigmático, também conhecida como a ‘insinuação intelectualizada’. A insinuação feminina em geral apela, mesmo que inadvertidamente, aos sentimentos mais básicos do homem-cidadão, aos mecanismos do ‘oquetuqueresseieu’ que costumam ser fatais para a fêmea em pose de Estado, mesmo que esteja a passar revista às forças em parada, ou debruçada sobre um decreto.
Finalmente o trocadilho irónico. A arma da ambiguidade semântica na mulher-política é uma faca de dois gumes, e a mulher só a pode utilizar quando estiver no ‘mummy side’ (***) do seu espectro, alavancando algum efeito poético que possa criar. Como sabemos a mulher discursa com o corpo e a palavra serve-lhe apenas como anabolizante de retórica.
Concluiria dizendo apenas que o húmus feminino é efectivamente parte integrante da sua capacidade de sedução e do seu potencial integrador, no entanto, uma mulher-politica ao fazer rir a sua corte terá sempre de contar com o risco de meretrizar a sua influência.
(*) vide ‘capitulo 2 – joelho fêmea’
(**) leia-se: mulheres nas quais a penetração de registo fornicativo não se efectua de molde a propiciar o gozo espectável pela natureza
(***) vide 'capitulo 3 - chave de grifo'
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As anotações de um picheleiro dos afectos
Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas
Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas
3º capitulo - Chave de grifo
Se no que dizia respeito ao penteado da mulher-política esta devia escolher modelos colocados na mediana do espectro decorativo e evitar as zonas da periferia estética, já no que concerne à personalidade a desenvolver passa-se precisamente o contrário; a mulher que se entregue às mesmas actividades de lellos, narcisos & jerónimos deverá colocar-se na extremidades do estereótipo feminino: ou mulher-sacana, ou mulher-santa. Evitei para já a utilização dos termos bruxa-puta-cabra no primeiro caso e de mamã-avozinha-fada-madrinha no segundo, por estarem demasiado colados a desabafos de teor ero-intimista e peri-freudiano que poderiam desviar-nos do verdadeiro teor científico-experimental deste compêndio.
A primeira e principal razão para esta regra do extremos prende-se com o sentimento comum do cidadão indefeso: «se era para ser uma pessoa normal preferia-se um homem porque o risco era menor». Ou seja, a mulher tem de capitalizar a diferença; como?: exponenciando-a, e colocando-se em zonas onde um macho pareceria ou um frade perdido do mosteiro, ou um carrilho de bárbara menstruada.
Antes de entrar propriamente na caracterização da ‘mulher-sacana’ e da ‘mulher-santa’ devo realçar já um ponto essencial: a fêmea-homnídea-sapiens é o único ser que consegue pendular entre os dois extremos da personalidade mantendo-se a mesma pessoa, na maior das calmas, e sem precisar de tomar qualquer aditivo químico compensatório das funções digestivas ou urinárias (apesar de já terem sido referenciadas uma ou outra alteração ao nível das mucosas íntimas – certamente por falta de Lactacid na Arca de Noé).
Ora, como se deve a mulher fixar correctamente no extremo ‘sacana’ do seu espectro (‘bitch-side’)? Sendo-lhe algo natural, a sua principal preocupação é fazer-se parecer algo ali entre a máxima eficiência e a máxima concentração. Uma espécie dos ‘fins justificam os meios’ na versão ‘elas acabam sempre por levar a água ao seu moinho’. Mas tendo sempre este especialíssimo cuidado: a mulher-política nunca deve dar ares de ser providencial, a sociedade só está preparada para machos iluminados, e a verdade ao ser transmitida por algum canal especial a uma mulher seria sempre entendida como sendo pela via da bruxaria. Um efeito secundário da utilização em excesso desta zona extremo do estereótipo é o risco de enfeitiçamento: a mulher-política-bruxa que enverede pelo enfeitiçamento do povo que lhe caiu de turno no caldeirão acabará sempre por beber do próprio veneno. O homem aprecia ser levado que nem um patinho submisso mas geralmente os feitiços acabam por maçá-lo.
