Reparei que havia um livro no top de vendas com o inspirador título “Alternativas ao relacionamento afectivo”, escrito por um suposto guru de yoga brasileiro, do qual não me lembro o nome. Fiquei em brasa! Eu que me sinto praticamente um especialista nesta matéria e nunca me tinha lembrado disto! O novo dicionário não ilustrado fornece então hoje - aparentemente atrasado - as verdadeiras alternativas felicitárias, e que se encontram fora dessa promiscuidade que são os afectos a roçarem-se javardamente uns nos outros.( entradas 705 a 714 )



Relacionamento comercial – Milagre da natureza no qual "o que um tipo tem a mais", coincide com "o que outro tem a menos". O êxtase produz-se quando o que vende julga que vendeu pelo dobro do que estava à espera, e o que compra julga que pagou metade do que estava disposto.



Relacionamento científico – A relação entre a cobaia e o investigador cria inevitáveis momentos de grande empatia. O despojamento no altar sacrificial do progresso motiva uma cumplicidade mística, que só não se rompe porque o rato dificilmente tem tempo para chamar filhos da puta aos meninos de bata branca.



Relacionamento usurário – Quando um juro prende mais que uma jura, é porque duas almas só gostam de ficar reféns na base duma penhora de sentimentos. O verdadeiro spread situa-se entre o gozo básico de ser credor, e o orgasmo de pagar atrasado e sem juros de mora.



Relacionamento de poder – O submisso encontra sempre a luz no seu senhor. O que exerce o jugo possui a felicidade no controlo do interruptor, e deixa ao subjugado o prazer de escolher o feitio do abat-jour.



Relacionamento de vizinhança – Quando tudo se baseia na bela partilha osculada de patamares ou paredes-mestras, a salvação está em directa proporção com a disponibilidade dos elevadores



Relacionamento sexual – Seguindo o móbil do desejo, e guiados pela vertigem do sedoso e seboso encontro de epidermes, desemboca-se num mito penetrativo, ejaculante, clitoriano e orgásmico (será que eu estou a ler bem o que escrevi). A medida da eficácia encontra-se nos registos dos "estremeçógrafos" e dos "guincholoscópios".



Relacionamento religioso – Quando uma alma com pendor para ser crente se liga com um ser talhado para se crido, inevitavelmente uma se torna carente e o outro se torna querido.



Relacionamento de violência – Ter enfiado um murro nas trombas de alguém é uma experiência que ligará essas pessoas de forma definitiva. Se para além disso perdurarem algumas marcas físicas, o encantamento permanecerá na ordem do famoso registo tântrico.



Relacionamento terapêutico – Quando a esperança se joga no equilíbrio entre um diagnóstico colorido e uns comprimidos às cores. Mas um sintoma só é verdadeiramente o início duma grande amizade, se der origem a uma “livre associação”, vivida de modo “catártico” e em regime de “recibo verde”.



Relacionamento platónico – Quando estamos abrigados num jogo se sombras, muitas vezes descobrimos que a última coisa que queremos é abrir a luz do candeeiro da mesa-de-cabeceira da caverna

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