Agora para desanuviar um pouco vou meter-me com sabe que tem piada, só que às vezes esquece-se.

O André do Barnabé abre a sua alma e diz num texto breve ( homens de pouca fé - dia 28) e até com algumas nuances light que:

a) Não é cristão

b) O seu cristianismo é inconsciente

c) Admira o exemplo de Cristo

d) Está perto do exemplo de Cristo

e) Não usa o cristianismo como adorno

f) Não é um cínico carente da legitimação cristã



Ora isto quando a Mme Balsemão fizer a nova edição do Trivial Pursuit, poderá ser utilizado da seguinte forma:



O que é ser Cristão?



Hip. 1 – Usar barba farta (mas sem trancinhas peçonhentas)

Hip. 2 – Usar adornos legitimistas (mas sem debrum)

Hip. 3 – Usar uma exuberante aura estética (mas de pechisbeque)



O que é o radicalismo?



Hip. 1 – Andar de fita métrica a medir a fé do alheio

Hip. 2 – Ter uma crença e uma missão

Hip. 3 – Ser cínico mas não carente



O que é a estética cristã?



Hip. 1 – Usar agulhas com buracos de tamanho decente para os ricos poderem passar

Hip. 2 – Ser uma estética meramente inconsciente e portanto não explícita

Hip. 3 – Nunca duvidar de quem se segue, mesmo sendo um reaccionário



Quando é que se sabe que se está próximo de Cristo?



Hip. 1 – Quando se é pobre mesmo bem adornado

Hip. 2 – Quando se é político mas se está nu

Hip. 3 – Quando se está inconsciente mesmo sendo rico



O que é a fé ?



Hip. 1 – Uma inconsciência

Hip. 2 – Um adorno

Hip. 3 – Uma política bem servida mas não legitimada



E agora umas avulsas, que ela de certeza não vai desperdiçar para as palavras cruzadas do Expresso



O que é o inconsciente ?



Hip. 1 – Um adorno

Hip. 2 – Uma política cínica

Hip. 3 – Um radical carente



O que é uma carência ?



Hip. 1 – Um adorno

Hip. 2 – Um cinismo

Hip. 3 – Um radicalismo



O que é um exemplo?



Hip. 1 – Uma carência

Hip. 2 – Uma inconsciência

Hip. 3 – Uma fezada de que vão acreditar em nós se nós mostrarmos que somos nós mesmos e que não precisamos de que ninguém nos venha dizer quem somos e porra que isto nunca mais acabava e talvez assim haja malta nova a ler o expresso
Diálogos para palitar os dentes



- Então mas essa coisa dos sentimentos serve mesmo para quê?

- É pá não brinques com isso, não vês que se podem transformar em desejos incontroláveis...

- Pior era se dessem em bocejos controláveis.

- ...E não se devem expor desnudadamente, porque se banalizam e depois já não se lhes reconhece o valor.

- Valor? Então é porque são mesmo para fazer negócio

- Parvoíce! Valor porque com eles fazemo-nos pessoas completas, autênticas e felizes

- Felizes!? Então não sabes que essa palavra agora já não se pode usar

- Não consegues falar normalmente! Quero lá saber disso. Os sentimentos dividem as pessoas em boas e más!

- Então é como a porcaria da embraiagem. Separa o motor das rodas.

- Ora que merda de função com que tu comparas. Não anda, não vira, não pára; Até parece que os sentimentos estão ali só para nos mostrar que o corpo e a alma juntos atrapalham a meter as mudanças.

- Merda de função mesmo. Se calhar vou aderir aos sentimentos automáticos

- Isso não existe. Só brincas com as palavras.

- Como já não tens argumentos, dizes que o que não percebes são brincadeiras de palavras.

- Não perceber não é nenhum crime. Não querer perceber é que é mau.

- E depois sou eu que sou brincalhão. Agora até já tenho mesmo a certeza: Quem diz que não explora os sentimentos dos outros é hipócrita.

- Essa palavra o terras já usou. Vê se dizes qualquer coisa de novo.

- Já sabes que eu cago para a originalidade. E para já não há moralidade nos sentimentos.

- Ih ih tanta trivialidade. E tu também já sabes que eu acho que as televisões estão ao serviço de Satanás

- Aibeguiópardan. Esse gajo não trabalha com a asneira envitrinada pá! E as televisões são quem tem prestado o melhor serviço aos sentimentos. Senão eles já estavam transformados em stock options.

- Olhas para o mundo como se fosse um circo.

- Penso muito nessa imagem por acaso. Nem sou o único.

- Sim, sim, a parvoeira tem muita clientela

- A minha filha diria que estamos a atrofiar. Tu querias mesmo era empanturrar-me com a ladainha do comércio mediático dos sentimentos. Digo-te mais, uma lagrimazita derramada em directo é um riacho que nos leva ao céu.

- Não se pode falar contigo. És uma alma incompetente e um cérebro irrelevante. És uma pura máscara com pernas

- E até te digo, só a tiro para fazer a barba.

- Com pessoas como tu o mundo ia longe...

- A distância é um conceito arcaico. A verdadeira variável é a ilusão do tempo.

- Queimas etapas demais com a tua ignorância

- Ah! agora já te sabe bem chamares-me ignorante. Mero chalaceiro, acrescenta lá. O que se despreza é o que se admira, palhaço! e o que nos irrita é o que vale a pena.

- É pá diz-me lá uma coisa: tu gostas realmente de alguém?

- Isso agora só respondo se tiver uma televisão a filmar em directo.

- Descobri-te: com essa ironia de trazer por casa escondes uma incontrolável ânsia de que olhem para ti

- Incontrolável é uma palavra que te apoquenta muito diz lá...

- Sou responsável. Não gosto de andar à deriva. Principalmente se estiverem outros comigo.

- Não gostas de derivar, estou a ver....És primitivo, concluo!

- Ah claro, e julgas-te brilhante, um mestre da livre associação não?

- Olha lá, mas esses gajos da televisão fizeram-te algum mal

- Prometem a fama efémera. Promovem o drama artificial. Prosseguem a facilidade.

- Foda-se, e depois sou eu que brinco com as palavras. Atina: Aquela merda é só imagens a mexerem-se nuns esgares tremeliquentos.

- Julgas-te agora o mestre da redução ao absurdo. O verdadeiro descodificador – simplificador que nos vai libertar dos grilhões da complexidade

- É pá tu andas-te a preparar para algum talk-show, meu dissimulado!

- Nem morto! Preferia ser político.

- Bem, não podes mesmo ver mais televisão. Não andas a perceber nada dos programas.

- Olha, até gostei muito daquela moça, da Cardona

- Ah estou a ver ...as gravações das declarações dela devem estar a atulhar os tribunais a fundamentar toneladas de recursos. Abençoada televisão, vês.

Hoje o novo dicionário não ilustrado ficou-se no ilusionismo semiótico. No desprezo pelas palavras. Mas ainda apenas com aqueles sinais que pouco valem sem elas. Um chorrilho de “xis entradas” ao bom estilo das revistas do psicologismo fácil e flácido. Puras psicolites. Até porque de facto se os sentimentos não servirem para ser explorados servem para quê? ( entradas 466 a 474 )



" ; " - Quando não se consegue viver com a imperfeição. Nunca decidimos se é desta que vamos partir para outra. São as vidas de “ponto e vírgula”. Vidas medrosas de dizer que já acabámos, que não damos mesmo mais que aquilo.



" : " - Precisamos sempre de descobrir uma consequência. Nada se consegue fechar numa vaga simplicidade, num incipiente desconchavo. São as vidas de “dois pontos”, da “vertigem da justificação”.



