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Conversa à terça

A situação trágica grega é: o que deve ser será. Daqui o maravilhoso dos deuses, que fazem acontecer o que desejam; daqui, as normas mágicas, os tabus ou os destinos, que devem ser cumpridos; daqui, a catarse final, que é a aceitação do deve ser. (...)
O poético dos gregos é que esses destinos, tabus, normas, parecem arbitrários, inventados, mágicos. Talvez simbólicos.

Cesare Pavese in Ofício de Viver (trad. de Alfredo Amorim, entrada de 26 de Setembro de 1942)

bónus:

Estás só. Ter uma mulher que fala contigo não é nada. A única coisa que conta é o abraço dos corpos. Porquê, porque é que não o tens?
«Nunca o terás». Tudo se paga.

idem, entrada de 8 de Fevereiro de 1946
Luna Park

“A profissão de entusiasta é a mais nauseante das insinceridades.”

Cesare Pavese, in “O Ofício de Viver”, 9 de Fevereiro de 1940
Vai uma saladinha de frutas prá mesa do fundo
Literatura mal comparada

Para princípo de conversa
«Aquilo que pode fazer de ti um homem de bem existe dentro de ti» Séneca, ‘Cartas a Lucílio’ ( 80-4)
Tem dias,

mas...
«Les hommes ne vivent pas en eux, mais en autre chose» E.M. Cioran, ‘Le crépuscule des pensées’ ( cap. VIII)
Entendam-se porra,

porque senão até me vai custar dar razão a este gajo
«...it does not matter (…) how often humanity fails to imitate its ideal; for them all its old failures are fruitful. But it does frightfully matter how often humanity changes its ideal; for then all its old failures are fruitless» Cherterton, ‘Orthodoxy’, cap. ‘The eternal revolution’;

mas a conclusão será sempre de
Pavese: «em matéria de amores só toleramos os nossos» no livro do costume.

Haverá quem ponha mão nisto?
Voltemos pois à queda da folha

Hoje em estilo de literatura comparada, até porque isto é uma casa séria



Quando começava o Outono de há 50 anos, Camus escrevia nos Carnets (1) que «Dieu n’est pas nécessaire pour créer la culpabilité ni punir. Les êtres y suffisent. C’est l’innocence à la rigueur qu’il pourrait fonder.»



Isto é a chamada ideia agradável ao ouvido; Camus já tinha mandado o existencialismo às malvas e agora de vez em quando andava a dar manteiga a Deus, esquecendo-se de que haveria alguma leve possibilidade de nós – os “seres”, para os amigos - termos sido engendrados pela “cabecinha” atrevida do Criador. Agarrou-se assim a uma das mais enganadoras – e engenhosas - dicotomias da nossa condição: culpa-ingenuidade, e sai-se com esta quase “forrest-gumpada” a. t. (antes de T.Hanks). Este deus da virgindade, este deus feminino tipo mãe de toda a ingenuidade é uma construção literária para quando as rimas ou os aforismos já não estão a sair tão escorreitos. Eu cá gosto de ver Deus também como o “pai” de toda a perversidade, e que se deu ao luxo de “desmultiplicar-se” e “desconstruir-se” ( Derrida podes levar então a bicicleta) enviando ao reino dos malandros o «seu filho muito amado» ( eu estarei a passar-me?) para os limpar da tal culpa, que assim se tornou felix culpa. E gosto de sentir que levo a minha vida nesta limpeza artificial, tratando e troçando da alma como uma gaja vaidosa. E agora reparo, e lembro-me, e encontro, o que foi escrito por Pavese também pré-outonalmente-curiosamente-praticamente 10 anos antes, nada mais nada menos que esta preciosidade: «uma bela camponesa, uma bela prostituta, uma bela mamã, todas as mulheres em quem a beleza não é uma ocupação artificial de uma vida inteira, caracterizam-se por uma dura impossibilidade de fazer troça»(2). Viver pois a vida com algum sentido da artificialidade estética ( quase como uma espécie de piedade da quarta dimensão) é então uma boa maneira de olhar para a sua falsa ingenuidade, troçando dela, e assim poderemos olhar também para as nossas culpas com o mesmo sorriso malandro e sem grandes ostracismos. Valha-nos pois Nossa Senhora e os ensinamentos da coquetterie.



(1) Carnets III, Gallimard, pg 125

(2) O Ofício de viver, Rel. de Água, pg 283
Grafite

quem me dera ser Canson



Azul Cobalto, em “os não reflexos do óbvio”: Um texto absolutamente único. Em tudo: no estilo “interpelativo”, na mistura entre a espontaneidade e a profundidade, e noutras tantas coisas que eu nem alcanço. E até na inesperada ligação aos dias. Daqueles textos em que um espírito atento só se for mesmo desenrascado é que consegue sair de lá incólume.