No outro lado desta festa encontra-se a mulher-santa (‘mummy side’). Esse cadinho mágico de bondade, compreensão, generosidade, carinho e maternalidade geralmente é trabalhado pela mulher com autêntica mestria. No entanto, certos autores estão convencidos de que esta outra borda da travessa temperamental apenas é experimentada pela mulher politica para aliviar de tempos a tempos da outra, por mero imperativo da deusa da sonsice e por algum receio que o excesso de sacanice lhe faça algum mal à pele. Feita esta ressalva teórica importa destacar a magnífica utilização que a mulher consegue fazer neste domínio com as técnicas da gestão de expectativas, ou seja, a mulher-política sabe com precisão cirúrgica que o homem há momentos em que entrega tudo com confiança ilimitada a uma mulher-mãezinha; e nesses momentos ela tem de estar lá a representar esse papel, e com todo o arsenal preparado: colinho, historinha de embalar e maminha tesa. Homem frustado é, as we all know, como pila em caldo gelado, guerreiro abandonado pelo ferreiro.
Não ficaria bem, no entanto, deixar este capítulo minguado duma nota final. A capacidade de translação da mulher em torno destes dois focos ‘mamã-cabra’ é uma gestão difícil e só funciona na perfeição com homens de inocência galáctica. É por isso que as mulheres-políticas são as mais indicadas para os povos de génios distraídos, ou de parvos.
A primeira e principal razão para esta regra do extremos prende-se com o sentimento comum do cidadão indefeso: «se era para ser uma pessoa normal preferia-se um homem porque o risco era menor». Ou seja, a mulher tem de capitalizar a diferença; como?: exponenciando-a, e colocando-se em zonas onde um macho pareceria ou um frade perdido do mosteiro, ou um carrilho de bárbara menstruada.
Antes de entrar propriamente na caracterização da ‘mulher-sacana’ e da ‘mulher-santa’ devo realçar já um ponto essencial: a fêmea-homnídea-sapiens é o único ser que consegue pendular entre os dois extremos da personalidade mantendo-se a mesma pessoa, na maior das calmas, e sem precisar de tomar qualquer aditivo químico compensatório das funções digestivas ou urinárias (apesar de já terem sido referenciadas uma ou outra alteração ao nível das mucosas íntimas – certamente por falta de Lactacid na Arca de Noé).
Ora, como se deve a mulher fixar correctamente no extremo ‘sacana’ do seu espectro (‘bitch-side’)? Sendo-lhe algo natural, a sua principal preocupação é fazer-se parecer algo ali entre a máxima eficiência e a máxima concentração. Uma espécie dos ‘fins justificam os meios’ na versão ‘elas acabam sempre por levar a água ao seu moinho’. Mas tendo sempre este especialíssimo cuidado: a mulher-política nunca deve dar ares de ser providencial, a sociedade só está preparada para machos iluminados, e a verdade ao ser transmitida por algum canal especial a uma mulher seria sempre entendida como sendo pela via da bruxaria. Um efeito secundário da utilização em excesso desta zona extremo do estereótipo é o risco de enfeitiçamento: a mulher-política-bruxa que enverede pelo enfeitiçamento do povo que lhe caiu de turno no caldeirão acabará sempre por beber do próprio veneno. O homem aprecia ser levado que nem um patinho submisso mas geralmente os feitiços acabam por maçá-lo.
No outro lado desta festa encontra-se a mulher-santa (‘mummy side’). Esse cadinho mágico de bondade, compreensão, generosidade, carinho e maternalidade geralmente é trabalhado pela mulher com autêntica mestria. No entanto, certos autores estão convencidos de que esta outra borda da travessa temperamental apenas é experimentada pela mulher politica para aliviar de tempos a tempos da outra, por mero imperativo da deusa da sonsice e por algum receio que o excesso de sacanice lhe faça algum mal à pele. Feita esta ressalva teórica importa destacar a magnífica utilização que a mulher consegue fazer neste domínio com as técnicas da gestão de expectativas, ou seja, a mulher-política sabe com precisão cirúrgica que o homem há momentos em que entrega tudo com confiança ilimitada a uma mulher-mãezinha; e nesses momentos ela tem de estar lá a representar esse papel, e com todo o arsenal preparado: colinho, historinha de embalar e maminha tesa. Homem frustado é, as we all know, como pila em caldo gelado, guerreiro abandonado pelo ferreiro.
Não ficaria bem, no entanto, deixar este capítulo minguado duma nota final. A capacidade de translação da mulher em torno destes dois focos ‘mamã-cabra’ é uma gestão difícil e só funciona na perfeição com homens de inocência galáctica. É por isso que as mulheres-políticas são as mais indicadas para os povos de génios distraídos, ou de parvos.
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As anotações de um picheleiro dos afectos
Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas
Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas
2º capitulo - Joelho femea
Uma das questões cruciais para o sucesso da mulher-política é a organização e qualificação do seu assessoramento (*). A mulher quer-se assessorada em condições e para tal precisa de assessores competentes e dum local conveniente para se assessorar; como um bom assessoramento nunca é de mais, poderia mesmo dizer-se que para a mulher o assessuro morreu de velho, não fosse o caso de, geralmente, ela dar cabo dele antes.
