Os verdadeiros manuscritos do Mar da Palha
ou do grande segredo dos parodiantes do Sião
“O céu estava turvo e gorduroso, parecia um colestrol de nuvens e as tribos estavam assustadas. O gado ora andava mortiço ora agitado, as galinhas chocas só queriam pôr ovos quando lhes dava na real gana e as pastagens viviam reféns do tal vento que só era bom quando soprava do lado dos bons casamentos. Parecia um dos tais momentos em que história ia dançar o vira a seu bel-prazer. Os chefes das tribos começaram a pensar que talvez fosse a hora de darem as mãos ( o beijo na boca ficaria para uma situação limite). O chefe Santana, o chefe Portas, o chefe Sócrates e o chefe Louçã começavam a tomar consciência de que não podiam passar mais o tempo apenas a gamar as peles uns aos outros, depois de já terem acabado há muito os ursos na floresta, e após a grande saga da deriva securitária em que deixaram até de precisar de estar a pau com os ursos. O povo entretinha-se saltando de tribo em tribo, limitando-se a seguir o odor das curtições que não cheirassem tão mal e até os deuses também já não aguentavam a instabilidade do pivete sempre a mudar de sítio; haveria que pôr a trampa toda numa só tenda que pudesse acolher os chefes da tribo numa união harmónica ( dispensava-se o cavaquinho), e onde a paz fosse o alfa e a salvação o omega ( a swatch ficou encarregada de assuntos menores)
O tal dia parecia ter chegado. Os chefes reunir-se-iam num ambiente fraterno dentro da grande tenda junto ao rio, onde a areia era mais fina; seria a grande Cafarnaum que antecederia a entrada das tribos numa nova Jerusalém. Estava uma tarde de chuva miudinha (mas não era ácida porque a tribo dos verdes ficou à porta a controlar a mijadela das nuvens) e por caridade a tribo dos comunas ficou autorizada a deixar-se representar pelo parodiante RAPereira que iria fazendo uns sketchs se os deuses começassem a fazer caretas de desinteresse: a cada um o seu lugar no cosmos, não foi Marx que disse mas bem podia ter sido se tivesse jogado às cadeirinhas quando era puto. Começaram logo todos por dar as mãos na tão desejada "correnteza do despojamento do poder"; o mais relapso foi o chefe Portas que não queria abdicar do seu dedo em riste e por isso não engrenava com o do chefe Sócrates que trazia ainda o tique de sacudir o pulso, mas lá acabaram por lhe apanhar o jeito. Finalmente a primeira grande corrente de amizade e união entre tribos estava criada, o silêncio era penetrante, apenas se ouviam ao longe os gritos de JCoelho e Ana Gomes, mas após o som sibilante duma catana a rasgar, tudo pareceu ficar resolvido. Só que os deuses teimaram em não aparecer assim às primeiras; o chefe Santana ainda olhou de soslaio para o chefe Louçã para ver se ele não estaria a afugentar o divino com dentes de lobisomem, mas encontrou até uma face de lua cheia, serena e compenetrada, própria de quem tem a consciência de que o genuíno ideal de esquerda nunca se eclipsará da sua fronte. Se calhar não era mesmo ainda o momento, os deuses poderiam estar ocupados com as eleições das tribos do grande Texas, ou com as armas de destruição do haxixe, e então decidiram ir todos comer uns percebes fresquinhos. Animava-os a vontade férrea de criar uma tribo da Nova Aliança (na versão de espumante da Bairrada), e umas cervejitas frescas até poderiam ajudar à visão da boa nova ( se bem que as caves Messias também se tivessem chegado à frente com um patrocínio jeitoso). O chefe Portas estava preocupado com uma nódoa na gravata, mas o chefe Santana consolou-o dizendo-lhe que depois da Grande Revelação fariam um laço só para os dois em segredo. O chefe Sócrates andava excitado mas distante, pensava que se o antigo chefe Guterres ali estivesse os deuses seriam certamente mais generosos com as tribos, e o mais que tinha conseguido era levar a Edite Estrela para ver se apanhava os deuses nalgum erro de gramática.