O Pavese dizia que «Deixa-se de ser jovem quando se compreende que de nada serve contar uma dor». Esqueceu-se de dizer que a melhor maneira de juntar os anos passados com os anos futuros é no jogo entre a refracção e a reflexão. Azul Cobalto explica.( Não garanto é que não doa )
Quem Ricardo ri melhor



O pobre do Pavese logo depois de ter dito aquilo sobre as mulheres adoradas, estica-se e diz que a «recompensa por termos sofrido tanto é, depois, morrermos como cães». A pior sina que nos pode trazer uma situação é não podermos ficar a dizer dela nem muito mal nem muito bem. Hoje driblámos uns quantos traços da nossa sina. Com bandeiras e tudo. Não morremos como cães. Pavese, podes continuar a dormir.
paAgora é que são mesmo só parvoíces.

- Agora ?



O C. Pavese era um daqueles "artistas" que gostava que me passassem ao lado. Não me interessam os homens que não sabem gerir as incompreensões do amor ( sempre a fazer fretes à decadência da alma), nem os que se matam com comprimidos ( sempre a fazer fretes às farmacêuticas) , nem os que alimentam ou aspiram por um repetitivo renascimento ( sempre a fazer fretes ao fazedores de calendários). Mas houve sempre uma coisa que me seduziu ( às vezes dolorosamente - «coitadinho»): ler aqueles de que não gosto “às primeiras”. Fui fazendo isso com este italiano angustiosamente chanfrado. E não é que até com alguma- comedida, pronto – delícia interior! O gajo escreve-me isto assim nos “diários”, e sem pedir licença : “ É incrível que a mulher adorada chegue ao ponto de dizer que os seus dias são de um vazio torturante, mas que não quer ouvir falar de nós”. Não, não é o que estão a pensar ( mas porque é que eu acho que estariam a pensar alguma coisa?), o que se passa é que o equilíbrio entre a alma cheia e a alma vazia é um must dos nossos tempos ( para não estar sempre a dizer “da nossa condição”). Só que eu também julgo que este é um desequilíbrio típico do Feminino. O cheio e o vazio estão muito próximos. Nunca estão sossegadas com o ralo ( é pá, se calhar não devia ter dito isto) e vivem num constante tormento de preenchimento. C. Pavese olhando para a sua dor acabou por pressentir a dor delas. E acabou por me mostrar que afinal não há almas complicadas, existem é almas que são formulários chatos de preencher, e nós andamos sempre atrás dos prazos. A salvação está na Burocracia.
Notas Soltas. Mas não ao léu, nem mal sustenidas.





Li esta citação do C. Pavese no blog mymoleskine

«Nada se acrescenta ao que ficou para trás, ao passado. Recomeçamos sempre

Falso. É uma velha falsidade. Nós somos é meros acrescentadores. «Recomeçar sempre» é uma pura ilusão da nossa condição. Gira, enternecedora, empolgante até, mas – resumidamente – uma bela treta. Compra-se em promoção nas feiras da felicidade. Mas, vai-se a ver, nunca traz garantia.

A única coisa que até hoje vi renascer das cinzas foi o cinzeiro. E só se não tivéssemos feito muita força a apagar a beata. Nem devemos abusar muito dos comprimidos, como fez o outro.





A troca da “Casa Pia” pelas “Sevícias da Pide” parece-me uma evolução interessante. E agora para desenjoar dos “abusos aos presos iraquianos” proporia o “sado-masoquismo na Cruz Vermelha”, e de sobremesa a “sodomia na Misericórdia”. Se calhar a “ lavagem das partes baixas da democracia no bidé dum convento de carmelitas descalças “ já seria pedir demais. Volta “Big Brother”, estás perdoado.



Mi

Todos já dissemos, ou ouvimos dizer, que a fronteira entre a vida e a morte é ténue. Que a fronteira entre a vida dita normal e a anormalidade é ténue também. Que a fronteira entre uma vida decente e uma vida indecente é um fiozinho d’água.

Hoje eu verifico que, de facto, o pior que nos pode acontecer é ter de viver como guardas fronteiriços.

E já não sei se quero acreditar no que escrevi em “dó”.





Quando comecei isto apetecia-me dizer mal do último disco do Morrissey, mas agora já não me apetece. O facto fica registado como mais uma prova científica de que a coisa mais estável que existe é a instabilidade. Coisa dos sistemas. Dos rebanhos, no fundo.



Sol

"Relembrei" hoje a alguém uma “apropriação” da mensagem dum episódio supostamente passado durante as campanhas de Alexandre o grande: nós pedimos a Deus consoante a nossa condição, e Deus concede consoante a sua. Só assim se pode – ou melhor, posso - enquadrar muita da consciência da nossa – ou melhor, minha - fragilidade





Volto ao tema da discussão sobre a situação nas prisões iraquianas. Adoro aquelas análises que desembocam – mais ou menos explicitamente – num “ora já se sabia que”.

São estas conclusões que me fazem gostar mais duma anedota de alentejanos, do que duma boa argumentação.



E...viver com uma escala incompleta também faz parte da nossa condição.