" () " – Não conseguir viver tudo por atacado. Perdidos no meio da continuidade, refugiados no mito da reflexão. São as vidas de “parênteses”. Saltando de “livro branco” em “livro branco”.



" . . . " – A incapacidade de terminar em beleza explícita. Deixar sempre a entender que nós estamos mais além, mas que por vezes não podemos dizer. São as vidas de “reticências”, do ” não sei se vocês estão a ver”. Irónicos de polichinelo.



" «» " - Estar por conta. Esperar que façam por nós. Pensar que tudo se repete. Não compensa o esforço de aproveitar a singularidade. São as vidas em “aspas”. Do já foi tudo explicado.



" ! " – Deslumbrem-se connosco. Coitados dos que não nos podem desfrutar em condições. Vá aproveitem enquanto tenho tempo para vocês. São as vidas de “ ponto de exclamação”. Saracoteios de convencimento empinado.



" - " - Juntar sem fazer tocar. Deixar afastado sem perder a ligação. Vítimas duma condição de eternos medrosos do outro, mas também seus dependentes. São em vidas de “hífen”. As vidas babadas de compromissos.



" _ " - Carregar no lombo a lógica dos outros. Ser falangetas duma manápula pensadora. São as vidas de “travessão”, dos que se limitam a seguir os rastos duma mijadela vaidosa, julgando-se no trilho de predadores.



" ? " – Fazer da dúvida a idolatria mais à mão de semear. Batotices da pura ignorância. Incapazes de lidar com a aparência de contradição. São as vidas de “ponto de interrogação”. Amantes da verdade em versão flatulenta.





Seremos tudo isto. Meros instrumentos de pontuação. Não. Somos antes valentes rabiscos.

Desgraçadamente nenhum creme adelgaçante quis patrocinar esta coisa.
Deus, a kodak, e as gajitas



Ouvia ontem na rádio que Jesus tinha “transmitido” as suas mensagens mais radicais junto de mulheres. Ele «faria assim parte do lado feminino da história». É uma ideia luminosa e mesmo encantadora. Espero sinceramente que Deus nunca nos venha a revelar os mistérios do feminino. Assim poderemos continuar a espreguiçar-nos neste conceito com um misto de deleite e de estremecimento.



E já que estou nesta coisa das revelações, espero ainda que Freud vá roendo as unhas por muito tempo – esteja ele onde estiver – sem saber se o inconsciente afinal existe ou não. Bem!... é que se afinal não existe....estamos todos fodidos. Meninos e meninas. É que nada poderia ter sido “sem querer”.



O que também acabou por não nos ser revelado – reparo agora - foi se as aparências iludem ou não. E se o que está por detrás das aparências também é uma ilusão ou não. Justificava-se uma revelação relaxante: “ há que descascar e andar”. A nossa suave sina será a de ir preparando o refogado sem poder olhar de frente a cebola.



Mas esta última revelação só nos relaxa “às primeiras”. Fica a faltar a derradeira revelação: andar para onde? É a já conhecida obsessão do sítio. Deus também foi malandreco e deixou-nos a pensar onde é que Ele estaria. O espaço, esse entretenimento de cabra-cega dos filósofos e dos físicos foi revelado ao bom ladrão: «Ainda hoje estarás comigo no paraíso». Ele aí sim relaxou: finalmente iria descobrir o que era o feminino. E com as miúdas por perto. Decifrando o “stabat mater”.



Votos de que o feminino seja sempre terno e eterno, são os deste que foi fruto dum ventre bem mandado.

Walk around



Raciocinar até que é bom. Fantasiar também pode ser recomendável. Reduzir a realidade ao absurdo também nos conduz a fascinantes visões. Subverter a ambiguidade que transpira dos factos também pode resultar naquele humor que parece descodificar o mundo.



Paralelamente nós procuramos uma “paz de alma” que nos coloque acima das nossas paixões num sereno ensimesmamento, ou palpitamos por uma virtude especial que nos torne insensíveis aos sucessivos impactos dum destino provocador e determinante.



Ou seja, vivemos como fantasmas penando à volta do “bem pensar”, ou à volta do “bem viver”.



A ânsia de conhecer e a ânsia de desfrutar são mesmo duas falácias da ordem do obsessivo muito próprias da nossa condição humana.

A incerteza intrínseca ao conhecimento leva-nos tendencialmente a reduzi-lo e a tê-lo controlado, “protegendo-o” na redoma da ciência ou da técnica, ou então reagindo e enveredando pelas fórmulas bizarras dos mais diversos “visionarismos” (esotéricos ou não).



A incerteza da vida e do seu destino leva-nos, por outro lado, a encostar ao conceito abertíssimo de felicidade todas as fraquezas que nos confirmam como seres trôpegos. Ou arrastando-nos em hedonismos envergonhados mais ou menos camuflados, ou “escondendo-nos” em excentricidades mais ou menos exuberantes.



Mas com o nosso estilo “preceituário” apenas gerimos as várias dimensões da nossa condição



Faltam-nos funcionamentos que pela sua tendência amalgamante – e portanto pouco límpida – nos ”libertem” desta quase certa “banalização” da nossa existência. Chamar-lhes-ia “funcionamentos diletantes”. A ciência já os utiliza com algum temor, a arte sempre abusou deles, e a politica foge-lhes a sete pés; falta trazê-los à levedura dos dias.

É certo que com frequência promovem e alimentam sobrancerias estéticas, mas raramente os vi mastigarem soberbas morais.

Ora de tal não se podem gabar os enjoativos “pragmatismos inúteis” e as arrepiantes“vidas bem vividas”.



A análise da realidade política ganharia mais hoje com este funcionamento “centrifugador”, do que com os cantares de de ideias feitas que embalam a populaça arreganhada e mais ou menos remediada.



Hoje, por exemplo, foi a minha Fátinha que me inspirou outra vez: Ela “diz” que quer governar Felgueiras por telefone. Eu cá por mim se for ela a pagar as chamadas não me oponho. Também já estamos habituados a ser governados de fora (segundo nos estão continuamente a informar os empreiteiros de notícias) e assim a corrupção sempre se pode controlar melhor pelas escutas.



O poder mais nobre é o poder ausente. E o poder mais forte é o poder que não se sente. O poder da possibilidade.

Quando fizermos o nosso baralho dos mais procurados do regime, Fátinha será a minha dama de ouros. Mas vai ser difícil escolher as “senas” tristes, tal a quantidade de hipóteses possíveis.

Hoje o novo dicionário não ilustrado apenas pôs o poder num “saco de gatos”. (tipo coluna de trocadilhos que qualquer suplemento de fim-de-semana usa para explorar leitores fiéis e aliviar tipografias com excedentes de tinta) ( entradas 453 a 465 )



O poder baralhado - poder que queima os trunfos fora do tempo



O poder confundido - poder que derrete ideias boas em processos caldeirados



O poder encaramelado - poder que nunca sabe quando tirar as medidas doces do lume



O poder clientelista - poder que passa mais tempo ao balcão à espera de fregueses do que a arrumar a loja



O poder suicida - poder que vai à janela para receber aplausos, e depois verifica que não está lá ninguém em baixo.



O poder esclarecido - poder que só tem visão nocturna



O poder incompreendido – poder que não cabe em si próprio



O poder atrapalhado - poder que usa a fazenda pública para apenas remendar os buracos



O poder fantoche – poder que tem sempre alguém a mexer-lhe debaixo das saias, mas não se pode rir, nem revirar os olhos



O poder alarmista – poder que em vez de usar a cabeça e uma mão firme, usa uma sirene e uma buzina



O poder responsável – poder que pretende acompanhar a caminhada dos penitentes com uma cantilena de responsos



O poder distante - poder que está sempre a olhar para as suas prateleiras (os trocadilhos são mesmo o refúgio dos incompetentes)



Poder incompetente – o poder que precisa duma oposição afrodisíaca para nos conseguir lixar em condições ( educado, hem...)



