Apenas desenrebanhando num desperdício de palavras

Mas elas nem sequer são um recurso escasso



Admito que detesto livros. Não me encanta nada essa coisa de desfolhar, de andar atrás do que paira escrevenhado. De arregalar os olhos onde outros despejaram as suas conjuntivites verbais. Chegam a estontear-me, tenho de confessar.

Que valerá essa coisa que terá certamente um sabor empapelado? O que valerá esse horrível cheirinho tipográfico, que foi sugado aos corantes roubados às florinhas que ornamentavam os prados. Que valerá essa coisa que só vive se for esfregada com os dedos, ou adocicada pela imaginação.



É uma sensaboria ter de ler uma papelada encadernada e que nunca se esgota numa só folhagem. Ter de juntar mentalmente palavras, que andam sôfrega, funcionária, e arrastadamente a prestar vassalagem a uma pasta desresinada e poluente! De origem malcheirosa, e nascidos da decadência dum tronco!

Que idolatria mais balofa, essa que adora uns folhados insonsos e corrompidos por um padeiro que se imola ao sacrifício dos direitos de autor. Mas que religião sem dono, a que enche os altares dessa bafienta santaria. Infelizes dos que espirram laudes na poeira desse incenso fibroso.

Mas que sedução bolorenta; até o pipi, que lá se ia arrastando na alavanca palavrosa da sexualidade explícita, deixou a sua nhanha pseudo-delinquente fundir-se nesse mata-borrão celuloso.



Felizmente nunca entrei em nenhuma livraria. Acocorar-me na busca dum lombo de cartolina! Babar-me nas prateleiras que vivem dum tanso encavalitanço de papelaria fina! Enfeirar-me numa tenda de farturas encadernadas, mal amanhadas, e que nem trazem um besunto em condições para nos lambuzarmos! Livrarias!!! Mas que raio de possidonice é essa onde todos se tratam pelo nome, como se tivessem feito a tropa juntos, ou tivessem concorrido na mesma equipa das olimpíadas do tricot. Mas que raio de raça de loja é essa!? Que pulgas lá serão catadas, para que tanta gente se coce à volta duns títulos que muitas vezes nem serviriam para ajudar a vender cervejolas frescas num final de dia abafado.

Parecem sacristias, com os acólitos a fazer festas à paramentaria plastificada, com os meninos do coro a decorar as letrinhas à pressa para não desafinar na liturgia cantada e encomendada, e com as velhas beatas a adornarem o olhar para enternecerem o cura.



Livra! Felizmente isto não tem aquela caixa de esmolas dos comentários...

...e se calhar estou a dar cabo do tratamento...

Sem comentários: