( Da dívida. Quando se recebe um tesouro fica-se com a alma num cadinho, amarfanhada com alegrias e com aflições. Mas fica-se o dono da gruta. O senhor da senha. O mestre das cerimónias. O que olha para os Ali bábás e pensa: não apanham nada daqui porque «nasci com as palavras dentro de mim». Um tesouro pode ser «agreste ou cruel», mas nunca será «indiferente», irá sempre «apaziguar ou ferir». Apetece-me agora ficar um eterno amanuense. Eternamente refém duma cópia, mas vivendo na «doçura» de um sequestro, de mão dada com a «serenidade fria» da sentinela que «olhava o quotidiano», e o quotidiano era eu. Mas quem guarda um tesouro também fica preso na «ingenuidade perversa» da permanente adoração, no «hermetismo» dum deslumbramento, sufocando «o acto vital que é respirar» no vento fresco. Pois é, mas eu recebi um tesouro por estes dias. Viverei assim num suave embasbaque, encurvado, tapando os reluzentes «prazeres» que assim reflectirão só para mim, e beijando as «mágoas» que alguns raios acabem por trazer. E se for preciso até brincarei com «os fantasmas sem memória», pois nenhum «insidioso veneno» me «amputará a liberdade» de conviver com as «ideias e as palavras» que esse tesouro «tem dentro». Que nunca me faltes pulmão de ouro, com as tuas palavras de afiado marfim. Só assim respirarei o tesouro, e ele me derreterá o seu elixir. )
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