Faz de conta que isto é a caixa dos comentários da “mal traçadas



Tenho que confessar e admitir (dois em um – “confessar” é o shampoo, e “admitir” o amaciador) que nunca entrei em nenhuma cozinha. Mentira, entrei duas vezes. A primeira quando uma ardeu toda. Entrei. Mas até não me fez impressão nenhuma; eu nem nunca tinha visto uma, nem dessa forma nem doutra. De facto achei desinteressantes aqueles tons acastanhados do chamuscanço, ainda para mais num estilo degradé fatela, mas de resto nada de excessivo. Confirmei apenas que era um local com o qual podia viver bem sem lá voltar a pôr o corpinho. Simulei um ar desgraçado, estupefacto, interessado, algo penoso (julgo mesmo ter alcançado este ponto de dissimulação), mas nada que me impedisse de continuar a considerar a cozinha um local de frequência dispensável ou mesmo desaconselhável.

Da segunda vez foi tudo rodeado de maior liturgia. O Sporting estava prestes a ser campeão depois de largos anos de jejum. Eu iria demonstrar a todos que controlava a ansiedade a um nível... (porra não se pode dizer!) a um patamar... (porra não se pode dizer!), que se lixe, eu era superior àquilo, e não precisava de ter a televisão ligada para acompanhar o resultado. O tempo passava, à minha volta podiam-se ouvir irritantes risinhos, mas eu tinha de os tramar e já não aguentava mais; eis que detecto a televisão da cozinha acesa, como num apelo de sereia. Estava só, avancei! O Ducher tinha marcado um golo ao Salgueiros. A cozinha foi então o altar da minha recatada adoração. Não cheguei a entrar muito lá dentro. Abençoado torcicolo.

Ficam agora à vista quais são as duas opções que tenho em aberto para lá entrar eventualmente numa terceira ocasião. Só se arder tudo, é mais que certo...

E sobre os seus efeitos afrodisíacos, sempre tive algum receio de chãos escorregadios. É que para escorregadio já basta o torvelinho dos meus neurónios besuntados de mielina.

Também ouvi dizer que é lá que fazem os pastéis de bacalhau, mas ainda hei-de confirmar isso.







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