Notava-se claramente que o prosaico se cruzava com o místico neste cenário que tinha tanto de bucólico como de pré-apocalíptico; as mãos a cheirar a marisco não pareciam ser o melhor transmissor para a corrente espiritual que se pretendia criar, mas nada que uns toalhetes a cheirar a limão não resolvessem; O chefe Portas ia dizendo a Pires de Lima (tinha sido convidado por causa da caipirinha e não dos tremoços, substituindo Cinha Jardim que não fora porque estava na quinta das celebridades) que o divino quando se revelasse era para ele de certeza que olharia em primeiro lugar e assim apesar de virem a ser todos uma grande tribo do amor fraterno e global ele ficaria de certeza com as tábuas da lei ou com a consola dos milagres de efeitos especiais. Pires aquiescia, cumprindo a profecia: aquiesce e aparece. O chefe Santana continuava sob o efeito das três caixas de Lexotan que lhe tinham enfiado no bucho depois de ter ido para chefe da tribo, e foi encontrado a rezar isolado com o pescoço ligeiramente inclinado em pose piedosa, mas foi de imediato seguido pelo chefe Portas que tem, como se sabe, um ajoelhar muito mais digno. Seguiu-se-lhes o Chefe Sócrates ainda resmungando que uma correnteza espírita de mão dada ainda vá que não vá, agora de joelhinhos a preparar a vinda do grande revelador é que já lhe parecia demais, mas olha perdido por um perdido por mil, tudo a bem duma tribalidade liberta e dum novo tribalismo, e também se ajoelhou apoiado sua rótula mais populista. O chefe Louçã, já se sabe, adapta-se a tudo, desde que possa fazer umas metáforas no fim, e até chegou a pensar em inventar uma oração especial para a ocasião, mas a Ana Drago disse-lhe que se o fizesse o subchefe Rosas não o iria incluir nos livros de história e acabou por desistir, ajoelhando também, esmerando-se até talvez na melhor pose de toda a tenda. Adivinhava-se o ambiente duma grande epifania, assemelhavam-se a Elias, Moisés, David e Salomão todos meio à rasca, meio a cheirar a limão, mas pelo menos assim os gafanhotos não haveriam de aparecer. Não sabiam ao certo se seria um Anjo a revelar-se primeiro, contavam com isso para dar um ar mais sério e cinematográfico à coisa ( a venda dos direitos ainda podia dar algum graveto para comprar lona nova) , mas tinham um certo receio que tudo acontecesse quando menos esperassem, sem aviso, e mais uma vez ou no meio dos pastores, ou a andar em cima da água. Santana persignava-se, Portas revirava os olhos, Louçã bichanava ( no sentido de falar baixinho note-se) e Sócrates ia aliviando os joelhos, esfregando bem para ver se não ficava uma marca tão clerical. As mãos entrelaçadas faziam deles um só, constituíam agora uma engrenagem de boa vontade, acabaria o granel, até transformariam Sodoma numa grande Babel. Mas os deuses teimavam em não aparecer, se calhar está a cheirar muito a marisco, segredou o chefe Portas assolado pelos escrúpulos da gula, o chefe Santana continuava a persignar-se constantemente dando mostras duma espiritualidade bem entranhada, e o Chefe Sócrates, ainda em rescaldo doutras festas e embebido num cepticismo quase cientifico, dizia que ou via as águas a separarem-se, ou o sol a começar aos trambolhões, ou o espumante manhoso a transformar-se em Moet Chandon, ou então não acreditava em mensagem nenhuma, és homem de pouca fé, disse-lhe inesperadamente o Chefe Louçã, estamos nós aqui fraternalmente na grande tenda, eu até estou quase a gostar do chefe Santana, porque até sou um homem sensível e só tenho de dizer aquelas coisas apalhaçadas de vez em quando senão o Rosas não me mete nos livros, e eu acredito mesmo que algo de muito forte nos unirá, e o ódio entre as tribos será a Bastilha que teremos de tomar. Começavam todos a não ter saco para ouvir Louçã, Santana já estava com um princípio de tendinite no polegar direito, Portas só andava a mostrar a todos o vergão da marca das gravatas no seu pescoço simulando que se imolaria pela sua tribo caso fosse preciso, e Sócrates, que já aparentava o joelhinho em chaga, julgava-se o novo estigmatizado das tribos da esquerda moderna. Os deuses também já não aguentavam tanta crendice lamechas, e quiseram mesmo despachar o assunto rápido, e como cada bando de tribos tem o que merece, então acharam melhor enviar logo a trupe de anjos que estava de turno para despachar o expediente: e foi assim que Marcelo Querubim de Sousa, Miguel Serafim Tavares e o Vasco Tronos Valente apareceram esvoaçando, de olhos a brilhar e batendo pálpebras com uma cadência digna das asas dum colibri: «Nós somos os escravos do Senhor; Deveis abdicar de toda a paixão e de todo o desejo, deveis viver em pura ataraxia». Porra que eu tomei disso uma vez e essa merda dá um sono do caraças, ainda teve tempo de dizer um dos chefes mas que não se reconheceu pois estavam de cabecinhas recolhidas. «O melhor é desamparem a loja, arrumem as peles que já tresandam e deixem que nós vamos tomar conta disto».
