Os políticos vivem num momento de encruzilhada. Sentem-se de mãos atadas. O novo dicionário não ilustrado, que também andou a dobrar o Bojador da incerteza, revela-nos hoje as especiarias que podem dar um novo fôlego a essas almas penadas. É a ladainha do “pró que estávamos guardados” entoada nos novos hospícios do poder. ( entradas 437 a 446 )



Mecenato – Na culinária política, depois de desnatar a criatividade das criaturas, importa mecenatá-las. Fazem-se travessas bonitas, e no fim as criadas ainda podem levar para casa os restos.



PDMs – Ordenar o território retirando dele o máximo é uma actividade nobre, semelhante doutra, também nobre, que trata de sacar o leitinho às vacas. O que as distingue na essência é a hora a que se fazem.



Concessionar – Esgotadas as arcaicas formas de dar, vender ou emprestar, o ovo de Colombo que já tinha sido posto a cozer, empertigou-se e exigiu uma frigideira nova da loja do project finance.



Dar nomes aos bairros – Estes começam degradados à nascença. A verdadeira arte do urbanismo moderno está em arranjar os nomes mais giros.



Concordatas – Face à estrutural estreiteza de meios, os estados modernos viram-se agora para os terços. As negociações com a Cúria visam resolver os mistérios com um número mais reduzido de ave-marias.



Pagamentos por conta – Saborear o que nos entregam fiado só tranquiliza quem não pretende pagar. O poder não se penhora, senão a industria mais próspera era a das ferragens



Traduzir directivas – A legislação a metro foi a forma mais expedita que se encontrou para fazer participar os burocratas do festim do casamento do Sr. Subsídio



Referendar – Divertimento pagão em que jogando com as letras numa espécie de scrabble dos famosos se procura descobrir as perguntas mais giras para entreter o povão.



Fazer comunicações ao país – O político caridoso e empenhado tenta ainda animar-nos dizendo que o último a sair já não precisa de apagar a luz porque esta já tinha sido cortada.



Demitir-se – Excelsa libertação revelada apenas a alguns eleitos. Exercitando o supremo despojamento, o caminho desta cruz é feito pelos inóspitos socalcos da mordomia, ou pelos ínvios atalhos do ridículo.



Evitou-se a entrada óbvia de “escrever em bolgues” para não ferir susceptibilidades de cristal.

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