Delírios. Mas não tremens. Espero.



Recebi noutro dia uma receita para engorda do sitemeter. Quem mo enviou não gosta de nomes, e por isso fica aqui registada como Dra Girassol. Na sua especial perspicácia e saber desfiou-me o rol de drageias a tomar. Comecei hoje o tratamento em sua especial consideração.

Numa exposição quase pornográfica de tempo abusado, inutilizado e desperdiçado, aqui vai a dose de cavalo:



"Muita unhaca" – Dizer mal por sistema é um registo que tem tendência para esgotar, principalmente se abusarmos dele. Hoje, no entanto vou arriscar em fazê-lo com um blog de que gosto, e que ainda para mais é dos blogs mais consensuais e apreciados, segundo me dá a parecer. Dizer mal do que se gosta é um arriscado - e até eventualmente perturbante - exercício, mas vou fazer isso porque o Avatares tem esse talento de ir aí por fora à busca dos recônditos buracos do desejo e não o deve desbaratar. Só que ultimamente tem-se perdido um bocadinho em descodificações de fancaria, parece que escolheu a secretária dum criptógrafo, quando podia perfeitamente andar por aí a fazer de “espião-duplo”, endrominando-nos mas é a todos. Bruno, tu não precisas de te “vender” ao estilo “produções-fictícias-do-antropologismo-erotificado”. Tu vais muito mais longe. Por exemplo, para aliviares da hermenêutica do piropo, podias “vadiar” sobre a “pinocada” que dão o Jude Law e a Rachel Weisz na camarata, com os outros soldados a dormirem ao lado, durante o cerco a Estalinegrado pelos Nazis, no filme “ Inimigo às Portas”. Desculpa Bruno, mas eu tinha hoje de começar o tratamento.



Gajas inacessíveis – Aqui nesta blogaria a roçar a pepineira erótico-depressiva, agora parece que já ninguém gosta daquelas miúdas de beleza exuberante e explícita, que raio! Daquelas que têm o explendor plasmado no corpo. Agora tudo se entretém com belezas simuladas, ou saídas da pecaminosa adolescência ou enclausuradas no fantasmagórico conceito de interessante. Até há decálogos paridos ao ritmo da baba pseudo-poética que não chegou a ser saliva. Porra, mas agora já ninguém fala das gajas meramente “boas”, “ordinárias”, e assumidamente provocantes! Ninguém suspira para que a Madonna o adormeça com uma canção de embalar. Ninguém recorda a Kim Bassinguer lambuzada. Volta Cláudia, estás perdoada;eu já enjoei de subtilezas.



"Futebol, sempre duas vezes por semana" – Aqui reside um problema base. Sou lagarto. E como não gosto de alimentar mecanismos maníaco-depressivos, estou perante o grave problema de tentar explicar como é que uma equipa com mais atacantes do que agora há porco preto em herdade alentejana, não marca a merda de um golo!!! Eu até ao ano passado ainda tinha uma saída boa para quem me chateava: dizia que o meu filho mais novo, agora com quatro anos, tinha passado a maior parte da vida dele com o Sporting campeão. Este ano não estou a arranjar nem um algoritmo manhoso e aldrabado que me safe as estatísticas.



"in-out" entre esquerda e direita – Eu tenho de confessar que adoraria ser de esquerda. Veria em cada oprimido uma vantagem competitiva, veria em cada explorador uma encarnação de Satanás, veria em cada desigualdade uma prova científica, poderia dizer que estamos numa “deriva liberal e securitária” sem me desmanchar a rir e sem pôr toda a gente a rir ao lado, poderia fazer anedotas sobre pobrezinhos sem me levarem a mal, poderia ser amigo das vítimas da sociedade sem desconfiarem que estava feito com os agressores, poderia recitar poesia sem pensarem que só queria direitos de autor. No fundo, se calhar até poderia ser também de direita sem ninguém recriminar.



"Link prós ilustes" – E eu agora reparo que há muito tempo não me meto com o Abrupto. E coitado, noutro dia a Mme Constança C&Sá no Independente arrasou-o, coitadinho, insinuando que ele representava o «equívoco cultural português». E depois disse que as reflexões dele eram das que «todos nós temos quando vamos fazer à cozinha fazer um sumo de laranja».

Ora também gostava de saber onde é que ela então arranja as ideias para os seus artigozinhos de opinião...Fará retiros espirituais? Conhecerá alguma posição do yoga que nos será inatingível? Suspenderá a mente no estendal da roupa? Será elo permanente dalguma corrente espírita? Adormecerá em cima da enciclopédia Britânica? Evacuará em trono sapiencial ? Fuma ganza? Passa a ferro num piano de cauda ? Ou será que o micro-ondas dela lhe envia radiações especiais?

Então hoje – até porque a saúde do sitemeter está em primeiro lugar - vou dedicar um pequenino texto ao Abrupto:

Pholeira

Em 3 de Abril de 2004, JPacheco Pereira foi à cozinha fazer um sumo de manga. Tropeçou num poema que Vasco Graça Moura tinha traduzido de véspera. Sentiu aquilo como um bom presságio. A fruta era sumarenta. O diálogo esquerda-direita a partir desse dia poderia tornar-se uma doce fatalidade. Saiu de casa e encontrou Odete Santos. Tinha sido escolhida para nº 3 da lista do PC para o Parlamento Europeu. Foram andar os dois de bicicleta. Ela tropeça num capitalista. JPP olha para ela, e reflecte nas suas memórias: «O poder do dinheiro será sempre um obstáculo à liberdade – isto em Marte nunca aconteceria, aquilo são ciclovias que não acabam»”


E assim começou o êxodo de equívocos culturais para o espaço sideral.



"Citaçãozinha" – Parecia o mais fácil, só que agora não estou a arranjar nenhuma para a situação. Mas como me esqueci desastradamente de saudar a vinda da Primavera, saco estes versitos do W. Blake: ( a condizer com a minha parvoeira ): do "Spring" das “Songs of Innocence”:



"Little Boy

Full of joy;

Little Girl,

Sweet and small;

Cock does crow,

So do you;

Merry voice,

Infant noise,

Merrily, Merrily, to welcome in the year"




Nota final

É pá, mas agora é que reparo... Eu não tenho o tal “contador de visitas”!!! Para quê então este tratamento!? Devo estar a ficar hipocondríaco. Bem se arranjarem qualquecoisinha para as insónias...

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