E já agora .... parece que o Vasco Pulido Valente vai voltar...Pessoal : o gajo é apenas um mortal que goza com o MST e com o JPP ! (... bem e com mais umas centenas deles...).



É verdade.. se eu um dia me lembrar de entrevistar o novo dicionário não ilustrado isso também pode ser considerado uma inovação no discurso narrativo ?...
Berlusconi parece que fez um lifting às escondidas. É rico e está no seu direito de querer ser um ícone da nova renascença. Hoje o novo dicionário não ilustrado, qual Pitanguy, vai deitar na marquesa as misérias tão apregoadas do nosso envergonhado e envelhecido país (tem é de ser rápido porque há uma grande fila de espera): ( entradas 447 a 452 )



“Marcas do subdesenvolvimento” – Cansados de tanto engravidar e de tão pouco parir, resta-nos sempre o consolo de poder eliminar as estrias da pele com os subsídios sempre a esticar



“Estado esgotado” – Depois de tanto amamentar e tão pouco saciar, poderemos eliminar as mamas agora flácidas com um orçamento de silicone.



“Falta de visão estratégica” - Depois de tanto olharmos para os outros, e afinal termos verificado que somos de vistas curtas, resta-nos eliminar os papos nos olhos para pelo menos nos podermos encarar ao espelho.



“Grandes clivagens sociais” – Depois de tanta barraca demolida e outra tanta montada, resta-nos o consolo de saber que a tenda do circo nunca ficou com duplo queixo, e assim os malabaristas foram-se habituando a conviver com as feras escanzeladas.



“Excesso de protagonismo estéril” – Depois de tanto jogo de cintura, nem mesmo assim ficámos com abdominais em condições. De vez em quando temos de injectar o líquido milagroso das eleições para ir mudando as gorduras de sítio.



“Reformas adiadas” -– Apesar dos sucessivos diagnósticos, foram-se acentuando os pés de galinha no famoso tecido das instituições; agora só mesmo disfarçando com tatuagens manhosas ou pinturas guerreiras.



Milagro de la pantalla



Uma das coisas que mais aprecio é a mediania. Aquele monte onde não estão nem os espontâneos, puros e simples, nem os sofisticados, brilhantes e clarividentes.

Montaigne, depois de rodopiar entre os extremos que se tocam, termina o ensaio “des vaines subtilitez”, dizendo que se calhar afinal os seus ensaios só “poderiam sobreviver nessa zona intermédia”. Essa “condição normal” esconjurada pelos vendedores de ideias feitas, representa os que de facto “apercebem os males (...) e não os conseguem suportar”; vale-lhes o quotidiano cruelmente fantasiado, acrescentaria eu.

É para essa “gente do meio” que afinal debitam algumas televisões agora demonizadas pelas inteligências controladoras de turno. «É lixo» – avisam-nos. Meninos de cara tapada, velhinhos caídos no conto do vigário, miseráveis sem eira nem beira, doentes à espera de curas milionárias: «tudo exploração dos sentimentos das pessoas» – continuam a avisar-nos; «distracção fácil e baixa» – esclarecem-nos, «vendidos às audiências por um prato de lentilhas» – concluem em resignação sobranceira.

Mas eu quando olho para o mundo e vejo uma “coluna de pessoas” encontro sempre os da frente com aquele ar empertigado procurando ser vistos pelo chefe, e os da cauda abandalhados sem grande vontade de acompanhar o grupo. Os que valem são os do meio. Hoje ajudar a “desfazer” o rebanho é acarinhá-lo, deixá-lo pastar em paz sem lhe estar sempre a verificar as cáries, e deixar as ovelhas escolherem os seus pousios e as suas cobrições.

Aqueles para os quais todos têm receitas de sucesso, indicações sobre o que deviam ver, ler e pensar civilizadamente, esses que vivem misturados nas “notícias incríveis” e nas “reportagens horríveis”, eles saberão viver com o “cu entre duas selas” como também diz Montaigne, sem precisar que os estejam sempre a afagar.



Obrigado televisões rascas, por nos mostrarem que o mundo é o espectáculo da mediania. Abençoada sejas Nélinha Moura Guedes, e que Deus te providencie uns lábios de Penélope Cruz na próxima reencarnação. E não te preocupes, o Leonardo da Vinci hoje também pouco mais é que um fornecedor de programas para a National Geographic.

E eu volto a ver os telejornais de braço dado com o gascão dos essais.

Os políticos vivem num momento de encruzilhada. Sentem-se de mãos atadas. O novo dicionário não ilustrado, que também andou a dobrar o Bojador da incerteza, revela-nos hoje as especiarias que podem dar um novo fôlego a essas almas penadas. É a ladainha do “pró que estávamos guardados” entoada nos novos hospícios do poder. ( entradas 437 a 446 )



Mecenato – Na culinária política, depois de desnatar a criatividade das criaturas, importa mecenatá-las. Fazem-se travessas bonitas, e no fim as criadas ainda podem levar para casa os restos.



PDMs – Ordenar o território retirando dele o máximo é uma actividade nobre, semelhante doutra, também nobre, que trata de sacar o leitinho às vacas. O que as distingue na essência é a hora a que se fazem.



Concessionar – Esgotadas as arcaicas formas de dar, vender ou emprestar, o ovo de Colombo que já tinha sido posto a cozer, empertigou-se e exigiu uma frigideira nova da loja do project finance.



Dar nomes aos bairros – Estes começam degradados à nascença. A verdadeira arte do urbanismo moderno está em arranjar os nomes mais giros.



Concordatas – Face à estrutural estreiteza de meios, os estados modernos viram-se agora para os terços. As negociações com a Cúria visam resolver os mistérios com um número mais reduzido de ave-marias.



Pagamentos por conta – Saborear o que nos entregam fiado só tranquiliza quem não pretende pagar. O poder não se penhora, senão a industria mais próspera era a das ferragens



Traduzir directivas – A legislação a metro foi a forma mais expedita que se encontrou para fazer participar os burocratas do festim do casamento do Sr. Subsídio



Referendar – Divertimento pagão em que jogando com as letras numa espécie de scrabble dos famosos se procura descobrir as perguntas mais giras para entreter o povão.



Fazer comunicações ao país – O político caridoso e empenhado tenta ainda animar-nos dizendo que o último a sair já não precisa de apagar a luz porque esta já tinha sido cortada.



Demitir-se – Excelsa libertação revelada apenas a alguns eleitos. Exercitando o supremo despojamento, o caminho desta cruz é feito pelos inóspitos socalcos da mordomia, ou pelos ínvios atalhos do ridículo.



Evitou-se a entrada óbvia de “escrever em bolgues” para não ferir susceptibilidades de cristal.
O eu escarafunchado



O anonimato seria ainda uma forma interessante para “gozarmos” connosco sem muitas limitações, e com a máxima sinceridade disponível no momento. Era o jeito da levedura se desforrar da espuma.
Para quê um título....



Estava na prisão quando escrevi todos estes textos até agora. Não foram tempos bem passados. O tempo não é algo que se passe bem. E ele também passa bem sem as frases feitas que o afagam. A minha cela até que era jeitosa. Não havia paneleiros no meu corredor, pude assim estar mais tranquilo. Mas eu não dou muito valor ao sexo. Só que comigo não podiam fazer sondagens de opinião porque o meu telefone estava cortado.

É bom ser culpado e castigado. Ao menos esse problema está resolvido. Não recalcamos impunidade. Isso dá-nos alguma paz de consciência. Não estamos em dívida. Pude assim escrever sem ter de me preocupar em acertar. Também o mundo se enganou comigo, paguei com a mesma moeda. As contas sim, essas estão acertadas. Falaram-me daquele rapaz do Kafka, mas eu não me revejo nele. A possibilidade é mesmo a realidade. Fui escrevendo. Distraía-me dos sinais que o corpo ia enviando. Diarreias, dores de costas, aftas e hemorróidas. Não lhes dava a importância que elas pediam, e acabaram por me abandonar. Fiquei bem. Só olhava para as minhas mãos. Feias infelizmente. Mas eu também não precisava do aspecto delas.

Estava preparado para simular raiva. Mas fui oscilando. Os guardas mostraram-se mais complacentes do que o abrupto. Desconcertavam-me. Toda a gente sabe: só a bondade desconcerta. A razão e o conhecimento quanto muito substituem uma chave de fendas por um berbequim. E rir, o que eu gosto de rir. Mas enfada-me o humor elaborado. Prefiro rir das asneiras dos outros presos. Boçalidades. Bem, era condenado. A juíza bem me avisou no tribunal: você veja lá se não se deixa levar. Pensei logo nos coitados dos políticos. Outras celas, outras apalpadelas... Mas fui rapidamente arrastado para a carrinha. Ainda tive tempo de olhar para os meus filhos. Não, isso não posso contar, está-me a doer muito. Merda. Volto ao início.

Eu pensei logo que ia escrever sobre a dignidade da vida purgante. Sobre aquelas coisas importantes. Mas cheguei rapidamente à conclusão de que o importante é mesmo a salvação da nossa alma. Há que viver o egoísmo ontológico como uma suave fatalidade. Coisas de reclusão forçada. Como a escrita. Acaba por nos fechar. Ao contrário do que pensava. A minha cela era mais aberta que as minhas palavras. Coitados dos que se emocionam com as palavras. Só se lhes der dinheiro. Aí ainda vá lá. Felizmente sou rico. Fui comprando as palavras certas. Trocava-as por charutos com um escritor envergonhado. Fora preso pelo uso indevido de dois “cabrões” e um “filho da puta”. Agora encarrilava ave-marias: ninguém deve desconfiar do efeito purificador das penas!

Entregava os textos à minha mulher. Coitada, ainda tinha de os inserir no blog depois de deitar os miúdos. E para nada. Sim, serviram para quê! As torres gémeas já tinham caído, o deficit já andava tremido, o Saramago já nos tinha ameaçado com o novo livro, e a velocidade da luz iria ser outra vez atraiçoada. Não fui a tempo de os avisar que a velocidade é uma convenção, e a luz uma ilusão. Aprendi isso nas frestas da cela. Uma fresta está condenada a ser uma fonte de vida. Nunca digas “cona”, aconselhou-me o escritor. Ele lá sabia, sofreu na pele. Quando pediu ao vento para lhe levar as palavras foi tarde. Já tinha transitado em julgado. Restam-lhe as contas do terço. Também ficou bem. Porque quando se repetem as palavras certas, abrem-se as portas que realmente interessam.

Só tinha colheres. Nada de garfos, nem facas. Fui assim arredondando a mente. Nunca cortava, só afastava as partes que se sentiam incómodas num “todo” que não lhes dava boa cama. Nada inspirei portanto. Ventilei apenas. Sina de encarcerado, e irrelevante.

Fui bufado e apanhado neste crime de ser parvo. «Coitadinho!...». Felizmente não podemos ser acusados do mesmo crime duas vezes. Agora já estou à vontade e aproveito para arriscar com a escrita frívola.

Não ando de cabeça erguida como outros fantoches, mas pelo sim pelo não saí de gola alta: não me apanham mais em crimes de colarinho branco.



....se podemos viver sem ele
O futuro disfarçado em sexo com café pingado



Está então agora alegremente provado pelos eminentes cientistas sociais que atravessamos um simples momento de transição, próprio de quem se arrastou anos a fio numa masmorra húmida e bafienta, sem ver o céu estrelado durante a...

Grande noite do opressor obscurantismo fascista...

A Grande noite do paranóico vulcão revolucionário...

A Grande noite do assexuado espartilho do FMI...

A Grande noite do iluminado orgasmo cavaquista...

A Grande noite do relaxante diálogo guterrista...

e.. Pensávamos entrar agora na Grande noite do fado quando de repente nos enfiam num período de transição. Com franqueza.

Entregámos então os nossos destinos aos grandes pensadores dos movimentos de massas, e eles vão agora estabelecer um “business plan” para que o nosso país rompa definitivamente com as amarras duma sociedade atafulhada em preconceitos, inibições e paradigmas perdidos.



Felizmente fiz-me amigo da miúda que servia os cafés ao senado dos sábios e que estava entretanto reunido. Sempre que ela viesse cá fora desanuviar, eu sacava-lhe as últimas que ela apanhava no gravador que lhe tinha escondido entre as suas “mais que tudo”.

Era ia sair pela primeira vez da sala, e eu estava mesmo ansioso em saber quais as etapas para o nosso definitivo sucesso....



« Ó Tóne ( onde é que eu já ouvi isto... ) tome lá esta coisa que já me está a arranhar. Aquilo é só finórios com palavras da televisão...»

(...)

1ª Fase: O Grande deslumbramento legalista: O sistema colocará na grelha todos os crimes abafados constantemente pelo compadrio e pela incompetência. As instituições serão cristalinas, e os servidores da justiça envergarão as vestes virtuosas do abandono ao bem comum. Os enjeitados da fortuna verão finalmente os seus nomes a designar as ruas. (...)

«Ela entretanto tinha entrado outra vez saracoteando-se. Eu achava-lhe piada. Estava agora a voltar outra vez. Vinha com a lagrimita no olho. Tinha despejado o café em cima dum gordo careca que até a tinha ofendido. Eu confortei-a, mas estava distante, porque queria mesmo era ouvir a gravação...»

(...)

2ª Fase: A grande vaga da informação fidedigna: Toda a mentira será banida dos media. Da vida privada apenas se descortinará o pecadilho no atraso da contribuição para as obras do condomínio. O IRS dos políticos será preenchido pelos contabilistas dos jornais. A autoregulação seria a cereja no topo do bolo (...).



«E lá se tinha ido ela embora para dentro da sala. Ajeitava a saia antes de entrar. Sonhava. Quando voltou trazia um contentamento de varina. Sentiu um dos “senadores” levemente ruborizado e inquieto quando as suas mãos se tinham tocado erraticamente. O pingo de solda da sensualidade tinha caído por ali. Deu-me o gravador com a displicência duma rainha em concubinato...»

(...)

3ª Fase: O grande manjar macrobiótico do Leviathan. O Estado será pessoa de bem. Modelo de racionalidade. Parcimonioso e cumpridor. A Irlanda deixava de ser o modelo. Tínhamos avançado mesmo para a perfeição repescada da utopia social democrata. O erário “superavitava”. Obtínhamos receitas extra com os suecos, que viriam cá estagiar nas nossas repartições públicas, agora embelezadas com Noronhas da Costa (...).



«Quase nem me despedi dela. Foi a correr, chupando os lábios para os fingir carnudos enquanto negligenciava a franja. Mas voltou irritada. O café começava a ficar frio, e ela estava cheia de medo duma fedorenta que se sentava à direita do mais importante. Feiosa mas bem vestida – dizia – e uns collants que já não se usavam, misturados com umas gengivas enormes que arranhavam desprezo pelos mais fracos. Achava que todos tinham medo dela porque aceitavam sem pestanejar o que dizia. Está tudo aí na cassete despachou-me...»

(...)

