Praxiteles e as Afrodites agachadas



Nunca estaremos suficientemente gratos àquele rapaz ateniense de nome esquisito. Terá mesmo sido o primeiro a desnudar-nos as moças "esculturadas" para que lhes pudéssemos apreciar a volúpia das ondas da carne, e o serpentear dos torsos, que até aí apareciam somente envoltos nuns folhinhos irritantes (vá lá que não faziam pandan com chapéus de aba larga). Saiu-se em estilo roliço na sua mais que famosa Aphrodite de Cnidos, (da qual só se conhecem as “carradas” de cópias romanas espalhadas por tudo que é museu), desdenhou a estética wonderbra, mas mesmo assim libertou finalmente a arte que só se dedicava às paneleirices daqueles atletas que muitas vezes nem tanga traziam, nem força faziam.

No entanto, cá para mim, só uns anitos mais tarde é que verdadeiramente se sentiu o cheirinho da malandrice com as “Afrodites no banho” feitas pelos escultores de Rhodes. Estas deusas agachadas deixam-me virado do avesso, e não acredito que os caracolinhos do Hermes de Praxiteles não se desfrisassem todos com tamanha visão de erotismo acocorado. O poder duma mulher agachada, num delicioso assimetrismo de pernas, destrançando os novelos do cabelo, deixando antever que nos dominará com qualquer saponária espumada, lembra-me que somos seres que se deixam levar pelas poses da carne, e pelas dissimulações do espírito. Mas podia ser bem pior, vendo bem. Afrodite revela-se-nos nessas esculturas com a sedução dum agachamento, a força dum obsceno e sinuoso recolhimento de corpo que nem Praxíteles tinha podido adivinhar (apesar do sacana também já lhes pôr as perninhas em semi-pose tipo chanel). É que nem Ingres conseguiu agachar assim uma mulher em condições. E a força duma mulher também está no seu doce aninhamento, no seu estranho provocar encolhido. Será que a botânica explica?

Sem comentários: