Ainda encolhido na tenda



Por uma inspiração muito especial lembrei-me de que todos afinal acabamos por ter uma Nadia Comaneci dentro de nós. Ilusionei com as coreografias do trapezismo voador da política e da vida. Só que no acolchoado tapete da minha alma comezinha. Procurando fugir duma mera faena de palavras que se soltaram dos “ferros” falhados, mas sem saber se consegue, o novo dicionário não ilustrado esta semana arranca de trampolim.

Fazendo suar a política e a vida, que no fundo, e por muito que nos custe, se acabam por lavar na mesma barrela.( nas entradas 603 a 610)





Políticos em “espargata” – Forçam o músculo afastando até ao limite as extremidades, deixando o centro muito exposto e em risco de rasgamento, mas com a consolação de ficar tudo a olhar para eles a ver o que acontece. Aliviar é sempre a posição que se segue.



Vidas em “mortal encarpado” – Quando se quer deslumbrar, muitas vezes apalpamos primeiro o terreno numa geometria controlada e angulosa, porque não gostamos de esgotar todos os cartuxos na primeira caçada em campo aberto. É o compromisso entre o efeito suficiente e o risco necessário.



Viver a “fazer a ponte” – O equilíbrio é uma posição forçada, eventualmente bela, mas sempre de cansativa sustentação. Vende bem porque é muito protegida pelas figuras “obrigatórias”



Viver a “fazer o pino” – Ver tudo ao contrário é uma frágil sedução da nossa condição. Demonstra que o aspecto é, muitas vezes, é uma simples ilusão de posição. E inverter o sentido das coisas não raramente é uma mera táctica medrosa de aproximação, disfarçada da viciosa originalidade.



Políticos de “triplo mortal à retaguarda” – Quando querem deslumbrar pela exuberância e espectacularidade, muitas vezes vão para o lado em que todos menos esperam para que, se correr algo mal, terem sempre desculpa e, eventualmente, a canja ou os pachos quentes da mãezinha.



Vidas em “ flic-flac “ – Quando andamos pela vida tocando nas coisas apenas fugazmente, temos sempre de ir arqueando de impulso para não ficarmos espalhados ao comprido e de peitaça virada para o criador. O rabito, vá lá, está sempre protegido.



Políticos de “dupla pirueta” – Aqueles que pretendem ver o mundo todo duma só assentada e rodada, acabam por ter de se fixar num só um ponto para não marearem. Por isso é que muitos se especializam em pares para terem sempre onde se agarrar.



Vidas de “Mortal esticado” – Quando não nos contentamos com uma acrobacia simples, e precisamos também de ir ocupar o espaço dos outros, fazendo-os sentir que éramos nós que lá devíamos estar.



E acabo pensando que estar “política” ou “vida” tanto dava.

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