A estupefacção era geral; Então o povo das tribos tinha confiado neles e agora iam amochar perante uns gajos com umas fatiotas amaricadas; Não, não se conformavam, levantaram-se todos num ápice e exclamaram em uníssono: faremos uma rebelião, cada um de nós é um novo Adão, e não temos nenhuma costela enconada, não é a vocês meus paspalhos a cuspir penas que vamos entregar as nossas tribos. Os anjinhos ficaram à rasca, não contavam com uns estadistas tão zelosos das suas tribos e das suas peles mal curtidas, a contra-senha esperada era o “fiat mihi secundum verbum tuum” e por isso baralharam-se todos quando viram os chefes a sair emproados da tenda e a gritarem para as tribos: pessoal, isto continua tudo ao molho e fé em deus, os novos mensageiros dos deuses eram uns choninhas. O céu voltou a abrir-se, aparentemente ainda não tinha chegado a hora dos deuses tomarem conta dos acontecimentos. mas ficou a dúvida se as tribos teriam perdido uma oportunidade, ou se lhes teria sido dada mais uma oportunidade. Mas as tribos eram ainda donas do seu destino, as curtições eram manhosas, mas os deuses teriam era querido ainda deixar tudo nas mãos deles. A condição das tribos é terem de se desenrascar com as tendas. A fé move montanhas mas afinal não está feita para desmontar barracas.
E guarde-se este manuscrito ali para os lados de Alcochete, e que passem muitas festas do barrete encarnado até que sejam revelados às novas gerações. E como eu perdi completamente o controlo ao texto ele ficará apócrifo para sempre."
ou do grande segredo dos parodiantes do Sião
“O céu estava turvo e gorduroso, parecia um colestrol de nuvens e as tribos estavam assustadas. O gado ora andava mortiço ora agitado, as galinhas chocas só queriam pôr ovos quando lhes dava na real gana e as pastagens viviam reféns do tal vento que só era bom quando soprava do lado dos bons casamentos. Parecia um dos tais momentos em que história ia dançar o vira a seu bel-prazer. Os chefes das tribos começaram a pensar que talvez fosse a hora de darem as mãos ( o beijo na boca ficaria para uma situação limite). O chefe Santana, o chefe Portas, o chefe Sócrates e o chefe Louçã começavam a tomar consciência de que não podiam passar mais o tempo apenas a gamar as peles uns aos outros, depois de já terem acabado há muito os ursos na floresta, e após a grande saga da deriva securitária em que deixaram até de precisar de estar a pau com os ursos. O povo entretinha-se saltando de tribo em tribo, limitando-se a seguir o odor das curtições que não cheirassem tão mal e até os deuses também já não aguentavam a instabilidade do pivete sempre a mudar de sítio; haveria que pôr a trampa toda numa só tenda que pudesse acolher os chefes da tribo numa união harmónica ( dispensava-se o cavaquinho), e onde a paz fosse o alfa e a salvação o omega ( a swatch ficou encarregada de assuntos menores)
O tal dia parecia ter chegado. Os chefes reunir-se-iam num ambiente fraterno dentro da grande tenda junto ao rio, onde a areia era mais fina; seria a grande Cafarnaum que antecederia a entrada das tribos numa nova Jerusalém. Estava uma tarde de chuva miudinha (mas não era ácida porque a tribo dos verdes ficou à porta a controlar a mijadela das nuvens) e por caridade a tribo dos comunas ficou autorizada a deixar-se representar pelo parodiante RAPereira que iria fazendo uns sketchs se os deuses começassem a fazer caretas de desinteresse: a cada um o seu lugar no cosmos, não foi Marx que disse mas bem podia ter sido se tivesse jogado às cadeirinhas quando era puto. Começaram logo todos por dar as mãos na tão desejada "correnteza do despojamento do poder"; o mais relapso foi o chefe Portas que não queria abdicar do seu dedo em riste e por isso não engrenava com o do chefe Sócrates que trazia ainda o tique de sacudir o pulso, mas lá acabaram por lhe apanhar o jeito. Finalmente a primeira grande corrente de amizade e união entre tribos estava criada, o silêncio era penetrante, apenas