4ª Fase: A grande Primavera do Estruturalismo. Portugal despede-se do seu vício de ser informal. Tudo estará planeado e regulamentado até ao mais ínfimo pormenor. Na maternidade é atribuído o nº do jazigo. Iniciar-se-ão os testes psicotécnicos na primeira comunhão. Com a declaração de IRS em dia poderemos tirar um bilhete de época para a Ópera no S. Carlos. Depois de se explorar três anos uma barbearia poderá automaticamente abrir-se uma farmácia. Tudo estará delineado (...).



«Treinava o olhar enquanto voltava com os cafés. Os espelhos não mentem, dizia-me sabedora. Mas não sabia nada. Retornou perturbada e inquieta. Eles - dizia - andavam a prometer grandes mexidas no “ivaginário” nacional. Tremia. As últimas notícias que mostravam o homem português um violador agressivo faziam-lhe agora todo o sentido. E olhava ciosa para as suas partes íntimas, como quem adora um sacrário em vésperas de mais uma razia do Islão. O gravador vinha húmido mas não enganava...»

(...)

5ª Fase: A grande libertação das elites. A ciência seria agora o verdadeiro motor da sociedade portuguesa. Células, moléculas, protões, todos se ajoelhariam perante o beneplácito da direcção geral da indústria. Nem mais uma investigação na gaveta. Nem mais um cientista refugiado em Badajoz. Bush chegará a Marte. A bandeira será americana, mas o pau será nosso! (...).



«Quando ela voltou para dentro da sala já levava aquele sorriso matreiro adivinhando sexualidades reprimidas. Só que quando regressou vinha morta de riso. Tinha-se arrumado a confusão total. Já se ouviam palavras que ela julgava só se dizerem lá no bairro dela. Parece que se tinha de adiar tudo porque a última fase era muito controversa. Arranquei-lhe o gravador das mãos, enquanto ela se lambuzava de gozo com a minha sofreguidão....»

(...)

6ª Fase: O grande paraíso da Lusofonia. Portugal o país integrador. Um idioma feito potência. Unidos pelo verbo de Camões e pelo esperma de Gama e Cabral. Refundaríamos a grande barca lusa e navegaríamos pelos oceanos colhendo na nossa rede de fraternidade todos os povos irmãos.



Não seria o quinto dos impérios (desculpem lá o mau jeito...) mas um império da quinta casa.

Ela só lá voltaria agora para limpar os cinzeiros. Destino da tanga. O gajo mais bem parecido pelos vistos nem lhe tinha prestado muita atenção. Ela estava desconfiada. Nenhum homem de bem desdenha uma moça bem parecida e que gosta de servir cafés pingados.

Eu cá era só o rapaz das gravações.
Casa pia em terra pífia



Instalada a vertigem comentadora e lacrimejante sobre o estado da nação, e “acomodados” com o diagnóstico parvo da crise das instituições – “agrada” a todos – mais não fazemos que engordar alegre, mas escandalizadamente, à mesa do banquete da asneira (alheia, claro!).

Pois então...

Os vícios privados que têm “acusações” públicas sempre fizeram parte daqueles enredos que engordam editores, comovem leitores, empolgam escrevedores, achincalham honras bem ou mal construídas, e empoleiram mitos.

A perversão, a doença e o crime são alarvidades da nossa condição, que por mais que se queiram moldar se apresentarão sempre em barro desgraçado e falso.

O Estado foi-se enroscando nelas como pôde e geralmente com boas intenções; que valem muito no caso do Estado, porque o que o espera é mesmo o eterno purgatório.

A justiça é uma dessas boas intenções, e de vez em quando, inevitavelmente, um dos fados mais cantados pela voz arrastada dos periscópios de serviço. Enteada de Deuses.

A curiosidade humana serve a vários senhores, e por isso é uma agente dupla que acaba sempre por provocar desgraças em todos os lados da barricada.

Haver vítimas e culpados é a consequência dum registo da nossa “humanalia” que (apesar de não aceitar a ideia de Bertrand Russel de que a vida seria a competição para sermos criminosos em vez de vítimas) é pendular, fortemente dialéctica e – anacrónica e inesperadamente: muito definitiva.

Nós só “compreendemos” a transitoriedade como mera passagem entre definitivos. A física explica.



Mas a bela da verdade é que eu até acho que até temos estado menos mal. Vejamos como têm andado os maus da fita:



Os políticos. Só estavam preparados para a batalha naval em papel quadriculado, e de repente apareceram-lhes outra vez com exercícios em fogo real. Mas a força das suas cumplicidades e das suas tácticas manteve-se intacta, e acabaram por navegar nestas águas como todos: a reboque do diz que disse. Não dão mais que isto. Estão talhados para gerir expediente. Ao menos não provoquem bichas.

Os advogados. Têm demonstrado ser um dos elementos de mais competência neste processo. Asseguram a defesa, ou seja: que todos têm o direito à sua subjectividade, à explicitação das suas atenuantes, quaisquer que elas sejam. A lei é de facto também um instrumento. E todos somos casos especiais, como diria o tão badalado Camus.

A prova. Estamos perante o “inebriante” caldo do direito penal. A justiça aqui só se “deslumbra” perante os factos provados. E o que é isso? Uma convenção, claro. Mas que só se constrói com as nuances de uma circunstância, de uma testemunha, de um depoimento. Não pode ser doutra forma. Mas não dá para ser entendido por todos, ao mesmo tempo, e sob o mesmo ângulo. Está na sua natureza. Picasso explicaria.

Os Juízes. Por mais que tenhamos sonhado diferente, são produto duma sociedade que já apresenta em catálogo os que são “bons” e os que são “maus”. É a “ciência” jurídica que ainda atenua esta fatalidade. Mas nós mantemos a ilusão idílica de que haja sempre alguém que nos entre pelos complexos adentro, e salomónicamente separe por nós o trigo do recalcamento do joio da fobia. Somos uma seara freudiana.

A separação dos poderes. Falsa questão. Débil e esgotada causa. Falacioso alicerce duma sociedade que não se habitua a viver encafuada nuns caboucos cheios de folgas. E ainda para mais desfoca-nos duma questão essencial: a competência técnica e o seu controlo. O capitalismo explica.

A Procuradoria-geral da República. Um dos elementos mais frágeis desta salgalhada toda. Quando numa instituição não se pode mexer num determinado momento por causa disto ou daquilo, então é porque ela está mesmo mal amanhada e precisa de ser reparada. Já não vivemos em tempos onde ser sisudo e pacato inspire confiança. É preciso ter força e estar de peito feito, rodeado de gente competente. E ser ambicioso. “Segredo de justiça” é liderança, competência e organização. O modelo da PGR em Portugal para os “novos tempos” está fanado. Pelo menos copie-se. Às vezes até vem nos filmes.

A comunicação social, a notícia e a investigação jornalística. Confrontar o direito à informação com o direito à privacidade é uma luta inútil. Vivem de lógicas diferentes e só podem encontrar o equilíbrio pela via da... “força”, ou do famoso e traiçoeiro pacto. Acho que a comunicação social tem estado razoavelmente bem (“apenas” incompetente nalguns casos...). Ela tem sempre uma lógica de contra poder. Tem forçosamente de arriscar (excepto as agências noticiosas). Os cidadãos não podem estar a pedir aos iluminados que os defendam dela! Os excessos são a natural “resposta” aos “testas de ferro” duma sociedade que vivia aparvalhada pela ignorância. O Eduardo Lourenço dizia que passámos directamente da 4ª classe para a sociedade da informação; ou seja, o povo tem mesmo é de se aguentar à bronca! Só faltava que os jornalistas agora ainda fossem os sacristães da moral pública. A defesa da privacidade faz-se ou com leis severas ou com concorrência e competência na informação. A notícia é um refrigerante. E as pessoas têm de se ir habituando a bebê-la como tal.



