Se Deus tivesse sufragado o seu povo para decidir se haveria de morrer por nós ou não, julgo que o abstencionismo teria tomado conta das hostes. A morte de Deus não seria de todo um assunto que influísse na nossa vidinha, a ponte da Páscoa não se podia desperdiçar ao sabor dos caprichos dum criador indeciso e titubeante, e Ele que se amanhasse sozinho, pois por isso é que era Deus.

Mas claro que se criariam logo as inevitáveis ondas do “sim” e do “não”. A sempre empolgante e esclarecida clivagem dos grandes básicos.

Uns defenderiam que “sim”, que deveria morrer, porque também tinha de suar as estopinhas e carpir como todos; outros – o do “não” – argumentariam que a Deus já lhe bastava existir e zelar por nós, que não se devia desgastar noutras canseiras desnecessárias. Mas...não... não vou continuar com esta converseta de chacha. Vou-me guardar para mais tarde, para quando tiver de ocupar os tempos mortos entre as análises à próstata e ao colestrol.

É que o meu sonho de xéxézice é que venham a confundir a minha espessa incontinência com mayonnaise caseira, da fresca, feita na hora.

Hoje o novo dicionário não ilustrado vai ficar de varinha mágica em riste treinando-se apenas a misturar ovos com azeite. (bem, confesso, tive de acrescentar uns dentinhos de alho - entradas 611 a 624)



Voto em branco – Apenas o corolário lógico duma estranha cegueira branca mal ensaiada.



Voto nulo – Quando uma folha de papel pode fazer as vezes duma montra Cartier



Voto de castidade – Apostar em não fornicar na esperança de não ser fornicado.



Voto expresso – Aquele que não se contenta em ser um reles café de encher o saco das presunções de legitimidade. (o trocadilho é admissível nas entradas de fim de semana) Até porque os eleitos em votações implícitas acabam sempre por sufocar nas borras da dúvida.



Voto universal – Quando ao vermos todos fazerem o mesmo nos cria a ilusão de que todos valemos o mesmo.



Voto secreto – O que nos faz sentir importantes sem precisarmos de nos pôr em bicos dos pés



Voto de braço no ar – O consolo de quem não tem graveto para os leilões da moda. De qualquer forma convém ver se não lhe atribuem um número à entrada.



Voto directo – Aquele que aponta para o buraco, mal sabendo que vai passar o tempo a brincar às três tabelas.



Voto “mama” – Aquela ligeira protuberância do boletim (americano) que não chegou a furar, e que pôs Bush na presidência e alGore a dar conferências, acaba por ser uma interessante alternativa para os chamados indecisos: picam o boletim, mas não até ao fim, e deixam sempre a decisão para a rapaziada das contagens



Votos de felicidade – Os que sabem sempre bem, não precisam de ser muito mastigados, lambuzam-nos de fugacidade, não servem para nada, mas lembram-nos que fomos “eleitos” para uma coisa qualquer.



Voto por correspondência – Quando a ranhura do nosso amor vive numa urna distante (esta foi só para dar uma nota erótica a esta coisa)



Votar (abster-se de) – A displicente indiferença feita ideologia. Dos que não se importam de beber uma meia-de-leite mesmo sabendo que ele foi mugido por mãos alheias.



Voto útil – O que nos transporta, qual tapete voador, para as encostas com as melhores vistas, enquanto o resto do pessoal fica a coleccionar postais ilustrados



Voto de veto – Uma espécie de voto beicinho, até porque um amuo também tem direito à sua dignidade

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