Para o assessoramento da mulher-política o elemento essencial é o famoso ‘Gabinete de Estudos’. A escolha do local e da decoração do Gabinete de Estudos representam um momento chave na carreira de qualquer mulher-política.
A mulher empossada, antes de definir qualquer política que seja, deve, em primeiro lugar, escolher os cortinados do ‘gabinete de estudos’. O cortinado estará para a mulher-política como o chauffeur está para o homem: é um confidente leal, um cúmplice para os seus devaneios, e não poucas vezes o primeiro a abrir-lhe a porta para um mundo cruel, ingrato e impiedoso. Mas a mulher alcança aqui uma grande vantagem: consegue falar com o cortinado sem complexos, como de igual para igual se tratasse.
Escolhido o cortinado que lhe enquadre, resguarde e preserve o assessoramento, a mulher deve virar-se para o almofadado. Ora o almofadado do gabinete de estudos assume um papel determinante nos assessoramentos mais agressivos e impulsivos. O assessoramento de impulso ocorre geralmente em momentos de crise, quando são exigidas por vezes medidas mais radicais e de implementação rápida, e um bom almofadado é condição sine qua non para que assessor e assessorada não trilhem uma virilha num despacho, ou mesmo fiquem colados a uma napa jurídica de qualidade mais ruim.
A escolha dos assessores é igualmente um momento muito delicado na carreira de qualquer mulher que tenha enveredado pela política como alternativa aos Arraiolos. O assessor ideal deve ser maneirinho, certeiro no powerpoint, bons conhecimentos de línguas (por causa da ratificação de tratados internacionais), e – preferencial (**) – saber fazer trancinhas. Um assessor prendado pode ser um autêntico assessoiro.
A mulher bem assessorada apresenta assim índices de eficácia muito interessantes, e há autores que inclusivé defendem a mulher assessorada em detrimento do homem a fungar do nariz.
(*) Se atentarmos bem nas primeiras críticas a MFL pelo inefável Lino foi precisamente a de que estava «mal assessorada».
(**) Vidé ‘capítulo 1 – Tarraxa’
Para o assessoramento da mulher-política o elemento essencial é o famoso ‘Gabinete de Estudos’. A escolha do local e da decoração do Gabinete de Estudos representam um momento chave na carreira de qualquer mulher-política.
A mulher empossada, antes de definir qualquer política que seja, deve, em primeiro lugar, escolher os cortinados do ‘gabinete de estudos’. O cortinado estará para a mulher-política como o chauffeur está para o homem: é um confidente leal, um cúmplice para os seus devaneios, e não poucas vezes o primeiro a abrir-lhe a porta para um mundo cruel, ingrato e impiedoso. Mas a mulher alcança aqui uma grande vantagem: consegue falar com o cortinado sem complexos, como de igual para igual se tratasse.
Escolhido o cortinado que lhe enquadre, resguarde e preserve o assessoramento, a mulher deve virar-se para o almofadado. Ora o almofadado do gabinete de estudos assume um papel determinante nos assessoramentos mais agressivos e impulsivos. O assessoramento de impulso ocorre geralmente em momentos de crise, quando são exigidas por vezes medidas mais radicais e de implementação rápida, e um bom almofadado é condição sine qua non para que assessor e assessorada não trilhem uma virilha num despacho, ou mesmo fiquem colados a uma napa jurídica de qualidade mais ruim.
A escolha dos assessores é igualmente um momento muito delicado na carreira de qualquer mulher que tenha enveredado pela política como alternativa aos Arraiolos. O assessor ideal deve ser maneirinho, certeiro no powerpoint, bons conhecimentos de línguas (por causa da ratificação de tratados internacionais), e – preferencial (**) – saber fazer trancinhas. Um assessor prendado pode ser um autêntico assessoiro.
A mulher bem assessorada apresenta assim índices de eficácia muito interessantes, e há autores que inclusivé defendem a mulher assessorada em detrimento do homem a fungar do nariz.
(*) Se atentarmos bem nas primeiras críticas a MFL pelo inefável Lino foi precisamente a de que estava «mal assessorada».
(**) Vidé ‘capítulo 1 – Tarraxa’
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As anotações de um picheleiro dos afectos
Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas
Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas
1º capitulo - Tarraxa
A política é coisa para homens, à semelhança do berlinde e dos pêlos nas orelhas, mas certas mulheres com empenho, afã de colaborar, pouco jeito para o entrelaçamento de fibras naturais e algum cuidado com as articulações podem esporadicamente exercê-la com sucesso e até com algum benefício para a sociedade em geral e os cabeleireiros em particular.