Apoucados sejam os que nos fizeram chegar até aqui pensando no mundo como uma alegoria de direitos, embelezada por lindas parábolas de liberdades. Enxerguemo-nos: somos uma mera quermesse de mexericos.

“Se o teu desejo é como uma cidade fortificada,

com tempo um cerco o fará desmoronar”:
Lê-se com prazer na Rua da Judiaria.

Saibamos viver em campo aberto. Como Mongóis.



O Portugal sublimado



1. O sexo dos portugueses parece estar nas bocas do mundo. Pelo menos espero que aproveitem. (O A. Theias não perdeu tempo e pelos vistos terá dito que no ministério dele só há casos bicudos...)



2. Face aos vários complexos detectados, o quiosque da minha rua vende o Expresso dentro da capa do Blitz por mais 50 cêntimos.



3. Mourinho é eleito o melhor treinador pela votação no site da UEFA. A ADSL no Porto deve estar ao preço da uva mijona.



4. Alberto João diz que é uma velha meretriz. Todos os 1ºs ministros depois do 25 de Abril foram a correr fazer os testes.

Em tempos o Thomaz notou que para uns escrever blogues é só mais uma forma de estar só. Para todos os efeitos isto para mim não passa duma jardinagem (quase) solitária, dum capricho disfarçado até duma falsa socialização. O novo dicionário não ilustrado olhou hoje para as parolas gregaridades que atafulham o meu pousio. ( entradas nºs “já não sei a quantas vou” até "prai mais de 400” )



Pandilha – Quando um grupo de meros malandros recheia a sua malandrice com uma papa picante chamada ideologia, e serve-a morna com um nome mais ou menos sofisticado simulando o salvo conduto para o paraíso.



Seita – Quando um grupo de iluminados tem medo que se descarregue a bateria alimentadora das visões, e através de uma rede de extensões e fichas triplas garante estar sempre ligado à corrente.



Panelinha – Quando a sorte é procurada em conjunto, porque ninguém tem coragem de ser feliz sozinho.



Grupo de sueca – Quando todos gostam de assistir ao naipe da moda, e jamais contrariam o trunfo de serviço. Geralmente atraiçoam-se com os trejeitos da batota.



Quadrilha – Quando roubar é a missão mais nobre e redentora que se encontra à mão, os mais perigosos são os que andam de mãos nos bolsos e a assobiar como se não fosse nada com eles, e os lorpas são os que lhes abrem as portas com o telecomando.



Clã – Os laços fortes do sangue prendem aqueles que temem a “transfusão” que é andar por conta própria.



Máfia – Quando o amor não se celebra com beijos na boca, mas a vingança se antecipa com beijos de judas. A língua até pode desaparecer da circulação quando menos se espera.



Comunidade – Quando andamos todos de braço dado, é a maneira de nos iludirmos que só nos metem as mãos no bolso os que estão fora da roda.



Grupinho – Quando um diminutivo acrescenta um carácter ambíguo a um conjunto de jeitosos, eles passam a ser encarados como um cestinho de fruta à espera da cliente apalpadeira.



Condomínio – A morada é a etiqueta da sedentariedade. Sonhamos com a contrafacção permanente, e olhamos para os vizinhos vendo neles o resultado dum preservativo furado.

Portugal dos Pequeninos e PS dos ...gambozinos



Soares reservou para o seu crepúsculo político as nobres tarefas de odiar Guterres e Portas. Nem todos os velhos infelizmente se tornam Gandalf. No entanto, esta sua “proposta/hipótese” (terei ouvido bem?) de Sousa Franco para a presidência até mostra um carinho especial com os comunas. Como já tinham engolido um sapo inteiro em tempos, agora oferecia-se-lhes um já trincado.



Nélinho Maria Carrilho diz que se quer candidatar à CML porque Santana deve ter um adversário a sério. Ou seja, o tipo não quer ir para a Câmara porque acha que dará um bom presidente, ou que Lisboa será um paraíso com ele, ou porque a Bárbara lhe pediu, não..., ele apenas diz que quer disputar o título com Santana. Nobres motivações as destes filósofos políticos. Afinal para a promiscuidade entre futebol e a política, esta já não precisa sequer do futebol. Auto-promiscua-se no prazer solitário observando quem esguicha mais longe.



Entretanto aparecia Lamego no Chiado a desfiar um chorrilho de banalidades sobre a alternativa saudável aos partidos sem “competir” com eles. É o velho sonho de estar dentro e fora ao mesmo tempo. De ser diferente sendo igual. De ser terceira via sem estar em contra mão. No fundo os restaurantes têm de ir fazendo o seu negócio.

É pá agora da Ana Gomes é que não me estou a lembrar de nada...anda entretida a recolher assinaturas...já descobriu o seu verdadeiro espaço de intervenção.



Esta Oposição virá no kamasutra ?...



E porque é que eu perco tempo com isto?
God at blogger - live



Apesar de me ter parecido um tema tratado em “circuito fechado” aqui na blogosfera, ou seja emparedado no meio dos blogs de “algum engajamento doutrinal”, o balanço entre a religião como diálogo íntimo entre o homem e Deus, e a religião como uma tal de «vivência comunitária da fé» deixa-me sempre mareado. Já um bocadinho fora de tempo... mas não fui capaz de resistir a petiscar deste refogado.

O associativismo religioso (por mais tinta que faça correr) é impulsionado apenas pelas “regras básicas”: o pessoal não é capaz de estar sozinho. As pessoas colam uma às outras. Este ajuntamento apela ao conforto da eficiência colectiva. E por mais que douremos a pílula com a exegética: fé é conforto.

Ora viver a relação com Deus duma “forma mais isolada” é um eterno confronto entre a aspereza duma dúvida que não se pode afagar com a luz dos outros, e o facilitismo de não termos de “ir sempre a jogo”, de poder pôr o dedo no nariz enquanto nos benzemos.

Alguns místicos (a Sta Teresa que passa algumas vezes pelas “pestanas” deste blog por exemplo...) aparentemente resolvem isto, mas à conta de uma economia de graças que parece ultrapassar o nosso orçamento. Ou a nossa inteligência.

Por isso quando somos demasiados reflexivos sobre o “fenómeno religioso” podemos esquecer o “mecanismo do religioso” e o seu encaixe na nossa alma: descoberta intima do divino. É verdade, esta descoberta não é feita apenas pelo piscar das suas luzes na diáfana “oração não associativa”, mas o Tiago que se arrepia com a presunção da transparência (e bem!) já se deixa um bocadinho levar pelo encanto da “ adoração de garagem ”. Não se pode levar a mal: uma alma que não se abra com a gazua da pureza, pode bem precisar da chave de fendas da imitação e do empolgamento.

Mas ulcera-me (ele gosta desta palavra cheira-me...) ter de dizer ao Tiago que o tal de S.José que ele fala, é o que a arte sacra lhe revelou. Eu não sei se esta tal arte já levou alguém ao paraíso, mas duvido que tenha possuído alguém indevidamente. Coisa de que um discurso articulado e doutrinal já não de pode gabar

Estará Deus rebolando de riso com as cantilenas no esconso rés-do-chão? Estará Deus a espirrar na cúpula da catedral por causa da alergia ao incenso. Gostará Deus de ver o seu nome cantado. Gostará Deus de ver o seu nome sussurrado. “Dah”! O importante é que ele goste de mim. E gosta. E do Tiago. E gosta. E do outro pessoal. E gosta.

Há almas que se encantam no aconchegamento dumas nas outras. E há almas que se libertam “enconchadas” em si mesmo.