se ouviam ao longe os gritos de JCoelho e Ana Gomes, mas após o som sibilante duma catana a rasgar, tudo pareceu ficar resolvido. Só que os deuses teimaram em não aparecer assim às primeiras; o chefe Santana ainda olhou de soslaio para o chefe Louçã para ver se ele não estaria a afugentar o divino com dentes de lobisomem, mas encontrou até uma face de lua cheia, serena e compenetrada, própria de quem tem a consciência de que o genuíno ideal de esquerda nunca se eclipsará da sua fronte. Se calhar não era mesmo ainda o momento, os deuses poderiam estar ocupados com as eleições das tribos do grande Texas, ou com as armas de destruição do haxixe, e então decidiram ir todos comer uns percebes fresquinhos. Animava-os a vontade férrea de criar uma tribo da Nova Aliança (na versão de espumante da Bairrada), e umas cervejitas frescas até poderiam ajudar à visão da boa nova ( se bem que as caves Messias também se tivessem chegado à frente com um patrocínio jeitoso). O chefe Portas estava preocupado com uma nódoa na gravata, mas o chefe Santana consolou-o dizendo-lhe que depois da Grande Revelação fariam um laço só para os dois em segredo. O chefe Sócrates andava excitado mas distante, pensava que se o antigo chefe Guterres ali estivesse os deuses seriam certamente mais generosos com as tribos, e o mais que tinha conseguido era levar a Edite Estrela para ver se apanhava os deuses nalgum erro de gramática.
Notava-se claramente que o prosaico se cruzava com o místico neste cenário que tinha tanto de bucólico como de pré-apocalíptico; as mãos a cheirar a marisco não pareciam ser o melhor transmissor para a corrente espiritual que se pretendia criar, mas nada que uns toalhetes a cheirar a limão não resolvessem; O chefe Portas ia dizendo a Pires de Lima (tinha sido convidado por causa da caipirinha e não dos tremoços, substituindo Cinha Jardim que não fora porque estava na quinta das celebridades) que o divino quando se revelasse era para ele de certeza que olharia em primeiro lugar e assim apesar de virem a ser todos uma grande tribo do amor fraterno e global ele ficaria de certeza com as tábuas da lei ou com a consola dos milagres de efeitos especiais. Pires aquiescia, cumprindo a profecia: aquiesce e aparece. O chefe Santana continuava sob o efeito das três caixas de Lexotan que lhe tinham enfiado no bucho depois de ter ido para chefe da tribo, e foi encontrado a rezar isolado com o pescoço ligeiramente inclinado em pose piedosa, mas foi de imediato seguido pelo chefe Portas que tem, como se sabe, um ajoelhar muito mais digno. Seguiu-se-lhes o Chefe Sócrates ainda resmungando que uma correnteza espírita de mão dada ainda vá que não vá, agora de joelhinhos a preparar a vinda do grande revelador é que já lhe parecia demais, mas olha perdido por um perdido por mil, tudo a bem duma tribalidade liberta e dum novo tribalismo, e também se ajoelhou apoiado sua rótula mais populista. O chefe Louçã, já se sabe, adapta-se a tudo, desde que possa fazer umas metáforas no fim, e até chegou a pensar em inventar uma oração especial para a ocasião, mas a Ana Drago disse-lhe que se o fizesse o subchefe Rosas não o iria incluir nos livros de história e acabou por desistir, ajoelhando também, esmerando-se até talvez na melhor pose de toda a tenda. Adivinhava-se o ambiente duma grande epifania, assemelhavam-se a Elias, Moisés, David e Salomão todos meio à rasca, meio a cheirar a limão, mas pelo menos assim os gafanhotos não haveriam de aparecer. Não sabiam ao certo se seria um Anjo a revelar-se primeiro, contavam com isso para dar um ar mais sério e cinematográfico à coisa ( a venda dos direitos ainda podia dar algum graveto para comprar lona nova) , mas tinham um certo receio que tudo acontecesse quando menos esperassem, sem aviso, e mais uma vez ou no meio dos pastores, ou a andar em cima da água. Santana persignava-se, Portas revirava os olhos, Louçã bichanava ( no sentido de falar baixinho note-se) e Sócrates ia aliviando os