O primeiro aspecto técnico que a mulher-política deve controlar obrigatoriamente é precisamente o penteado.
Aqui, a regra básica nº1 é: nunca armar nem soltar demasiado. A mulher de cabelo muito armado tem tendências despóticas e, já se sabe, mulher muito despotada acaba por se prejudicar. O cabelo com muita soltura também pode indicar problemas de continência, o que, para além de dar sinais duvidosos para as forças armadas, revelará um inconveniente deslumbramento hormonal, perdão, orçamental.
Consensualizados em torno do cabelo apanhado, seja num mais clássico carrapito ou numas mais arrojadas trancinhas, poderemos agora passar para a temática mais vistosa da coloração.
Transmito então a regra básica nº2: a cor do cabelo deve ser indefinida. Ou seja, a mulher-politica deverá evitar qualquer tonalidade muito expressiva, sob pena de ficar catalogada como aquela ‘puta-loira’, ou aquela ‘cabra-morena’, se não mesmo aquela ‘fufa-ruiva’; entre outros. Assim, seja à base do suave madeixamento, ou da utilização maciça de qualquer sucedâneo de robiallac para crinas, o cabelo da mulher deve aparentar aquela cor entre a merda de pombo e o ranho de sifilítico de forma a passar o mais despercebida possível por entre louçãs e vitalinos.
Se o estilo de apanhamento e a cor são os elementos estruturantes para a fixação ética do modelo de penteado-liderança da mulher-política, o corte é já, digamos, a marca do seu particular enfoque ideológico. A mulher revela-se, já de si, um ser muito dado a enfocar, como sabemos, daí que no corte, se por um lado deve evitar o formato de ‘comprido’, visto aumentarem as probabilidades de se entalar no tripé, também deve pôr de parte a hipótese ‘curtinho’, pois a reacção popular seria inevitavelmente «antes isso que um paneleiro (*)», o que deixaria a mulher com aquela desagradável sensação de mal menor, e refém de ideologias de compromisso. Ou seja, a regra básica nº 3 no que concerne ao corte de cabelo é: tamanho chaleira, nem chávena nem jarrão, champô nos feriados e na quaresma sabão.
Por fim a mulher-política deve tratar com cuidado os efeitos especiais. Aliás, a mulher geralmente é atraiçoada pelos efeitos especiais. Maquilhagens Fauvistas, Brincos Mondrianicos e Sapatos Giacometicos são exemplos recorrentes neste cerimonial de homicídio estético em grupo que a mulher pratica, como se fossem todas membros duma seita satânica da parolice, luxo a que a mulher-política não se pode dar, tanto mais que actualmente se valoriza bastante a separação entre religião e estado, a par da utilização de colheres de pau em plástico, claro.
(*) leia-se: homem que desenvolveu no exercício da sua liberdade individual uma opção sexual responsável que passa por equacionar levar no cu de outros homens que desenvolveram no exercício da sua liberdade individual…, adiante.
O primeiro aspecto técnico que a mulher-política deve controlar obrigatoriamente é precisamente o penteado.
Aqui, a regra básica nº1 é: nunca armar nem soltar demasiado. A mulher de cabelo muito armado tem tendências despóticas e, já se sabe, mulher muito despotada acaba por se prejudicar. O cabelo com muita soltura também pode indicar problemas de continência, o que, para além de dar sinais duvidosos para as forças armadas, revelará um inconveniente deslumbramento hormonal, perdão, orçamental.
Consensualizados em torno do cabelo apanhado, seja num mais clássico carrapito ou numas mais arrojadas trancinhas, poderemos agora passar para a temática mais vistosa da coloração.
Transmito então a regra básica nº2: a cor do cabelo deve ser indefinida. Ou seja, a mulher-politica deverá evitar qualquer tonalidade muito expressiva, sob pena de ficar catalogada como aquela ‘puta-loira’, ou aquela ‘cabra-morena’, se não mesmo aquela ‘fufa-ruiva’; entre outros. Assim, seja à base do suave madeixamento, ou da utilização maciça de qualquer sucedâneo de robiallac para crinas, o cabelo da mulher deve aparentar aquela cor entre a merda de pombo e o ranho de sifilítico de forma a passar o mais despercebida possível por entre louçãs e vitalinos.
