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every thing that grows

When I consider every thing that grows
Holds in perfection but a little moment,
That this huge stage presenteth nought but shows
Whereon the stars in secret influence comment;
When I perceive that men as plants increase,
Cheered and checked even by the self-same sky,
Vaunt in their youthful sap, at height decrease,
And wear their brave state out of memory;
Then the conceit of this inconstant stay
Sets you most rich in youth before my sight,
Where wasteful Time debateth with decay
To change your day of youth to sullied night,
And all in war with Time for love of you,
As he takes from you, I engraft you new.

William Shakespeare, Sonnet XV
Luna Park (hors serie 1/9)

« a maior virtude é a necessidade» , Shakespeare, 'Ricardo II'



010707
Luna Park

«Porque tal como o sol é novo e antigo,/ Assim de meu amor o dito digo.»

Shakespeare, Sonetos, trad VGM, nº76

*

[…] sei que o amor é começado pelo tempo / E porque vejo, em factos experimentados, / Que o tempo extingue o seu brilho e o seu fogo. / Dentro da própria chama do amor vive / Uma espécie de torcida ou morrão que há-de apagar o amor. / E nenhuma coisa mantém seu primeiro esplendor, / Pois o esplendor crescendo até sua plenitude / Morre do próprio excesso, o que queremos fazer / Temos de o fazer enquanto queremos; pois o «querer» muda, / E tem abatimentos e demoras tão numerosas / Como o são as línguas, as mãos, os acidentes. / Então o «querer» é como o suspiro de um pródigo, / Que magoa aliviando.

Shakespeare, Hamlet, IV.7
smsantologia
(ou da abdução)

«Só estou louco quando o vento vem de norte-noroeste. Com vento sul, distingo entre o falcão e a garça.»
Shakespeare, ‘Hamlet’ II.2
Quaresma VI

Do tempo em que os gajos não perdiam tempo a arrastar-se pelas livrarias (*)…

DON JUAN (apercevant Charlotte) – Ah! Ah! D’où sort cette autre paysanne, Sganarelle? As-tu rien vu de plus joli ? (…) D’où me vient, la belle, une rencontre si agréable ? Quoi ? dans ces lieux champêtres, parmi ces arbres et ces rochers, on trouve des personnes faites comme vous êtes ?
CHARLOTTE - Vous voyez, Monsieur.
(…)
DON JUAN – Vous vous appelez ?
CHARLOTTE – Charlotte, pour vous servir.
DON JUAN – Ah ! la belle personne, et que ses yeux son pénétrants !
CHARLOTTE – Monsieur, vous me rendez toute honteuse.
DON JUAN – Ah ! n’ayez point de honte d’entendre dire vérités. (…) Tournez-vous un peu, s’il vous plaît. Ah ! que cette taille est jolie ! Haussez un peu la tête, de grâce. Ah ! que ce visage est mignon! Ouvrez vos yeux entièrement. Ah! Qu’ils sont beaux! (…) Pour moi, je suis ravi, et je n’ai jamais vu une si charmante personne..
(eu aqui acho que fazia melhor)
CHARLOTTE – Monsieur, cela vous plaît à dire, et je ne sais pas si c’est pour railler de moi.
DON JUAN – Moi, me railler de vous ? Dieu m’en garde ! Je vous aime trop pour cela, et c’est du fond di cœur que je vous parle.
CHARLOTTE – Je vous suis bien obligée, si ça est.
DON JUAN – Point du tout ; vous ne m’êtes point obligée de tout ce que je dis, et ce n’est qu’à votre beauté que vous en êtes redevable.
CHARLOTTE – Monsieur, tout ça est trop bien dit pour moi, et je n’ai pas d’esprit pour vous répondre.
( isto é deficit de contraditório, claramente)
DON JUAN – Sganarelle, regarde un peu ses mains.
CHARLOTTE – Fi ! Monsieur, elles sont noires comme je ne sais quoi.
DON JUAN – Ha ! que dites-vous là ? Elles sont les plus belles du monde ; souffrez que je les baise, je vous prie.
(aqui acho que ele esteve bem, nada como um superlativo relativo)
CHARLOTTE – Monsieur, c’est trop d’honneur que vous me faites, et si j’avais se ça tantôt , je n’aurais pas manqué de les laver avec du son.
DON JUAN – Et dites-moi un peu, belle Charlotte, vous n’êtes pas mariés sans doutes ?
CHARLOTTE – Non, Monsieur ; mais je dois bientôt l’être avec Piarrot, le fils de la voisine Simonette.
DON JUAN – Quoi ? une personne vous serait la femme d’un simple paysan ? Non, non c’est profaner tant de beautés. (…) car enfin, belle Charlotte, je vous aime de tout mon cœur (…) c’est un effet, Charlotte, de votre grande beauté, et l’on vous aime autant en au quart d’heure qu’on ferait une autre en six mois.
(parece-me bem esgalhado, mas arriscado)
CHARLOTTE- Aussi vrai, Monsieur, je ne sais comment faire quand vous parlez. Ce que vous dites me fait aise, et j’aurais toutes les envies du monde de vous croire ; mais on m’a toujours dit qu’il ne faut jamais croire les Monsieux, et que vous autres courtisans êtes des enjôleus, qui ne songez qu’à abuser les filles.
(isto é no que dá ir atrás de quem lê muitos livros)