joelhos, esfregando bem para ver se não ficava uma marca tão clerical. As mãos entrelaçadas faziam deles um só, constituíam agora uma engrenagem de boa vontade, acabaria o granel, até transformariam Sodoma numa grande Babel. Mas os deuses teimavam em não aparecer, se calhar está a cheirar muito a marisco, segredou o chefe Portas assolado pelos escrúpulos da gula, o chefe Santana continuava a persignar-se constantemente dando mostras duma espiritualidade bem entranhada, e o Chefe Sócrates, ainda em rescaldo doutras festas e embebido num cepticismo quase cientifico, dizia que ou via as águas a separarem-se, ou o sol a começar aos trambolhões, ou o espumante manhoso a transformar-se em Moet Chandon, ou então não acreditava em mensagem nenhuma, és homem de pouca fé, disse-lhe inesperadamente o Chefe Louçã, estamos nós aqui fraternalmente na grande tenda, eu até estou quase a gostar do chefe Santana, porque até sou um homem sensível e só tenho de dizer aquelas coisas apalhaçadas de vez em quando senão o Rosas não me mete nos livros, e eu acredito mesmo que algo de muito forte nos unirá, e o ódio entre as tribos será a Bastilha que teremos de tomar. Começavam todos a não ter saco para ouvir Louçã, Santana já estava com um princípio de tendinite no polegar direito, Portas só andava a mostrar a todos o vergão da marca das gravatas no seu pescoço simulando que se imolaria pela sua tribo caso fosse preciso, e Sócrates, que já aparentava o joelhinho em chaga, julgava-se o novo estigmatizado das tribos da esquerda moderna. Os deuses também já não aguentavam tanta crendice lamechas, e quiseram mesmo despachar o assunto rápido, e como cada bando de tribos tem o que merece, então acharam melhor enviar logo a trupe de anjos que estava de turno para despachar o expediente: e foi assim que Marcelo Querubim de Sousa, Miguel Serafim Tavares e o Vasco Tronos Valente apareceram esvoaçando, de olhos a brilhar e batendo pálpebras com uma cadência digna das asas dum colibri: «Nós somos os escravos do Senhor; Deveis abdicar de toda a paixão e de todo o desejo, deveis viver em pura ataraxia». Porra que eu tomei disso uma vez e essa merda dá um sono do caraças, ainda teve tempo de dizer um dos chefes mas que não se reconheceu pois estavam de cabecinhas recolhidas. «O melhor é desamparem a loja, arrumem as peles que já tresandam e deixem que nós vamos tomar conta disto».
A estupefacção era geral; Então o povo das tribos tinha confiado neles e agora iam amochar perante uns gajos com umas fatiotas amaricadas; Não, não se conformavam, levantaram-se todos num ápice e exclamaram em uníssono: faremos uma rebelião, cada um de nós é um novo Adão, e não temos nenhuma costela enconada, não é a vocês meus paspalhos a cuspir penas que vamos entregar as nossas tribos. Os anjinhos ficaram à rasca, não contavam com uns estadistas tão zelosos das suas tribos e das suas peles mal curtidas, a contra-senha esperada era o “fiat mihi secundum verbum tuum” e por isso baralharam-se todos quando viram os chefes a sair emproados da tenda e a gritarem para as tribos: pessoal, isto continua tudo ao molho e fé em deus, os novos mensageiros dos deuses eram uns choninhas. O céu voltou a abrir-se, aparentemente ainda não tinha chegado a hora dos deuses tomarem conta dos acontecimentos. mas ficou a dúvida se as tribos teriam perdido uma oportunidade, ou se lhes teria sido dada mais uma oportunidade. Mas as tribos eram ainda donas do seu destino, as curtições eram manhosas, mas os deuses teriam era querido ainda deixar tudo nas mãos deles. A condição das tribos é terem de se desenrascar com as tendas. A fé move montanhas mas afinal não está feita para desmontar barracas.
E guarde-se este manuscrito ali para os lados de Alcochete, e que passem muitas festas do barrete encarnado até que sejam revelados às novas gerações. E como eu perdi completamente o controlo ao texto ele ficará apócrifo para sempre."
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