O que podemos ser, se não nos importarmos de não ser nada, ou de ser apenas o que os outros quiserem. São estes afinal os que ainda podem fazer toda a diferença. O dicionário não ilustrado na entradas 682 a 695.
Ser mandatário – O que durante a campanha, reparando que não pode ser o pastor, lá consegue ficar a tomar conta dos badalos e a dar cobertura às ovelhas ronhosas
Ser pau mandado – Destino reservado a quem viu perdidas as hipóteses de ser matraca, e não consegue alinhar companheiros para ser matraquilho.
Ser manda chuva – O que se dedica a brincar com o autoclismo das nuvens, mas que deixa o encantador piaçaba para os faxineiros de turno
Ser desenho animado – O que se contenta e revela numa sucessão de semelhanças, não se deixando levar pela sedução da originalidade estática dos grandes planos
Ser manipulador de marionetas – O que pode mexer os cordelinhos mas que nunca lhe deixam dar o nó
Fazer dobragens – Sofisticado estrabismo de lábios, que permite fazer boquinhas à esquerda e assobiar à direita.
Ser testa de ferro – Homo sapiens em versão pára-choques; a tendência é utilizar materiais híbridos
Ser verbo-de-encher – Homo sapiens em versão air-bag. A tendência actual é estarem espalhados por todo o lado.
Ser duplo – O que mostra o rabo para os outros poderem rabejar.
Ser co-piloto – O que se mija todo nas curvas, e que nem tem tempo de mijar nas rectas
Ser cabeça de lista – O que olha o elenco por cima dos ombros, mas não alanca com a canastra
Ser má-língua – O que quer saborear, mas não se quer desgastar a lamber
Ser lambe botas – O que gosta de se apreciar num reluzente polimento, e que não se importa de se pentear muito curvado, mesmo que isso lhe destape a careca tonsurada
Ser ventríloquo – O que sacrifica um beijo por uma sacudidela de diafragma
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