( Da transgressão. Sei muito poucos poemas de cor. Um dos que sabia, era este do Camões: “Transforma-se o amador na cousa amada/Por virtude do muito imaginar/Não tenho logo mais que desejar/Pois em mim tenho a parte desejada”.Disse sabia, porque já não sei. Esqueci-o. Mantinha-o guardado para um momento especial, e quando o usei acho que estraguei tudo. A poesia deve ter um instinto matador nas minhas mãos. Desgraçamo-nos mutuamente, se calhar. Só que eu nem desconfiava disso. Estúpido. Nunca o li como um poema de amor. Sempre vi nele um formidável elogio poético à cumplicidade; reforço: à cumplicidade pura, cristalina, de fina, de filigranada prisão, forte, de siderúrgica fusão. Difícil de descobrir, difícil de sustentar, mas difícil de matar. É até das poucas coisas que sedenta e sacia ao mesmo tempo, e que tem o condão de colocar o desejo na redoma do encantamento. Onde nem a imaginação presta vassalagem ao pecado. Mas isto se calhar são só parvoíces minhas, mas são parvoíces das que doem. )
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