Mas a salvação é sempre um fechamento.



Esta ideia roça a uma heterodoxia quase meramente “rétorica”. Mas a dualidade “ortodoxia – tolerância” parece-me irrelevante. Estas duas barcas já estão demasiado encapsuladas para nos poderem transportar para algum porto de jeito. Seguro ou não.



Bem ...confesso... escrevi esta cangalhada toda sem nexo porque estou a fazer horas para ir buscar a minha filha onde não a queria deixar ir. Não estou confortável.

A long way to paradise



Os vícios privados que “engalanam” Portugal, não escondem que somos bem mais conhecidos pelos nossos vícios públicos.

Agostinho da Silva disse em tempos que Pessoa tinha respondido com o «aqui ao leme sou mais do que eu» à ideia de Camões da «terra vil e pequena». Acrescentava que o nosso caminho era descobrir uma «técnica que liberte o homem para as tarefas que verdadeiramente lhe competem» para chegar a um «céu com menos mito e mais realidade». A nossa grande «jogada» seria ir «arriscando tudo pela nossa própria liberdade».

Agora vemos: agarram-se ao leme os que afinal são menos que eu, e arriscamos a nossa liberdade por nada. Mito já não sabemos sequer o que é. Deixou de vir nos jornais. Os analistas de turno apenas nos tocam concertina. O País é de sanfona.

Só que o Marcelo que nos deixou assim apeados foi o Caetano.

Camões volta, estás perdoado. Escolhe um dia em que não haja greve na carris, não se venda um empresa a um espanhol, e não haja notícias da casa pia.

E agora uma palavra de alento: façam merda, mas lento.
Terras sem nome



Fui à sessão dos anónimos anónimos. Ia arrepender-me de certeza. A seca do costume. Uns fantasiavam num fetichismo parolo, outros arvoravam-se em ilustres desconhecidos, outros apenas se encolhiam calibrados pela timidez. Ninguém olhava de frente. Mal sabiam eles que eram todos feios de perfil. Bem, alguns encantavam. A quem? Às miúdas da recepção. As que guardavam as fichas de inscrição. Ah...e aquele que se desfazia numa verborreia irrelevante. Era o que estava sempre a mudar de nome. Disse que já tinha chegado a usar o verdadeiro. Era a sua glória. Foi expulso. Não se podia admitir um anónimo que gozasse com o anonimato. Saiu com o rabo entre as pernas. Gaguejava. Quando usava o nome próprio gaguejava. O anonimato era o seu cantar. Ninguém ficou com pena dele. Os anónimos não têm pena de ninguém. Mudaram logo se assunto.

«Um dia ainda hão-se saber quem eu sou» - dizia o gordo. Falaram depois algumas sexualidades mal amanhadas. Andavam arrogantes por estes dias. Mas já não faziam tanto furor. Avançávamos para a segunda ronda. Alguns não tinham querido falar. Tinham medo, ao que parece. Ou «refugiavam-se no medo», cochichava a minha vizinha anónima do lado. As mulheres são terríveis. Não podem ver ninguém a sofrer.

«Um dia ainda hão-se saber quem eu sou» - dizia o gordo. Outros queriam falar sempre no fim. Queriam aparentar ser os diferentes. E havia sempre quem lhes desse atenção. Eram os anónimos estratégicos. À espreita dum bom negócio no anonimato. Ah.. claro, e apareciam uns de que ninguém gostava. Eram apenas uns cabrões. Só que também tinham direito a falar. Tinham as quotas em dia.

«Um dia ainda hão-se saber quem eu sou» - dizia o gordo. Mas começava agora o da conversa mole. Que dizia só ser anónimo para não estar tão condicionado, e poder ser adorado sem limitações. Enjoava. O outro não aguentou. Era um dos mais veteranos. Tinha ficado sem memória-de-si depois de um acidente. Atirou a cadeira para o chão e foi-se embora: «metam a vossa identidade no cu». Ela - a outra - ficou a chorar. Amava-o. Tinha-se feito anónima só para estar ao pé dele. «Agora é que vão saber quem eu sou» - levantou-se o gordo, que afinal não era gordo. Abre o casaco, mostra as bombas enroladas à pança. Arrependi-me de lá estar.

O juízo final deve ser por ordem alfabética. Eu cá sou António.

Há cegada no casino do reino do papo-seco. O novo dicionário não ilustrado bem queria fugir a isto, mas caiu-lhe na rifa ir ver o padeiro.( entradas 419 a 426)



Fermento – É o sonho dos que se julgam aspirantes a predestinados. Mas este exército de cavaleiros andantes só ganha a guerra com um batalhão de escravos para juntar a água, e uma bateria de crédulos para atiçar o lume.



Moagem – Processo que parecia relegado para o jurássico da era industrial, mas que afinal se encontra a reger a forma como o poder nos acaricia o juízo.



Pão duro – Quando se deixam os factos dum dia para o outro, eles acabam por secar e enrijar. No entanto, se depois lhes dermos o calorzinho da grelha do anonimato e os barrarmos com a manteiguinha das notícias tornam-se bem apetitosos.



Pão-de-leite – Muitas vezes é preciso adocicar e amaciar a realidade. Ela até ganha boas cores e fica a parecer coisa para crianças. É a altura em que alguns galifões se afiambram lá dentro, e acaba por se descobrir que afinal aquilo dava uma era boa refeição.



Trigo panificável ( as coisas que um gajo vem a saber por causa dos blogues) – Nem todo o povo que é moído acaba por se trincar em condições. Ele há gajos com os quais não se faz farinha facilmente, e por vezes encurralam-os, criando-lhes dependência duma ração enfarinhada chamada subsídio.



Pão de forma – Outro dos sonhos de quem quer controlar o que os outros podem comer. O mundo deve então ser servido numa bandeja com as dimensões correctas, fofinho por dentro, mas com a consistência necessária por fora para se poder distribuir as benesses nas doses que mais convenham.



Côdea – Depois de ter deixado a realidade a cozer pelos analistas, geralmente ela vem com uma crosta que muitos até apreciam, mas que a outros – se ficar a cozer muito tempo em fornos pouco arejados – pode-lhes partir a placa.



Pãozinho sem sal – Gente que até fez uma boa cozedura, que moeu bem as ideias, pôs o fermento certo para parir uma carcaça robusta, mas vai-se a ver aquilo satisfaz as enzimas desalmadas, mas não abre um coração.

A “bola” acabou. A fada foi madrinha.



Um ”lagarto” como eu olha para um Benfica-Sporting com a mesma terna inquietação com que olha para a economia da salvação. O buraco de uma agulha...a porta estreita... o reino dos céus só aparece mesmo quando a gente não está à espera.

"Infelizes" dos que não podem desfrutar deste mareamento que produz a “aficción” clubista do futebol.

Não sabem que só um insulto mais ou menos sussurrado, ou uma vontade-bem-sentida de esganar alguém é que podem libertar uma alma aparelhada pelas grilhetas do incompreensível. É o absoluto-relativo que se torna apenas absoluto. Despedimos a razão e estamos a borrifar-nos para a justa causa. Os olhos já não vêem, apenas fazem uma refracção viciada, vibrante e viciante. Como numa tragédia. Como numa comédia.

Um penalty é um regaço. Quando o leitinho escorre para o nosso lado.

