Dedicado a todos os abençoados que não sabem fazer rigorosamente nada. E dedicado ainda aos que se consomem em ser úteis e produtivos. E mais dedicado ainda aos que pensam que isto é uma perca de tempo. E ainda mais dedicado aos que não sabem perder tempo, e se dedicam a prescrever o tempo dos outros. O novo dicionário não ilustrado enternece-se com aqueles que se martirizam porque não têm tempo, e avisa-os de que não vale a pena fazerem-no de cabeça para baixo porque o S.Pedro também já se lembrou disso. As terapias alternativas nas entradas 667 a 681.





Política – Nobre actividade, que em Portugal surge prejudicada porque, ao sê-lo, fica associada a uma marca de presunto



Amor ao próximo – Boa oportunidade para quem não quer desperdiçar nenhum pobre dos que tenha mais à mão



Dar porrada – Quando a mente despede o corpo, e este reivindica a indemnização mais justa, em vez de se contentar com uma reforma antecipada.



Meditação – A suspensão da mente é uma sábia alternativa para quem tem pesos na consciência, mas não sei se recomendável a “ testas de ferro”. É que a transcendência é magnética.



Desporto – Fazer do espalhafato do corpo a passerelle da alma. Só que os apitos d’oiro atrapalham tanto como os saltos altos, e infelizmente nem sequer dão boa serventia a prender o cabelo.



Ter princípios – Desconsolada alternativa para quem não consegue ter finalidades



Sexo – Quando há libido no cais, o melhor é apanhar mesmo o cacilheiro, antes que chegue o lodo (e estrague o berbigão).



Justiça – Quando as mãos estão a descansar da manicura, uma boa opção é esfregá-las na culpa alheia para que as peles amoleçam e não se voltem a soltar sangrando



Droga – Química ocupacional. Mas acabamos provetas.



Música – Os sons apresentados em forma de sonsice (depois do fim-de-semana já se sabe que o trocadilho é inevitável)



Dar conselhos – Aliviar a alma sacudindo para o penico do alheio. Só que, quem tem medo de o fazer, é porque está encolhido, e agarradinho ao amor-próprio disfarçado de respeito pelos outros.



Literatura – Sofisticado cruzadismo de aspirações expressionistas e recalcamentos impressionistas, que alimenta fornecedores de dicionários de sinónimos. E também acaba por ajudar as tipografias nos intervalos das promoções dos supermercados



Ter opiniões – Maravilha da nossa condição só superada pela cárie dentária. Quem não se trata a tempo, acaba a trincar de postiço.



Arte Plásticas – No fundo é a actividade recomendada pelas principais marcas de máquinas. Basta não ter grande tendência para estar sempre a pôr a mão no nariz... ou será que já alguém também se lembrou de usar os burri.....blaargh!



Fazer piões – Quando não logramos convencer ninguém ao simplesmente andar serenos e em frente, resta-nos agarrar no travão de mão fornecido pela fábrica das aparências, e fingir que o bloqueio do diferencial da mente é uma opção de série, e o bloqueio da roda dos sentimentos um extra em promoção.

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