Touch me baby



A clássica discussão entre “o intelectual” e o “homem de acção” cada vez mais vai perdendo o sentido. A sofisticação de novos “estados da natureza” - como a “informação”, a “opinião”, a “ignorância” e o “sucesso”, por exemplo - conduziu aqueles dois formatos para uma anquilosada significação.



Os tempos são de outros mestres: os grandes manipuladores.



Estas boas espécies aparentemente deviam viver entoupeiradas, mas o ar desconsolado e rarefeito das catacumbas do “conhecimento” e do “trabalho” atrai-os agora à tona, e eles até não se têm dado nada mal com este ambiente poluído. Como não precisam de estar sempre a respirar, só o fazem quando o ar está realmente oxigenado e ansiando combustão, aproveitando o resto do tempo para esfregar as manápulas nos espíritos mais carentes de quem tenha a piedade de pensar por eles.



Os grandes manipuladores têm um poder que não se sabe donde vem. Consta que lhes é atribuído por artes mágicas. E apalpam-nos, enfeitiçados com essa sua inesperada capacidade de subverter os factos e as pessoas, já de si entregues à frágil sina de pozinhos de cheiro.

Triste palermice esta de nos deslumbrarmos aos espasmos duns fantoches que andam a mando dalgumas fadas tolas da Razão e da Moral. De nos deixarmos levar pela mão, abusados por predadores de consciências e delinquentes de meias verdades.

Manipuladores: seres feitos para um mérito irrelevante. Encantadores de patos bravos. Até podem dispensar audiências, ou cortes de fiéis, mas só se saciam com os relicários cheios de mentes escravizadas por olhos esbugalhados.



Mas temos uma pequenina vingança. Tudo afinal lhes vem da estranha percepção que alguns têm do seu sucesso, do seu saber ilusionado, da sua influência, da sua competência, da sua intuição. Ah ! Então os manipuladores estão nas mãos das expectativas dos manipulados. Estranho compromisso, abençoada trivialidade. O poder do manipulador está então nas mãos de quem pode sufocar ou inebriar-se com ele.



Venham manipuladores. Penteiem-me sim. É que eu adoro adormecer enquanto me mexem no cabelo. Pago com American Express.

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