Se o estilo de apanhamento e a cor são os elementos estruturantes para a fixação ética do modelo de penteado-liderança da mulher-política, o corte é já, digamos, a marca do seu particular enfoque ideológico. A mulher revela-se, já de si, um ser muito dado a enfocar, como sabemos, daí que no corte, se por um lado deve evitar o formato de ‘comprido’, visto aumentarem as probabilidades de se entalar no tripé, também deve pôr de parte a hipótese ‘curtinho’, pois a reacção popular seria inevitavelmente «antes isso que um paneleiro (*)», o que deixaria a mulher com aquela desagradável sensação de mal menor, e refém de ideologias de compromisso. Ou seja, a regra básica nº 3 no que concerne ao corte de cabelo é: tamanho chaleira, nem chávena nem jarrão, champô nos feriados e na quaresma sabão.
Por fim a mulher-política deve tratar com cuidado os efeitos especiais. Aliás, a mulher geralmente é atraiçoada pelos efeitos especiais. Maquilhagens Fauvistas, Brincos Mondrianicos e Sapatos Giacometicos são exemplos recorrentes neste cerimonial de homicídio estético em grupo que a mulher pratica, como se fossem todas membros duma seita satânica da parolice, luxo a que a mulher-política não se pode dar, tanto mais que actualmente se valoriza bastante a separação entre religião e estado, a par da utilização de colheres de pau em plástico, claro.
(*) leia-se: homem que desenvolveu no exercício da sua liberdade individual uma opção sexual responsável que passa por equacionar levar no cu de outros homens que desenvolveram no exercício da sua liberdade individual…, adiante.
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As anotações de um picheleiro dos afectos
Caderno 1 - Tratado de educação sentimental para homens bons
Caderno 1 - Tratado de educação sentimental para homens bons
7º capitulo - Girândola de foguetes & salva de morteiros
Existe também a questão fóbica. A mulher tem receio que o amor lhe estrague a pele, o homem tem receio que o amor lhe estrague a carteira. Por isso a mulher é epidermicamente esquiva e o homem trabalha por investidas que preservem o valor residual.
O não feminino é diplomático e vem sempre acompanhado de muito creme hidratante, o não masculino é bruto como uma saída de bolsa em pleno crash.
Sendo o espécime feminino um falso passivo e um estratega simulado serve-se do amor-sentimento como o defesa preguiçoso se serve da regra do fora de jogo: dá um passo em frente para deixar o homem com cara de parvo a olhar para a bandeirola. O homem de tendência bondosa, como o são quase todos, é um eterno atacante a tentar iludir o fora de jogo, e é incapaz de assumir que pouco mais capacidade tem do que jogar pelas laterais como um galgo atrás duma lebre de cartão.
A única verdadeira arma que o homem tem para enfrentar a mulher é o choro. Muita mulher se tornou escrava sexual apenas para não ver o seu homem mendigar amor em lágrimas. Poucos homens bons, de tão bonzinhos que são, têm esta noção, e, por isso, é uma raridade encontrar uma escrava sexual bem trabalhada pelo macho-carente. Quando o homem, num assomo de inteligência, consegue ultrapassar a barreira do choro – mesmo que austeramente regado – chegam a assistir-se a declarações pungentes em reduzida roupa interior e, inclusivamente, há registos, algumas sinceras palavras de arrependimento feminino – sentimento de natureza arqueológica, como sabemos.
Mas o que importa aqui reter é isto: a chantagem emocional é o último tesouro escondido da masculinidade.
Desafortunadamente para o homem o grande troféu da mulher é um macho ligeiramente insatisfeito. Socialmente, um homem feliz é um cabrão, ou um trouxa.
O não feminino é diplomático e vem sempre acompanhado de muito creme hidratante, o não masculino é bruto como uma saída de bolsa em pleno crash.
Sendo o espécime feminino um falso passivo e um estratega simulado serve-se do amor-sentimento como o defesa preguiçoso se serve da regra do fora de jogo: dá um passo em frente para deixar o homem com cara de parvo a olhar para a bandeirola. O homem de tendência bondosa, como o são quase todos, é um eterno atacante a tentar iludir o fora de jogo, e é incapaz de assumir que pouco mais capacidade tem do que jogar pelas laterais como um galgo atrás duma lebre de cartão.