… escrito por Molière em ‘Don Juan’ ( ed Librio, pgs 34/36), e quando também ainda não havia cowboys, nem as mulheres vestiam Versace para realçar as formas, e o mais parecido que havia com a Paula Rego eram as partes de trás dos quadros do Caravaggio. Mas por essa altura Shakespeare escrevia:
‘For as the sun is daily new and old
So is my love still telling what is told»


(*) felizmente é Quaresma e eu não posso dissertar sobre este empolgante tema
Moon again
(e conforme prometido)

Hamlet -
Em verdade, ser grande
Não é agitar-se sem argumento válido,
Mas encontrar com grandeza motivo de querela numa palha
Quando a honra está em jogo
(…)
Ah que doravante meus pensamentos
Sejam feitos de nada ou sejam sangrentos

Pag 183, da ed. bilingue da Lello, com tradução da Sophia de M.B.
Yoga para ‘românticos de coração mole’: primeiro shake e depois espeare

«Rainha – Hamlet, tu quebraste em dois o meu coração.
Hamlet – Oh, atira fora a pior parte
E vive mais pura com a outra metade»

Estive indeciso entre isto e uma passagem do novo livro da Clara Pinto Correia que comecei a ler e que na pag 15 escreve isto: «Ai, foda-se. Estou lixada com este gajo»

Mas eu prometo que voltarei ao Camões.
The human side of Man
Desenjoando do empolgante tema dos têxteis chineses

Introdução
Descobrir o lado animal do homem é tarefa fácil para qualquer engenheiro de som (género psicólogo enxertado em esventrador de minhocas), descobrir o seu lado transcendental está ao alcance de qualquer arquitecto paisagístico (tipo mistura de antropólogo com depilador de malmequeres) mas agora para descobrir o lado humano do homem nem sempre basta ter uma profissão decente (género canalizador ou montador de cozinhas italianas), mesmo que leve de vez em quando uns valentes cagaços epistemológicos.

Nota técnica
Boris Vian no prólogo da 'Espuma dos dias' diz qualquer coisa como no mundo só existem duas coisas: o amor de todas as maneiras, com mulheres bonitas, e a música de Duke Ellington. O resto é feio.
Ora o ‘amor’ e a ‘arte’ aparecem há muito tempo a dar uma mão quando queremos pôr uma cara lavadinha à nossa condição; a malta agradece o jeito e hoje até me deu para lhes retribuir. Somos uma espécie perdida, mas temos direito à nossa boa imagem e ao nosso bom nome. Eternamente transitando em julgado, óbvio.

Capitulo um, ou também chamado primeiro – We all are a love story
Nós, já se sabe, sentimo-nos algures entre o orangotango (mas já mais afastados da alforreca, nos melhores dias) e o Anjo Gabriel (mas ainda assim afastados de Pan mesmo que vestido pelas melhores casas) mas temos de conviver com um universo de definições que aguenta desde as sangrias do fornicador de viúvas Rabelaisiano, até ao 'vai ver se eu estou lá fora' Beckettiano, para já não falar do que vai na cabeça daqueles tipos como eu que até rezam terços de joelhos. E se Shakespeare soubesse realmente alguma coisa sobre a alma humana, o príncipe da dinamarca não teria dito à filha de Polónio ' that's a fair thought to lie between maid's legs ' (só que em português isto soa um bocado pornográfico a mais, e agora até já enjoa de blogs com gajas a mostrar as mamas a três quartos) continuando depois a falar de traições e paneleirices afins.
Ora o ‘amor’ convive nesta miscelânea conceptual como o raspador de ganga, ou seja, aquilo que no final vai tornar-nos uma espécie apresentável, griffada, de aspecto pré lavado e sem termos a cintura demasiado descaída quando nos apresentarmos no grande tribunal das espécies. E a frase : ‘eu cá uma vez apalpei uma miúda calculando que um dia a poderia amar’, derramará certamente lágrimas de ternura a qualquer criador que se preze, e Noé hoje escolheria invariavelmente um par de manjericos apaixonados para representar o nosso genoma na arca.

Capitulo dois, ou também chamado segundo– We all are half collage and half installation
Geralmente só nos realizamos com profissões inúteis, tipo historiador de arte ou engenheiro electrotécnico, actividades no fundo relacionadas com coisas que mais tarde ou mais cedo viremos a descobrir que não existem, tal como a beleza e a electricidade. No entanto, a história da nossa espécie passa pela compreensão progressiva, de inspiração kantiana, ( o gajo disse isto com toda a certeza) que a matéria fluida é mais antiga que a matéria sólida, e por isso a imaterialidade e a confusão são desígnios da nossa condição. O secreto desejo que todos temos de que o mundo afinal não passe dum grande frigorífico no frost decorado com penduricalhos do A. Calder leva-me a pensar que se não fosse a inutilidade nada faria sentido. E quando Nietzche dizia que o homem não é o artista mas sim a obra de arte, o mármore mais precioso, a conclusão que podemos tirar é que mesmo estando com uma grande pedra ainda haverá alguém a cuidar de nós, juntando os cacos e ligando-nos outra vez à corrente para podermos continuar a mexer as perninhas.
Nota final
Para descobrir o lado humano do homem basta olhá-lo de frente, cortando a espuma aos dias, e emborcando rápido para ficarmos só com o sabor apaixonado do final. É esta a arte, ‘and I should fall from grace with god’ como diriam the Pogues.