A estética da “bola” não se pode dizer que seja complexa, nem sequer rica, mas gosto de vivê-la num conceito de fronteira: ”Interessante”. E ainda de conviver com ela na baba do ideal romântico a “ver lá muito mais do que aquilo que lá está”. Não estou com a nostalgia do divino, nem do infinito, mas apenas a embebedar-me na vitória. O novo dicionário não ilustrado hoje para festejar foi enfrascar-se numa delectatio morosa. ( entradas 410 a 418)



Política da “paradinha” – Gostar de refrear um pouco para insinuar que se vai legislar num sentido, para depois poder “atirar” à vontade para o lado contrário da populaça, que fica a fazer aquela carinha de carneiro mal morto, olhando conformada para a sobranceria do “rematador”, e derramando suspiros sobre o infortúnio da sua condição.



Políticos de “fora-de-jogo” – Quando a realidade está a avançar, eles ficam parados à espera de que lhes ponham outra vez o mundo ao pé deles, e no estado em que eles o encomendaram.



Políticos de “arremesso lateral” – Pelam-se por ver os outros aos encontrões, aparentemente em suspenso daquilo que eles vão fazer. Da sua actividade não sai nada de jeito, e o seu momento de glória é mesmo quando estão apenas a ameaçar que fazem.



Políticos de “carga de ombro” – Não pensam de jeito, não se antecipam a nada, não tomam a iniciativa, apenas correm atrás dos outros, esperando o momento de desequilíbrio para se encostarem, fazendo então aí a figura dos fortes e avisados que agem sempre dentro da lei.



Política de “simulação” – No fulgor que é o drible, a política extasia-se em passar por onde não se espera. De surpreender. Mas não gosta que atrapalhem, que façam muitas perguntas. Fazer de incompreendidos no meio duma trapaça, é então uma matreirice que ora rende muito bem, ora entala a enguia a caminho do ensopado.



Políticos da retranca – Estão sempre à coca para aproveitar uma falha de marcação dos amargurados que desconfiam dos iluminados; logo lançam um contra-ataque fatal, sôfregos com o prenúncio do massacre.



Políticos de “folha seca” – Não agem de frente, nem agem com balanço próprio, aproveitam sempre os factos que lhes aparecem a saltitar, para aplicarem uma sapatada bela, irónica e blasé, com o ar de que chegam sem esforço onde os outros se têm de esfalfar e carpir.



Políticos de “chuta para canto” – Viver no sufoco de ser controlado, de ter de mostrar serviço, de fazer pela vida, é uma canseira para mamíferos que não gostam de respirar fundo com frequência. Como as suas prerrogativas não incluem umas guelras de serviço para poder ir relaxar para os corais, a única safa é mesmo, de vez em quando, entreterem o resto pessoal com as notícias servidas a preceito.



Políticos da “bola de ressaca” – São aqueles que deixam rolar os factos quando eles vão aparecendo pela primeira vez, e resguardam-se para apanhá-los mais a jeito, já depois de terem sido trabalhados e embrulhados pelos comentadores de turno.

O mundo é das crianças



O Pai Natal sentiu que já estava mas era a “encher o saco”, e nem esteve para esperar pelos Reis. Decidiu ir-se já embora, mas como é uma pessoa de bem e educada, não se foi sem nos deixar umas palavrinhas.



“No ano passado tinha-vos dado aquele brinquedo novo dos blogues. Vi que andaram muito excitados, e eu fico sempre muito contente quando os meninos se satisfazem com as coisas lhes dou sem pedirem. Agora vejam lá... aquilo é bonito, mas não é para vocês estragarem. Brinquem com compostura, porque só se fazem crescidos dando-se ao respeito; e se é verdade que só vos lê quem quer, há meninos que são muito crédulos e ainda acreditam em tudo o que vocês dizem; pensem nas vidas que podem estragar.

Aliviem pois, mas também não sejam muito chatos. Mesmo assim eu distraio-me a ver meninos que passam o tempo a dizer porque é que escrevem, porque é que não escrevem, porque é que escrevem sobre isto, mas já não escrevem sobre aquilo, desfazem-se em explicações porque é que estiveram sem escrever, que se calhar não aguentam a pressão de escrever sempre, que afinal escrever é giro, e agradecem, e incensam, e é porque os compreendem, e é porque não os compreendem, e é porque não são como os outros, e é porque são como todos. Se calhar já estou arrependido de vos ter desmamado do Messenger cedo demais...

Olhem que os senhores do blogger deram-me isto na condição de trocar. E ainda podem desligar a coisa da ficha. E isso dava-me pena, porque ver os meninos entretidos sem chatearem os senhores crescidos, é das melhores coisas que eu posso fazer pela paz no mundo.

Houve um menino que ficou chateado porque não queria um blogue, e que preferia ter recebido mesmo a pista de automóveis. Fiquei com pena, mas pode ser que ele ainda perceba que é praticamente a mesma coisa: só se brinca com carrinhos a fingir, e anda-se sempre à volta não se saindo do mesmo sítio.

E esta coisa de chamarem ao brinquedo o “sítio” também é comovente. Mesmo sem vos ter oferecido uma assinatura da “Science et vie”, já vos vejo a tratarem o conceito do “Espaço” sem complexos, e sem as limitações da física clássica. Enternecem-me quando dizem, do género: “ aqui neste meu espaço”. É o verdadeiro amor à topografia.

A próxima revolução será quando descobrirem mesmo a nova força básica da natureza. A inspiração provocada pela nova descoberta do núcleo do átomo do conhecimento, dará às vossas palavras uma força que tirará definitivamente a verdade do poço. Qual “gravidade”, qual “electromagnética”: será a força do blog. A força das ideias livres correndo e desafiando o seu destino, ao arrepio das profecias.

Poderei nessa altura ir descansar, até porque as minhas renas estão a ficar incontinentes e eu já não ganho para as fraldas.”

Touch me baby



A clássica discussão entre “o intelectual” e o “homem de acção” cada vez mais vai perdendo o sentido. A sofisticação de novos “estados da natureza” - como a “informação”, a “opinião”, a “ignorância” e o “sucesso”, por exemplo - conduziu aqueles dois formatos para uma anquilosada significação.



Os tempos são de outros mestres: os grandes manipuladores.



Estas boas espécies aparentemente deviam viver entoupeiradas, mas o ar desconsolado e rarefeito das catacumbas do “conhecimento” e do “trabalho” atrai-os agora à tona, e eles até não se têm dado nada mal com este ambiente poluído. Como não precisam de estar sempre a respirar, só o fazem quando o ar está realmente oxigenado e ansiando combustão, aproveitando o resto do tempo para esfregar as manápulas nos espíritos mais carentes de quem tenha a piedade de pensar por eles.



Os grandes manipuladores têm um poder que não se sabe donde vem. Consta que lhes é atribuído por artes mágicas. E apalpam-nos, enfeitiçados com essa sua inesperada capacidade de subverter os factos e as pessoas, já de si entregues à frágil sina de pozinhos de cheiro.

Triste palermice esta de nos deslumbrarmos aos espasmos duns fantoches que andam a mando dalgumas fadas tolas da Razão e da Moral. De nos deixarmos levar pela mão, abusados por predadores de consciências e delinquentes de meias verdades.

Manipuladores: seres feitos para um mérito irrelevante. Encantadores de patos bravos. Até podem dispensar audiências, ou cortes de fiéis, mas só se saciam com os relicários cheios de mentes escravizadas por olhos esbugalhados.



Mas temos uma pequenina vingança. Tudo afinal lhes vem da estranha percepção que alguns têm do seu sucesso, do seu saber ilusionado, da sua influência, da sua competência, da sua intuição. Ah ! Então os manipuladores estão nas mãos das expectativas dos manipulados. Estranho compromisso, abençoada trivialidade. O poder do manipulador está então nas mãos de quem pode sufocar ou inebriar-se com ele.



Venham manipuladores. Penteiem-me sim. É que eu adoro adormecer enquanto me mexem no cabelo. Pago com American Express.