A única verdadeira arma que o homem tem para enfrentar a mulher é o choro. Muita mulher se tornou escrava sexual apenas para não ver o seu homem mendigar amor em lágrimas. Poucos homens bons, de tão bonzinhos que são, têm esta noção, e, por isso, é uma raridade encontrar uma escrava sexual bem trabalhada pelo macho-carente. Quando o homem, num assomo de inteligência, consegue ultrapassar a barreira do choro – mesmo que austeramente regado – chegam a assistir-se a declarações pungentes em reduzida roupa interior e, inclusivamente, há registos, algumas sinceras palavras de arrependimento feminino – sentimento de natureza arqueológica, como sabemos.
Mas o que importa aqui reter é isto: a chantagem emocional é o último tesouro escondido da masculinidade.
Desafortunadamente para o homem o grande troféu da mulher é um macho ligeiramente insatisfeito. Socialmente, um homem feliz é um cabrão, ou um trouxa.
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As anotações de um picheleiro dos afectos
Caderno 1 - Tratado de educação sentimental para homens bons
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6º capitulo - Vulcão de estrelas
A noção pós romântica de que o homem é um ser geneticamente impreparado às mãos do ser hormonalmente superior que é a mulher faz ciclicamente algum sucesso estético, no entanto, este pequeno compêndio em capítulos não pretende abusar de nenhum efeito de miserabilismo lírico.
Para a mulher, o sentimento-amor vem programado como sendo um resíduo tóxico, algo como o subproduto duma parafilia que o espécime masculino não conseguiu estripar da sua cadeia artesanal de sentimentos avulsos. Ciente deste defeito de fabrico do homo sapiens, - versão com pendentes na zona púbica - a mulher fez, desde há muito, correr a ideia generalizada de que está sempre em suspenso duma grande paixão que a apazigúe que nem uma canção do José Pedro Pais, dando, por isso, azo a que o homem desenvolva aquela lúbrica convicção de que se pode constituir no objecto essencial para a mulher alcançar tal desiderato e, de brinde, ainda brincariam às enfermeiras.
Ora que a paixão se apresente como constituinte essencial na vida da mulher, concedo como hipótese de trabalho, mas nenhum sinal evidencia que seja pelo homem. O homem é uma alavanca afectiva da mulher. Segurança, conforto, animal de companhia, espelho amestrado, fecundador asseado. O macho-homem é para a fêmea-mulher o ser logístico por excelência, e o afecto-amoroso um puro amplificador de entropia.
Fica uma questão pertinente no ar: como é que o homem ao longo dos séculos não aprende? Atentemos que o homem até aprendeu a tirar pura merda do rabo dos filhos; em situações limites, entenda-se. A explicação é esta: a mulher desgasta-se na produção da renda, mas o homem resolve despachar a coisa logo com o bibelot. Um bibelot é uma coisa que se pode adorar, uma renda é algo pensado para se construir. A mulher pensa que constrói o homem, o homem pensa que a mulher o decora. O amor-sentimento é um mero joguete nesta equação interminável.
Para a mulher, o sentimento-amor vem programado como sendo um resíduo tóxico, algo como o subproduto duma parafilia que o espécime masculino não conseguiu estripar da sua cadeia artesanal de sentimentos avulsos. Ciente deste defeito de fabrico do homo sapiens, - versão com pendentes na zona púbica - a mulher fez, desde há muito, correr a ideia generalizada de que está sempre em suspenso duma grande paixão que a apazigúe que nem uma canção do José Pedro Pais, dando, por isso, azo a que o homem desenvolva aquela lúbrica convicção de que se pode constituir no objecto essencial para a mulher alcançar tal desiderato e, de brinde, ainda brincariam às enfermeiras.
Ora que a paixão se apresente como constituinte essencial na vida da mulher, concedo como hipótese de trabalho, mas nenhum sinal evidencia que seja pelo homem. O homem é uma alavanca afectiva da mulher. Segurança, conforto, animal de companhia, espelho amestrado, fecundador asseado. O macho-homem é para a fêmea-mulher o ser logístico por excelência, e o afecto-amoroso um puro amplificador de entropia.
Fica uma questão pertinente no ar: como é que o homem ao longo dos séculos não aprende? Atentemos que o homem até aprendeu a tirar pura merda do rabo dos filhos; em situações limites, entenda-se. A explicação é esta: a mulher desgasta-se na produção da renda, mas o homem resolve despachar a coisa logo com o bibelot. Um bibelot é uma coisa que se pode adorar, uma renda é algo pensado para se construir. A mulher pensa que constrói o homem, o homem pensa que a mulher o decora. O amor-sentimento é um mero joguete nesta equação interminável.
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As anotações de um picheleiro dos afectos
Caderno 1 - Tratado de educação sentimental para homens bons
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5º capitulo - Cauda-de-pavão
Este pequeno estudo não podia deixar de elaborar sobre uma das situações mais trágicas do jogo amoroso. Ora a mulher, tendo também alguns traços humanos, esporádica, mas muito raramente, é acometida de momentos de fragilidade e fraqueza que a levam a iniciativas de pendor sincero e carinhoso para com o seu parceiro afectivo. A riqueza científica destes momentos está precisamente no tipo de reacção do homem e não tanto no tipo de carinho desenvolvido pela fêmea em estado de quebra psicológica passageira (não passam, contudo, daquelas absurdas festinhas no ombro, e um ou outro toque de raspão nas patilhas do homem – única razão para a sua existência, registe-se).
Por não pretender ser exaustivo vou apenas tratar dos dois principais tipos de reacção: a ‘reacção de espanto e terror’ e a ‘reacção de inchaço de peito’.
A ‘reacção de espanto e terror’ é a que ocorre com mais frequência na fase de maturidade afectiva do homem. A este, perfeitamente consciente da baixíssima probabilidade de ocorrência do fenómeno-carinho-sincero na mulher em situações de pressão e temperatura normais, a primeira explicação que lhe atravessa a sua sofisticada mente masculina é: «ela está doentinha». Efectivamente um homem fica adverbialmente marado se suspeita de qualquer maleita na fêmea que o destino pós diluviano lhe concedeu, e as reacções são quase sempre cruéis e imprevisíveis, desde a erupção cutânea, até às (vou-me arrepiar novamente) séries consecutivas de beijinhos-botão-de-rosa em zonas carnudas, passando pelos clássicos «queres que te prepare alguma coisinha, querida?» ditos com a meridiana do rosto a inclinar progressivamente para os trágicos 45 graus.
No entanto, é no segundo grupo de reacções – as de ‘inchaço de peito’ – que se encontram as verdadeiras epifanias do canónico ridículo masculino, que eu sintetizaria: ele julga-se ser adorado que nem um cruzamento de Buda com Van Damme. Geralmente o homem assume uma postura empertigada mas semi-negligente, simulando o distanciamento e a nobreza duma estátua num quartel de cavalaria, e querendo fazer crer a todo o mundo - que o olha nesse momento, obviamente - uma autoconfiança só ao alcance dum torpedeiro rodeado por traineiras. No fundo, trata-se de um homem a ser adorado em concreto por uma mulher, com as manifestações físicas que elas costumam ter nas sapatarias, ou, no caso das mais religiosas, com as imagens do Senhor dos Passos. O homem-inchado-por-indução-de-movimento-afectivo-sincero da mulher pode assim considerar-se como um património antropológico e deve ser bem preservado.
Não gostaria de terminar este capitulo sem frisar que esse sub-produto da relação afectiva-amorosa que é o sentimento feminino, é ainda um fenómeno pouco estudado, mas alguns autores inclinam-se para resquícios duma mutação que ficou incompleta durante o Grande Degelo, em que uma mulher não conseguiu terminar com sucesso a sua transmutação genética para bloco de gelo com pernas.
Por não pretender ser exaustivo vou apenas tratar dos dois principais tipos de reacção: a ‘reacção de espanto e terror’ e a ‘reacção de inchaço de peito’.
A ‘reacção de espanto e terror’ é a que ocorre com mais frequência na fase de maturidade afectiva do homem. A este, perfeitamente consciente da baixíssima probabilidade de ocorrência do fenómeno-carinho-sincero na mulher em situações de pressão e temperatura normais, a primeira explicação que lhe atravessa a sua sofisticada mente masculina é: «ela está doentinha». Efectivamente um homem fica adverbialmente marado se suspeita de qualquer maleita na fêmea que o destino pós diluviano lhe concedeu, e as reacções são quase sempre cruéis e imprevisíveis, desde a erupção cutânea, até às (vou-me arrepiar novamente) séries consecutivas de beijinhos-botão-de-rosa em zonas carnudas, passando pelos clássicos «queres que te prepare alguma coisinha, querida?» ditos com a meridiana do rosto a inclinar progressivamente para os trágicos 45 graus.
No entanto, é no segundo grupo de reacções – as de ‘inchaço de peito’ – que se encontram as verdadeiras epifanias do canónico ridículo masculino, que eu sintetizaria: ele julga-se ser adorado que nem um cruzamento de Buda com Van Damme. Geralmente o homem assume uma postura empertigada mas semi-negligente, simulando o distanciamento e a nobreza duma estátua num quartel de cavalaria, e querendo fazer crer a todo o mundo - que o olha nesse momento, obviamente - uma autoconfiança só ao alcance dum torpedeiro rodeado por traineiras. No fundo, trata-se de um homem a ser adorado em concreto por uma mulher, com as manifestações físicas que elas costumam ter nas sapatarias, ou, no caso das mais religiosas, com as imagens do Senhor dos Passos. O homem-inchado-por-indução-de-movimento-afectivo-sincero da mulher pode assim considerar-se como um património antropológico e deve ser bem preservado.
