Hoje não vou gastar dinheiro em títulos



A pior coisa que se pode fazer à tristeza é dar-lhe com o espanador das falsas alegrias. A tristeza deve ser tratada como a poesia popularucha: catrapiscando as rimas de melhor efeito, afagando a brejeirice, fugindo do género livre armado aos cágados, vagueando entre o abananço e o arrebitanço, levantando a saia e fingindo olhar para o lado, endeusando a malandrice.
Nenhuma sã tristeza é errática e definitiva, valha-nos mesmo uma sã tristeza para absorver as alegrias como um radar, porque ela é acolhedora como uma genuína sopa dos pobres.
Estava eu armado em parvo a procurar as consequências politicas deste pensamento quando reparo que uma entrevistadora do Ramos Rosa aparece no “Mil Folhas” do Público (entrevistar poetas é a mesma coisa jogar às palavras cruzadas com o pai natal na bicha do Toys ’R us) a citar Heiddegger quando este diz que “o ser humano é inabitável”; ora lá porque esse gajo viveu a sua existência "com escritos" a vida toda, andou a beber da escolástica quando era pequenino, e depois passou logo para a fenomenologia sem passar pela casa da partida nem fumar uns charros, e depois se passeou entre uma mulher-ama-seca-deslumbrada-protestante e uma mulher-amante-húmida-deslumbrada-judia, não precisava de nos querer impingir um vai-se-a-ver-é-um-vazio ontológico que nem é próprio da nossa condição, para além disso ao se afiar tanto o "ser" esvai-se-lhe o gume, e inabitável era a prima dele. Disse. Heidegger foi de facto um dos gajos que melhor brincou ao scrabble com o tal de “ser” e outras irrelevâncias afins, que ainda acabaram por efemininar, e lá inventar tantos nomes para essas merdas que davam para fazer trocadilhos nos anúncios da Super Bock durante 50 anos; desconsoladamente só é pena que não soubesse fazer desenhos porque assim ainda se tinha aproveitado qualquer coisa para pôr na parede.
A verdade, verdadinha, é que a principal qualidade do nosso ser é precisamente a sua hospitalidade, e é por isso que jamais a boa da ontologia dá bola aos existencialismos marados e em fase arcaica; estes acabam assim por ter de se contentar com umas gajas já com as partes baixas do ser em estado bolorento, quando não com teias de aranha, o que dá obviamente aquele aspecto de abandono e afasta a virilidade do pensamento. Resulta pois numa incómoda flacidez, no divã dá prognóstico frustrativo, vai daí com a vergonha disfarça-se de tristeza, em rimando safa-se à tangente e passa a melancolia, só que depois para poder escrever uns livros eruditos em condições tem de passar rapidamente a desespero existencial senão até parecia mal e ninguém comprava. É este o percurso pós Kirk & Nitch, o resto é folclore.



A tristeza, o desencanto da vida, a perda de sentido são meros instrumentos da alma em luta e têm de ser agarrados pelos cornos, e é por isso que eu gosto bem mais de gajos que dizem que têm vontade de ir prá cona-da-prima-street do que de gajos que estão sempre a falar da merda do topos, e gosto ainda mais de gajos que reconhecem que lhes estão a arder as putas das virilhas do que dos gajos que estão sempre a falar do sacana do pathos, e ainda prefiro de longe quem diz que está com uma uma dor de carola do caraças a quem se esparrama a dissertar sobre a agonia da alma. A melhor alegria é a que se adubou numa tristeza de piscar o olho e vai deitando a língua de fora aos existencialismos de quermesse.

Queria voltar à tristeza de peito feito, mas “encontro-me” com a Sta Teresa de Ávila que dizia «morro porque não morro»... só que agora já não posso dizer mais nada senão o post extravasa as 25 linhas e teria ainda de falar do M. Unamuno e também já me doem a porra das costas.

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