Agora está na moda dizer que não se pode mandar dinheiro para cima dos problemas. Que isso não os resolve, blá blá blá blá. E eu também vou nessa: mandar dinheiro para cima dos problemas dos outros, raramente resolve os meus. Opções mais variadas no Dicionário não ilustrado. (entradas 715 a 724)



Pôr um problema maior em cima – É a técnica do edredon. Só é preciso controlarmos as costuras para evitar acabar a cuspir as penas. O problemazito que ficou por baixo até pode aproveitar para fazer das suas sem ninguém ver.



Buscar a bênção da impossibilidade – Na dificuldade burocrática em que ele seja perfilhado pela incerteza, teremos sempre a alternativa de o internar no orfanato das terras do impossível. Uma escola de vida como sabemos.



Oração – A intervenção divina substitui bem os paninhos quentes, e muitas vezes é preferível recostarmo-nos no seio acolhedor da divindade, em vez de ser amamentados pela teta da dúvida. Só os mais hábeis não se engasgam naquelas posições esquisitas.E vendo bem, de joelhitos e mãos juntas acaba por nem ser muito mau.



Arranjar Culpados – Técnica básica de efeito garantido. Produz uma espécie de congelamento da realidade, e muitas vezes anula a pestilência, sem se ter de gastar muito dinheiro em Haze.



Messias & D. Sebastião – Espécie de formol em que se podem embeber, e passado uns tempos até emborcar ao jeito de aguardente velha, mas na condição de fazer uma ligeira careta no fim. O hálito fresco é opcional, mas vende muito bem nos arrotos parlamentários.



Inserir no processo histórico – Tem de se ir dando um certo uso a Marx, para ver se ainda recuperamos algum do que se andou a investir nele durante tantos anos.



Dar-lhe um enquadramento – Nada melhor que uma moldura em talha dourada para disfarçar uma fétida imitação da realidade, com erros de tonalidade vendidos como expressionismo inovador. Dizer que a riqueza do detalhe lembra um flamengo desconhecido do sec XV, dá igualmente ao problema aquela noção de perspectiva original, mesmo antes dos Masaccio de turno aparecerem a fazer contas de cabeça.



Mostrar todas as suas faces – A tridimensionalidade é a salvação para qualquer problema mais chato. E depois ainda há o caleidoscópio que entretém a vista, e o cubismo que a enobrece à borla.



Dar-lhe companhia – Amancebar um problema com outro será sempre criar uma união de facto com fortes possibilidades de sucesso. É que um problema que passe a vida a esfregar-se sozinho, acabará por ganhar o hábito de crescer, à primeira visão duma solução de formas arredondadas e bem feitinhas.



Dar-lhe um nome pomposo – Desde que se descobriu que o mal é inominável, é preciso ter sempre um catálogo de designações de aspecto científico para catalogar cada problema. Até as pulgas têm direito a que pelo menos um dia as chamem de pulicídeo.

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