Carta aberta aos gajos que pensam ter sido namorados da minha filha, ou que pensam que são, ou que pensam que podem vir a ser



Se calhar ainda vou ter de apagar isto mais tarde...ou mais cedo.



Reparem numa coisa, reparem no drama que se vos apresentará: ela construiu a imagem do homem perfeito baseado em mim. É uma fasquia demasiado alta para vocês. Irão ter enormes problemas de afirmação pessoal; eu percebo-vos, não será nada fácil, e a vossa auto-estima nem irá ao sítio lendo a revista xis todas as semanas. Correreis o risco de ser apenas uns pés de página, ou umas notas de rodapé, quanto muito, nos melhores dias, podereis aspirar a fazer de legenda colorida, reconheço: é duro e cruel; e até calculo, ela ser-vos-á duma exigência sufocante pois eu estarei sempre a povoar as suas memórias como aquele mito com que vos tereis de comparar. A minha imagem, entre o pedestral e a redoma, estará a minar-vos o caminho, a empedrar-vos o sapato, essa imagem que eu construí como filigrana, como um mestre flamengo, como um artesão de personalidades modelo; e quando ela fizer aquele olhar melancólico ou aquele olhar irritantemente distante, ou mesmo displicente, como o leiloeiro quando sabe que o lance ainda está muito baixo, relaxem, ela está apenas a constatar que vos é muito difícil lá chegarem. É que eu não brinco em serviço. Mas descontraiam-se, aquilo dos caprichos dela é apenas o preço que têm de pagar pela vossa condição de seres gravitantes com órbita controlada, talento calibrado e virtude comparada.

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