Este agora é para limpar

Dedicado às mulheres virtuosas em geral. Um homem, em bom rigor, não pode ser virtuoso pois sendo a cabeça de casal, e dado que é no meio que está a virtude, são duas situações incompatíveis.



«Já te referi, se bem te lembras, como tem havido pessoas que, por um mero impulso irreflectido, foram capazes de vencer situações geralmente objecto ou de desejo ou de temor pelo comum dos mortais: há exemplos de quem tenha abandonado a riqueza, há exemplos de quem tenha posto a mão sobre as chamas, de quem não deixasse de sorrir em plena tortura, de quem retivesse as lágrimas nos funerais dos próprios filhos, de quem enfrentasse a morte com intrepidez, de facto, uma paixão, um movimento de cólera, uma ambição podem chegar para que desprezemos o perigo. Ora daquilo de que é capaz um instantâneo impulso de alma excitada por um qualquer estímulo, não o será muito mais ainda a virtude, cuja força é contínua, e não dependente de um ímpeto de momento, a virtude – cujo apanágio é uma energia permanente?» (*)



Este gajo às vezes irrita-me um bocadinho, só que entre um banho gelado e o sacana do estóico, um tipo acaba por decidir lê-lo. E até transcrevê-lo... e o tempo que eu demorei a transcrever isto, e se calhar não me dão o devido valor. O que só faz bem, porque senão acaba-se - como diz o Michaux (outra vez!) – como «aquele, (que) com a sua virtude, punheteia os vícios».(**) Não sei se ter juntado estes dois terá sido boa ideia. Bem, há sempre o duche frio.


(*) Séneca, "Cartas a Lucílio", Livro IX carta 76 – 20

(**) in “Da escrita- fatias de saber”

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