Não gostaria de terminar este capitulo sem frisar que esse sub-produto da relação afectiva-amorosa que é o sentimento feminino, é ainda um fenómeno pouco estudado, mas alguns autores inclinam-se para resquícios duma mutação que ficou incompleta durante o Grande Degelo, em que uma mulher não conseguiu terminar com sucesso a sua transmutação genética para bloco de gelo com pernas.
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As anotações de um picheleiro dos afectos
Caderno 1 - Tratado de educação sentimental para homens bons
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4º capitulo - Candela romana
Depois do último desvio epistemológico pelas veredas do ciúme e da posse, regresso para tratar dum problema estrutural da relação sentimental-amorosa: a maturidade afectiva do homem bom. Trata-se dum típico ‘conceito-atlântida’, ou seja, fala-se muito dela mas parece que não existe. Afectivamente o homem de boa índole é eternamente um aprendiz amoroso, mas é apenas a mulher que tem essa plena consciência desde o primeiro momento. O homem, bem flatulado na sua ignorância, cinco segundos depois de receber o primeiro beijo de volta sente-se mais poderoso do que um general de Alexandre; contudo, a mulher, detentora dos meios de exploração sentimental, se numa primeira fase o deixa alimentar essa ilusão, posteriormente aplica em doses rigorosas a receita da austeridade quando ele menos espera; fá-lo assim compreender, pela via abstémica, que o amor de uma mulher é um bem muito escasso e volátil, mas que o capricho é superabundante, pelo que o homem vai construindo a imagem da mulher-como-fatalidade.
A maturidade sentimental masculina é assim construída num ambiente adverso, misturando fluidos, palavras e olhares, sem os entender nem em separado quanto mais por junto, como se fosse um canarinho a construir o ninho com os raminhos a serem fornecidos pelo gato.
A mulher-fatalidade tornou-se então o verdadeiro objecto do desejo do homem bom e maduro. No entanto, quando seria de esperar um comportamento condizente da sua parte, relativizando e enquadrando as reacções da fêmea-fatal, pagando apenas o que tinha de pagar, é quando, inesperadamente, o homem começa a canalizar na mulher as suas ansiedades de natureza mais metasensual, tornando-a mulher-confidente. No fundo, ele que já lhe tinha dado o coração e depois a pila (a ordem é arbitrária), agora deixa que ela faça um escabeche com aquilo tudo.
É por isso que se associa também esta fase de suposta maturidade ao conceito clássico de homem-banana, que chega a publicamente assumir que foi uma bênção esta grande mulher que sempre o acompanhou nos momentos difíceis, e lhe espremeu borbulhas nas costas, que inclusivamente podiam ter infectado. Ou seja, o homem já percebeu no buraco onde se meteu mas agora tem de transmitir para o exterior que foi tudo planeado. É esta a sua verdadeira maturidade-afectiva.
A maturidade sentimental masculina é assim construída num ambiente adverso, misturando fluidos, palavras e olhares, sem os entender nem em separado quanto mais por junto, como se fosse um canarinho a construir o ninho com os raminhos a serem fornecidos pelo gato.
A mulher-fatalidade tornou-se então o verdadeiro objecto do desejo do homem bom e maduro. No entanto, quando seria de esperar um comportamento condizente da sua parte, relativizando e enquadrando as reacções da fêmea-fatal, pagando apenas o que tinha de pagar, é quando, inesperadamente, o homem começa a canalizar na mulher as suas ansiedades de natureza mais metasensual, tornando-a mulher-confidente. No fundo, ele que já lhe tinha dado o coração e depois a pila (a ordem é arbitrária), agora deixa que ela faça um escabeche com aquilo tudo.
É por isso que se associa também esta fase de suposta maturidade ao conceito clássico de homem-banana, que chega a publicamente assumir que foi uma bênção esta grande mulher que sempre o acompanhou nos momentos difíceis, e lhe espremeu borbulhas nas costas, que inclusivamente podiam ter infectado. Ou seja, o homem já percebeu no buraco onde se meteu mas agora tem de transmitir para o exterior que foi tudo planeado. É esta a sua verdadeira maturidade-afectiva.
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